Decepção. Raiva. Mágoa. Constrangimento. Nada disso resume o que senti, sentado numa mesa da cafeteria da Nobel, com uma xícara de café esfriando na minha frente, quando conclui, com uma pequena ajuda de uma amiga, que não conseguia sequer encher uma mão de amigos. Não poderia nem dizer que tenho "meia dúzia" de amigos, porque não tenho. Contando com ela, somo quatro pessoas que posso chamar de amigos. Eram três quando contei na cafeteria, mas depois de sábado, o número, vejam só, subiu para quatro. Não preciso citar nomes, eles sabem quem são. Mas ainda não é uma mão.
Isso me deprimiu muito. Me deprimiu mais ainda saber que gente com a qual convivi por tanto tempo - coisa de duas décadas - nunca foram amigas. Eram, no máximo, colegas de descoberta, companheiros de roubadas, gente que inegavelmente fez parte da minha história, mas de quem não poderia pedir um rim emprestado se precisasse. Exagero? Não se levar em consideração o que um dos quatro que posso chamar de amigo fez por mim no sábado, esperando por mim quase uma hora, às 4 da manhã, numa sala de hospital enquanto eu era entubado com soro glicosado por conta do tal porre de tequila.
Camaradas de infância, com os quais cresci junto e reparti boa parte da minha vida, hoje estão distantes, perdidos em alguma dobra espaço-temporal. Um deles, fiquei sabendo por terceiros, realizou um antigo sonho de comprar um carro. Eu, que sempre reparti o meu com ele, às vezes sendo até pressionado para isso, não fiquei sabendo pelas vias de fato.
Me senti traído, corneado, passado pra trás, feito de idiota. Não fiquei com inveja ou ciúmes. A dor foi por conta da pá de cal sobre um relacionamento que eu sempre acreditei que duraria pra sempre. Depois, a inevitável conclusão de que, no final das contas, não consigo encher uma mão de amigos sem reparar que, dos que a preenchem, três foram conquistados nos últimos seis anos.
O que foi feito dos velhos companheiros? Caráleo, será que fui tão incompetente a ponto de não conseguir conservar bons laços afetivos com esse pessoal? O que nos deixou tão diferentes, nos distanciou de maneira tão arrasadora, e, principalmente, nos tornou tão estranhos? Procuro e não encontro o eco de nossas risadas em postos de combustíveis perdidos pela cidade, nas longas caminhadas noturnas em busca de diversão, nos planos traçados em frente a Unimed, nas besterias molhadas com vinho vagabundo e Elma Chips.
Nada. É um vazio tão grande, um váculo tão profundo, mas ao mesmo tempo tão antigo que parece fazer parte da paisagem. Como se sempre estivesse estado ali. Eu é que não percebia, ou queria fingir que não existia, pintando sobre ele um quadro de paisagem tão etérea quanto nossa amizade. Nossa frágil amizade.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
Ah Gu.... eu conversei com você sobre isso... vc sabe o que eu acho... Não fica assim, lembra o que você disse que a sua felicidade é a minha? Então, não quero te ver assim, senão também fico assim, poxa! Não vou deixar mas você sair sozinho também... humpf!
Gus, com certeza vc faria o mesmo ou até muito mais pelo seu amigo que ficou contigo à noite, não supervalorize isso, não tem nada a ver. Quanto ao número de amigos, sempre prezei mais a qualidade do que a quantidade... abraços
dá meia hora de bunda que isso passa!
vc acha que alguém daria um rim por vc?ou por mim? acho muito fácil falar mas dificil de acontecer, agora se continuar nesse porre vai precisar de um figado e URGENTE.....bjos e desencana melhor ter quatro amigos sinceros do que 1000 colegas de buteco........
Postar um comentário