I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Eu e os outros


    Alugar filme pornô ainda me custa. Não deveria, mas custa. E estranho, parece que piora a cada ida à locadora. O motivo, creio, é porque comecei a me preocupar com a opinião alheia. Com os possíveis comentários que meu ato irá deflagrar quando eu virar as costas em direção à saída. E isso me preocupa.

    A primeira vez que aluguei um filme pornô faltavam coisa de doze horas para eu completar 18 anos. Era uma sexta-feira, eu estava de férias do trabalho e minha namoradinha morria de curiosidade sobre o que havia além dos pornô softs dos fins de noite saturninos da Bandeirantes. Decide resolver o problema dela, claro.

    Na cidade, duas filiais de grandes cadeias de locadoras haviam se instalado praticamente ao mesmo tempo. Minha mãe, preocupada com o estofo cultural dos seus pimpolhos, logo abriu ficha em uma delas. Eu, óbvio, não sabia em qual. Apenas tinha a informação de que, em alguma delas, que distavam coisa de um quarteirão uma da outra, o nome de mamãe me abriria uma porta que jamais se fecharia.

    Resolvi arriscar. Pedalei coisa de 4km até a primeira. Entrei então num mundo bem diferente daquele que estava acostumado. Diferente das velhas locadoras de bairro, com as paredes forradas de cartazes amarelados noticiando o lançamento de cacarecos, atendentes que anotavam a saída das fitas em fichinhas de papel-cartão ocre, e parca iluminação, a nova loja era limpa, ampla, iluminada e com lançamentos em profusão.

    Localizei o que buscava e fui direto. Dentre as milhares de carnes alí expostas para a venda, me fixei num título. "Aposte seu Bumbum". Aquilo parecia ser bom. A sinopse dava conta de uma rodada de pôquer onde os jogadores literamente colocavam os seus na reta. Devia ser muito bom.

    Vou até o caixa. Uma mulher com uma camiseta de propaganda de algum filme e longos cabelos negros e com permanente pergunta meu nome. Digo. Nada consta no sistema. Digo o da minha mãe. Menos ainda. Opa. Falo o do meu pai. Necas. O do meu irmão, talvez? Sem chance. Ela sorri amarelo. Digo que vou ver o que aconteceu e volto mais tarde para levar o filme.

    Era a outra locadora, claro. Pedalo até a outra loja. Entro, destemido, sem desviar o olhar do reservado para os pornôs. Pego o primeiro que vejo na frente. "Potrancas Européias no Cio". Caraca. Na contracapa, o texto dizia se tratar da primeira experiência de atrizes européias nos EUA. Hum, intercâmbio, porque não?

    Vou direito para o caixa. O atendente, um rapaz com pouco mais que a minha idade, pergunta no nome de quem está a ficha. Digo o da minha mãe novamente. Funciona. Beleza. Sem mais perguntas. Ele ensaca a fita e eu saio voando baixo para avisar a namoradinha de que o ovo estava no ninho.

    Agora, quando entro na mesma locadora, com o mesmo objetivo de há sete anos atrás, meu estômago embrulha. Sinto suar frio, a boca secar, os dedos estalarem uns nos outros. Na minha cabeça, rasgam pensamentos que vão desde os outros freguêses que estão a escolher seus filmes até as atendentes e caixas.

    O que será que a garota do caixa que der baixa na minha locação vai comentar com a companheira ao lado? "Tu viu o que aquele cara alugou? Nossa, deve ser o maior punheteiro, não deve pegar ninguém". Então penso que deveria, então, alugar algo para impresssionar, como um Bertolucci, um Truffault, talvez um Almodóvar... mas aí acho que então elas teriam certeza que não pego ninguém mesmo.

    Porra, a garota do caixa sequer troca um olhar com você durante o horário de pico. Ela está contando as horas para sumir dalí e dar umas bandas, fofocar frivolidades com as amigas, aprender um novo ponto de bordado ou dar uns malhos com o namorado. Pouco importa se o sujeito alugou "Rambo 3" ou "Siamêsas Albinas Tesudas de Bariloche Encaram Gang-Bang com 10 Negros". Talvez de tanto verem o mesmo título ser locado, pensem, no máximo, que devam também assistí-lo, pois deve ser bom. Ou evitá-lo, por ser tão popular.

    E há também o lado do "foda-se o que vão pensar, a vida é minha e faço o que quiser dela". Claro que não é assim. Se fosse, estaria morando no alto do Himalaia. Mas até lá precisaria me preocupar em agradar algum cabrito montanhês faminto. A questão é saber o ponto onde isso é uma constatação pura e simples, porém necessária, e onde se torna um impedimento, uma trava.

    Meu impulso de agradar a caixa da locadora, buscando sua aprovação através de uma locação de alguma obra "respeitável", "inteligente", me remete as boas notas que tirava na escola apenas para agradar meu pais ou um comportamento passivo adotado para ser aceito em algum grupo. Não era eu. Era um ator, interpretando o papel que outros me impunham, tentando não frustrar suas expectativas, tentando realizar seus sonhos. Mesmo que para isso, fosse preciso abrir mão de mim mesmo.

    Ou, talvez, no fundo, esteja me tocando que alugar filminho pornô a essa altura é mesmo risível.

5 comentários:

Luma Rosa disse...

Os tempos mudaram, hoje é tudo na mão pra garotada, sem trocadilho!! Não precisa ir na locadora, na net se encontra de tudo! Beijus

Brigateando disse...

Pois é, Luma! Foi nisso que me peguei pensando. Mas não resisto a uma locadora, rs!

Biajoni disse...

é afro-descendente que fala.

Dringola disse...

vamo da linha na Sol e no Delvino e contrata o Bia...kkkkkk

Anônimo disse...

Eu acho é que você tá a fim da garota da locadora...