I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Comível?


    A primeira coisa que me vem à cabeça quando olho alguém na rua é: "será que alguém come essa mulher?" ou "será que esse cara come alguém de graça?". É um impulso natural principalmente quando me deparo com gente que tenho certeza que irá responder negativamente a minha questão. É um povo que não tem como ter sexo de qualidade sem pagar muito por isso.

    Um exemplo disso é minha vizinha da frente. Ela deve beira os 40 anos, tem a pele macilenta e sem viço, os cabelos compridos e maltratados que denunciam sua opção religiosa, parece se vestir com sobras de retalhos de confecção de bairro e, pior, tem uma voz insuportavelmente esganiçada, que reverbera pelo quarteirão durante o dia a procura dos filhos, do marido, do cachorro, do carteiro, do padeiro, enfim. Concluo, após o curto tempo como vizinho, que o marido da mulher deve tê-la comido apenas duas vezes - ocasião que lhe deu os dois filhos. Porque nem com a maior raiva, desprezo ou nojo do mundo pelo próprio pau, um homem o introduziria mais que o necessário naquela mulher. Não é exagero.

    Ela, assim como outros passantes que observo quando travo contato com o mundo exterior, não chegam a ser repulsivos por apresentarem características físicas fora do habitual, exalarem algum tipo de odor desagradável ou ostentarem um péssimo gosto para roupas. Repulsa nem é a melhor ou mais correta palavra. E sem essa de beleza interior, inteligência, espirituosidade, personalidade ou carisma. A questão vai além dessas convenções bobas que penamos em acreditar e fazer valer da boca pra fora. É algo além desses detalhes que os fazem, na minha opinião, totalmente impossíveis de serem sexualmente relacionáveis. Parece que algo no jeito de andar, de atender o celular, de olhar uma vitrine ou chupar um sorvete. No caso da minha vizinha, é o arrastar desmazelado das chinelas rua cima e rua abaixo que me faz crer que seu marido deve entornar uma garrafa de álcool etílico antes de deitar ao lado dela.

    Quero crer que são fruto de alguma piada, uma anomalia do sistema natural, uma exceção do meio comum. Um erro que se esforça para tentar conseguir um lugar não para viver, mas sim sobreviver. Porque é impossível saberem o que é viver de fato se não tem prerrogativa do sexo usual, ordinário, básico que seja. Desculpe a sinceridade, mas não são felizes. Suas existências estão aí não para serem admiradas, odiadas, estudadas, comentadas ou até execradas. Eles passam incólumes pela grande esbórnia que é a vida! Estão dentro de uma grande suruba e ninguém se interessa por eles a menos que haja algum compensação muito, mas muito grande.

    Fico a imaginar não o que se passa pela cabeça dessa classe - quem é o que é se acostuma com isso, não tem jeito. Nem penso em como se reproduzem, porque é fato que o fazem e em larga escala. São nos pais dos pares desse povo que gasto minhas pestanas. Não dá pra conceber o desgosto de um pai e uma mãe quando o rebento chega em casa com um tipo desses e o apresenta, olhos marejados e sorriso de orelha a orelha, como seu futuro consorte. Eu não sei se suportaria. O sujeito deve ficar procurando em suas memória o que de errado fez para merecer tamanho castigo. "Devo ter fodido a vida de toda uma geração", pensa o futuro sogro de uma dessas coisas. "Sabia que não devia ter botado tanto chifre na cabeça do meu marido, deus não perdoa mesmo, ai minha santa querupita me acode", enumera na cabeça a sogrona, risinho amarelo no canto do rosto. Não deve haver desgosto maior. Sim, porque eles não se associam com outros da mesma espécie. Parecem escolher alguns dos melhores de nós para darem continuidade a sua linhagem.

    Sinceramente não sei o que pode ser feito. Acho até que não há nada a ser feito. Vou continuar a observar, isso é fato. E quem sabe, até catalogar e fichar um a um. Depois, não sei, são planos, criar centros de triagem para esse povo todo. Um sistema de confinamento talvez, um espaço onde poderiam conviver com seus iguais apenas. Pode até ser uma espécie de reserva protegida para que se reproduzam livremente, sem a interferência do senso comum. Taí.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Do canil


    Era bem branca. Daquelas que ficam vermelhas apenas de tomar um mormaço. E tinha pintinhas. Muitas. E pretas. Por todo o corpo. Ele sorri.

    - Você parece um dálmata.

    Ela sente a nuca arrepiar. Fica séria. Espreme e enfia os olhos nos olhos dele e sussurra.

    - Então me trata feito uma cadela.

    Ele nota o rosto fumegar. Era um desejo. E uma ordem. A rodovia zunia.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Diálogo


    Diálogo livremente inspirado em posto de MJ.

    - Beto, esse é o Teodoro. Teodoro, esse é o Beto.

    - Olá, prazer.

    - E aí?

    - Beto, o Teodoro é meu fucky buddy. Lembra? Eu e ele, nós...

    - É, eu sei, eu sei, tá, tá. E daí?

    - Daí que eu queria que você conhecesse ele. Não acho certo eu ter um fucky buddy que você não sabe quem é.

    - Certo. Agora, quando encontrar ele na rua, posso apontar e dizer: "olha gente, aquele alí é o sujeito que come minha namorada enquanto estou amassando barro".

    - Beto, deixa de infantilidade. Vamos agir como adultos, ora. Você prometeu que não iria se deixar levar, lembra?!

    - Tá, desculpe. E agora?

    - Agora o quê?

    - O que a gente faz agora?

    - Não sei. Tem alguma coisa pra fazer?

    - Bom, sobrou uma carne de ontem e uma meia dúzia de cervas. Dá pra sujar a churrasqueira.

    - Tá. Vai na frente que vou com o Teodoro comprar mais umas latinhas.

    - Ahã.

    - Beto... tá tudo bem?

    - Claro. Porque não estaria?

    - Não sei, é que isso deve ser novo pra você, né?

    - O quê? Ser corneado, saber disso e ainda conhecer o co-responsável?

    - Ai, não fala assim poxa, olha...

    - Quéisso meu bem. Eu trabalho pro governo. Uma hora, me acostumo.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Às vezes, faço coisas em lugares e com pessoas que não me lembro depois


Alguém pode me dizer o que diabos eu tô fazendo nesse lugar com esse sujeito aí? Céus...

Tanx, Iracema!

    terça-feira, dezembro 12, 2006

    É, eu também cansei...


      O Léo é truta de redação e futuro editor de Cultura do TodoDia - sim, ele vai me derrubar, se Djaga quiser. E em algumas de nossas conversas, tentamos destrinchar a entidade travestida de banda Cansei de Ser Sexy, CSS para os entendidos. Se você acompanha os cadernos de cultura dos principais (ou não) jornais do País, provavelmente deve ter lido sobre eles, um grupo formado por um baterista e uma porrada de meninas que se vestem mal e fazem um som curioso. Para não dizer ruim, é bom frisar.

      Como sujeito (e em breve, formador) de opinião, Léo executou um belo texto em seu fotolog. Nele, tenta encontrar o sentido de tanta gente da grande imprensa babar ovo para o grupo. "O Cansei de Ser Sexy é tão legal assim? Pelo menos uma vez a cada dois dias ele são citados na Folha de S. Paulo. Ou na Ilustrada ou no Folhateen... daqui a pouco até no caderno de Economia", escreve ele. E com razão. Não passa uma semana sem que o conjunto, de uma maneira ou de outra, apareça.
      Eu, como ele, acho um grande engodo. Uma enganação tão cara-de-pau que só a imprensa classe média branca paulistana é capaz de engolir, no seu afã de ser "vanguardista", "descolada" e "bacanérrima". Parafraseando o truta, porra nenhuma. O CSS é qualquer nota, uma tentativa desesperada da Trama de faturar o máximo que puder antes que a onda morra na praia. E é bom agilizar porque alguns sinais já são visíveis. O Zune, tocador de MP3 da Microsoft que tem a banda como garoto-propaganda, não vendeu nada e já está com os dias contados.

    terça-feira, dezembro 05, 2006

    Museu de novidades



      Mês passado encontrei um primo. Molecão esperto, beirando os 18, louco pra tirar carta e entrar em alguma universidade bem longe de casa. Veio empolgado, falando sobre o show que o Deep Purple faria no Brasil naquela semana. Sabendo da minha predileção pelo hardrock setentista, me perguntou se eu iria. "Nem a pau", respondi, para seu espanto. Como não, ele questinou, se eu dizia ser admirador do som dos sujeitos?

      De fato, ele tinha razão. Eu gosto do Deep Purple, banda de repertório afiado e bons músicos, que ao lado do Led Zeppelin e do Black Sabbath ajudou a definir os rumo do rock pesado no início dos anos 70. E pombas, tem "Smoke on the Water", cujo riff foi copiado por todo mundo na época. E é exatamente esse o ponto. Assim como o Zeppelin - e tantas outras bandas que abalizam meu gosto musical - o Purple não pertence mais a esse mundo. Não que se sua música seja datada, longe disso. Mas a idéia de banda, com o conjunto de toca rock, sim.

      Porque rock é, em sua essência, diversão. Fúria adolescente, molecagem, descompromisso. Se nesse meio seus produtores conseguirem algumas pequenas revoluções, ótimo. Mas não é essa "função" da coisa. E esse componente essencial, essa velharada que ainda está na ativa não têm mais. Ou você acha que Mick Jagger sobe ao palco doido de cocaína como fazia nos idos de 60? Não, ele toma energéticos, aquece a garganta com gargarejos a base de mel e limão e faz aeróbica. Vai dizer que isso é diversão? O mesmo pode-se dizer de outro ícone da doidera, Ozzy Osbourne. Se ele enche a lata hoje, não é porque curte ficar bêbado como quando era adolescente, mas para afogar as mágoas de uma vida que o fez prisioneiro.

      Em entrevista à segunda edição da Rolling Stone, o decano guitarrista do The Who, Pete Townshend, declarou que jamais pagaria para assistir ao The Who. "O que eu iria querer com um monte de velhos?", disse, num inacreditável rasgo de sinceridade, referindo-se a si mesmo. Bela síntese, principalmente vindo de um cara que popularizou a quebradeira de instrumentos no fim dos shows - coisa que ele não faz mais hoje. Iggy Pop, o pai do punk, na mesma edição da revista, diz que tem um compromisso com o público de, quando subir ao palco, entretê-lo da melhor forma possível. Leia-se "posso não querer fazer isso, mas fui pago e agora tenho que dar o máximo de mim". Sinceridade zero, ora.

      Adoro todos esses sujeitos que citei e guardo um profundo respeito pelas suas histórias. Mas jamais iria a um show de qualquer um deles hoje. Porque sei que estarã alí apenas para representar papéis de personagens que um dia foram de fato. É um embuste, uma enganação sem limite. Além de ser deprimente, um monte de velhinho tentando manter acesa a chama de uma força que sabem não possuir mais. Então tenho pena do meu primo, que ainda acredita neles. E mais ainda de mim, que matou de vez suas ilusões, outro grande componente que faz do rock o que ele é.

    segunda-feira, dezembro 04, 2006

    Duro

    Che Guevara, o cubano argentino mais famoso do mundo, ganha incrível biografia em mangá. A responsável pelo lançamento não poderia ser outra que não a Conrad.

    No site da editora dá para ler alguns trechos e conferir o traço.

    Lindão!

    sábado, dezembro 02, 2006

    Déjà vu



    (O Hammond é o que está segurando a guitarra!)

    O mundo tem muita banda. Tá louco, pra que tudo isso, eu pergunto. Não sei, tento responder para mim mesmo, mas acho que é para, no meio de tanta perda de tempo, algo que valha a pena aparecer. E sempre penso nisso quando um integrante de alguma banda de sucesso se lança em carreira solo. A bola da vez é Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes. Seu disco, que pode ser baixado aqui, parece salada de chuchu com melão.

    Não culpo juninho. Deve ser complicado se desvencilhar do legado que ajudou a criar. Hiper hypados com certa razão, os Strokes viraram o jogo no começo do século ao surgir como opção para quem não aguentava mais o nu-metal idiotizante dos inúmeros clones de Limp Bizkit que surgiam a cada zapeada na MTV. Era a volta da garageira punk, da sujeira bonita de se ouvir, da fúria adolescente que pareciam ter ido junto com os miolos da cabeça de Kurt Cobain naquele abril de 1994.

    Mas depois de meia dúzia de anos de badalação, a banda resolve dar aquele tempo básico para fazer a crítica esquecer do mezzo-muzzarella, mezzo-pepperoni último disco "First Impressions of Earth". Sem planos de voltar logo para os estúdios definitivamente, os integrantes de esparram como bem entendem. Hammond resolveu juntar um trutas e fazer um disquinho solo. Tem grana pra jogar fora, o garoto. Eu faria o mesmo, mas com um conjunto de backing vocals anãs albinas tailandesas modificadas geneticamene.

    "Yours to Keep" tem, claro, tudo a ver com os Strokes. Está a bateria marca-passo, a guitarra bem posicionada, algumas eletronices para tornar a coisa esquisita, e, claro, o não-final das canções, interrompidas quando você menos espera. Mas falta pegada. Falta aquela urgência que apenas a voz de briaco de Julian pode conferir. Hammond é bonzinho demais, limpinho demais e, ah, sei lá, talvez parente do Jorge Vercilo de tão inofensivo que soa. Nem parece que cresceu ouvindo Velvet Underground ou Television, referências básicas dos Strokes.

    É um disco coeso, isso não dá pra negar. Hammond monta sua tralha sonora e a leva sob a mesma batuta o disco todo, o que, numa análise melhor, o torne monótono, repetitivo por vezes. A sensação de "já não ouvi essa música agora de pouco?" passa a ser constante depois da quarta faixa, "Bright Young Thing".

    Mas se você ouvir rápido, tipo durante uma concorrida liquidação de Natal das Lojas Americanas, vai pensar que é Coldplay. Inclusive a voz do juninho é MUITO parecida com a de Chris Martin - o que, dependendo do caso, pode ser um ponto a favor. Ou não. O fato é que Hammond pode melhorar. Mas não é bom esperar muito. Sugiro, sim, torcer para a reunião da banda logo e pela vinda de um quarto disco.

        Não, não perdi...


          E!

        Acho que perdi meu blog


          Puta merda...

        quarta-feira, novembro 29, 2006

        V de Vingança


          Entrada para o cinema: R$ 5 (com carteirinha de estudante)

          Combo de pipoca com refrigerante: R$ 6

          Na fila para o filme, topar com aquela ex-namorada que te sacaneou e notar que ela está tomando a forma de um barril de chopp de 50 litros: NÃO TEM PREÇO

        Conjugando o verbo amar


          Os Beatles são uma fonte inesgotável de tudo o que se imagina. Qualquer coisa relacionada a John, Paul, George e Ringo faz sucesso. E dinheiro. Muito dinheiro. São a banda que mais fatura mesmo depois do fim. Agora, quando todos pensavam que não havia mais o que faturar em cima do quarteto - posto que toda e qualquer gravação possível e imaginável já foi lançada - eis que o produtor George Martin, o quinto besouro, chega com Love, disco com remixes das canções mais famosas do grupo. Mas não qualquer tipo de remixe.

          As músicas não foram simplesmente mexidas. Passaram, sim, por singela - embora decisiva - intervenção cirúrgico-artística. A idéia foi da oportunista trupe do Cirque du Solei, que resolveu ganhar uns trocados montando um musical com base na obra dos rapazes de Liverpool. Martin gostou da idéia e, com a chancela dos responsáveis pela parte dos Beatles mortos e mais os remanescentes do grupo, mexeu como lhe deu na telha nas canções. Tirou e colocou instrumentos, inseriu levadas, alterou rotações, pintou e bordou. Qualquer semelhança com aquele engodo chamado "Let it Be... Naked" não é mera coincidência. Pois é, pois é, pois é...

          Por isso, Love não é recomendado para puristas ou fundamentalistas. Dá para imaginar um beatlemaníaco, vestido com a roupa do Sgt. Pepper, enfurecido, aos berros com o disco nas mãos: "Misturaram 'Hard Days Night' com 'Get Back'! Hereges! Trocara o solo elétrico de 'While My Guitar Gently Weeps' por cordas! Vão queimar todos no fogo azul do inferno! Paul is dead!" Sejamos sensatos, pois.

          Love é um caça-níqueis. Mas é um caça-níqueis que, de repente, deve render mais do que dinheiro (até porque, nenhum dos envolvidos no projeto precisa realmente de grana, sejamos francos). A molecada nova que não conhece nada de Beatles pode, por exemplo, ouvir uma dessas versões e ter curiosidade em saber como ela era originalmente. E então gostar, ir atrás de mais e, quando menos se espera, vê-se nascer outra pessoa de bom gosto musical.

          Por isso, assim como outros lançamentos póstumos do quarteto, o disco serve, antes de mais nada, para mantê-los em evidência dentro da sociedade da informação que vivemos. Num contexto onde bandas surgem na mesma velocidade que desaparecem, os detentores do espólio dos Fab Four temem que o legado da banda mais importante de todos os tempos seja esquecido ou relegado a um passado que definitivamente não os pertence. Porque o que aqueles quatro moleques fizeram não tem precedente dentro da lógica espaço-temporal que rege nossas vidas. Estão bem acima dela, velando por tudo e todos. Amém.

        quarta-feira, novembro 22, 2006

        Universo-umbigo


          A Bizz deste mês traz uma retranca pior do que a matéria principal, um compêndio incrivelmente inócuo sobre música digital. Nela, o jornalista-estrela Lúcio Ribeiro explica, em uma página inteira, porque é um sujeito fodaço e referência absoluta no Brasil no que toca à música independente.

          Já a Rolling Stone tem a pachorra de dedicar inexplicáveis oito páginas inteiras para que oito integrantes de oito bandas de rock nacional, que lançaram discos em 1986, falem sobre seus próprios rebentos.

          O que é a falta de pauta/anunciante, hein?

        segunda-feira, novembro 20, 2006

        Quente





          São duas as maiores preocupações do macho heterossexual moderno. A primeira, sexo. Segundo depoimentos de amigas próximas, a maioria sequer sabe pra quer servem aquelas dobrinhas entre as coxas e as nádegas. Ou o que fazer com um bom par de almofadas. A segunda, passar roupa. Segundo depoimentos de amigos próximos, o papo com o ferro a vapor é algo totalmente inóspito, quase como trigonometria. Sabem apenas que não devem colocar a mão na chapa quente - coisa que devem ter aprendido da pior maneira durante a infância. Compartilho, amigos.

          Quando ela disse que se ausentaria por cinco dias, entrei em desespero. Recém-saído da casa da mamãe, havia a pouco aprendido os meandros que cercam a máquina de lavar automática. Agora, precisaria me inteirar dos macetes a respeito de esticar roupas. Pedi algumas lições básicas, coisa simples, apenas para não ficar sem camiseta preta no final de semana. E lá foi.

          1. Armar a tábua de passar
          2. Colocar água no ferro
          3. Ligar o aparelho
          4. Selecionar a quantidade de vapor de acordo com o tecido que será passado
          5. Espirrar um pouco de Comfort antes de descer a chapa

          (Momento pergunta-idiota-que-mereceu-a-resposta-que-teve:
          - O que é isso? - pergunto, apontando para o recipiente azul com gatilho de spray.
          - Comfort, oras - responde ela, cara de reticências.
          - Eu sei a marca, mas do que é feito. É tipo um amaciante? - arrisco.
          - Não, é tipo um Comfort. Não faz pergunta difícil, tá? - encerra.
          Toma, besta.)

          Então me atirei com vontade à pilha de roupas limpas e amarrotadas. E fui bem, até pegar uma camisa de polyester e meter nela o ferro quente exalando vapor, perfeito para fazer o tecido enrugar e rasgar antes de qualquer movimento brusco. Tinha "matado" a camisa. Uma camisa amarela que eu nem gostava tanto, mas, ainda assim, a prova irrefutável da minha falta de preparo, da minha incompetência na decana tarefa doméstica. Deduzi rápido que o excesso de vapor fora a causa da tragédia e que eu deveria ter regulado o ferro na posição mais seca possível. O tecido pedia algo que eu não sabia. E me dei mal.

          Pronto. Junto com a camisa, eu havia matado também a charada. Da mesma forma que cada tecido exige uma regulagem específica de vapor, cada mulher também exige um tipo de postura durante o sexo. A seda requer um ferro seco, ao contrário do algodão, que gosta de umidade. Logo, não adianta ir rosnando feito um animal para uma manceba recém-descoberta, assim como não se deve exagerar no recato ante uma dama experimentada.

          Todas, entretanto, precisam ser devidamente preparadas e trabalhadas da maneira mais quente e próxima possível. Ninguém passa roupa com o ferro frio, certo? É preciso aquecer as coisas antes. O próprio ferro a vapor necessita de um tempo mínimo para ficar no ponto. Do contrário, seu rendimento será abaixo do esperado, quando não, inexistente. Quanto mais quente, melhor.

          E como qualquer boa passada de roupa, não se pode deixar qualquer dobra, vinco ou abertura sem a devida atenção. Tudo deve ser meticulosamente explorado e apreciado. Sem pressa ou preconceito. Capricho é fundamental e faz toda a diferença. Ou alguém conhece quem alisa apenas as mangas da camisa, deixando o resto amarrotado? Fazer o serviço pela metade não dá. Além de tudo, pega mal. E roupa mal passada, assim como sexo mal feito, é o tipo de coisa que não costuma ficar restrita a vizinhança. Espalha mesmo.

          Mas claro que tudo fica melhor com o tempo. Quanto mais roupa se passa, mais fácil a tarefa se torna. Mas é preciso policiamento constante para evitar uma tentadora e quase automática alienização do processo. Não se pode alisar as peças sempre da mesma forma, tratando-as indiscriminadamente. Uma camisa e uma meia podem ser feitas do mesmo tecido, mas pedem ações diferentes. Cada uma tem sua maneira particular de ser manipulada para, assim, apresentar o melhor resultado.

          E o que separa passadores bons de passadores ruins? Duas coisas: vontade e disciplina. Não se pode desistir na primeira "matada" de roupa. Nem pensar em se aposentar apenas porque alisou uma cueca. Passar roupa exige dedicação espartana, reciclagem constante, desprendimento e algum humor.

          Óbvio que exceções existem, mas a regra é essa: faça sexo como você passa roupa. Não tem com errar.

        quinta-feira, novembro 16, 2006

        Crime e Castigo


          Um grupo de jovens norte-americanos vem passar as férias no Brasil. Durante uma festa em alguma praia, são dopados e tem roupas, dinheiro e documentos roubados. Acordam estirados na areia e sem ter para onde ir. Desesperados, aceitam a ajuda de um nativo, que os leva para uma casa onde podem conseguir auxílio. Lá, descobrem que podem ser vítimas de terríveis contrabandistas de órgãos, doidos para abri-los e faturar algum com suas tripas. Gostou? Esse é o enredo de "Turistas", que estréia em dezembro nos EUA e em fevereiro por aqui.

          Afora a velha idéia gringa que aqui ainda é um espécie de Haiti tamanho família - vide o site oficial do filme, cheio de esteriótipos bobos típicos de norte-americano - o filme promete cenas fortes de tortura, mutilação e morte, perfeito para quem gostou de outra película semelhante, "O Albergue". É, inclusive, a ele que "Turistas" vem sendo comparado. Ambos são a evolução técnica de um tipo de horror que surgiu nos anos 80 com os filmes de maníacos homicidas imortais que carregavam, junto com suas armas afiadas, uma grande carga moralista. Você pode não acreditar, mas Jason, Freddy Krueger e Michael Meyers eram nada menos que agentes a serviço de valores morais que perduram até hoje – ou pelo menos assim querem que seja.

          A mensagem tanto das cinesséries "Sexta-Feira 13", "A Hora do Pesadelo" e "Halloween", quanto de "O Albergue" e "Turistas" é a mesma. "Se você é jovem e cheio de vida, cuidado com o que faz ou deseja. Porque se isso for contra os princípios morais reacionários e hipócritas vigentes, será punido. Sempre da pior forma possível. E não adiante fugir, porque nem nos seus pensamentos você pode fazer o que quer", parecem dizer, punhal na mão, os vilões preferidos da Cruzada das Senhoras Católicas.

          "Sexta-Feira 13", por exemplo, se passa, na maior parte do tempo, em um típico acampamento de verão. Comuns nos EUA, é para lá que a classe média burguesa larga os filhos. E lá, longe dos pais, é que a maior parte dos jovens tem (ou tinha) suas primeiras experiências com sexo e drogas. Porém, não era o que os guardiões da moral e dos bons costumes tinham em mente. Por isso, em todo episódio da série Jason matava adolescentes que estavam transando ou usando drogas. Afinal, não foi para isso que mamãe e papai te jogaram no meio do mato para poder jogar strip-pôquer em paz. Era para ficar cantando em volta de fogueiras e pegando maçãs com a boca dentro de tinas.

          No caso de "A Hora do Pesadelo" o cerco era maior e definitivo, porque Freddy Krueger atacava dentro da cabeça de suas jovens vítimas, único lugar onde a moral social não podia interferir de maneira incisiva. Logo, nem em sonho seria possível refugiar-se do longo braço da "lei"; nem em pensamento se estaria seguro para construir seu próprio mundo. As navalhas de Freddy estariam lá para garantir isso.

          E "O Albergue" e "Turistas" continuam com essa tradição de horror moralizante. No primeiro, um grupo de mochileiros sai em busca de putaria pelo Leste Europeu. Na promessa de um lugar onde a esbórnia come solta, acabam caindo nas mãos de uma organização que serve a ricos sádicos que se comprazem em torturar e matar pessoas. Em "Turistas", o trailer avisa que "Em um lugar onde tudo é permitido, tudo é possível". E eis que nossos protagonistas, depois de se espantarem com a aparente liberdade (libertinagem?) selvagem desse paraíso tropical, caem nas mãos de contrabandistas de órgãos.

          Não é preciso legenda. Onde já se viu um bando de moleques querer curtir as delícias do mundo assim, de maneira tão despudorada e escancarada, sem pagar nada por isso? Querem ser felizes enquanto nós estamos aqui, amargurados com a porcaria de mundo que construímos? O preço para tal insolência deve ser acertado em sangue e servir de exemplo para outros. Daí o clímax de todos esses filmes ser o momento em os sobreviventes encontram os corpos (ou pedaços) de seus amigos mortos. E tomados de fúria destroem, na maiorida das vezes, seu punidor. Mas apenas para ele voltar, mais forte, no próximo episódio.

        sábado, novembro 11, 2006

        Carinhoso


          Leitor dos melhores da minha coluna do jornal, o Bruno Stardust montou uma comunidade para este careca (moi non plus) no Orkut. Logo eu, que comemoro hoje um ano de um bem sucedido orkuticídio - por isso, ainda não vi a página, mas Deus me passou o serviço e disse que a coisa é boa. Ele, inclusive, está lá também.

          Valeu Brunão! Que Bowie esteja com você.

          A propósito, ele é mais um integrante da blogosfera (o Bruno, não o Bowie...). Dêem as boas vindas para ele lá no Ralectro. :)

        quinta-feira, novembro 09, 2006

        Besouros metálicos


          O que a Rita Lee, o Ozzy Osbourne e o Aerosmith têm em comum? Além de um punhado de rugas disfarçadas por muita cirurgia plástica, todos já gravaram canções dos Beatles - no caso da madrinha do rock brasileiro, versões em português de clássicos conhecidos. O que os levou a isso não importa, assim como centenas de outros que também se aproveitaram do indiscutível magnetismo que apenas uma canção dos Fab Four contém. Mas um ponto é comum: todos se deram bem. Gravar Beatles é como vender pipoca no cinema, que até quem não gosta, compra.

          A última empreitada nesse sentido que ouvi foi "Butchering The Beatles: A Headbashing Tribute", uma compilação de canções dos ingleses tocadas e cantadas por músicos de heavy metal e hard rock. E o que entrou pelos meus ouvidos me surpreendeu. Esperava, como o próprio nome do disco sugere, um destrinchamento completo de John, Paul, George e Ringo, mas que acabou ficou na promessa das guitarras distorcidas e vocais afetados. Como algo que só é possível quando se trata do grupo mais influente da história, as versões metalizadas das canções ficaram muito, mas muito aquém das originais. E em todos os sentidos, incluindo peso - isso porque estamos tratando com músicos especialistas em furar tímpanos.

          Mas como músicas gravadas por adolescentes de terninhos na década de 60 podem soar mais fortes e consistentes do que versões feitas por demônios alucinados dotados do melhor equipamento existente hoje? E não são iniciantes na arte de triturar instrumentos. São músicos com longa carreira dedicada ao metal e hard rock, como Alice Cooper, Steve Vai, Billy Idol, Yngwie Malmsteen e Billy Gibbons, para ficar nos dinossauros mais famosos. Gente que, por sinal, cresceu ouvindo os Beatles. Então como soam tão frágeis, tão... sem graça? Bobo, até. Basta ouvir, por exemplo, a segunda faixa, "Back In The USSR", com o lendário Lemmy Kilmister, vocalista do não menos lendário Motorhead. Sua voz, que costumava levantar os cabelos dos pais na década de 70, hoje é quase um suspiro rouco.

          O problema, acredito, foi a pretensão do projeto (a começar pela capa, uma raridade que segundo mestre Galvão parodia o single "Yesterday and Today", de 1966), algo como "temos que soar o mais alto e distorcido possível". Imaginar que peso seja equivalente a socar a bateria com uma marreta soa, no mínimo, ultrapassado e, porque não, até infantil. O mesmo vale para as cordas, quase arrancadas de tão repuxadas que são. O resultado, quero acreditar, não deve ter saído da forma planejada, principalmente para quem conhece o trabalho de alguns músicos envolvidos nele.

          A não ser que o objetivo tenha sido reforçar o lugar-comum onde o estilo é comumente relegado. Mas, para isso, não era preciso evocar os Beatles. Bastava fazer o que sempre fizeram.

            terça-feira, outubro 31, 2006

            Fina estampa


              A Siméia tá de roupa nova. Visual caprichadíssimo, cheia de estilo e graça a garouta. Pintem e dêem uma conferida no lance. Aprovado.

            O Clipe


              No começo dos anos 90 a MTV chegou ao Brasil. Para mim, um pré-adolescente enfiado na periferia de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, era indiferente. Minha maior ambição era tirar um 7,0 em matemática e, assim, poder alugar um Super Nintendo e jogar Street Fighter II até os olhos lacrimejarem. Mas meu destino mudou quando uma VHS preta chegou em casa endereçada a papai. Era de titia, que na época morava nos EUA. O conteúdo, um filme qualquer que ela havia gravado para meu pai treinar seu inglês - o filme, claro, não tinha legendas.

              Mas o filme não consumia toda a fita, sobrando coisa de meia-hora que havia sido preenchida por, veja só, parte da programação da MTV norte-americana. E confesso a vocês: nunca, em todo o mundo, um único trecho de fita de vídeo foi tantas vezes rebobinado. Aqueles 30 minutos, que continham alguns clipes e propagandas de balas, veículos e as famosas (e odiadas ou amadas) vinhetas estúpidas do canal de música, abriram meu universo como um machado cortando um melão.

              Aquelas imagens grudaram no meu (in)consciente por décadas e seu receptáculo era guardado como um tesouro. Os clipes, se me lembro bem, eram de um já decadente McHammer com a balada "Have You Seen Her"; de um então cabeludo Bon Jovi com sua primeira tentativa de carreira solo em "Blaze of Glory", feita para o filme "Jovem Demais para Morrer" (Young Guns II); "Epic", a poderosa mistura de funk e metal do Faith No More; e aquele que marcaria minha forma de apreciar a música pop e, porque não, de ver as mulheres. "Cradle of Love", sucesso hoje pouco lembrado do oxigenado Billy Idol, me deu munição para muitos sonhos molhados, acreditem.

              O vídeo mostrava um nerd, beirando os 30 anos, típico yuppie dos anos 80, que recebe a inesperada visita de uma vizinha que, tendo esquecido a chave de seu apartamento, pede para esperar o namorado na casa do sujeito. Ele topa, meio constrangido. A garota então pergunta se pode colocar uma fita K-7, e é autorizada. De repente, a bateria explode e Idol entra gritando para chacoalhar o berço do amor. Ela, claro, obedece, e não ousa maneirar.

              Segue-se então um frenético e desconcertante strip-tease da girl of the next door na mesma medida que o desespero do dono do apê vai crescendo. Os quadros das paredes ganham vida com Billy cantando, fazendo caras e bocas. Quanto mais o goiabão tenta parar a música ou a performance da garota, mais as coisas vão fugindo ao seu controle. Ela arranca os lençóis da cama, deita e rola - literalmente e - na tomada mais inacreditavelmente sexy que já presenciei em um clipe, ela se apóia sob os cotovelos na cama e escorrega numa maravilhosa abertura total de pernas - tudo filmado do teto, no melhor ângulo possível.

              Na cena derradeira, depois de praticamente derrubar o apartamento do cara, ela sai engatinhando em direção a ele, que está prostrado, chorando de desespero e medo, e o beija sofregamente. Segundos depois, alguém bate na porta. É o namorado da garota, um típico zagueiro da NFL, perguntando pela fulana. Antes de qualquer resposta, ela aparece tão comportada quanto como no momento que entrou. O último take é a porta sendo fechada seguida de barulhos de meia-dúzia de trancas.

              Sei que mostrei essa fita, com especial carinho por esse clipe, para todos os meus amigos. Até a professora de inglês da escola chegou a usá-la em uma das aulas. Era incrível, mas eu não queria ser como Idol, todo fodão, com aquele típico sorriso de canto de boca, debochado. Queria era ser o mané que só mete os pés pelas mãos e acaba seduzido pela garota, usado e jogado fora. E que no final tranca a porta com medo que ela entre de novo e tire suas porcelanas do lugar ou aumente o volume do som.

              E realmente me tornei um mané. Tanto que dei a fita para a primeira garota que beijei na boca e era fã de Bon Jovi. O lance não durou um mês e ela ficou com o maior tesouro da minha pós-infância. Embora tenha me dado outro: o passaporte para minha adolescência. Aí a coisa degringolou de vez, com é sabido.

              Ei-lo aqui.

            quinta-feira, outubro 26, 2006

            Corações partilhados


              O fato é que eu e D. criamos as Noites dos Corações Partidos. Normalmente no terceiro sábado do mês, lá pelas tantas, abastecíamos o carro com latas de cerveja e alguma gasolina e nos lançávamos em um peculiar via crucis. Durante toda a noite e início da madrugada, visitávamos as casas de antigas namoradas ou paixões platônicas adolescentes, casos mal resolvidos ou que haviam se tornado doídos desafetos, para dar cabo de nossa ingrata tarefa.

              O modus operandi não previa uma abordagem direta. Chegávamos no endereço da garota, parávamos o carro em frente a casa dela e lá permanecíamos por no máximo uma hora. Então, um de nós, dependendo de quem fosse o responsável pela nossa ida até o lugar, contava histórias tristes e amargas sobre o antigo relacionamento com a dona da casa. Ou pior, sobre a tentativa de relacionamento que nunca se concretizou. Valia tudo, de discussões fúteis a broxadas, de puladas de cerca a flagrantes obscenos. Nada escapava do livro de memórias aberto a força pelas vertiginosas talagadas de cerveja noite adentro.

              A coisa ficava ainda melhor se houvesse algum sinal de que a garota hoje estivesse comprometida. Um veículo estranho estacionado na rua ou na garagem, uma risada diferente vinda do andar de cima, ou até, com sorte, vultos espremidos entre as sombras do luar. A mera hipótese, enfim, de que uma antiga paixão hoje se entregava com sofreguidão e afinco a outros braços dava ainda mais sabor à empreitada, elevando a potencia máxima a dor dos já trágicos relatos que se sucediam.

              Musica era proibida. Afinal, estávamos ali para chorar as nossas dores, e não para ouvir lamentos de um outro qualquer. Um terceiro elemento estragaria por completo a noite, tirando de nós e nossas confissões o centro das atenções.

              Após o término das histórias referentes à residência em questão – ou com o fim do tempo estabelecido – rumávamos para a próxima, alternando, evidentemente, o alvo do contador do causo. Não eram comuns as ladainhas se repetirem, mas podia acontecer e, nesse caso, o outro, mesmo sabendo disso, não interrompia. Poderia ser a mesma história para quem estava ouvido, mas não para quem estava contando. E isso era o mais importante, essa era a razão daquelas noites terríveis. Exorcizar antigos fantasmas que continuavam a assombrar nossas jovens cabeças.

              E com era difícil. Por mais de uma vez pensamos em desistir, porque o efeito muitas vezes era contrário e a dor só aumentava. Pouco importava quem havia terminado com quem ou em que circunstâncias ou quanto tempo fazia. Estar ali, praticamente na soleira dos seus quartos, respirando o mesmo ar que elas respiravam – e que talvez compartilhassem com outros agora – era de quebrar qualquer muralha. Não havia glândula lacrimal atrofiada que funcionasse naqueles momentos.

              Mas de alguma forma achávamos necessário aquilo. Tínhamos a idéia fixa de que, enquanto sentíssemos qualquer coisa por elas, não poderíamos parar. Era preciso expurgar até o último suspiro de sentimento. A busca pela indiferença absoluta deveria ser incessante. E se um dos dois a alcançasse antes do outro, este jamais o abandonaria a própria sorte. Ficaríamos juntos até que os dois estivem finalmente libertos.

              As Noites dos Corações Partidos duraram pouco menos de um ano para D. e quase dois para mim – minha tendência à instabilidade provou ser, de maneira definitiva, mais nociva do que aparentava, já que quanto mais casas tinha a visitar, mais fantasmas me restavam para encarar.
              As histórias, todas cuidadosamente gravadas e arquivadas em fitas K7, foram sumariamente destruídas ao final do processo – e novas unidades, claro, compradas.

            quarta-feira, outubro 25, 2006

            Esclarecimento

            (Deus aprovou!)

              Última prosa entre eu e minha cabeleireira.

              - Taca no zero

              - Tem certeza?

              - Tenho. Rapa careca.

              - Olha, vamos fazer o seguinte: eu vou cortando aos poucos e aí você me diz quando estiver bom, ok?

              - Não precisa, pode cortar tudo.

              - Quer que passe máquina?

              - Quero.

              - Número 3?

              - Não, pode passar zero.

              - Que tal uma 2? Fica bonito.

              - Não, querida, eu quero raspar tudo de uma vez. Não quero ficar com um único fio na cabeça.

              - Ai, mas por que? Passou na faculdade, foi isso?

              - Não. Cansei de desentupir o ralo do banheiro e de prender o cabelo na hora de, hã, você sabe. Essa porcaria me atrapalha em tudo.

              - Mas é tão bonito, pensa bem, vai...

              - Já me decide, pode cortar no zero. Raspa tudo. Sem dó.

              - Ai, meu deus. Mas é máquina zero que você quer, tem certeza?

              - Tenho, Helena, tenho. Pode cortar tudo até o talo.

              - Bom, tá bom.

            terça-feira, outubro 24, 2006

            Excursão


              Domingão é dia de eleição. E também de Tim Festival. Por isso, vou votar rapidinho de manhã pra correr pra Sampa.

              Quem vai também?

            sábado, outubro 21, 2006

            Information Society


              Quando tinha por volta de 15 anos comprei minha primeira revista de música. Era uma Showbizz, espécie de segunda encarnação da então finada Bizz. Em formato gigante, trazia Courtney Love na capa e uma camisinha encartada. Devorei a revista em poucos minutos e segui comprando outros números, inclusive a "bombástica" edição que trazia Renato Russo na capa e a revelação de um caderno com letras inéditas do falecido compositor - letras que anos mais tarde seriam gravadas pelo Capital Inicial do dono da brochura, Fê Lemos.

              Mas aí, sem mais nem menos, a publicação começou a dar sinais de cansaço. O formato diminuiu para o padrão de revista quinzenal e as grandes reportagens deram lugar a quilos de resenhas. Pouco tempo depois, a Showbizz sumiria de vez das bancas.

              Anos depois surgiram outras revistas de música no vácuo deixado pela Showbizz. A Zero e a Mosh são duas das mais significativas. Porém, tiveram vida ainda mais curta. Grana sempre foi o problema alegado. Realmente não deve ser fácil manter uma revista de música para um público que, em sua maioria, é formado por gente que vive pela Internet - o que inclui se informar através dela, tornando dispensável qualquer outro veículo. Em 2005 a Bizz voltou. Mas não dá sinais que vá durar muito, já que nem assinatura ela possui. No mínimo, estranho.

              Eu aponto, entretanto, um outro fator que tornar o terreno editorial musical tão pedregoso por aqui: a falta de opinião. Aliada ao excesso de oportunismo. É fácil ver quando uma publicação "escolhe" um lado. Ela se torna chata, enfadonha, piegas até. E faz isso por "n" motivos. Um deles é não desagradar os patrões, no caso, as gravadoras. Querem ficar ganhando disquinho de graça e, claro, ter anúncios publicados em suas páginas. Por isso, cometem o maior pecado que o jornalismo de opinião pode ter: o de não ter opinião! Porque escrever sobre música é expôr opinião, pombas! Se o sujeito é ruim, lenha nele. Se é bom, palmas para ele.

              Fora as panelinhas. O editor-chefe de uma revista monta uma redação, por execelência, com gente alinhada com seu perfil. Não há opiniões contrárias, debate de idéias ou choque de informações. Apenas reprodução de um senso-comum. E isso, com o tempo, vai desgastando a revista. O leitor percebe que o conteúdo torna-se pobre e repetitivo, que basta ver a capa da revista para saber o que vai estar escrito nela. A informação se perde no meio da babação-de-ovo exagerada, fofoquinhas e boataria, três dos expedientes mais baixos - e mais utilizados - no meio. Sem contar o egolatria...
              Parece que a única fonte de informação que foge à essa regra encontra-se na Internet. Gente que realmente sabe do riscado e não tem rabo-preso com gravadora, artista e o escambáu. E, mais importante, que tem opinião e não tem medo de destrinchá-la por aí. Agora, com a Rolling Stone brasileira, que chegou às bancas essa semana, a coisa pode mudar de figura. Na rápida olhada que dei no exemplar que levei pra casa, ela não deixa nada a dever para sua matriz. Tomara.
                    UPGRADE
                    Após a primeira leitura, encontro um pecado venial na RS. Uma reportagem em primeira pessoa, espécie de diário de bordo, escrita pelo baterista da banda Cansei de Ser Sexy, atualmente em turnê pelo exterior. Nela, Adriano Cintra discorre sobre suas bebedeiras e - quando se lembra - dos shows em cidades dos EUA. Um tipo de umbiguismo sem graça e totalmente dispensável, mas facilmente explicável: a Trama, gravadora do CSS, tem anúncio de página inteira na revista sobre a turnê gringa da banda. Então tá então.

                  segunda-feira, outubro 09, 2006

                  Carta aberta ao Chico



                    Pô, Chico, mancada, hein? O que aconteceu, meu velho? Porque tu fez isso? Ainda tento encontrar alguma justificativa, uma teoria conspiratória que seja para validar esse ato suicídia, mas minha veia 'ritchicóquiana" não dá conta de tanto. É muita informação junta para ser absorvida (absolvida?) por um simples mortal como eu, admirador confesso agora praticamente transformado em viúva. É, viúva, Chico, porque é assim que eu e um caminhão trucado de gente se sente.
                    O que pegou, meu chapa? Que pecado cometemos nós para, em vida, termos o desprazer de te ver dividir o púlpito com aquela aberração musical, cujo único talento deve ser o de manipular a massa ignara com a cumplicidade de uma meia dúzia de programas de auditório para inflar sua conta bancária? Se é dinheiro, por favor não seja por isso, desvio com prazer os trocados do happy hour para sua conta. É só passar o número que, tenho certeza, outros farão o mesmo e não será sacrifício algum. Porque sacrifício é ler seu nome na mesma linha onde se encontra o nome de um dos sujeitos mais desprezíveis que já segurou um microfone nos últimos, sei lá, 50 anos. Sabe, Chico, isso não se faz. Não se faz mesmo.
                    E me recuso peremptoriamente a acreditar nas palavras daquele arremedo de Pato Donald dizendo que o objetivo maior é te ver ecoar nas ondas populares, onde ele reina soberano como um déspota francês do século 15 de calças apertadas e coroa desbotada pesando sobre os ombros. Como se você precisasse disso, Chico! Como se o seu talento tivesse necessidade de ser medido por um sem número de moribundos culturais que se nutre da primeira massa amorfa que escorre de seus Motorádios, elevadores e salas de espera.
                    Não, Chico, você não é disso. Nunca foi. Então porque tal manobra? Onde está a lógica de tamanha insanidade? Seriam as trevas travestidas com seu manto de mal gosto e falsa pretensão que avançam impiedosas por essa terra já tão sofrida? Caralho, Chico, a gente dependia de você, um dos poucos que ainda tinha forças para segurar alta a lamparina que jogava luz contra essa escuridão. De repente, você aparece do outro lado, garganta em riste contra nós, que nada fizemos para tanto. Que apenas nos preocupamos em espalhar sua memória para onde vamos.
                    É isso, Chico, é medo de ser esquecido? Medo que essa nova geração, movida a bytes & MP3s & I-Pods & conexão banda larga não dê pelota para o seu legado? Quéisso, Chico! Covardia nunca foi teu forte. Vai abundamolar-se agora, vai? O azul dos teus olhos não combinam com uma faixa amarela nas costas, pode ter certeza. A mesma certeza de que o seu fruto é tão forte e bem enraizado que não se perderá nas brumas do tempo. Ao contrário do seu novo parceiro, cuja "obra" é tão insípida, inodora e incolor que não matará sequer a sede dos próximos da fila. Já você - ah, Chico, você continuará a alimentarno-nos com o mesmo caldo substancioso e saboroso de sempre.
                    Então estou aqui, Chico, como tantos outros, prostrado, mãos espalmadas contra o chão, cabeça baixa e pescoço enrijecido esperando pelo golpe final. Porque depois do que você aprontou Chico, pô, só nascendo de novo.

                  sexta-feira, outubro 06, 2006

                  Sociedade


                  No clic, este colunista, Deus e Biajoni durante rápida trip pela ensolarada e aprazível São José dos Campos, onde prestigiaram recente congresso sobre gastronomia vegetal

                  quinta-feira, outubro 05, 2006

                  Momentum


                    Às vezes - mas só às vezes, tipo quando coloco algum troço amargo na boca - sinto saudade do cheiro dela. Então enfio dois dedos dentro do peito e empurro meu coração um pouco mais para o fundo. Lá ela não pode me machucar. Ou, pelo menos, vai levar algum tempo.

                  segunda-feira, outubro 02, 2006

                  sábado, setembro 30, 2006

                  Homem de poucas posses


                    - Bandeira preta dos Doors amarrotada
                    - Figuras de ação do Kiss e Spawn
                    - Dúzias de Trip
                    - Um incensário de bambu
                    - Panô de Shiva
                    - Lanterna
                    - Par de coturnos

                  quinta-feira, setembro 28, 2006

                  Is this it


                    Enquanto todo mundo queria ganhar um carro quando fizesse 18 anos, eu só pensava em sair da casa dos meus pais. Agora, passados alguns anos - não muitos, mas mais do que eu gostaria - mimos e pertences extraviados de uma forma geral podem ser enviados para outro endereço. Rua Porto Rico 124, apê 5, na Morada do Sol. Perifa árida e barulhenta de Americana. Junto meus livros, discos e carnês das Casas Bahia com aquela que me faz querer ser alguém melhor - ou seja, ela me obriga a passar fio-dental após todas as refeições, incluindo a cervejinha com picles após o expediente.

                  terça-feira, setembro 26, 2006

                  7 de setembro


                    Me fodi. Quatro anos e uma eleição municipal acumulada depois, tenho certeza que me fodi. Mas ao contrário de muitos dos meus iguais, não quero anular meu voto. Nem votar "em quem tem chance". Nas duas vezes que compareci as urnas elegi os vencedores: um presidente joão-sem-braço e um prefeito sem culhões. Belo currículo, hein?
                    Pelo que me lembro, essa história de "não jogar o voto fora" foi idéia do Covas na campanha contra a Marta. Bela estratégia a dele. Foi direto no ponto que mais dói no brasileiro, a falta de auto-estima, o estigma de perdedor, a aura de mártir, a eterna vítima das adversidades, o sertanejo que é antes de tudo um forte mesmo que famélico. E lá foi o tucanão governar por mais alguns anos – embora não todos que gostaria.
                    Neguinho é tão obcecado em ganhar alguma coisa (loteria, bingo, rifa, dois ou um, par ou ímpar, até resfriado), imerso na sua pequenez cotidiana, que sequer repara na besteira que está fazendo. À merda com tudo isso. À merda com as pesquisas, com o horário eleitoral e a boca-de-urna. Vou votar em quem eu quiser, seja ele favorito ou não. E seja qualquer for o eleito, vou cobrar da mesma forma.

                  sábado, setembro 23, 2006

                  Cria do inferno


                    Você tem menos de 30 anos? Então você curtiu Iron Maiden. Arrisco dizer até que comprou aquelas camisetas pretas de malha vagabunda com algum Eddie mal e porcamente estampado nela. E chacoalhou a cabeça quando ouvia os primeiro acordes de "Be Quick or Be Dead". E, claro, decorou os versos iniciais de "The Number of The Beast". Era legal. De tão surreal que era.

                    Mas coisas legais não duram para sempre. E o próprio Iron é prova disso. Vive repetindo sua fórmula por década a fio, num misto de "em time que está ganhando não se mexe" com "a gente só sabe fazer isso, oras!". E o pior é que tem dado certo. Pelo menos em países subdesenvolvidos como o nosso, onde a Donzela lota estádio com a mesma rapidez que os acordes de Steve Harris.

                    Por falar em Harris, ele é a razão de ser desse post. O sujeito que adora usar calças de couro quatro números menor, tem uma filha. Chama-se Lauren.

                    Olha a filha do homem aí


                            Legal, né? E ela, claro, tem uma banda, a Lauden, fusão perniciosa de Lauren com Maiden. Sacaram? Sacaram? É... marqueteira a garouta. E não é só. Com as costas quentes, aproveitou para descolar um boquinha pela porta da frente do showbizz abrindo os shows do grupo do papai.

                            "Há", penso eu, "se a filha do Steve Harris monta uma banda, só pode ser uma banda de metal!". E lá me vou ouvir a dita cuja no My Space. Aqui ó.

                            Ouviu? Então notou que ela segue a mesmíssima cartilha das musas teens norte-americanas do momento, como Kelly Clarkson, Jessica e Ashley Simpson, enfim. Um pop-chiclete grudento e sem a menor personalidade. Chato.

                            Mas até aí tudo bem. Ela tem uma banda e toca o que quiser. Agora, imagina você, fã japonês do Iron Maiden, tendo que aguentar 40 minutos dessa ladainha antes de ouvir "2 Minutes to Midnigth"? É dose, hein? Porque se tem um tipo de ouvinte que é xiita até o talo com o que ouve é o que presta homenagens ao Deus Metal. Fã de metal só gosta de metal e ponto final (rimou!). Que o diga Carlinhos Brown...

                            A garota é bonita (para os meus padrões, claro...), cheia de curvas, mas não serve pra abrir um show do Iron Maiden! Porque fã de metal gosta mesmo é dever um monte de macho peludo no palco fazendo ventilador com a cabeleira, oras!
                                      Por isso acho, sinceramente, que ela deveria seguir os passos de outras filhas de grandes nomes da música (!). Olha, por exemplo, a Elizabeth Jagger, que dispensa apresentações. Ou mesmo a Liv Tyler, herdeira do vocalista do Aerosmith. Bem mais legal e honesto.
                                                            É ou não é?

                                                        sexta-feira, setembro 22, 2006

                                                        Cinema mudo


                                                          Minha coluna de cinema de hoje, como deveria ter saído...

                                                          "A gente não engole tudo o que mastiga", diria BNegão. E ele está certo. Às vezes, o sabor não é condizente com a promessa e aí é melhor botar pra fora mesmo. Pode parecer realmente bom, mas só colocando na boca para saber. Lembra do comercial que dizia "Se o gosto é bom, a coisa é boa"? Pois é, nem sempre é assim. Principalmente quando se trata de cultura, um verdadeiro oceano de (dis)sabores. E quem sabe (ou pode) degustá-los da forma mais adequada, ou mesmo correta? Eu arrisco dizer que é aquele que mais se lambuza de tudo o que encontra pela frente. É preciso provar de algo para poder julgar, com propriedade, se é bom ou ruim.
                                                          Logo, quanto mais se prova, mais conhecimento se tem. Não posso opinar sobre um filme de Orson Welles se nunca assisti a nenhuma obra do criador de "Cidadão Kane". Permito-me, no máximo, um comentário frívolo, descartável. Mas é possível, tendo assistido a obra-prima de Welles ou qualquer outro pilar do cinema mundial, sentar-me confortavelmente em uma sala escura e não torcer o nariz para, por exemplo, "Serpentes a Bordo"? Não estou comparando um filme com outro, mas sim afirmando que, de posse de conhecimento acumulado ao longo de uma vida dedicada a filmes (ou qualquer outra forma de produção cultural) não posso/consigo/quero ficar indiferente ao que vejo.
                                                          O colunista Luiz Biajoni, em sua última coluna, me tacha de chato e irritante por buscar sempre o novo. Fico lisongeado por também me considerar um intelectual – rótulo que nem de longe me serve – mas ele erra ao questionar se os dito cujos, apesar de saberem o que é bom, têm gosto. Ora, conspícuo mestre, gosto não se discute. O que eu ou você ou o presidente da Câmara de Oriximiná do Sul gostam não faz a menor diferença. "A minha opinião, e a opinião dos especialistas, ainda assim, é só opinião", categorizou Millôr. Sugerir que se assista a um filme, ouvir uma música ou ler um livro como se estivesse fazendo isso pela primeira vez na vida é impossível. Porque a partir do momento que se trava contato com qualquer tipo de produção cultural, cria-se automaticamente uma consciência crítica que passa a ser usada como parâmetro para tudo. Quanto melhor for sua bagagem, mais chato você vai ser. Um garoto de 15 anos, que só assistiu a blockbusters hollywoodianos direcionados para sua faixa etária deve adorar "Miami Vice". Já alguém com um pouco mais de idade e que foi alimentado com clássicos hollywoodianos da década de 50 e 60 certamente não ficará na sala até o final – isso se entrar em uma.
                                                          Não é uma questão de comparação direta. Não vou colocar na mesma baia o humor refinado e inteligente da trupe inglesa do Monty Phyton e a comédia fácil e grosseira dos irmãos Wayans. O que não me impede de, numa tarde de domingo, pegar uma matinê para desopilar o fígado de tanto gargalhar com as piadas escrotas e non-senses destes últimos. Só não posso me esquecer de colocá-los onde merecem.

                                                        quarta-feira, setembro 20, 2006

                                                        Enquete


                                                          O que é pior:

                                                          a) O barulho da broca do dentista

                                                          b) Aquele jato de ar que ele joga pra saber onde tem cárie

                                                          c) O efeito prolongado da anestesia que te faz morder, sem notar, todo o interior da boca

                                                        terça-feira, setembro 19, 2006

                                                        Amigo pra caralho


                                                          O Bia me sacaneou hoje dentro dos meus próprios domínios.

                                                          Prepara-te, cabrón...

                                                        segunda-feira, setembro 18, 2006

                                                        Em defesa do papai-e-mamãe


                                                          Então fica assim. O sexo é o assunto predominante. E ninguém quer ficar de fora. Pelo menos não por muito tempo. Cada qual tentando ser mais inacreditavelmente pervertido, inalcançavelmente incansável, absurdamente sexual (esqueça o sensual), dono da maior ereção da roda. Porque o que importa é o caminhão de orgasmos que a garota grita durante a sessão, e dane-se se o que ela queria mesmo era pegar um cineminha. Porque cinema, só que fora daquele que as falas são resumidas a "Ohhhh" e "Ahhhh". E aí do sujeito que gozar antes da quinta posição antes do chuveiro.

                                                          É preciso querer tudo e sempre mais. Não se contentar em dormir de conchinha numa noite fria. Porque o simples encostar de epidermes é motivo mais que suficiente para mandar ver por horas. Eu disse horas, porque essa coisa de "ai, meu bem, desculpa, mas eu não agüentava mais prender" é coisa de gente frouxa. Tem que segurar o mastro levantado durante todas as preliminares, que devem incluir a maior gama possível de acessórios e repertório. E não pode repetir o falatório quando estiver lá engatado. Chamou de cadela uma vez, esqueça. Pediu para ser fodida, um abraço. Não pode falar de novo, então trate de devorar um dicionário de termos para quando os zoínhos começarem a virar. E vão virar pacas. Contadas as dúzias, como se colocassem ovos dentro da embalagem de papelão com serragem.

                                                          E tome estimulante por todos os buracos do corpo, como um bando de fardados malucos marchando frenéticos avenida abaixo durante o sete de setembro. Transpirando, bufando a ópera ridícula dos sentidos entorpecidos, da carne sendo esfolada pela obrigação insana de mais e mais e cada vez mais até a TV dizer chega. Ejacular baldes de sêmen por todo corpo, sim, porque é assim que se faz, abre a boca vagaba e toma o suco do seu macho, é, engole tudo, isso, hum, isso, hum. Ou você quer parecer careta, frígida, quadrada. Por acaso dorme no mesmo quarto que os pais? Tá com vergonha? Não pode ter vergonha, medo, satisfação, tesão acumulado, falta de vontade, sono, unha encrava, porque tem um monte de gente aí querendo, então trate de botar isso aí pra funcionar. Tem que fazer Sade parecer um colegial.

                                                          O que? Menos de quatro variações? Qualé, tá me achando com cara de que? Da sua mãe, aquela coitada que pariu meia dúzia de iguais a você que ficam agora ai regulando essa carne mal azeitada? Toda hora é hora e todo lugar é lugar. O cio é coisa de bicho, o lance é a paudurescência eterna para ambos, um jardim de delícias inconciliáveis como querer e poder. Inibição é para os sujeitos de chapéu de feltro e luvas de veludo, a gente quer mesmo é a esbórnia eterna. Absoluta, total e irrestrita. Ninguém mais tem sexo, o que vale é fazer sexo.

                                                          Romantismo de cu é rola e ta sentado nos bancos escolares burgueses. Vale é a repetição do moto perpétuo, inconsciente e acelerado, insano, quase um ataque cardíaco cada vez mais iminente. O rubor surge mesmo quando se diz que ah, ontem a gente só dançou abraçadinho aquela do Neil Sedaka e foi pra cama pra poder acordar cedo e caminhar no calçadão. Nada de substâncias, nada de substancioso, apenas o bom e velho amor. Aquele feito de levinho, em meio a risadinhas e carícias, cheirando a hidratante pós-banho e condicionador, lençóis limpos, juras impossíveis e absurdas, quente e úmido, macio e confortável, seguro como gostamos de acreditar que era nos tempos dos nossos avós. O colchão sequer range. E no final, nem sede dá. Apenas o gosto das salivas misturadas e nada mais.

                                                          Agora dá licença que eu vou lá pra trás brochar. Eu mereço.

                                                        Comeram a Cicarelli!


                                                          Tomara que o pau desse FDP caia...

                                                          Humpft!

                                                        sexta-feira, setembro 15, 2006

                                                        O cru e o cozido



                                                          - Tu gostou de mim na minha pior fase, né?
                                                          Ela abre um sorriso tímido. Cerra os olhos em interrogação.
                                                          - Como assim, na sua pior fase?
                                                          Ele se endireita.
                                                          - Ah, naquela época eu era bem estragado, pô. A cara cheia de espinha, o cabelinho repartidinho para o lado, não sabia combinar roupa. Lembra, eu usava a camisa por dentro da calça e a calça, putz, quase no umbigo. Fora os óculos de aro dourado.
                                                          Ela estala a língua. O sorriso se transforma num simples risco entre os lábios. Ajeita o cabelo para trás da orelha esquerda. Nada diz. Ele continua.
                                                          - Hoje não, né? Cresci, dei uma encorpada, minha pele melhorou, tenho esse cabelo legal - chacoalha o rabo-de-cavalo - tenho meu próprio carro, grana, e, modéstia a parte, fiquei muito bom de cama. Lembra quando começamos? Putz, eu devia ser horrível, todo ansioso e tal.
                                                          Ele dá uma risadinha nervosa. Ela tenta um sorriso. Abaixa os olhos fingindo procurar alguma coisa no chão. Levanta a cabeça e o fita.
                                                          - Prefiro você antes, sabia?
                                                          Ele força um riso.
                                                          - Por que?
                                                          Ela responde, soltando a respiração de leve, mexendo pouco os lábios.
                                                          - Porque você podia ser só um moleque, durango, até meio feio e desengonçado, mas era tão mais legal. Não que hoje você não seja, mas antes era mais, ai, espontâneo, sabe? Inocente. Você era legal por ser legal. Não para comer alguém ou algo do tipo.
                                                          Ele emudece. Os olhos vidram nela. Sente as mãos suarem. Sabia que aquilo não daria certo.
                                                          - E porque você acha isso?
                                                          Ela toma novo fôlego.
                                                          - Dá pra perceber, ué. Gostei de você no meio de todos os seus amigos bem mais bonitos que você porque era especial. Tinha um jeito de se destacar que eles não tinham. Era amável, carinhoso, carente até, e sabia escrever poesia. Era de uma tristeza bonita, sabe, desarmada. Hoje não. Hoje você parece magoado, sempre pronto para reagir. Sempre julgando, apontando o dedo, dono da verdade.
                                                          Ele engole em seco. Ela continua.
                                                          - Não sei se porque éramos muito novos e não conhecíamos muita coisa sobre tudo e então tudo era novidade, e agora, sei lá, você é todo cheio de si. Não discuto que está melhor, mas melhor em que? Em magoar as pessoas? Em mentir? Em ser egoísta? Isso é ficar melhor? E aí você vem e critíca o meu gosto musical, minha família, cheio de sarcasmo, como se só você entendesse a piada. O que você ganha com isso?
                                                          Ele já não absorve mais, está em modo de auto-defesa. Rebate de pronto.
                                                          - Eu me basto. Ao contrário de antes, que vivia choramingando pelos cantos por causa de qualquer garotinha, hoje eu posso escolher. Não preciso mais citar versos da Legião.
                                                          Ela altera a voz. Dispara, interrompendo.
                                                          - E acha isso bom? Acha que não precisa de ninguém? Vai ficar escolhendo até quando? Você não faz idéia do quanto me machucou. As coisas que fiquei sabendo depois, nossa, só pioraram tudo. Eu te odiei mais do que tudo no mundo, porque acreditei em você, no que você me falou e escreveu. Sabe, não precisava ter sido daquele jeito. Eu era apaixonada por você, faria qualquer coisa por você e você sabe disso.
                                                          Ele sente que não pode ganhar. Engole seco novamente. Ela não dá trégua.
                                                          - Foi difícil te esquecer. Mas hoje, vejo que não perdi nada. Aquela arrogância que era até engraçada, porque não tinha fundamento, ficou séria. Tem dinheiro, tá, e daí? Acha que só isso basta? Então você não sabe nada da vida. Não sabe nada de amar e de sofrer, de se entregar a alguém total e cegamente. Porque só quer saber o que se passa abaixo da sua cintura, só isso te interessa.
                                                          Ela pára. Os olhos estão duros. As mãos param de chacoalhar. Ele a fita, a boca retorcida num gesto de conformismo covarde. Foi pior do que imaginou.
                                                          - Eu não sou esse monstro, tá?
                                                          Ela abaixa a voz. Alisa os cabelos para trás.
                                                          - Você deixou que aquele moleque feio tomasse conta de você. Tá tudo invertido. O que era bonito foi pra fora, e o pior entrou pra dentro. Quer descontar no mundo uma culpa que ele não tem. Você sofreu? E quem não sofreu quando era adolescente? Vai ficar se fazendo de vítima atrás dessa pose toda? Sabe, parece que você vive apenas para provar para o mundo que ele estava errado, que hoje você é melhor que antes e que as pessoas precisam te admirar por isso. Elas vão te admirar pelo ombro sincero que você oferecer à elas, e não pelo tamanho do seu pau.
                                                          Ele tenta.
                                                          - Eu sou o que sou. E sou feliz assim. Não preciso ficar me...
                                                          Ela se altera novamente, rasgando. As mãos voltam a chacoalhar.
                                                          - Ótimo, então vai viver sozinho. É isso que você quer? Quer um monte de gente pagando pau pra você sem um motivo de verdade? Porque é isso que você se tornou. Alguém com cada vez menos a oferecer. Ao contrário de antes. Por isso prefiro você antes. Sincero. Puro. Inocente. Entregue. Ah, sei lá. Tá tarde e eu preciso ir embora.
                                                          Ela se levanta. Enfia a foto no bolso e sai andando. Ele não esboça movimento. O vento sopra quente e a tarde vai caindo. Sente vontade chorar. Mas não chora. Levanta, bate as mãos na parte de trás da calça e entra no carro. Dirige em silêncio.

                                                        quinta-feira, setembro 14, 2006

                                                        Beijo


                                                          - Me dá um beijo?

                                                          - Claro!

                                                          - Não, aqui não.

                                                          - Então onde?

                                                          - No pau.

                                                        quarta-feira, setembro 06, 2006

                                                        Um mistério chamado Lenine



                                                          Não costumo postar minhas colunas do jornal. Na verdade, são os posts que acabam sendo impressos. Mas esta eu preciso colocar, tamanha quantidade de e-mails que recebi sobre a dita cuja...

                                                          Existem muitas coisas que eu não entendo. Algumas vezes, por falta de informação. Outras, por limitação intelectual mesmo. Porém, existem casos que desafiam minha perspicácia sobremaneira. Sujeitos que me colocam numa verdadeira sinuca de bico, um beco sem saída, numa situação de desconforto imensa. Assim é toda vez que me deparo com a entidade chamada Lenine.

                                                          Este mês o sujeito protagoniza o infame "Acústico MTV", programa cujo formato parece servir ao propósito único de reavivar carreiras falidas, como fez com os Titãs, Capital Inicial e Cássia Eller. Por isso, o cabeludo está onipresente na programação da emissora, sendo entrevistado por todos os VJs da casa e respondendo a perguntas feitas apenas para mantê-lo no ar, do tipo "O que você acha da Shakira dizer que gosta de andar nua pela casa?" ou "Você tem muitos amigos na Rússia, né?". Pura besteira, enfim.

                                                          Mas se fosse só isso, tudo bem. A MTV não passa de uma sucursal das grandes gravadoras, vive disso, então não se pode esperar nada diferente dela. Mas não é só a emissora musical. Alguns meses atrás, a Bizz trouxe meia-dúzia de páginas sobre o cantor. Ah, não. Nenhuma revista dedica mais que duas páginas para alguém a não ser que este seja realmente importante. E é ai que me pego a pensar. Qual a importância de Lenine? O que ele representa? Que diferença faz?

                                                          Alguém realmente dá atenção para o que ele produz?

                                                          Porque eu, sinceramente, não consigo enxergar nada nele ou em sua obra. E olha que eu fiz o sacrifício de ouvir alguns de seus discos e ler a respeito. Lenine veio na esteira da morte de Chico Science e da descoberta da mídia pelo mangue beat, assim como outros conterrâneos do mesmo calibre que o seu, como Chico César, Zeca Balero e Otto. Mas diferente da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A, remanescentes legítimos do movimento e que apresentam propostas musicais inovadoras, Lenine e sua turma fazem um tipo de MPB bunda-mole, calcada em óbvias misturas regionais e letras que mais parecem saídas de um gerador automático de composições. Um tipo de mistura bizarra de Djavan com Dorival Caymmi totalmente dispensável.

                                                          E isso me intriga. Não é possível que a mídia dê tanta atenção para alguém que, acredito, não seja um grande vendedor de discos. Isso vai contra os princípios básicos do capitalismo. Não sei qual é o número de vendagem de seus últimos CDs, mas acredito ser insuficiente para lhe garantir tamanha exposição. Então porque insistir num sujeito desse naipe? O que faz sua gravadora gastar dinheiro em novos projetos e divulgação do músico? Se alguém souber, por favor, me responda.

                                                        ... e ponto final




                                                          Well, I am just a monkey man
                                                          I'm glad you are a monkey woman too

                                                        Bauru, início dos anos 90, pichação na Rua Manoel dos Santos Quialheiro



                                                          "Um beijo de língua
                                                          é um beijo fatal
                                                          começa na boca
                                                          e termina no pau"

                                                        segunda-feira, setembro 04, 2006

                                                        Take over me


                                                        Audioslave lança mais um discaço.

                                                        Materinha minha hoje no TD.

                                                        quinta-feira, agosto 31, 2006

                                                        Museu de grandes novidades


                                                          Requisitos para ser uma cantora de sucesso nos EUA

                                                          1. Bunda

                                                          2. Boca suja

                                                          3. Bunda

                                                          4. Saber rebolar

                                                          5. Bunda

                                                          6. Saber fazer poses de rapers

                                                          7. Bunda

                                                          8. Saber "pagar" de vagaba

                                                          9. Bunda

                                                          10. Ostentar pose de fodona

                                                          11. Bunda

                                                          Mais novo exemplar da espécie: Fergie, ex-Black Eyed Peas


                                                        quarta-feira, agosto 30, 2006

                                                        Pearl Harbor

                                                        Esse Inagaki tá cada vez mais pop. Não contente em ser fonte da "Época", o japa agora virou fonte da "Folha", pagando de humildão na Folha Informática de hoje. Daqui a pouco, vai cobrar pra deixar comentário.

                                                        A propósito Ina, já pode descontar aquele chequinho, beleza?

                                                        Cadernos de Acadjimia - Capítulo 3 - Da cantada gay


                                                          É fato: uma hora ou outra, alguém vai te cantar entre um supino e um peitoral. Isso eu já sabia. Mas não esperava que fosse tão cedo. E com um cara. Levando em conta que o máximo de experiência homossexual que possuo são as bolinações diárias do Dringola no jornal e um furtivo e desavisado selinho em Deus, até que me sai bem.

                                                          O cara é assíduo freqüentador do aparelho destinado ao fortalecimento de glúteos e isso já levanta suspeitas. Todo mundo que freqüenta ou freqüentou uma academia sabe que o tal dispositivo é quase exclusivo da mulherada, que quer, por N motivos, ficar com a bunda dura e empinada. Nada contra. Nádegas são assunto encerrado antes mesmo de começar. Eu prefiro manter minha bundamolice típica de quem não dá bolotas para o papo.

                                                          Mas o cara curte o lance. E eu estava no aparelho ao lado, puxando ferro pra desenvolver o tríceps, que descobri ser o músculo localizado abaixo do bíceps. E qual não foi minha surpresa ao constatar que eu também tenho um e em bom estado de conservação. Talvez pela falta de uso, penso, quando sou interrompido pelo sujeito dos glúteos.

                                                          - Ei, já tá dando resultado, hein?

                                                          Eu olho para ele, num sorrisinho amarelo. Chacoalho a cabeça e inspiro um "é" cheio de reticências. Ele continua.

                                                          - Não faz nem três semanas e os braços já está bem desenvolvidos, né? Seu porte físico é bom, você é magro, então ajuda.

                                                          Não consigo evitar o rabanete que minha cara toma cor. Solto outro "é", desta vez seco. O homem-bunda não se dá por vencido.

                                                          - Eu demorei um tempão para conseguir uma definição assim. Tá puxando quanto de supino?

                                                          Aí foi demais. Achei melhor responder, no melhor estilo Leão da Montanha.

                                                          - Nem sei, sabe? O professor coloca e que faço. Mas não quero ficar muito forte, não. Minha mãe não quer, disse que filho dela deve ser esguio e elegante. Ah, minha mãe é demais, ela sabe tudo de tudo e quer só o melhor para mim. Por isso eu amo tanto ele e faço tudo o que ela pede.

                                                          O senhor-das-nádegas faz um "hã" com os olhos vidrados no nada e volta a esfolar a bunda. Eu pico a mula para o aparelho de supino, do outro lado da sala.

                                                        terça-feira, agosto 29, 2006

                                                        segunda-feira, agosto 28, 2006

                                                        Tempos Modernos ou Lulu Santos é Um Bosta Mesmo



                                                          Bob Dylan tem 65 anos e assovia, chupa cana e toca gaita ao mesmo tempo. Já fez tanto pela música que poderia muito bem se eternizar num desses takes de cidade de interior, o sujeito na varanda da casa, pra frente e pra trás numa cadeira de balanço, contemplando o infinito enquanto masca qualquer coisa. Mas não. Não o velho Robert. Não cara que redefiniu o rumo da carreira dos Beatles. Não o moleque que peitou os próprios fãs em nome de sua arte. Não. Ele, não.

                                                          Lançando um disco depois de um hiato de cinco anos, ele continua rock´n´roll. Em sua mais recente entrevista, diz que as gravações feitas hoje possuem qualidade detestável. "Não há definição de nada, não há vocal, nada, é como... estática", bradou o bardo há coisa de uma semana, na Rolling Stone. Seria apenas capricho de um velho rocker, sinais de que até as lendas tornam-se recalcadas e reclamonas com o passar do tempo, deixando para trás o entusiasmo de outrora e entregando-se ao inevitável inverno de suas existências criativas? Pode ser. Mas não o velho Mister Zimmerman. Ah, não senhor.

                                                          Sua verborragia vai além de críticas aos padrões técnicos de gravação.

                                                          "Comentando as reclamações da indústria da música de que os downloads ilegais significam que as pessoas estão conseguindo suas músicas de graça, ele declarou: 'Bem, por que não? Não vale nada mesmo'".

                                                          Sacaram? O maior compositor da era de ouro do rock, a referência suprema para qualquer um que se decida como músico de verdade, afirma que suas canções não valem nada. Novamente: não é o Tatau do Araketu quem está dizendo isso. É Bob Dylan. O último sujeito de quem se esperaria uma declaração desse tipo. Mas ele a faz exatamente porque pode. Ao contrário do Tatau do Araketu, ou do Lulu Santos do título, gente sem talento que sobrevive graças ao péssimo gosto musical do brasileiro médio, e por isso briga feito cachorro vira-lata por causa de um osso velho, Dylan não dá a mínima para isso. Ele se garante e sabe disso.

                                                          E "Modern Times", a bolacha que tem lançamento oficial amanhã, é a prova. Dez canções bobdylianas. Gaitas, guitarrinhas à la Chuck Berry, pianos de saloon, e a voz tão malhada pelo tempo que sequer se nota seu canto nasal. E, claro, as letras. Aquelas que ele está pouco ligando. Logo na primeira, cheia de um desolado sarcasmo, ele canta que estava pensando sobre Alicia Keys e não pôde conter as lágrimas. Precisa de mais?

                                                          Precisa. Precisa ouvir o disco inteiro. Tá aqui, ó. A senha é Opus666. Cortesia, claro, da galera do Opus666, que merece visitas periódicas, diga-se de passagem.

                                                          Agora vai pagar pau para o mestre, vai.

                                                        domingo, agosto 27, 2006

                                                        Resposta


                                                          Ah, mas você ta fudido agora. Vou espalhar que não sou mais aquela de outrora. Começarei descrevendo trepadas alucinadas, cheias de perversão e ressentimento, que de tão detalhadas você vai chegar a sentir aquele cheiro que te arrepia as costas. Vou contar de orgias memoráveis, quatro, cinco sujeitos me varando em meio a impropérios dos mais inadmissíveis para a mocinha de família aqui que você conheceu. Sim, porque familiar é a última coisa que irei soar.

                                                          Eu sei que isso te faz sofrer. Me imaginar fazendo com os outros o que queria que eu fizesse com você. Porque era exatamente isso que eu representava para você, não é? Uma boneca inflável de carne e osso, um pedaço de gente feito para treinar, usar, sugar até a última gota de fluído lubrificante e aí dar um tempo, fumar um cigarro, baforar dentro da garrafa e sair gingando. Então você merece tudo isso. Merece mais. E é isso que vai ter.

                                                          Sei que não vai resistir e vai dar um pulinho aqui uma hora ou outra. Porque vou atualizar isso aqui para os seus amigos. Vou inclusive incluí-los nos meus feitos. Todos eles. Um de cada vez ou de uma vez, não vou poupar nada. Deixar fluir tudo aquilo que você se esforçou tanto para eu liberar, só que agora você vai só olhar. Não vai aproveita de um centímetro suado sequer desse corpo. Um sadismo voyerístico que, tenho certeza, vai te torcer o estômago bem devagarzinho, linha a linha.

                                                          Porque o que vou escrever vai te fazer se arrepender de tudo o que jamais deveria ter feito. Transformarei sua menininha na maior serviçal da sacanagem que jamais existiu. E você vai ficar sabendo, ah, isso eu garanto. Cada gota de líquido que fluir será incansavelmente descrita, analisada e contextualizada de acordo com a situação. Nada ficará de fora do que eu fizer ou fizerem comigo. E eu lhe asseguro: não será pouco. Ah, mas não será mesmo.

                                                          Serei o assunto do dia em fóruns e chats dedicados ao meio. Até quando estiver almoçando meu nome correrá, mesmo que baixinho e discreto, nas mesas repletas de idiotas como você. Logo vão te questionar se tudo aquilo que escrevo é verdade, e quanto mais você negar ou me tripudiar, mais atiçará a curiosidade deles. E mais vontade terei de compartilhar e ser compartilhada. Sua dor só não será maior que sua vergonha, porque pode ter certeza que a última coisa que te darei será destaque. Muito pelo contrário.

                                                          E não haverá saída. Onde você estiver eu vou te achar. Não porque quero, mas porque irão te dizer, encher de perguntas, fazer insinuações, levantar suspeitas das mais diversas sobre nossa vida juntos. Cada trecho do que eu escrever será tão repleto e completo do mundo que você supõe imaginar que será difícil duvidar da veracidade dele. Mesmo assim, você não acreditará totalmente no que vai ler. E isso será ainda melhor. Porque vou lhe dar o sagrado benefício da dúvida. De agora em diante. Só eu e você. Até o fim.

                                                        sexta-feira, agosto 25, 2006

                                                        ... and I feeling good


                                                          Placebo me dá vontade de comer todo mundo. Com Bon Jovi me sinto um panaca. Os Rolling Stones revelam meus instintos mais primitivos. Paul, John, Ringo e George me lembram da esperança que não posso perder.

                                                          Magic Numbers me dão vontade de ser alguém melhor. Com Billy Holiday me sinto o mais fodão dos homens. Os Ramones revelam uma vontade incontestável de voltar a ser adolescente. Morrissey e Marr me lembram de uma tristeza violácea que não posso perder.

                                                          Led Zeppelin me dá vontade de botar pra quebrar. Com Arcade Fire sinto as lágrimas rolarem em profusão. Os Strokes revelam meu lado briaco. Kurt, Krist e David me lembram de uma rebeldia que não posso perder.

                                                          Panic! At the Disco me dá vontade de dançar. Com Kings of Leon sinto uma saudade imensa de um tempo que nem se foi. Os irmãos Gallagher revelam uma arrogância inglesa podre de charmosa que aprecio com um leve sorriso de canto de boca. Renato Russo me lembra de uma idade que há muito passou.

                                                          Lou Reed me dá vontade de ir à Nova Iorque. Com o Grand Funk Railroad sinto minhas mãos prontas para uma air guitar. Os Hellacopters revelam uma vontade imensa de montar uma banda. Bono, The Edge, Larry e Adam me lembram que faz música pop é para poucos e bons.

                                                          David Bowie me dá vontade de comprar todos os seus discos. Com Iggy Pop sinto meu couro cabeludo arrepiar aos primeiros acordes. Os Arctic Monkeys revelam que o tudo e o nada na cultura pop é separado por uma linha mais tênue do que se imagina. Bob Dylan me lembra que ainda preciso ouvir muita música.

                                                        Trutas

                                                        Tá, eu sei que sou um péssimo amigo. Deixei de fora dos meus links MUITA gente boníssima que leio com freqüência.

                                                        E aí? Farta alguém?

                                                        Cadernos de Acadjimia - Capítulo 2 - Do contingente feminino



                                                          Academia, a priori, é lugar de mulher. Foram elas que começaram essa história toda. Malhar para queimar as gorduras acumuladas em décadas de opressão via tanque-cozinha-sala-de-parto-igreja. Mas o motivo não era ficarem melhores para si mesmas, e sim para os machos caçadores. Advindas da geração que popularizou o divórcio, precisavam se manter competitivas na disputa pela preferência masculina mesmo após conquistarem o direito de ir e vir com quem bem entendessem. Eram, ainda, subservientes. As academias, templos onde se preparava para serem mais tarde sacrificadas em prol do ideal masculino de beleza.

                                                          Hoje não. O número de mulherzinhas a fim de agradar o marido pançudo e meia-bomba em casa é bem pequeno. A maior parte quer mesmo é ficar gostosa porque quer. Porque quer se sentir assim. Porque quer competir com a filha adolescente. Porque quer ser melhor que as amigas. Porque quer que o bisonho do companheiro tenha ciúmes dela quando um garotão grudar os olhos nela durante uma volta pelo shopping. Porque quer poder usar roupas quatro números menores. Porque tem motivos de sobre para fazer tudo isso e muito mais.

                                                          - Amiga, consegui levantar sete quilos hoje!
                                                          - Nossa, não acredito! Deixa ver. Que beleza, hein?
                                                          - Aí, tô realizada, sabia?

                                                          As duas aí de cima são ratas de academia, daquelas que andam pra cima e pra baixo pela sala de musculação com pesos amarrados na panturrilha, envoltas em colants tão justos quanto Salomão e cabelos bem cuidados. Vivem para isso. Se realizam ao levantar pesos, tem braços e pernas bem torneados e forte. Deus me ajude se um dia levar uma chave-de-perna de uma delas! São personal trainers de homens babões, para os quais não dão moral alguma. Elas se bastam, uma mistura heterogênea de hedonismo concentrado bem fundamentado. Agem como sargentos consigo mesmas e não se permitem risos durante o tempo que passa por lá.

                                                          Mas há aquelas que encaram de outra forma. A academia pode se também um parque de diversão, uma extensão da sala de espera de um consultório ou da manicures. Enquanto fazem esteira (e como fazem!), engolem oxigênio apenas quando o assunto acaba. E assunto não falta. Do roupa que a Ana Maria Braga está usando naquela manhã até a fulana que injetou silicone.

                                                          A garota passa, sorridente, lépida, cumprimenta o grupo ombreado que correr sem sair do lugar e desce. Uma vira para outra e comenta.

                                                          - Você viu? Ela colocou silicone.
                                                          - Ah, é?
                                                          - Claro! Pelo visto, 300ml em cada peito.
                                                          - Verdade? Mas ficou bom, né? Nem parece.
                                                          - Não sei, não. Ela é muito pequena para tanto. Acho que ficou exagerado.
                                                          - Ai, eu também queria colocar. Mas tenho medo, vai que...

                                                          Bom, o bebedouro me espera.

                                                        terça-feira, agosto 22, 2006

                                                        Machismo


                                                          Calça jeans. Camiseta preta. Lentes de contato. Óculos escuros. Cabelos soltos. Coturno esfolado. Um hardrock setentista qualquer. Todo tempo do mundo para perder. Ninguém para dividir opniões. Long neck suada. Uma pista qualquer para não ter onde ir. Cair da tarde.

                                                        segunda-feira, agosto 21, 2006

                                                        Cadernos de Acadjimia - Capítulo 1 - Do início


                                                          Exercício físico é um troço sacal. Um lugar que reúne um monte de gente para fazer exercício físico pode ser considerado então algo simplesmente aterrador. Tem gente que morre de medo de dentista. Outros, de fazer baliza. Um bom número se pela só de ouvir falar em exame e próstata. E outro tanto se caga só de ouvir falar em uma academia de ginástica.

                                                          Eu em encaixo em alguns destes grupos, mas especial no último. Tenho pavor de academia. Aquela clima veladamente opressor, que te joga pra baixo sempre que você levanta a cabeça. Sim, porque sempre que você levantar a cabeça, num movimento talvez de resgate de auto-estima, vai dar de cara com alguém mais forte, mais magro, mais bonito, menos suado ou, no mínimo, com uma bunda melhor que a sua. E isso, convenhamos, não é nada motivador.

                                                          Porém, alguns males se fazem necessários. Como decidi não ir mais ao dentista e não fazer mais baliza, precisa, até por uma questão de honra, encarar uma academia. Dos males, o menor. Afinal, dente podre pode ser reposto, e estacionamento com manobrista é o que não falta no centro da cidade. Mas condicionamento físico, ah, isso ninguém pode fazer para alguém.

                                                          E foi exatamente esse o motivo que me levou a um desses templos do hedonismo pós-moderno, em minha, vejamos, duodécima tentativa de permanecer mais que um mês no meio da peculiar fauna coberta de lycra que habita cada metro quadrado do lugar e respira os mesmo metros cúbicos de oxigênio viciado. Precisa, aos 25 anos, me prevenir de futuros imprevistos de ordem sexual. Sim, sexo foi o que me motivou a começar a acordar às oito horas da madrugada e rumar, cambaleante, ruminando qualquer tubérculo, para uma academia.

                                                          Porque sexo é o único tipo de atividade física que me permito nos últimos, vá lá, 3 anos, quando protagonizei minha última estadia em uma academia. Desde então, venho me empenhando em aperfeiçoar o barato, refinando e aprendendo técnicas, aumentando ou diminuindo proporções, estudando movimentos, pesquisando a respeito, avaliando situações, definindo prioridades, enfim. Entrando de cabeça, com o perdão do trocadilho. Só que para tudo isso, é preciso fôlego. E fôlego é algo que não se encontra nas porções de medalhões de bacon com molhor rose regados a dúzias de cerveja às 4 da matina de sexta-feira.

                                                          Fôlego está intimamente ligado ao condicionamento físico. E condicionamento físico quer dizer fazer exercícios físicos, que é um troço extremamente sacal mas, pelo visto, necessário. Porque, por enquanto, dou lá minhas 2 ou 3 segurando legal até o final. Mas e daqui há 10 anos, quando meu organismo parar de absorver meus abusos com a facilidade de hoje? Para onde vai a cerveja que, é fato, não vou parar de tomar com os camaradas? E os beliscos irresistivelmente gordurosos? Dúvido que minha rotina de trabalho, que é ficar sentado o dia todo dando nó em pingo d´água, irá mudar.

                                                          Por isso, resolvi me precaver. Não quero chegar aos 30 e poucos dando malemá uma bimbada, deitando pro lado com a língua de fora, arfando feito um cachorro com sede. Tá loco, neguinho! Porque se sem uma coisa que não se pode abrir mão é de sexo. E precisa ser intenso, forte, visceral, feito com todos os órgãos, partes, dobras, membros, glândulas e sistemas do corpo. Senão, é punheta. E até para uma bela punheta, sejamos francos, é preciso fôlego.

                                                        sábado, agosto 19, 2006

                                                        Espelho


                                                          Queria te odiar. De verdade. Do fundo do coração. Com todos os chavões possíveis e imagináveis. Depois, te ignorar. Chutar essa mão que insiste em estender sempre que eu passo. Cuspir nessa sua cara lavada. Te humilhar na frente dos teus amigos, te desmentir para recém-conhecidos, te difamar para estranhos. Largar de uma vez esse fardo que é a sua lembrança e me assalta a cada esquina que cruzo. Parar de me policiar toda vez que ouço aquele acorde no meio da noite e os olhos umidecem e o rosto esquenta. De medo. De vergonha. De vontade. De saudade. Porque sempre que eu penso nos seus pêlos, meu estômago embrulha e meu pau endurece. É quando nada parece fazer sentido que tiro desse fundo de poço que enfiei minha mente a força necessária para segurar o vômito que sua imagem me faz querer botar pra fora. Onde coloquei a maldita bolsa de viagem cheia de maus pensamentos que tinha guardado para quando sua boca aparecesse na minha retina e me tirasse para dançar nessa pista mal iluminada e cheia de cantos escuros e promissores que são as suas dobras? Porque posso sentir sua respiração marcando os meus batimentos cardíacos nas noites que os copos esvaziam na mesma proporção que minha descência escorre pela declaração invisível do amor incondicional por mim mesmo. Assino com sangue, suor e sêmem este contrato que disponho das minhas faculdades em troca de um espelho, que não consigo quebrar e que se mantém onde sempre esteve: na minha frente.

                                                        quinta-feira, agosto 17, 2006

                                                        TODO mundo


                                                          TODO mundo que...

                                                          ... comprou o primeiro disco do Velvet Underground, montou uma banda

                                                          ... leu "Tanto Faz", do Reinaldo Moraes, virou escritor

                                                          ... assistiu a "Top Gun", quis ser piloto da Marinha norte-americana

                                                          ... comprou a Playboy da Marisa Orth, se arrependeu

                                                          ... viu o Pelé jogar virou santista

                                                          ... viveu os anos 60, não se lembra disso

                                                          ... jogou "Wolfenstein 3D" quis sair atirando pela vizinhança

                                                          ... teve vinil dos Beatles inverteu a rotação atrás de mensagens subliminares

                                                          ... dirigiu um Fiat Uno, nunca mais comprou um Fiat

                                                          ... assistiu a "Titanic", chorou ou serviu de lenço

                                                          ... fez a brincadeira do copo, ficou sem dormir a noite

                                                          ... tomou glicose na Unimed, adorou e pediu mais

                                                          ... dançou a coreografia de "Macarena", nega veementemente

                                                        quarta-feira, agosto 16, 2006

                                                        Eu e os outros


                                                          Alugar filme pornô ainda me custa. Não deveria, mas custa. E estranho, parece que piora a cada ida à locadora. O motivo, creio, é porque comecei a me preocupar com a opinião alheia. Com os possíveis comentários que meu ato irá deflagrar quando eu virar as costas em direção à saída. E isso me preocupa.

                                                          A primeira vez que aluguei um filme pornô faltavam coisa de doze horas para eu completar 18 anos. Era uma sexta-feira, eu estava de férias do trabalho e minha namoradinha morria de curiosidade sobre o que havia além dos pornô softs dos fins de noite saturninos da Bandeirantes. Decide resolver o problema dela, claro.

                                                          Na cidade, duas filiais de grandes cadeias de locadoras haviam se instalado praticamente ao mesmo tempo. Minha mãe, preocupada com o estofo cultural dos seus pimpolhos, logo abriu ficha em uma delas. Eu, óbvio, não sabia em qual. Apenas tinha a informação de que, em alguma delas, que distavam coisa de um quarteirão uma da outra, o nome de mamãe me abriria uma porta que jamais se fecharia.

                                                          Resolvi arriscar. Pedalei coisa de 4km até a primeira. Entrei então num mundo bem diferente daquele que estava acostumado. Diferente das velhas locadoras de bairro, com as paredes forradas de cartazes amarelados noticiando o lançamento de cacarecos, atendentes que anotavam a saída das fitas em fichinhas de papel-cartão ocre, e parca iluminação, a nova loja era limpa, ampla, iluminada e com lançamentos em profusão.

                                                          Localizei o que buscava e fui direto. Dentre as milhares de carnes alí expostas para a venda, me fixei num título. "Aposte seu Bumbum". Aquilo parecia ser bom. A sinopse dava conta de uma rodada de pôquer onde os jogadores literamente colocavam os seus na reta. Devia ser muito bom.

                                                          Vou até o caixa. Uma mulher com uma camiseta de propaganda de algum filme e longos cabelos negros e com permanente pergunta meu nome. Digo. Nada consta no sistema. Digo o da minha mãe. Menos ainda. Opa. Falo o do meu pai. Necas. O do meu irmão, talvez? Sem chance. Ela sorri amarelo. Digo que vou ver o que aconteceu e volto mais tarde para levar o filme.

                                                          Era a outra locadora, claro. Pedalo até a outra loja. Entro, destemido, sem desviar o olhar do reservado para os pornôs. Pego o primeiro que vejo na frente. "Potrancas Européias no Cio". Caraca. Na contracapa, o texto dizia se tratar da primeira experiência de atrizes européias nos EUA. Hum, intercâmbio, porque não?

                                                          Vou direito para o caixa. O atendente, um rapaz com pouco mais que a minha idade, pergunta no nome de quem está a ficha. Digo o da minha mãe novamente. Funciona. Beleza. Sem mais perguntas. Ele ensaca a fita e eu saio voando baixo para avisar a namoradinha de que o ovo estava no ninho.

                                                          Agora, quando entro na mesma locadora, com o mesmo objetivo de há sete anos atrás, meu estômago embrulha. Sinto suar frio, a boca secar, os dedos estalarem uns nos outros. Na minha cabeça, rasgam pensamentos que vão desde os outros freguêses que estão a escolher seus filmes até as atendentes e caixas.

                                                          O que será que a garota do caixa que der baixa na minha locação vai comentar com a companheira ao lado? "Tu viu o que aquele cara alugou? Nossa, deve ser o maior punheteiro, não deve pegar ninguém". Então penso que deveria, então, alugar algo para impresssionar, como um Bertolucci, um Truffault, talvez um Almodóvar... mas aí acho que então elas teriam certeza que não pego ninguém mesmo.

                                                          Porra, a garota do caixa sequer troca um olhar com você durante o horário de pico. Ela está contando as horas para sumir dalí e dar umas bandas, fofocar frivolidades com as amigas, aprender um novo ponto de bordado ou dar uns malhos com o namorado. Pouco importa se o sujeito alugou "Rambo 3" ou "Siamêsas Albinas Tesudas de Bariloche Encaram Gang-Bang com 10 Negros". Talvez de tanto verem o mesmo título ser locado, pensem, no máximo, que devam também assistí-lo, pois deve ser bom. Ou evitá-lo, por ser tão popular.

                                                          E há também o lado do "foda-se o que vão pensar, a vida é minha e faço o que quiser dela". Claro que não é assim. Se fosse, estaria morando no alto do Himalaia. Mas até lá precisaria me preocupar em agradar algum cabrito montanhês faminto. A questão é saber o ponto onde isso é uma constatação pura e simples, porém necessária, e onde se torna um impedimento, uma trava.

                                                          Meu impulso de agradar a caixa da locadora, buscando sua aprovação através de uma locação de alguma obra "respeitável", "inteligente", me remete as boas notas que tirava na escola apenas para agradar meu pais ou um comportamento passivo adotado para ser aceito em algum grupo. Não era eu. Era um ator, interpretando o papel que outros me impunham, tentando não frustrar suas expectativas, tentando realizar seus sonhos. Mesmo que para isso, fosse preciso abrir mão de mim mesmo.

                                                          Ou, talvez, no fundo, esteja me tocando que alugar filminho pornô a essa altura é mesmo risível.

                                                        segunda-feira, agosto 14, 2006

                                                        Nu com a mão na Heineken

                                                        Vou ficar pelado


                                                          Numa dessas apostas que surgem entre amigos, durante rodadas de cerveja, me dei mal. Não me lembro sequer o que deixei de ganhar. Apenas me lembro que perdi. E a preço, para quem perdesse, era se mostrar, como veio ao mundo, na World Wide Web. Mas como essas coisas dão trabalho, a publicação do meu primeiro nu virtual virá só amanhã. E vai ser só uma foto, porque o combinado foi esse. Nu frontal, claro, e com os cabelos soltos. Posarei - essa era outra condição da aposta - com uma garrafa daquela cerveja que tem um nome esquisito, uma estrela vermelha como símbolo e a embalagem é verde. Bão, seja o que Alí quiser.