I'm Winston Wolfe. I solve problems.

terça-feira, agosto 01, 2006

Heresia?

Quem resta comida no prato faz Jesus (para o Bia) ou Dom Bosco (para o Denitcho) chorar. Eles não gostam de desperdício quando tem tanta criancinha na África passando fome. E fazer um deles chorar é pecado, evidentemente.

Mas e restar um livro? Será que alguma figura cristã vai chorar se eu não terminar de ler um livro e jogar ele fora? Afinal, tem tanta gente no mundo sem ter o que ler, carente de leitura, que não me causaria espanto uma entidade sobrenatural ser contrária. Hum, talvez Mary Jane, pelo seu amor incondicional pelas letras... Porque quando digo jogar fora, digo enfiar num saco plástico, dar um nó na ponta e colocar na cestinha para o lixeiro levar.

Porque foi exatamente isso que fiz com "O Diário de Marise - A vida real de uma garota de programa". O CARTAPÁCIO tem inacreditáveis 415 páginas de uma prosa chatíssima em letra miúda, daquelas que, a cada virada de folha, te faz olhar a numeração para ver se já está acabando. Não dá. Simplesmente não dá.



A obra vem na esteira, claro, de "O Doce Veneno do Escorpião", da hoje ex-puta (?) e atual apresentadora de canal pornô e candidata favorita à cadeira na ABL Bruna Surfistinha. E o problema começa aí. O livro da garota que atendia num flat nos Jardins em São Paulo deve grande parte de seu sucesso ao blog que o precedeu. Ela já tinha um nome forte na Internet e havia sido capa de sites e revistas de grande porte, como o No Mínimo e a Isto É. Logo, colocar no livro o que ela já tinha no site era certeza de sucesso, pois atingiria um público que não acessa a web e, como todo ser humano, é pelo menos curioso com relação a sexo. Ainda mais uma compilação de contos pornográficos que, em tese, são reais.

O que não acontece com Marise. Ninguém a conhece. Seu livro vem para alimentar um mercado complicado, que é o de literatura ligada a sexo. Não necessariamente erótica, porque a obra está mais para uma autobiografia com tudo aquilo que todo mundo está careca de saber. A garota que precisa de dinheiro para terminar os estudos, se cansa de ralar em subempregros e entra no mundo da prostituição, onde conhece sujeitos asquerosos e passa por situações-limite, mas consegue sair do lamaçal e vai viver feliz para sempre, cheia de boas intenções e lições aprendidas. Só falta um Pangloss na história toda.

É fácil, portanto, perceber que é preciso bem mais que um XXX subentendido para vender. Bruna vendeu e se tornou um sucesso também porque seu livro é curto, rápido, intenso, e dá pra ler no banheiro numa sentada só. Já Vanessa é pura choradeira, lamentações sem fim, quase um arremedo de drama mexicano. Dá pra prever como será a próxima frase sem nem começar a anterior.

E a chamada da capa promete, claro, um mundo de delícias. Como se recortado da sessão de classificados de algum jornal, está lá: "Marise. Ruiva, olhos verdes, universitária. Linda". Aí tem o site, onde dá para ver algumas belas fotos, bem produzidas e tal. Mas nenhuma de rosto. Na contracapa do livro é possível ter uma idéia dele, mas ainda assim, bem distante dessa realidade. Brrrrr...

Então, se alguém quiser essa preciosidade, me envia um e-mail. Eu vou dar abrigo e água para ela até sexta-feira, quando, sem me preocupar com qualquer entidade civil, militar ou eclesiástica, depositarei o mesmo num grande saco preto.

Um comentário:

Simy disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!
Desculpa mas..
"Bruna vendeu e se tornou um sucesso também porque seu livro é curto, rápido, intenso, e dá pra ler no banheiro numa sentada só."