I'm Winston Wolfe. I solve problems.

segunda-feira, março 20, 2006

Eu já participei de um episódio de Além da Imaginação ou O Bia é FORGADO pacas

Domingo pede cachimbo, me ensinou mamãe quando pequeno. E mais: que o cachimbo é de ouro e, não se sabe porque cargas d´água, ele bate em touros. Os bovinos, considerados valentes e até inteligentes pois sabem que fomos nós quem fizemos os cachimbos de ouro que batem neles, revidam. Em nós. Como somos fracos, caímos em buracos. E, bem, o buraco é fundo, e aí... acabou-se o mundo. Fim.

Mas naquele domingo eu não pitaria. Minha tarde seria toda sugada pelo trabalho. Bobagem explicar porquê, coisas do jornalismo diário. Antes, porém, um convite me esperava. Velho companheiro de redação, amigo de todas as horas, bom copo e bom garfo, o calvo e santista Arthur Jorge Trevisoni queimaria carnes no quintal dos fundos. Recém casado, morando em uma chácara na campestre Nova Odessa, eram comuns os assados dominicais organizados por ele e sua excelentíssima esposa. Era só levar cerveja.

Pego minhas coisas. Meu celular toca. "Compra Coca-Cola", pede, do outro lado da linha, minha namorada. Mesmo afeita ao álcool, naquela tarde ela não beberia outra coisa que não refrigerante a base de caramelo. Um vício insuperável, diga-se de passagem. Murmuro qualquer coisa e penso onde poderia comprar o litro e meio do famoso desentupidor de pia sem desviar do caminho. Economizar combustível é uma merda. Não ter dinheiro é uma merda maior ainda.

Traçando um mapa mental, encontro um posto de combustível na saída da cidade, próximo a entrada/saída da rodovia que leva à Nova Odessa e, consequentemente, a casa de Arthur e suas carnes e cerveja. Eu trabalharia naquela tarde, portanto, entupiria minhas artérias com o máximo de substâncias etílicas que encontrasse disponíveis.

Paro no posto. Entro na loja de conveniência. Abro a geladeira e pego uma lata de Bohemia e uma garrafa de Coca-Cola. Lá fora, os frentistas trocam impressões sobre uma senhorita trajando pouco mais que meio metro de tecido. Eles gostam. Dou de ombros. Acho que estou ficando "afrescalhado", como diria a esposa do Arthur, boa pernambucana e mulé-macho-sim-sinhô que é. Relevo. Penso rápido num Monte de Vênus. Gosto. Cheiro. Textura. Sinto sangue descer para a virilha e o pênis ficar firme, mas não ereto. Tudo confere. Beleza, ainda tenho salvação.

Deposito a mercadoria no caixa, entre potes e prateleiras de guloseimas de todo tipo. Coisas para mastigar no cinema, para disfarçar mau-hálito do fim do dia e para foder com o esmalte dos dentes. Deus salve os dentistas, menos o meu, que destruiu minha boca para extrair meus dentes do siso. Legal, o Word não sabe o que é siso, então ele sublinha a palavra e dá como opções as palavras Celso, censo, cesso, cesto e cios. Deve ser porque o Word é mais evoluído que eu. Logo, não tem dente do siso. E se não tem siso, não precisa se preocupar em saber o que é, então fica grifando de vermelho toda hora que escrevo siso.

Não tenho dinheiro. Não em notas. Entrego meu cartão e digo ao mesmo tempo "débito" antes mesmo que a atendente pergunte "crédito ou débito?". Todas perguntam. Então digo antes. Não que eu as considere burras, longe disso, mas é que gosto de facilitar.

Ela passa o cartãozinho na maquininha. Passa o teclado para que eu digite a senha e libere o pagamento. De repente, ela se vira e diz, num misto de surpresa e alívio. "Você é Gustavo Brigatti?". Bingo. Tá escrito no cartão. Mas ela complementa, em seguida. Não que ela me achasse burro, mas é que ela preferiu facilitar. "E trabalha no TodoDia?". Opa. Isso não estava escrito no cartão. Uma fã, pensei. Vai pedir para que eu autografe seu seio esquerdo, querer tirar foto, enfim. Mas não. Ela pega uma caixa retangular, com aproximadamente 1cm de espessura e 20cm de altura. "Um tal de Luiz deixou isso para você. Disse que você viria buscar ao meio dia de ontem, mas você não apareceu".

Era um DVD. Um filme em DVD. "O Senhor das Armas", estrelado por Nicolas Cage. Gosto dele. Sabe ser canastrão quando preciso. E mandou bem nesse último, sobre um contrabandista de armas que renega a família para continuar enchendo a burra de dinheiro. Humano, demasiadamente humano. E preciso, claro. Gostei do filme. Mas eu não havia locado aquele. Nem emprestado para alguém.

Então senti a nuca arrepiar. As pupilas dilataram. "Nem tô sabendo", balbuciei. Ela insistiu, olhos colados nos meus. "Tem certeza? Ele veio aqui sexta-feira, deixou o filme e disse que era para entregar para você. Você não conhece nenhum Luiz?".

Porra, conheço 500 Luiz. Tios, primos, amigos, detratores, reis, marcas de cigarro, de conhaque, nomes de ruas, de avenidas, de cidades, uma infinidade de possibilidades. Pergunto como ele era. "Tinha uma barbinha", ela responde, passando os dedos gordinhos pelas maçãs do rosto. Opa, agora facilitou. TODOS os Luiz que conheço TEM BARBA. Com exceção, talvez, dos monarcas. Mas eles também não alugariam "O Senhor das Armas". Nem o deixariam para eu pegar num posto na saída de Americana ao meio-dia de um sábado.

Aquilo estava cada vez mais estranho. Ao lado da atendente, uma segunda balconista fitava o desenrolar da conversa enquanto esperava o forninho da loja de conveniência cuspir os pães de queijo que havia colocado há pelo menos 15 minutos. Estava impaciente, roendo o canto das unhas. Mania mais nojenta.

"Putz, nem sei do que se trata, sinceramente", consigo dizer, já sentindo as primeiras gotas de suor quente e úmido pingarem das axilas cobertas pela camiseta vermelha que coloquei especialmente para aquela ocasião. As pupilas ainda dilatadas, entregavam meu nervosismo. Eu estava nervoso. Eu sou nervoso. E um pouco disfluente também. Há, o Word grifa disfluente também. Ele não sabe o que é não conseguir dizer certas palavras em determinadas ocasiões. De fato, é mais evoluído que eu, que sou popularmente classificado como gago, embora não o seja de fato. Se fosse, faria análise com uma fonoaudióloga e tudo estaria resolvido. Mas o buraco é mais embaixo, caso para divã e remédio tarja preta e regressão ou hipnose.

"Olha, vou deixar meu telefone para você. Se ele aparecer aqui, pede para ele me ligar, porque eu não sei quem é o cara", coloquei. Ela assentiu, pegou uma caneta e escreveu no mesmo papel que havia escrito meu nome e o nome do jornal onde trabalho e colocado dentro plástico que reveste a caixa que guarda o DVD do filme.

"Então tá. Se ele aparecer, peço para ligar", ela responde. Aceno com a cabeça e saio. Sinto o ar quente invadir meus pulmões e expulsar o regelo do ar condicionado que respirei dentro da loja. Aquilo era muito estranho. Quase podia avistar o Forrest Whitaker apresentando minha alucinação para um bando de insones ligados no SBT. Loucura. Insensatez. Estado inevitável. Embalagem de iogurte inviolável. Fome. Miséria. Incompreensão. O Brasil é Treta campeão.

Sigo reto. Entro no carro. Ar condicionado ligado. Jimi Hendrix por R$ 19,90 nas Lojas Americanas tocando. Direção hidráulica. Vidros elétricos e insufilmados. Engate e maçanetas internas cromados. 18 prestações devidas para a BV Financeira. Churrasco e cerveja. Depois, trabalho. E o Forrest na minha cabeça. É, precisaria de muitas iscóis.

Aperto FF. É tarde da noite. Perto de 22h. O celular toca. Vou atender fora da redação. É Karen, a Senhora Biajoni. Junto com o Mestre, estavam curtindo uma sauna em Penedo, verdadeiro paraíso cravado entre a triste vila militar de Resende e nosso Haiti particular, o Rio de Janeiro. Àquela hora, já estavam acomodados novamente no maior bairro de Americana, Santa Bárbara d´Oeste, onde vivem atualmente enquanto aguardam o término da reforma na Maison Biaggioni.

"Então, o Bia deixou um filme para você no posto. Ele falou com você?", diz ela. Luiz. Luiz com barbinha. Luiz com barbinha que deixou DVD para eu devolver. Luiz com barbinha FORGADO que deixou um DVD para eu devolver. Luiz Biajoni.

Fim do mistério. Caso encerrado. Minha vida volta às cores de sempre. Forrest se afasta. Os créditos sobem.

5 comentários:

Anônimo disse...

Quando se tem amigos como o Bia tem-se que estar preparado para viver eventos surreais.

Anônimo disse...

Desculpe a ignorância, mas como o cara sabia que vc ía passar na porra do posto ???????

Nuvens de Palavras disse...

O post é muito bom, mas cadê a continuação de nossa ida até o Rio de Janeiro?

Anônimo disse...

Eu diria que você virou um boy muito do bonitinho!!!!!!

Biajoni disse...

vc devia achar isso uma HONRA!
:>)