I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, março 08, 2006

Selvagem?

Enquanto escrevo essas mal traçadas linhas, uma notícia chega pela Internet e me pega de surpresa: esgotaram-se os ingressos com desconto para o show do Jamiroquai. Como sofro de dislexia, leio novamente para ter certeza daquilo que está escrito na tela crepitante do meu computador e chego a uma conclusão. Contando com o milhão e meio de pessoas que pelo menos ouviram os Rolling Stones, os quase 200 mil que assistiram ao U2 e Franz Ferdinand, e os 15 mil ingressos para a apresentação do Oásis esgotados a sete dias do show, só posso crer que esse povo não gosta de música. Gosta mesmo é de pagar pau pra gringo.

Exatamente. Deixamos de ser um povo carente por atrações de qualidade para nos tornarmos pura e simplesmente tietes enlouquecidas por qualquer porcaria que venha de fora. De repente, parece que basta soar a notícia de que um artista que não cante em português virá para o Brasil que uma onda de histerismo toma conta da mídia e da população com menos de 40 anos. De repente, todo mundo vira crítico de música, entendido de cultura pop e sabe na ponta da língua a discografia completa do sujeito.

Isso é triste, porque dá a medida do tamanho da nossa ignorância e necessidade de atenção. Não basta apenas ouvir um disco e discutir a música de determinada banda. É preciso viajar centenas de quilômetros, pagar metade de um salário mínimo por um ingresso, dormir na porta do estádio e ter uma síncope na hora da balada romântica. Exagero. Bestice.

Tomo o Jamiroquai como exemplo. Quem se importa com o decano grupo de Jay Kay ainda? O máximo que banda conseguiu até hoje foi um hit, "Space Cowboy", do disco homônimo lançado em 1995, que vendeu horrores. Depois disso, foi laureado pelo Grammy várias vezes, mas nenhuma suficiente para trazer o grupo de maneira concisa de volta às paradas de sucesso. Então, o que explica essa corrida desenfreada por ingresso? Se pegarmos o último disco deles, “Dynamite”, de 2005, dá menos vontade ainda de gastar dinheiro para ver o show. Não passa de releitura de tudo o que já fizeram, mais do mesmo, tertúlias flácidas para ninar bovinos.

Então o que leva uma multidão a gastar até R$ 130 pelo espetáculo em São Paulo no dia 24 deste mês? Pura e simples necessidade de atenção. Não estão realmente interessados na música que o Jamiroquai está fazendo, mas sim em terem um artista pomposo respirando o mesmo ar que eles, que viajou de longe apenas para se apresentar ali, a poucos metros do alcance dos dedos.

O mesmo pode ser dito do Santana, que pela enésima fez repete sua fórmula de duetos com estrelas pop fugazes e tão carismáticas quanto uma lagartixa. O velho mexicano, que deixou a ripongada de Woodstock de quatro ao tocar "Soul Sacrifice", hoje faz solinhos para gente do calibre de Michele Branch, Chad Krueger (Nickelback), Rob Thomas (ex-Matchbox 20) e Alex Band (The Calling) cantarem. Chega a ser sofrível. De dar pena. Mas ele vai lotar os shows que fizer por aqui este mês, ah, isso pode ter certeza.

E em todos esses, o que mais vai ter serão VIPs. Essa praga que se disseminou como mato e não perde a chance de parecer "descolada", "antenda" e outros adjetivos inventados por colunistas sociais e demais pseudojornalistas. Enfim, a escória.

Mas é bobagem. Eles não ligam pra gente, como diria o Rei do Pop, esse sim, digno de arrastar multidões. Não mais, é verdade, embora ainda dê um caldo se quiser.

4 comentários:

Nuvens de Palavras disse...
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Nuvens de Palavras disse...

A carência por ídolos brasileiros é um problema. Além de serem poucos, as bandas brasileiras que nos dá um suspiro de esperança são massacradas pela falta de divulgação.
Ah, essa conversa vai longe...

Anônimo disse...

Ah, agora vou ter que comprar briga com você (com trocadilho). Achoq ue poucas pessoas se disporiam a pagar meio salário só pra "respirar o mesmo ar" que os artistas internacionais. Você pode não gostar ,mas eles têm seus fãs, ora.
Agora, concordo que esse negócio de ficar horas em fila e dormir na porta do estádio é pura histeria.

Nuvens de Palavras disse...

Ah, esqueci de falar que o Jamiroquai é ótimo! Se eu tivesse grana iria no show, viu, seu mala!