I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Revista nova (?) chegando


    O mercado editorial brasileiro é cruel. E em se tratando de revistas, parece que o único tipo de publicação que possui demanda por aqui é o voltado para escarafunchar a vida de gente que parece viver para ter a vida escarafunchada. Futilidade, enfim. Para que, como eu, gosta de música e ler a respeito, a coisa se torna mais desesperadora ainda. Entretanto, parece que isso está para mudar. A notícia é que a Rolling Stone, mítica publicação norte-americana, está para ganhar edição nacional. E isso merece algumas considerações, talvez até previsões. Boas e nem tanto.
    Para começar, revista de música hoje no Brasil atende pelo nome de Bizz. Em sua gênese, a publicação foi o celeiro de uma galera que praticamente fundou o jornalismo musical no país. Hoje, é uma panelinha, formada por gente comprometida com gravadoras, dependente de sobras e que pode voltar a desaparecer a qualquer momento. Tanto que nem assinatura possui. Logo, ler sobre música em papel é tarefa ingrata. Por isso, nada mais natural que migrar para a Internet, que abriga gente muitíssimo mais capacitada, interessante e inteligente riscando sobre o assunto. Agora, com a chegada de uma revista do porte da Rolling Stone, algumas pedras podem rolar, com o perdão do trocadilho.
    A revista, fundada na segunda metade dos anos 60, foi responsável por divulgar boa parte da revolução cultural que varria a época e auxiliar na formação de gente que mudaria para sempre a maneira de falar sobre música. Para ficar em dois exemplos, a casa abrigou tresloucados como Lester Bangs e Hunter Thompson, sujeitos que jamais teriam lugar em grandes publicações e que prestaram relevantes serviços para o meio através de uma prosa ácida (no caso do primeiro) ou movida a ácido (no caso do segundo). Mais do que falar de música, a RS cultiva o bom hábito do jornalismo literário, não se restringindo ao superficial da notícia. Aborda política, comportamento, moda, cinema, artes, seguindo uma abordagem diferente, provocativa, até ousado.
    A grande questão, no entanto, é saber quem irá fazer a parte local (a revista terá metade do seu conteúdo traduzido da edição gringa e outra metade produzida aqui). Se seguir a linha de sua origem, vai dar banana para essas figurinhas carimbadas, que já deram tudo o que tinha que dar, e irá buscar gente nova, com idéias frescas e sem rabo preso. Se fizer isso, vai ser uma revolução tão grande quanto a que causou lá fora quando nasceu. Mas, se colocar embaixo das suas asas o mais do mesmo que freqüenta os cadernos de cultura da grande mídia, a decepção vai ser maior ainda.
    Mas é preciso dar nomes ao bois. Eu não quero, por exemplo, o Pedro Alexandre Sanches que, a despeito de possuir um dos melhores (senão o melhor) texto de jornalismo cultural do país, pratica o mesmo texto chapa-branca que glorificou Nelson Motta. É praticamente um negativo de Bangs, que detonava sem perdão mesmo as bandas de cujos músicos era amigo. Se é ruim, toma no lombo. Sem firula, sem medo de perder a boquinha.
    Não quero também o Lúcio Ribeiro e sua propensão a gostar de tudo o que surge na cena indie do eixo EUA-Inglaterra. Seu excesso de exaltação chega a ser um insulto para qualquer pessoa com mais de dois neurônios. É um fabricante de hypes, dessas pretensas salvações do rock que não duram um verão, quando muito. Ir atrás de novidade é saudável, mas transformar qualquer bandinha de moleques em ícones da nova era apenas porque a imprensa gringa o faz, é muita subserviência.
      Por outro lado, gostaria muito de ver a prosa crítica e cheia de vida da Clara Averbuck, seus textos desbocados, sua autêntica despretensão. Ou o mestre-mor do Bia, Cardoso, que se enveredou pela carreira de ator e agora paga, de pijama, de telefone móvel. Do mesmo ninho, dá para citar ainda o Daniel Galera. Isso só para ficar no sul do país.
      O fato é que material humano tá saindo pelo ladrão. Se os caras que estão armando a vinda da RS pra cá forem espertos, como espero que sejam, cair matando direto nos blogspots, bloggers, bligs, e verbeats da vida atrás de ar fresco.

    2 comentários:

    Biajoni disse...

    tem MUITA gente legal.
    os caras vão ter que ser MUITO antenados para selecionar.
    :>)

    Anônimo disse...

    É, espero que não se vendam assim logo de cara...