I'm Winston Wolfe. I solve problems.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Museu de novidades



    Mês passado encontrei um primo. Molecão esperto, beirando os 18, louco pra tirar carta e entrar em alguma universidade bem longe de casa. Veio empolgado, falando sobre o show que o Deep Purple faria no Brasil naquela semana. Sabendo da minha predileção pelo hardrock setentista, me perguntou se eu iria. "Nem a pau", respondi, para seu espanto. Como não, ele questinou, se eu dizia ser admirador do som dos sujeitos?

    De fato, ele tinha razão. Eu gosto do Deep Purple, banda de repertório afiado e bons músicos, que ao lado do Led Zeppelin e do Black Sabbath ajudou a definir os rumo do rock pesado no início dos anos 70. E pombas, tem "Smoke on the Water", cujo riff foi copiado por todo mundo na época. E é exatamente esse o ponto. Assim como o Zeppelin - e tantas outras bandas que abalizam meu gosto musical - o Purple não pertence mais a esse mundo. Não que se sua música seja datada, longe disso. Mas a idéia de banda, com o conjunto de toca rock, sim.

    Porque rock é, em sua essência, diversão. Fúria adolescente, molecagem, descompromisso. Se nesse meio seus produtores conseguirem algumas pequenas revoluções, ótimo. Mas não é essa "função" da coisa. E esse componente essencial, essa velharada que ainda está na ativa não têm mais. Ou você acha que Mick Jagger sobe ao palco doido de cocaína como fazia nos idos de 60? Não, ele toma energéticos, aquece a garganta com gargarejos a base de mel e limão e faz aeróbica. Vai dizer que isso é diversão? O mesmo pode-se dizer de outro ícone da doidera, Ozzy Osbourne. Se ele enche a lata hoje, não é porque curte ficar bêbado como quando era adolescente, mas para afogar as mágoas de uma vida que o fez prisioneiro.

    Em entrevista à segunda edição da Rolling Stone, o decano guitarrista do The Who, Pete Townshend, declarou que jamais pagaria para assistir ao The Who. "O que eu iria querer com um monte de velhos?", disse, num inacreditável rasgo de sinceridade, referindo-se a si mesmo. Bela síntese, principalmente vindo de um cara que popularizou a quebradeira de instrumentos no fim dos shows - coisa que ele não faz mais hoje. Iggy Pop, o pai do punk, na mesma edição da revista, diz que tem um compromisso com o público de, quando subir ao palco, entretê-lo da melhor forma possível. Leia-se "posso não querer fazer isso, mas fui pago e agora tenho que dar o máximo de mim". Sinceridade zero, ora.

    Adoro todos esses sujeitos que citei e guardo um profundo respeito pelas suas histórias. Mas jamais iria a um show de qualquer um deles hoje. Porque sei que estarã alí apenas para representar papéis de personagens que um dia foram de fato. É um embuste, uma enganação sem limite. Além de ser deprimente, um monte de velhinho tentando manter acesa a chama de uma força que sabem não possuir mais. Então tenho pena do meu primo, que ainda acredita neles. E mais ainda de mim, que matou de vez suas ilusões, outro grande componente que faz do rock o que ele é.

7 comentários:

Anônimo disse...

hj em dia vc nia ao show de nenhum deles... mas até fevereiro passado não era assim, né? acho que te vi em copacabana no show dos stones... :P

Anônimo disse...

Eu não ia comentar sobre o show dos Stones em Copa... mas já que o Grilo tocou no assunto...
Bem,, todo mundo tem o direito de mudar de opinião, não é mesmo?

Nataly disse...

os dois acima tiraram a palavra da minha boca...
tenho documentos (fotos) hahaha de c no show dos Stones
beijos

Brigateando disse...

De fato fui no show dos Stones. E recorro novamente outra citação que o Pete Townshend faz RS. Ele diz que, de fato, vê jovens nos shows da velhadara. Mas apenas UMA vez. Os jovens, como eu, têm, no máximo, curiosidade. É diferente de, por exemplo, assistir a um show dos White Stripes, que iria com tesão, com vontade.
Fora que o show dos Stones foi mais um momento histórico que um concerto propriamente dito. Não pagaria para vê-los.

Anônimo disse...

Po filhão, entra ae depois: www.fotolog.net/leo_preto

Perdi a preguiça, e escrevi algo baseado nas nossas conversas pela redação...Adivinha sobre quem??

Anônimo disse...

pensei muito sobre isso, mas pensei mesmo...
e concordo contigo em parte. menos quando tu dizes que é um embuste (toda a representação que os caras geram no palco e tal), porque existe outro lado, o do público que tá lá porque...consentiu com isso!
simplesmente porque não é a pessoa mick jagger que tu foi ver lá no rio, não é mesmo? é o que faz dele mito, estrela, sei lá. portanto, não importa tanto o jeito com que ele leva sua vida de rockstar, se como um garotão ou o tio que ele é....tem gente querendo ver ele. independente de ser uma vez ou mais. coisa de fã, e é esse tipo de atitude, digamos, fanática, que mantém o rock, mais do que o comportamento de seus protagonistas.

Anônimo disse...

nossa, não era para ficar tão grande assim....