I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Crime e Castigo


    Um grupo de jovens norte-americanos vem passar as férias no Brasil. Durante uma festa em alguma praia, são dopados e tem roupas, dinheiro e documentos roubados. Acordam estirados na areia e sem ter para onde ir. Desesperados, aceitam a ajuda de um nativo, que os leva para uma casa onde podem conseguir auxílio. Lá, descobrem que podem ser vítimas de terríveis contrabandistas de órgãos, doidos para abri-los e faturar algum com suas tripas. Gostou? Esse é o enredo de "Turistas", que estréia em dezembro nos EUA e em fevereiro por aqui.

    Afora a velha idéia gringa que aqui ainda é um espécie de Haiti tamanho família - vide o site oficial do filme, cheio de esteriótipos bobos típicos de norte-americano - o filme promete cenas fortes de tortura, mutilação e morte, perfeito para quem gostou de outra película semelhante, "O Albergue". É, inclusive, a ele que "Turistas" vem sendo comparado. Ambos são a evolução técnica de um tipo de horror que surgiu nos anos 80 com os filmes de maníacos homicidas imortais que carregavam, junto com suas armas afiadas, uma grande carga moralista. Você pode não acreditar, mas Jason, Freddy Krueger e Michael Meyers eram nada menos que agentes a serviço de valores morais que perduram até hoje – ou pelo menos assim querem que seja.

    A mensagem tanto das cinesséries "Sexta-Feira 13", "A Hora do Pesadelo" e "Halloween", quanto de "O Albergue" e "Turistas" é a mesma. "Se você é jovem e cheio de vida, cuidado com o que faz ou deseja. Porque se isso for contra os princípios morais reacionários e hipócritas vigentes, será punido. Sempre da pior forma possível. E não adiante fugir, porque nem nos seus pensamentos você pode fazer o que quer", parecem dizer, punhal na mão, os vilões preferidos da Cruzada das Senhoras Católicas.

    "Sexta-Feira 13", por exemplo, se passa, na maior parte do tempo, em um típico acampamento de verão. Comuns nos EUA, é para lá que a classe média burguesa larga os filhos. E lá, longe dos pais, é que a maior parte dos jovens tem (ou tinha) suas primeiras experiências com sexo e drogas. Porém, não era o que os guardiões da moral e dos bons costumes tinham em mente. Por isso, em todo episódio da série Jason matava adolescentes que estavam transando ou usando drogas. Afinal, não foi para isso que mamãe e papai te jogaram no meio do mato para poder jogar strip-pôquer em paz. Era para ficar cantando em volta de fogueiras e pegando maçãs com a boca dentro de tinas.

    No caso de "A Hora do Pesadelo" o cerco era maior e definitivo, porque Freddy Krueger atacava dentro da cabeça de suas jovens vítimas, único lugar onde a moral social não podia interferir de maneira incisiva. Logo, nem em sonho seria possível refugiar-se do longo braço da "lei"; nem em pensamento se estaria seguro para construir seu próprio mundo. As navalhas de Freddy estariam lá para garantir isso.

    E "O Albergue" e "Turistas" continuam com essa tradição de horror moralizante. No primeiro, um grupo de mochileiros sai em busca de putaria pelo Leste Europeu. Na promessa de um lugar onde a esbórnia come solta, acabam caindo nas mãos de uma organização que serve a ricos sádicos que se comprazem em torturar e matar pessoas. Em "Turistas", o trailer avisa que "Em um lugar onde tudo é permitido, tudo é possível". E eis que nossos protagonistas, depois de se espantarem com a aparente liberdade (libertinagem?) selvagem desse paraíso tropical, caem nas mãos de contrabandistas de órgãos.

    Não é preciso legenda. Onde já se viu um bando de moleques querer curtir as delícias do mundo assim, de maneira tão despudorada e escancarada, sem pagar nada por isso? Querem ser felizes enquanto nós estamos aqui, amargurados com a porcaria de mundo que construímos? O preço para tal insolência deve ser acertado em sangue e servir de exemplo para outros. Daí o clímax de todos esses filmes ser o momento em os sobreviventes encontram os corpos (ou pedaços) de seus amigos mortos. E tomados de fúria destroem, na maiorida das vezes, seu punidor. Mas apenas para ele voltar, mais forte, no próximo episódio.

2 comentários:

Anônimo disse...

O que eu mais gosto são os esteriótipos...dá pra não rir dos macacos tentando entrar na casa do Ronaldo, quando os Simpsons visitam o Rio?

Anônimo disse...

eu juro
eu vou ser que nem tu quando eu crescer...