I'm Winston Wolfe. I solve problems.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Lagartas de pedra

Já disse e repito: não tem lugar melhor para consumir cultura que nas Lojas Americanas. Não é exagero. A rede pode não ter a variedade de uma Fnac, ou o atendimento de uma Siciliano, mas, putz, é campeã no preço. Nisso é imbatível. Dá até pra esquecer a cupidez dos atendentes, que, sem sua maioria, sequer sabem consultar o catálogo digital da loja e vão logo dizendo "não tem" antes mesmo de você perguntar pelo produto.

O lance é que, de tempos em tempos, o sujeito que faz os pedidos surta e pede algumas peças que são, no mínimo, impressionantes. Tanto que nunca vi um acervo tão grande da discografia do Jetro Tull (encalhada, evidentemente) em uma loja de shopping popular. Até cheguei a questionar uma atendente sobre a quantidade de discos da banda do flautista perneta. A resposta: "Ah, não sei. De vez em quando vem essas coisas". Tá explicado, querida, pode voltar a ouvir sua coletânea de temas de novela.

Mas não é raro encontrar coisa realmente boa. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Ray Charles e B.B. King, Clash, John Lee Hooker e Buddy Guy são alguns que podem ser encontrados a preços abaixo de trinta mangos. Mas os Rolling Stones são campeões. Tanto na variedade quanto na relação custo/benefício.

Da fase amada pela crítica, por exemplo, eu já encontrei a módicos R$ 19,90 as obras Their Satanic Majesties Request, Exile On Main St e Sticky Fingers. Além de It's Only Rock 'N Roll, Black And Blue e Dirty Work. E sobram aos baldes coletâneas da banda, sempre a custos atrativos e, cá entre nós, muito bem pagos por se tratarem de compilações caça-níqueis.

Entretanto, na minha busca semanal por algo novo, me deparei com Metamorphosis.


"Caralho", pensei. "O disco não consta na discografia oficial elencada no site. E também nunca ouvi falar de tal disco. Uadarrélisiti?". A etiqueta amarela indicava um valor acima do habitual, coisa de 38 paus. E eu já estava com Apocalypse Now Redux numa mão e o cartão de débito na outra. Gastar mais não constava nos meus planos.

Acionei meu radar para picaretices. Seria um destes discos-tributos? Não havia nada que indicasse tal artimanha, ainda mais com esse preço. Tributos tendem a ser BEM baratos, o que não era, definitivamente, o caso. E havia a chancela da porca da ABKCO, responsável pela melhor parte do catálogo dos Stones e sazonais relançamentos do mesmo. Uma olhada cuidadosa concluiu que não poderia ser uma compilação de hits tocada por alguma orquestra, já que hits não haviam ali. Resolvi arriscar e levei o embrulho. Pelo menos a capa era bonita, bolas!

Mas qual não foi minha surpresa, ao colocar o CD para rodar o aparelho do carro, que era realmente Mick Jagger quem cantava. O encarte, paupérrimo como é de praxe da ABKCO, constava uma lista de agradecimentos para gente como Phil Spector, John Paul Jones, Jimmy Page, além de todos os Stones vivos e mortos. Aquilo me intrigou. Seria uma coletânea de lados B? Restos de gravação, talvez?

Fui para a Internet. Tava . Metamorphosis, o disco renegado dos Stones. Lançado em 1975, continha restos de gravações de 1964 a 1969, ou seja, o cerne do legado stoniano. E como em tudo o que envolve os sujeitos o que não falta é sujeira, a história do disco segue a mesma linha. Allen Klein, um fanfarrão que na época já havia tapeado os Fab Four, se apossou do catálogo da banda anterior a Stick Fingers e despejou o disco no mercado. Muita porradaria judicial depois, os Stones conseguem banir a coletânea. Mas Klein já havia adquirido legalmente as músicas e fundado, com sua esposa Betsy, a famigerada ABKCO (Allen and Betty Klein and Company). Claro que o dinheiro falou mais alto e aí...

... a bolacha foi relançada em 2002, em comemoração a turnê Fouty Licks. Só que não deve ter vendido nada, ao contrário da época de seu lançamento, quando alcançou boas posições no mercado norte-americano. Resumindo, são Mick, Keith, Watts, Jones e Wyman tentando soar como os Beatles ao mesmo tempo que buscam uma identidade sonora própria. Tem até espaço para uma cover de Steven Wonder ("I Don´t Know Why") e uma composição só de Wyman ("Downtown Suzie").

O restante das composições são da dupla Jagger/Richards. E dão o tom de um verdadeiro disco dos Rolling Stones, como em "Family", única das faixas que eu conhecia por constar, na mesma versão, numa coletânea tão picareta quanto interessante denominada Acoustic Motherfuckers, mas que de acústico não tem nada. Já de filhadaputice...

Dezzesseis canções que não vão salvar a vida de ninguém. Mas que precisam ser ouvidas, pelo menos uma vez. Toscas e gravadas como dava, elas representam o que os Stones tinham de melhor: sua autenticidade. Enfim, coisa do passado.

Um comentário:

Anônimo disse...

E ai te vi no Tododia e vim te visitar.Se puder arrume um link ai que eu arrumo um pra vc