I'm Winston Wolfe. I solve problems.

terça-feira, outubro 31, 2006

O Clipe


    No começo dos anos 90 a MTV chegou ao Brasil. Para mim, um pré-adolescente enfiado na periferia de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, era indiferente. Minha maior ambição era tirar um 7,0 em matemática e, assim, poder alugar um Super Nintendo e jogar Street Fighter II até os olhos lacrimejarem. Mas meu destino mudou quando uma VHS preta chegou em casa endereçada a papai. Era de titia, que na época morava nos EUA. O conteúdo, um filme qualquer que ela havia gravado para meu pai treinar seu inglês - o filme, claro, não tinha legendas.

    Mas o filme não consumia toda a fita, sobrando coisa de meia-hora que havia sido preenchida por, veja só, parte da programação da MTV norte-americana. E confesso a vocês: nunca, em todo o mundo, um único trecho de fita de vídeo foi tantas vezes rebobinado. Aqueles 30 minutos, que continham alguns clipes e propagandas de balas, veículos e as famosas (e odiadas ou amadas) vinhetas estúpidas do canal de música, abriram meu universo como um machado cortando um melão.

    Aquelas imagens grudaram no meu (in)consciente por décadas e seu receptáculo era guardado como um tesouro. Os clipes, se me lembro bem, eram de um já decadente McHammer com a balada "Have You Seen Her"; de um então cabeludo Bon Jovi com sua primeira tentativa de carreira solo em "Blaze of Glory", feita para o filme "Jovem Demais para Morrer" (Young Guns II); "Epic", a poderosa mistura de funk e metal do Faith No More; e aquele que marcaria minha forma de apreciar a música pop e, porque não, de ver as mulheres. "Cradle of Love", sucesso hoje pouco lembrado do oxigenado Billy Idol, me deu munição para muitos sonhos molhados, acreditem.

    O vídeo mostrava um nerd, beirando os 30 anos, típico yuppie dos anos 80, que recebe a inesperada visita de uma vizinha que, tendo esquecido a chave de seu apartamento, pede para esperar o namorado na casa do sujeito. Ele topa, meio constrangido. A garota então pergunta se pode colocar uma fita K-7, e é autorizada. De repente, a bateria explode e Idol entra gritando para chacoalhar o berço do amor. Ela, claro, obedece, e não ousa maneirar.

    Segue-se então um frenético e desconcertante strip-tease da girl of the next door na mesma medida que o desespero do dono do apê vai crescendo. Os quadros das paredes ganham vida com Billy cantando, fazendo caras e bocas. Quanto mais o goiabão tenta parar a música ou a performance da garota, mais as coisas vão fugindo ao seu controle. Ela arranca os lençóis da cama, deita e rola - literalmente e - na tomada mais inacreditavelmente sexy que já presenciei em um clipe, ela se apóia sob os cotovelos na cama e escorrega numa maravilhosa abertura total de pernas - tudo filmado do teto, no melhor ângulo possível.

    Na cena derradeira, depois de praticamente derrubar o apartamento do cara, ela sai engatinhando em direção a ele, que está prostrado, chorando de desespero e medo, e o beija sofregamente. Segundos depois, alguém bate na porta. É o namorado da garota, um típico zagueiro da NFL, perguntando pela fulana. Antes de qualquer resposta, ela aparece tão comportada quanto como no momento que entrou. O último take é a porta sendo fechada seguida de barulhos de meia-dúzia de trancas.

    Sei que mostrei essa fita, com especial carinho por esse clipe, para todos os meus amigos. Até a professora de inglês da escola chegou a usá-la em uma das aulas. Era incrível, mas eu não queria ser como Idol, todo fodão, com aquele típico sorriso de canto de boca, debochado. Queria era ser o mané que só mete os pés pelas mãos e acaba seduzido pela garota, usado e jogado fora. E que no final tranca a porta com medo que ela entre de novo e tire suas porcelanas do lugar ou aumente o volume do som.

    E realmente me tornei um mané. Tanto que dei a fita para a primeira garota que beijei na boca e era fã de Bon Jovi. O lance não durou um mês e ela ficou com o maior tesouro da minha pós-infância. Embora tenha me dado outro: o passaporte para minha adolescência. Aí a coisa degringolou de vez, com é sabido.

    Ei-lo aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

aaaaaaaaaaaaaaaa, o vídeo foi removido.
alguém precisa cria um youtube que não seja tão americanoidemente correto, grrrrr!