I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Conjugando o verbo amar


    Os Beatles são uma fonte inesgotável de tudo o que se imagina. Qualquer coisa relacionada a John, Paul, George e Ringo faz sucesso. E dinheiro. Muito dinheiro. São a banda que mais fatura mesmo depois do fim. Agora, quando todos pensavam que não havia mais o que faturar em cima do quarteto - posto que toda e qualquer gravação possível e imaginável já foi lançada - eis que o produtor George Martin, o quinto besouro, chega com Love, disco com remixes das canções mais famosas do grupo. Mas não qualquer tipo de remixe.

    As músicas não foram simplesmente mexidas. Passaram, sim, por singela - embora decisiva - intervenção cirúrgico-artística. A idéia foi da oportunista trupe do Cirque du Solei, que resolveu ganhar uns trocados montando um musical com base na obra dos rapazes de Liverpool. Martin gostou da idéia e, com a chancela dos responsáveis pela parte dos Beatles mortos e mais os remanescentes do grupo, mexeu como lhe deu na telha nas canções. Tirou e colocou instrumentos, inseriu levadas, alterou rotações, pintou e bordou. Qualquer semelhança com aquele engodo chamado "Let it Be... Naked" não é mera coincidência. Pois é, pois é, pois é...

    Por isso, Love não é recomendado para puristas ou fundamentalistas. Dá para imaginar um beatlemaníaco, vestido com a roupa do Sgt. Pepper, enfurecido, aos berros com o disco nas mãos: "Misturaram 'Hard Days Night' com 'Get Back'! Hereges! Trocara o solo elétrico de 'While My Guitar Gently Weeps' por cordas! Vão queimar todos no fogo azul do inferno! Paul is dead!" Sejamos sensatos, pois.

    Love é um caça-níqueis. Mas é um caça-níqueis que, de repente, deve render mais do que dinheiro (até porque, nenhum dos envolvidos no projeto precisa realmente de grana, sejamos francos). A molecada nova que não conhece nada de Beatles pode, por exemplo, ouvir uma dessas versões e ter curiosidade em saber como ela era originalmente. E então gostar, ir atrás de mais e, quando menos se espera, vê-se nascer outra pessoa de bom gosto musical.

    Por isso, assim como outros lançamentos póstumos do quarteto, o disco serve, antes de mais nada, para mantê-los em evidência dentro da sociedade da informação que vivemos. Num contexto onde bandas surgem na mesma velocidade que desaparecem, os detentores do espólio dos Fab Four temem que o legado da banda mais importante de todos os tempos seja esquecido ou relegado a um passado que definitivamente não os pertence. Porque o que aqueles quatro moleques fizeram não tem precedente dentro da lógica espaço-temporal que rege nossas vidas. Estão bem acima dela, velando por tudo e todos. Amém.

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