I'm Winston Wolfe. I solve problems.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Cadernos de Acadjimia - Capítulo 2 - Do contingente feminino



    Academia, a priori, é lugar de mulher. Foram elas que começaram essa história toda. Malhar para queimar as gorduras acumuladas em décadas de opressão via tanque-cozinha-sala-de-parto-igreja. Mas o motivo não era ficarem melhores para si mesmas, e sim para os machos caçadores. Advindas da geração que popularizou o divórcio, precisavam se manter competitivas na disputa pela preferência masculina mesmo após conquistarem o direito de ir e vir com quem bem entendessem. Eram, ainda, subservientes. As academias, templos onde se preparava para serem mais tarde sacrificadas em prol do ideal masculino de beleza.

    Hoje não. O número de mulherzinhas a fim de agradar o marido pançudo e meia-bomba em casa é bem pequeno. A maior parte quer mesmo é ficar gostosa porque quer. Porque quer se sentir assim. Porque quer competir com a filha adolescente. Porque quer ser melhor que as amigas. Porque quer que o bisonho do companheiro tenha ciúmes dela quando um garotão grudar os olhos nela durante uma volta pelo shopping. Porque quer poder usar roupas quatro números menores. Porque tem motivos de sobre para fazer tudo isso e muito mais.

    - Amiga, consegui levantar sete quilos hoje!
    - Nossa, não acredito! Deixa ver. Que beleza, hein?
    - Aí, tô realizada, sabia?

    As duas aí de cima são ratas de academia, daquelas que andam pra cima e pra baixo pela sala de musculação com pesos amarrados na panturrilha, envoltas em colants tão justos quanto Salomão e cabelos bem cuidados. Vivem para isso. Se realizam ao levantar pesos, tem braços e pernas bem torneados e forte. Deus me ajude se um dia levar uma chave-de-perna de uma delas! São personal trainers de homens babões, para os quais não dão moral alguma. Elas se bastam, uma mistura heterogênea de hedonismo concentrado bem fundamentado. Agem como sargentos consigo mesmas e não se permitem risos durante o tempo que passa por lá.

    Mas há aquelas que encaram de outra forma. A academia pode se também um parque de diversão, uma extensão da sala de espera de um consultório ou da manicures. Enquanto fazem esteira (e como fazem!), engolem oxigênio apenas quando o assunto acaba. E assunto não falta. Do roupa que a Ana Maria Braga está usando naquela manhã até a fulana que injetou silicone.

    A garota passa, sorridente, lépida, cumprimenta o grupo ombreado que correr sem sair do lugar e desce. Uma vira para outra e comenta.

    - Você viu? Ela colocou silicone.
    - Ah, é?
    - Claro! Pelo visto, 300ml em cada peito.
    - Verdade? Mas ficou bom, né? Nem parece.
    - Não sei, não. Ela é muito pequena para tanto. Acho que ficou exagerado.
    - Ai, eu também queria colocar. Mas tenho medo, vai que...

    Bom, o bebedouro me espera.

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