I'm Winston Wolfe. I solve problems.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Quente





    São duas as maiores preocupações do macho heterossexual moderno. A primeira, sexo. Segundo depoimentos de amigas próximas, a maioria sequer sabe pra quer servem aquelas dobrinhas entre as coxas e as nádegas. Ou o que fazer com um bom par de almofadas. A segunda, passar roupa. Segundo depoimentos de amigos próximos, o papo com o ferro a vapor é algo totalmente inóspito, quase como trigonometria. Sabem apenas que não devem colocar a mão na chapa quente - coisa que devem ter aprendido da pior maneira durante a infância. Compartilho, amigos.

    Quando ela disse que se ausentaria por cinco dias, entrei em desespero. Recém-saído da casa da mamãe, havia a pouco aprendido os meandros que cercam a máquina de lavar automática. Agora, precisaria me inteirar dos macetes a respeito de esticar roupas. Pedi algumas lições básicas, coisa simples, apenas para não ficar sem camiseta preta no final de semana. E lá foi.

    1. Armar a tábua de passar
    2. Colocar água no ferro
    3. Ligar o aparelho
    4. Selecionar a quantidade de vapor de acordo com o tecido que será passado
    5. Espirrar um pouco de Comfort antes de descer a chapa

    (Momento pergunta-idiota-que-mereceu-a-resposta-que-teve:
    - O que é isso? - pergunto, apontando para o recipiente azul com gatilho de spray.
    - Comfort, oras - responde ela, cara de reticências.
    - Eu sei a marca, mas do que é feito. É tipo um amaciante? - arrisco.
    - Não, é tipo um Comfort. Não faz pergunta difícil, tá? - encerra.
    Toma, besta.)

    Então me atirei com vontade à pilha de roupas limpas e amarrotadas. E fui bem, até pegar uma camisa de polyester e meter nela o ferro quente exalando vapor, perfeito para fazer o tecido enrugar e rasgar antes de qualquer movimento brusco. Tinha "matado" a camisa. Uma camisa amarela que eu nem gostava tanto, mas, ainda assim, a prova irrefutável da minha falta de preparo, da minha incompetência na decana tarefa doméstica. Deduzi rápido que o excesso de vapor fora a causa da tragédia e que eu deveria ter regulado o ferro na posição mais seca possível. O tecido pedia algo que eu não sabia. E me dei mal.

    Pronto. Junto com a camisa, eu havia matado também a charada. Da mesma forma que cada tecido exige uma regulagem específica de vapor, cada mulher também exige um tipo de postura durante o sexo. A seda requer um ferro seco, ao contrário do algodão, que gosta de umidade. Logo, não adianta ir rosnando feito um animal para uma manceba recém-descoberta, assim como não se deve exagerar no recato ante uma dama experimentada.

    Todas, entretanto, precisam ser devidamente preparadas e trabalhadas da maneira mais quente e próxima possível. Ninguém passa roupa com o ferro frio, certo? É preciso aquecer as coisas antes. O próprio ferro a vapor necessita de um tempo mínimo para ficar no ponto. Do contrário, seu rendimento será abaixo do esperado, quando não, inexistente. Quanto mais quente, melhor.

    E como qualquer boa passada de roupa, não se pode deixar qualquer dobra, vinco ou abertura sem a devida atenção. Tudo deve ser meticulosamente explorado e apreciado. Sem pressa ou preconceito. Capricho é fundamental e faz toda a diferença. Ou alguém conhece quem alisa apenas as mangas da camisa, deixando o resto amarrotado? Fazer o serviço pela metade não dá. Além de tudo, pega mal. E roupa mal passada, assim como sexo mal feito, é o tipo de coisa que não costuma ficar restrita a vizinhança. Espalha mesmo.

    Mas claro que tudo fica melhor com o tempo. Quanto mais roupa se passa, mais fácil a tarefa se torna. Mas é preciso policiamento constante para evitar uma tentadora e quase automática alienização do processo. Não se pode alisar as peças sempre da mesma forma, tratando-as indiscriminadamente. Uma camisa e uma meia podem ser feitas do mesmo tecido, mas pedem ações diferentes. Cada uma tem sua maneira particular de ser manipulada para, assim, apresentar o melhor resultado.

    E o que separa passadores bons de passadores ruins? Duas coisas: vontade e disciplina. Não se pode desistir na primeira "matada" de roupa. Nem pensar em se aposentar apenas porque alisou uma cueca. Passar roupa exige dedicação espartana, reciclagem constante, desprendimento e algum humor.

    Óbvio que exceções existem, mas a regra é essa: faça sexo como você passa roupa. Não tem com errar.

8 comentários:

Anônimo disse...

nao fico mais fora cinco dias...tanto pela roupa, quanto pelo resto...

Anônimo disse...

Tanto em um qto no outro, legal mesmo é ir na "lavanderia"...

Anônimo disse...

Genial a analogia, Brigatti :) .

Anônimo disse...

Então preciso passar roupa com calma, dando prazer primeiro para a roupa e depois tendo meus momentos mágicos? Vou lembrar disso...

Erik Virgúleo disse...

Por Alá!!! Estou fudido!... Só passo roupa uma vez por ano, quando participo da cerimônia do Festival Mephystophélico.

Simy disse...

pensando nisso tudo ficou bem passado?

Anônimo disse...

brigatti,
eu juro que se fosse mulher dava pra ti. que texto do caralho!!


(ps: não gosto de colocar comentário sem dizer nada, só com o elogio. mas não aguentei...)

Brigateando disse...

Pô, Grilo, dá assim mesmo, rs!