I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Comível?


    A primeira coisa que me vem à cabeça quando olho alguém na rua é: "será que alguém come essa mulher?" ou "será que esse cara come alguém de graça?". É um impulso natural principalmente quando me deparo com gente que tenho certeza que irá responder negativamente a minha questão. É um povo que não tem como ter sexo de qualidade sem pagar muito por isso.

    Um exemplo disso é minha vizinha da frente. Ela deve beira os 40 anos, tem a pele macilenta e sem viço, os cabelos compridos e maltratados que denunciam sua opção religiosa, parece se vestir com sobras de retalhos de confecção de bairro e, pior, tem uma voz insuportavelmente esganiçada, que reverbera pelo quarteirão durante o dia a procura dos filhos, do marido, do cachorro, do carteiro, do padeiro, enfim. Concluo, após o curto tempo como vizinho, que o marido da mulher deve tê-la comido apenas duas vezes - ocasião que lhe deu os dois filhos. Porque nem com a maior raiva, desprezo ou nojo do mundo pelo próprio pau, um homem o introduziria mais que o necessário naquela mulher. Não é exagero.

    Ela, assim como outros passantes que observo quando travo contato com o mundo exterior, não chegam a ser repulsivos por apresentarem características físicas fora do habitual, exalarem algum tipo de odor desagradável ou ostentarem um péssimo gosto para roupas. Repulsa nem é a melhor ou mais correta palavra. E sem essa de beleza interior, inteligência, espirituosidade, personalidade ou carisma. A questão vai além dessas convenções bobas que penamos em acreditar e fazer valer da boca pra fora. É algo além desses detalhes que os fazem, na minha opinião, totalmente impossíveis de serem sexualmente relacionáveis. Parece que algo no jeito de andar, de atender o celular, de olhar uma vitrine ou chupar um sorvete. No caso da minha vizinha, é o arrastar desmazelado das chinelas rua cima e rua abaixo que me faz crer que seu marido deve entornar uma garrafa de álcool etílico antes de deitar ao lado dela.

    Quero crer que são fruto de alguma piada, uma anomalia do sistema natural, uma exceção do meio comum. Um erro que se esforça para tentar conseguir um lugar não para viver, mas sim sobreviver. Porque é impossível saberem o que é viver de fato se não tem prerrogativa do sexo usual, ordinário, básico que seja. Desculpe a sinceridade, mas não são felizes. Suas existências estão aí não para serem admiradas, odiadas, estudadas, comentadas ou até execradas. Eles passam incólumes pela grande esbórnia que é a vida! Estão dentro de uma grande suruba e ninguém se interessa por eles a menos que haja algum compensação muito, mas muito grande.

    Fico a imaginar não o que se passa pela cabeça dessa classe - quem é o que é se acostuma com isso, não tem jeito. Nem penso em como se reproduzem, porque é fato que o fazem e em larga escala. São nos pais dos pares desse povo que gasto minhas pestanas. Não dá pra conceber o desgosto de um pai e uma mãe quando o rebento chega em casa com um tipo desses e o apresenta, olhos marejados e sorriso de orelha a orelha, como seu futuro consorte. Eu não sei se suportaria. O sujeito deve ficar procurando em suas memória o que de errado fez para merecer tamanho castigo. "Devo ter fodido a vida de toda uma geração", pensa o futuro sogro de uma dessas coisas. "Sabia que não devia ter botado tanto chifre na cabeça do meu marido, deus não perdoa mesmo, ai minha santa querupita me acode", enumera na cabeça a sogrona, risinho amarelo no canto do rosto. Não deve haver desgosto maior. Sim, porque eles não se associam com outros da mesma espécie. Parecem escolher alguns dos melhores de nós para darem continuidade a sua linhagem.

    Sinceramente não sei o que pode ser feito. Acho até que não há nada a ser feito. Vou continuar a observar, isso é fato. E quem sabe, até catalogar e fichar um a um. Depois, não sei, são planos, criar centros de triagem para esse povo todo. Um sistema de confinamento talvez, um espaço onde poderiam conviver com seus iguais apenas. Pode até ser uma espécie de reserva protegida para que se reproduzam livremente, sem a interferência do senso comum. Taí.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Do canil


    Era bem branca. Daquelas que ficam vermelhas apenas de tomar um mormaço. E tinha pintinhas. Muitas. E pretas. Por todo o corpo. Ele sorri.

    - Você parece um dálmata.

    Ela sente a nuca arrepiar. Fica séria. Espreme e enfia os olhos nos olhos dele e sussurra.

    - Então me trata feito uma cadela.

    Ele nota o rosto fumegar. Era um desejo. E uma ordem. A rodovia zunia.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Diálogo


    Diálogo livremente inspirado em posto de MJ.

    - Beto, esse é o Teodoro. Teodoro, esse é o Beto.

    - Olá, prazer.

    - E aí?

    - Beto, o Teodoro é meu fucky buddy. Lembra? Eu e ele, nós...

    - É, eu sei, eu sei, tá, tá. E daí?

    - Daí que eu queria que você conhecesse ele. Não acho certo eu ter um fucky buddy que você não sabe quem é.

    - Certo. Agora, quando encontrar ele na rua, posso apontar e dizer: "olha gente, aquele alí é o sujeito que come minha namorada enquanto estou amassando barro".

    - Beto, deixa de infantilidade. Vamos agir como adultos, ora. Você prometeu que não iria se deixar levar, lembra?!

    - Tá, desculpe. E agora?

    - Agora o quê?

    - O que a gente faz agora?

    - Não sei. Tem alguma coisa pra fazer?

    - Bom, sobrou uma carne de ontem e uma meia dúzia de cervas. Dá pra sujar a churrasqueira.

    - Tá. Vai na frente que vou com o Teodoro comprar mais umas latinhas.

    - Ahã.

    - Beto... tá tudo bem?

    - Claro. Porque não estaria?

    - Não sei, é que isso deve ser novo pra você, né?

    - O quê? Ser corneado, saber disso e ainda conhecer o co-responsável?

    - Ai, não fala assim poxa, olha...

    - Quéisso meu bem. Eu trabalho pro governo. Uma hora, me acostumo.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Às vezes, faço coisas em lugares e com pessoas que não me lembro depois


Alguém pode me dizer o que diabos eu tô fazendo nesse lugar com esse sujeito aí? Céus...

Tanx, Iracema!

    terça-feira, dezembro 12, 2006

    É, eu também cansei...


      O Léo é truta de redação e futuro editor de Cultura do TodoDia - sim, ele vai me derrubar, se Djaga quiser. E em algumas de nossas conversas, tentamos destrinchar a entidade travestida de banda Cansei de Ser Sexy, CSS para os entendidos. Se você acompanha os cadernos de cultura dos principais (ou não) jornais do País, provavelmente deve ter lido sobre eles, um grupo formado por um baterista e uma porrada de meninas que se vestem mal e fazem um som curioso. Para não dizer ruim, é bom frisar.

      Como sujeito (e em breve, formador) de opinião, Léo executou um belo texto em seu fotolog. Nele, tenta encontrar o sentido de tanta gente da grande imprensa babar ovo para o grupo. "O Cansei de Ser Sexy é tão legal assim? Pelo menos uma vez a cada dois dias ele são citados na Folha de S. Paulo. Ou na Ilustrada ou no Folhateen... daqui a pouco até no caderno de Economia", escreve ele. E com razão. Não passa uma semana sem que o conjunto, de uma maneira ou de outra, apareça.
      Eu, como ele, acho um grande engodo. Uma enganação tão cara-de-pau que só a imprensa classe média branca paulistana é capaz de engolir, no seu afã de ser "vanguardista", "descolada" e "bacanérrima". Parafraseando o truta, porra nenhuma. O CSS é qualquer nota, uma tentativa desesperada da Trama de faturar o máximo que puder antes que a onda morra na praia. E é bom agilizar porque alguns sinais já são visíveis. O Zune, tocador de MP3 da Microsoft que tem a banda como garoto-propaganda, não vendeu nada e já está com os dias contados.

    terça-feira, dezembro 05, 2006

    Museu de novidades



      Mês passado encontrei um primo. Molecão esperto, beirando os 18, louco pra tirar carta e entrar em alguma universidade bem longe de casa. Veio empolgado, falando sobre o show que o Deep Purple faria no Brasil naquela semana. Sabendo da minha predileção pelo hardrock setentista, me perguntou se eu iria. "Nem a pau", respondi, para seu espanto. Como não, ele questinou, se eu dizia ser admirador do som dos sujeitos?

      De fato, ele tinha razão. Eu gosto do Deep Purple, banda de repertório afiado e bons músicos, que ao lado do Led Zeppelin e do Black Sabbath ajudou a definir os rumo do rock pesado no início dos anos 70. E pombas, tem "Smoke on the Water", cujo riff foi copiado por todo mundo na época. E é exatamente esse o ponto. Assim como o Zeppelin - e tantas outras bandas que abalizam meu gosto musical - o Purple não pertence mais a esse mundo. Não que se sua música seja datada, longe disso. Mas a idéia de banda, com o conjunto de toca rock, sim.

      Porque rock é, em sua essência, diversão. Fúria adolescente, molecagem, descompromisso. Se nesse meio seus produtores conseguirem algumas pequenas revoluções, ótimo. Mas não é essa "função" da coisa. E esse componente essencial, essa velharada que ainda está na ativa não têm mais. Ou você acha que Mick Jagger sobe ao palco doido de cocaína como fazia nos idos de 60? Não, ele toma energéticos, aquece a garganta com gargarejos a base de mel e limão e faz aeróbica. Vai dizer que isso é diversão? O mesmo pode-se dizer de outro ícone da doidera, Ozzy Osbourne. Se ele enche a lata hoje, não é porque curte ficar bêbado como quando era adolescente, mas para afogar as mágoas de uma vida que o fez prisioneiro.

      Em entrevista à segunda edição da Rolling Stone, o decano guitarrista do The Who, Pete Townshend, declarou que jamais pagaria para assistir ao The Who. "O que eu iria querer com um monte de velhos?", disse, num inacreditável rasgo de sinceridade, referindo-se a si mesmo. Bela síntese, principalmente vindo de um cara que popularizou a quebradeira de instrumentos no fim dos shows - coisa que ele não faz mais hoje. Iggy Pop, o pai do punk, na mesma edição da revista, diz que tem um compromisso com o público de, quando subir ao palco, entretê-lo da melhor forma possível. Leia-se "posso não querer fazer isso, mas fui pago e agora tenho que dar o máximo de mim". Sinceridade zero, ora.

      Adoro todos esses sujeitos que citei e guardo um profundo respeito pelas suas histórias. Mas jamais iria a um show de qualquer um deles hoje. Porque sei que estarã alí apenas para representar papéis de personagens que um dia foram de fato. É um embuste, uma enganação sem limite. Além de ser deprimente, um monte de velhinho tentando manter acesa a chama de uma força que sabem não possuir mais. Então tenho pena do meu primo, que ainda acredita neles. E mais ainda de mim, que matou de vez suas ilusões, outro grande componente que faz do rock o que ele é.

    segunda-feira, dezembro 04, 2006

    Duro

    Che Guevara, o cubano argentino mais famoso do mundo, ganha incrível biografia em mangá. A responsável pelo lançamento não poderia ser outra que não a Conrad.

    No site da editora dá para ler alguns trechos e conferir o traço.

    Lindão!

    sábado, dezembro 02, 2006

    Déjà vu



    (O Hammond é o que está segurando a guitarra!)

    O mundo tem muita banda. Tá louco, pra que tudo isso, eu pergunto. Não sei, tento responder para mim mesmo, mas acho que é para, no meio de tanta perda de tempo, algo que valha a pena aparecer. E sempre penso nisso quando um integrante de alguma banda de sucesso se lança em carreira solo. A bola da vez é Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes. Seu disco, que pode ser baixado aqui, parece salada de chuchu com melão.

    Não culpo juninho. Deve ser complicado se desvencilhar do legado que ajudou a criar. Hiper hypados com certa razão, os Strokes viraram o jogo no começo do século ao surgir como opção para quem não aguentava mais o nu-metal idiotizante dos inúmeros clones de Limp Bizkit que surgiam a cada zapeada na MTV. Era a volta da garageira punk, da sujeira bonita de se ouvir, da fúria adolescente que pareciam ter ido junto com os miolos da cabeça de Kurt Cobain naquele abril de 1994.

    Mas depois de meia dúzia de anos de badalação, a banda resolve dar aquele tempo básico para fazer a crítica esquecer do mezzo-muzzarella, mezzo-pepperoni último disco "First Impressions of Earth". Sem planos de voltar logo para os estúdios definitivamente, os integrantes de esparram como bem entendem. Hammond resolveu juntar um trutas e fazer um disquinho solo. Tem grana pra jogar fora, o garoto. Eu faria o mesmo, mas com um conjunto de backing vocals anãs albinas tailandesas modificadas geneticamene.

    "Yours to Keep" tem, claro, tudo a ver com os Strokes. Está a bateria marca-passo, a guitarra bem posicionada, algumas eletronices para tornar a coisa esquisita, e, claro, o não-final das canções, interrompidas quando você menos espera. Mas falta pegada. Falta aquela urgência que apenas a voz de briaco de Julian pode conferir. Hammond é bonzinho demais, limpinho demais e, ah, sei lá, talvez parente do Jorge Vercilo de tão inofensivo que soa. Nem parece que cresceu ouvindo Velvet Underground ou Television, referências básicas dos Strokes.

    É um disco coeso, isso não dá pra negar. Hammond monta sua tralha sonora e a leva sob a mesma batuta o disco todo, o que, numa análise melhor, o torne monótono, repetitivo por vezes. A sensação de "já não ouvi essa música agora de pouco?" passa a ser constante depois da quarta faixa, "Bright Young Thing".

    Mas se você ouvir rápido, tipo durante uma concorrida liquidação de Natal das Lojas Americanas, vai pensar que é Coldplay. Inclusive a voz do juninho é MUITO parecida com a de Chris Martin - o que, dependendo do caso, pode ser um ponto a favor. Ou não. O fato é que Hammond pode melhorar. Mas não é bom esperar muito. Sugiro, sim, torcer para a reunião da banda logo e pela vinda de um quarto disco.

        Não, não perdi...


          E!

        Acho que perdi meu blog


          Puta merda...