I'm Winston Wolfe. I solve problems.
terça-feira, agosto 30, 2005
Contagem regressiva
É segunda-feira.
Enquanto isso, os bons velhinhos disponibilizam o álbum todo para ser degustado, faixa a faixa, na íntegra.
Comentários para depois.
segunda-feira, agosto 29, 2005
Conclusões pré-porre de tequila no Bar da Montanha num sábado frio
Decepção. Raiva. Mágoa. Constrangimento. Nada disso resume o que senti, sentado numa mesa da cafeteria da Nobel, com uma xícara de café esfriando na minha frente, quando conclui, com uma pequena ajuda de uma amiga, que não conseguia sequer encher uma mão de amigos. Não poderia nem dizer que tenho "meia dúzia" de amigos, porque não tenho. Contando com ela, somo quatro pessoas que posso chamar de amigos. Eram três quando contei na cafeteria, mas depois de sábado, o número, vejam só, subiu para quatro. Não preciso citar nomes, eles sabem quem são. Mas ainda não é uma mão.
Isso me deprimiu muito. Me deprimiu mais ainda saber que gente com a qual convivi por tanto tempo - coisa de duas décadas - nunca foram amigas. Eram, no máximo, colegas de descoberta, companheiros de roubadas, gente que inegavelmente fez parte da minha história, mas de quem não poderia pedir um rim emprestado se precisasse. Exagero? Não se levar em consideração o que um dos quatro que posso chamar de amigo fez por mim no sábado, esperando por mim quase uma hora, às 4 da manhã, numa sala de hospital enquanto eu era entubado com soro glicosado por conta do tal porre de tequila.
Camaradas de infância, com os quais cresci junto e reparti boa parte da minha vida, hoje estão distantes, perdidos em alguma dobra espaço-temporal. Um deles, fiquei sabendo por terceiros, realizou um antigo sonho de comprar um carro. Eu, que sempre reparti o meu com ele, às vezes sendo até pressionado para isso, não fiquei sabendo pelas vias de fato.
Me senti traído, corneado, passado pra trás, feito de idiota. Não fiquei com inveja ou ciúmes. A dor foi por conta da pá de cal sobre um relacionamento que eu sempre acreditei que duraria pra sempre. Depois, a inevitável conclusão de que, no final das contas, não consigo encher uma mão de amigos sem reparar que, dos que a preenchem, três foram conquistados nos últimos seis anos.
O que foi feito dos velhos companheiros? Caráleo, será que fui tão incompetente a ponto de não conseguir conservar bons laços afetivos com esse pessoal? O que nos deixou tão diferentes, nos distanciou de maneira tão arrasadora, e, principalmente, nos tornou tão estranhos? Procuro e não encontro o eco de nossas risadas em postos de combustíveis perdidos pela cidade, nas longas caminhadas noturnas em busca de diversão, nos planos traçados em frente a Unimed, nas besterias molhadas com vinho vagabundo e Elma Chips.
Nada. É um vazio tão grande, um váculo tão profundo, mas ao mesmo tempo tão antigo que parece fazer parte da paisagem. Como se sempre estivesse estado ali. Eu é que não percebia, ou queria fingir que não existia, pintando sobre ele um quadro de paisagem tão etérea quanto nossa amizade. Nossa frágil amizade.
Isso me deprimiu muito. Me deprimiu mais ainda saber que gente com a qual convivi por tanto tempo - coisa de duas décadas - nunca foram amigas. Eram, no máximo, colegas de descoberta, companheiros de roubadas, gente que inegavelmente fez parte da minha história, mas de quem não poderia pedir um rim emprestado se precisasse. Exagero? Não se levar em consideração o que um dos quatro que posso chamar de amigo fez por mim no sábado, esperando por mim quase uma hora, às 4 da manhã, numa sala de hospital enquanto eu era entubado com soro glicosado por conta do tal porre de tequila.
Camaradas de infância, com os quais cresci junto e reparti boa parte da minha vida, hoje estão distantes, perdidos em alguma dobra espaço-temporal. Um deles, fiquei sabendo por terceiros, realizou um antigo sonho de comprar um carro. Eu, que sempre reparti o meu com ele, às vezes sendo até pressionado para isso, não fiquei sabendo pelas vias de fato.
Me senti traído, corneado, passado pra trás, feito de idiota. Não fiquei com inveja ou ciúmes. A dor foi por conta da pá de cal sobre um relacionamento que eu sempre acreditei que duraria pra sempre. Depois, a inevitável conclusão de que, no final das contas, não consigo encher uma mão de amigos sem reparar que, dos que a preenchem, três foram conquistados nos últimos seis anos.
O que foi feito dos velhos companheiros? Caráleo, será que fui tão incompetente a ponto de não conseguir conservar bons laços afetivos com esse pessoal? O que nos deixou tão diferentes, nos distanciou de maneira tão arrasadora, e, principalmente, nos tornou tão estranhos? Procuro e não encontro o eco de nossas risadas em postos de combustíveis perdidos pela cidade, nas longas caminhadas noturnas em busca de diversão, nos planos traçados em frente a Unimed, nas besterias molhadas com vinho vagabundo e Elma Chips.
Nada. É um vazio tão grande, um váculo tão profundo, mas ao mesmo tempo tão antigo que parece fazer parte da paisagem. Como se sempre estivesse estado ali. Eu é que não percebia, ou queria fingir que não existia, pintando sobre ele um quadro de paisagem tão etérea quanto nossa amizade. Nossa frágil amizade.
quinta-feira, agosto 25, 2005
Ô vontade...
Originalmente publicado no T&Q, há coisa de um ano, ressucito o dito cujo em razão da Nunu estar predisposta a. Ela é fiotona, mas manda bem.
É inevitável: uma hora ou outra, você também vai tocar o f***-**. Pode-se classificar o ato de apertar a tecla "F" como uma opção, e não a falta dela, como muitos acreditam. A questão é apenas o momento em que ela se torna iminente. Pode ser no começo, quando nenhuma outra coisa foi tentada, mas que só de analisar a situação já se sabe onde vai terminar; ou no final, quanto tudo já foi tentado, restando apenas apelar para ela. O que diferencia é, portanto, a quantidade de energia gasta em cada operação. Portanto, tocando o f***-** logo de início, economiza-se energia e, olhem só, um pouco de tempo, mercadoria essa em falta em nossos dias no século 21.
Claro que não é tão simples. Tocar o f***-** não resolve nada. Mas afinal, quem está nessa para resolver alguma coisa? Quem quer realmente fazer algo decente? Você quer? Por quê? O que te move? Dinheiro? Pudor? Medo? Orgulho? Hombridade? Ganância? Vaidade? Qual o pecado que te faz levantar da cama e começar um novo dia? O que, afinal, te impede de tocar o f***-**?Os árabes, sabemos, são campeões nisso. Não engolem muito sapo, não. Escreveu, não leu, é bomba pra todo lado. Tocam o f***-** mesmo, e f***-** o que pensam os ocidentais disso. Vai encarar? Que argumento prefere usar? A beleza da vida? O canto dos rouxinóis? A inevitabilidade de Deus? A Liberdade? A Igualdade? A Fraternidade? Um Big Mac? E quando não se tem isso? O que te impediria de tocar o f***-**?
Onde colocamos nossa tolerância, nosso discernimento, nossa capacidade de aceitação, quando tudo o mais parece convergir para a tecla “F”? Pensar que “dias melhores virão” é bonito, mas também patético. Tanto inútil quanto tocar o f***-** é acreditar no seu oposto. Por que agüentar tanto mais? Por que continuar a viver numa eterna apnéia social? O morro vai descer, sabemos disso também, e aí será a vez deles tocarem o f***-**. Os desgraçados do mundo, todos eles, não estenderão mais suas mãos esquálidas nas esquinas, mas as fecharão para cobrar seu quinhão. Então porque esperar? O que te segura de tocar o f***-** de vez?
Teu subemprego? Tua suposta cidadania? Seus sonhos que não se realizam? Seus planos que não dão certo? Uma foto na cabeceira da cama? O eco dos sermões da mamãe antes de dormir? Quer dar o exemplo, é isso? Quer mostrar que é possível não tocar o f***-**, que um entendimento, uma terceira via, um acordo, alguma coisa que impeça o gatilho de ser puxado pode existir? Quer ser um mártir? Um santo? É isso que te impede de tocar o f***-** de uma vez?
Tudo se resume, parece, ao medo. Até o Drummond sabia disso. Ninguém toca o f***-** de verdade. Ninguém quer perder as migalhas secas de vida que conseguiu juntar, e que são comidas agora amaciadas com algumas poucas lágrimas amarelas. De medo. De medo de tocar o f***-**.
É inevitável: uma hora ou outra, você também vai tocar o f***-**. Pode-se classificar o ato de apertar a tecla "F" como uma opção, e não a falta dela, como muitos acreditam. A questão é apenas o momento em que ela se torna iminente. Pode ser no começo, quando nenhuma outra coisa foi tentada, mas que só de analisar a situação já se sabe onde vai terminar; ou no final, quanto tudo já foi tentado, restando apenas apelar para ela. O que diferencia é, portanto, a quantidade de energia gasta em cada operação. Portanto, tocando o f***-** logo de início, economiza-se energia e, olhem só, um pouco de tempo, mercadoria essa em falta em nossos dias no século 21.
Claro que não é tão simples. Tocar o f***-** não resolve nada. Mas afinal, quem está nessa para resolver alguma coisa? Quem quer realmente fazer algo decente? Você quer? Por quê? O que te move? Dinheiro? Pudor? Medo? Orgulho? Hombridade? Ganância? Vaidade? Qual o pecado que te faz levantar da cama e começar um novo dia? O que, afinal, te impede de tocar o f***-**?Os árabes, sabemos, são campeões nisso. Não engolem muito sapo, não. Escreveu, não leu, é bomba pra todo lado. Tocam o f***-** mesmo, e f***-** o que pensam os ocidentais disso. Vai encarar? Que argumento prefere usar? A beleza da vida? O canto dos rouxinóis? A inevitabilidade de Deus? A Liberdade? A Igualdade? A Fraternidade? Um Big Mac? E quando não se tem isso? O que te impediria de tocar o f***-**?
Onde colocamos nossa tolerância, nosso discernimento, nossa capacidade de aceitação, quando tudo o mais parece convergir para a tecla “F”? Pensar que “dias melhores virão” é bonito, mas também patético. Tanto inútil quanto tocar o f***-** é acreditar no seu oposto. Por que agüentar tanto mais? Por que continuar a viver numa eterna apnéia social? O morro vai descer, sabemos disso também, e aí será a vez deles tocarem o f***-**. Os desgraçados do mundo, todos eles, não estenderão mais suas mãos esquálidas nas esquinas, mas as fecharão para cobrar seu quinhão. Então porque esperar? O que te segura de tocar o f***-** de vez?
Teu subemprego? Tua suposta cidadania? Seus sonhos que não se realizam? Seus planos que não dão certo? Uma foto na cabeceira da cama? O eco dos sermões da mamãe antes de dormir? Quer dar o exemplo, é isso? Quer mostrar que é possível não tocar o f***-**, que um entendimento, uma terceira via, um acordo, alguma coisa que impeça o gatilho de ser puxado pode existir? Quer ser um mártir? Um santo? É isso que te impede de tocar o f***-** de uma vez?
Tudo se resume, parece, ao medo. Até o Drummond sabia disso. Ninguém toca o f***-** de verdade. Ninguém quer perder as migalhas secas de vida que conseguiu juntar, e que são comidas agora amaciadas com algumas poucas lágrimas amarelas. De medo. De medo de tocar o f***-**.
quarta-feira, agosto 24, 2005
Relâmpago
O combinado era não se envolver, certo? Diversão apenas, sexo casual, o eterno frescor do descompromisso jorrando pelos póros, só alegria. Mas não. Não dá. E sabe quando se percebe que não dá pra evitar, quando se torna real a iminência do despedaçamento da promessa original? Naquele intervalo entre a ejaculação e o banho.
Sim, aquele espaço de tempo em que os dois corpos ainda molhados e ofegantes se abraçam, dizem que foi tudo maravilhoso e sacam promessas que tinham jurado nunca fazerem. Mas fazem, e com uma convicção que chega a espantar. Com o perdão do trocadilho, o sexo fode com tudo. Fode com qualquer tentativa de não-envolvimento. Trepou, um abraço.
Acho que esse interregno é o equivalente ao intervalo entre o relâmpago e o trovão. Como quando se vê uma clarão no céu e conta-se os segundos para tentar adivinhar onde ele vai "cair". É mais ou menos isso. O estrago tá feito.
Sim, aquele espaço de tempo em que os dois corpos ainda molhados e ofegantes se abraçam, dizem que foi tudo maravilhoso e sacam promessas que tinham jurado nunca fazerem. Mas fazem, e com uma convicção que chega a espantar. Com o perdão do trocadilho, o sexo fode com tudo. Fode com qualquer tentativa de não-envolvimento. Trepou, um abraço.
Acho que esse interregno é o equivalente ao intervalo entre o relâmpago e o trovão. Como quando se vê uma clarão no céu e conta-se os segundos para tentar adivinhar onde ele vai "cair". É mais ou menos isso. O estrago tá feito.
domingo, agosto 21, 2005
O anal possível
Uma amiga terminou um namoro de sete anos faz duas semanas. "Não damos mais certo", sentenciou ela. Depois do segundo final de semana de liberdade, me confidenciou. "Dei o cú". "Putz", exclamei como resposta. Nada mais precisava dizer. E isso me fez contextualizar sua situação e chegar a algumas conclusões.
A garota namorou sete anos um único sujeito. Só fazia sexo com ele. Por sete anos, apenas o pau dele lhe interessou. Sua vagina tinha tomado praticamente a fôrma do instrumento do rapaz. E estava ótimo. Beleza, há quem consiga viver na monogamia. Mas nada, absolutamente nada, resiste ao tédio, que leva ao desinteresse, que leva ao fim de tudo. Foda-se o tempo em que as escovas de dentes tiveram a companhia uma da outra: deu brecha, dançou. E com ela não foi diferente. O fato de ter feito sexo anal com um sujeito que acabara de conhecer numa noite é o resumo disso.
Porque, acredito eu, existam duas formas de se conseguir que uma mulher forneça o orifío desejado sadicamente por 99% dos homens heterossexuais. A primeira, foi a adotada pelo ex-namorado dessa amiga. Depois de tanto tempo de convívio, ela se sentia extremamente a vontade para fazer o que quisesse com ele. Confiava nele, que podia, por sua vez, confiar nela. O carinho trocado, a cumplicidade sincera e a certeza que seriam felizes para sempre a fizeram ficar de quatro e, como diria a Virgínia, mandar o cara "meter aí".
Só que ela havia demorado quatro anos para resolver isso. Quatro anos com CURIOSIDADE, mas sem VONTADE suficiente para encarar o bicho por trás. O que nos leva a segunda forma de se conseguir isso de uma mulher. O sujeito que ela conheceu dois finais de semana depois de ter largado do namorado a fez ter essa vontade numa única noite. Sua competência na cama (ou seja lá onde a cópula tenha rolado) foi tamanha que ela mandou um "mete aí" sem pestanejar.
O cara a excitou tanto, instigou seus sentidos de tal modo que não deve ter precisado nem de quatro horas para conseguir o feito. Enquanto o namorado, com carinho, dedicação e paciência, levou quatro anos. Ruim de serviço? Talvez. Mas é inegável que competência é fundamental. E competência não é pau de 22 cm, saber o Kama Sutra de trás pra frente ou mandar um buquê de tulipas importadas da Holanda com um cartão escrito "Eu te amo" em 876 dialetos, incluindo línguas mortas.
É saber dar o que o outro quer. É algo subliminar. Como fazer cosquinhas nos recônditos mais escuros dos desejos mais indecentes apenas com um olhar. Alguns, com mais sorte, nascem com isso. Outros aprendem com o tempo. Quem permanece apenas com mais do mesmo, está fadado a ficar pra titio. Ou titia.
E não é apenas com relação a sexo. A sintonia que existe entre duas pessoas se dá de maneira incompreensível, a princípio, mas pode ser encarada como um jogo. Um jogo onde ganha não quem necessariamente sabe jogar melhor, mas blefar mais convincentemente, com os olhos vidrados e um sorriso de canto de boca.
A garota namorou sete anos um único sujeito. Só fazia sexo com ele. Por sete anos, apenas o pau dele lhe interessou. Sua vagina tinha tomado praticamente a fôrma do instrumento do rapaz. E estava ótimo. Beleza, há quem consiga viver na monogamia. Mas nada, absolutamente nada, resiste ao tédio, que leva ao desinteresse, que leva ao fim de tudo. Foda-se o tempo em que as escovas de dentes tiveram a companhia uma da outra: deu brecha, dançou. E com ela não foi diferente. O fato de ter feito sexo anal com um sujeito que acabara de conhecer numa noite é o resumo disso.
Porque, acredito eu, existam duas formas de se conseguir que uma mulher forneça o orifío desejado sadicamente por 99% dos homens heterossexuais. A primeira, foi a adotada pelo ex-namorado dessa amiga. Depois de tanto tempo de convívio, ela se sentia extremamente a vontade para fazer o que quisesse com ele. Confiava nele, que podia, por sua vez, confiar nela. O carinho trocado, a cumplicidade sincera e a certeza que seriam felizes para sempre a fizeram ficar de quatro e, como diria a Virgínia, mandar o cara "meter aí".
Só que ela havia demorado quatro anos para resolver isso. Quatro anos com CURIOSIDADE, mas sem VONTADE suficiente para encarar o bicho por trás. O que nos leva a segunda forma de se conseguir isso de uma mulher. O sujeito que ela conheceu dois finais de semana depois de ter largado do namorado a fez ter essa vontade numa única noite. Sua competência na cama (ou seja lá onde a cópula tenha rolado) foi tamanha que ela mandou um "mete aí" sem pestanejar.
O cara a excitou tanto, instigou seus sentidos de tal modo que não deve ter precisado nem de quatro horas para conseguir o feito. Enquanto o namorado, com carinho, dedicação e paciência, levou quatro anos. Ruim de serviço? Talvez. Mas é inegável que competência é fundamental. E competência não é pau de 22 cm, saber o Kama Sutra de trás pra frente ou mandar um buquê de tulipas importadas da Holanda com um cartão escrito "Eu te amo" em 876 dialetos, incluindo línguas mortas.
É saber dar o que o outro quer. É algo subliminar. Como fazer cosquinhas nos recônditos mais escuros dos desejos mais indecentes apenas com um olhar. Alguns, com mais sorte, nascem com isso. Outros aprendem com o tempo. Quem permanece apenas com mais do mesmo, está fadado a ficar pra titio. Ou titia.
E não é apenas com relação a sexo. A sintonia que existe entre duas pessoas se dá de maneira incompreensível, a princípio, mas pode ser encarada como um jogo. Um jogo onde ganha não quem necessariamente sabe jogar melhor, mas blefar mais convincentemente, com os olhos vidrados e um sorriso de canto de boca.
terça-feira, agosto 16, 2005
Do pó ao pó
O último livro que ganhei foi "Pergunte ao Pó", do John Fante. A pessoa que me deu sabia da minha queda pela obra e não errou. Eu é que me surpreendi ao me ver tremendamente intimidado quando comecei os primeiros capítulos. Confesso que pensei seriamente em largar de lado e abrir qualquer outro que tivesse a mão.
Mais por insistência dela que minha, mantive a leitura. Agora, ao final, sinto que fiz um bem danado a mim mesmo. O pó de Fante é realmente mágico. Não à toa, influenciou a Beat Generation, minha escola predileta em gênero, número e grau. Logo, me sentia na obrigação de ler criador e criatura.
Ao final, me deparei com uma leitura que jamais imaginei fazer quando comecei a ler o relato de Arturo Bandini e sua solidão monástica, sua vontade irascível de ser reconhecido como escritor e amor incondicional por um editor que nunca conheceu, mas do qual guardava um retrato na parede.
Sob as orientação dela, li me atendo a questão do pó. A coisa é tão coesa que ao fim da obra Arturo joga o próprio livro, com dedicatória para a mulher amada e tudo mais, seu primeiro romance publicado, no deserto, onde ela desaparecera. E o que é um deserto que não um lugar cheio de pó? A simbologia disso é fantástica, algo como: "Quer saber da minha vida? Quer saber do que sou feito? Da onde vim ou para onde vou? Pergunte ao pó".
Lógico, é até biblíco, como na história do "Do pó viemos, ao pó retornaremos" e tal. Durante toda a vida do personagem o único coadjuvante que aparece com freqüência é o pó. Seja nas espeluncas onde ele come, nos pardieiros onde dorme, nas roupas que veste e até sobre as pessoas que se envolve. O pó é sua única testemunha, a testemunha ocular de toda uma vida vivida por viver, vivida para o que se gosta e acredita.
Talvez essa seja uma das mensagens de Fante: numa vida vivida plenamente, a única companhia certa é a do pó, nossa origem e também o nosso destino final. Nada é mais certo que o pó, que está em todo lugar e ao mesmo tempo em lugar algum. Insistente e persistente, como a vontade do personagem de ser escritor. O pó é, dessa forma, a metáfora da vontade de viver, de transformar sonho em realidade, de existir onde ninguém bota fé que possa. Perguntar ao pó é como perguntar a si mesmo.
(Tanx a lot, Maryjane)
Mais por insistência dela que minha, mantive a leitura. Agora, ao final, sinto que fiz um bem danado a mim mesmo. O pó de Fante é realmente mágico. Não à toa, influenciou a Beat Generation, minha escola predileta em gênero, número e grau. Logo, me sentia na obrigação de ler criador e criatura.
Ao final, me deparei com uma leitura que jamais imaginei fazer quando comecei a ler o relato de Arturo Bandini e sua solidão monástica, sua vontade irascível de ser reconhecido como escritor e amor incondicional por um editor que nunca conheceu, mas do qual guardava um retrato na parede.
Sob as orientação dela, li me atendo a questão do pó. A coisa é tão coesa que ao fim da obra Arturo joga o próprio livro, com dedicatória para a mulher amada e tudo mais, seu primeiro romance publicado, no deserto, onde ela desaparecera. E o que é um deserto que não um lugar cheio de pó? A simbologia disso é fantástica, algo como: "Quer saber da minha vida? Quer saber do que sou feito? Da onde vim ou para onde vou? Pergunte ao pó".
Lógico, é até biblíco, como na história do "Do pó viemos, ao pó retornaremos" e tal. Durante toda a vida do personagem o único coadjuvante que aparece com freqüência é o pó. Seja nas espeluncas onde ele come, nos pardieiros onde dorme, nas roupas que veste e até sobre as pessoas que se envolve. O pó é sua única testemunha, a testemunha ocular de toda uma vida vivida por viver, vivida para o que se gosta e acredita.
Talvez essa seja uma das mensagens de Fante: numa vida vivida plenamente, a única companhia certa é a do pó, nossa origem e também o nosso destino final. Nada é mais certo que o pó, que está em todo lugar e ao mesmo tempo em lugar algum. Insistente e persistente, como a vontade do personagem de ser escritor. O pó é, dessa forma, a metáfora da vontade de viver, de transformar sonho em realidade, de existir onde ninguém bota fé que possa. Perguntar ao pó é como perguntar a si mesmo.
(Tanx a lot, Maryjane)
domingo, agosto 14, 2005
sábado, agosto 13, 2005
Papo reto
- Você tá com cheiro de puta.
- Tenho culpa se você gosta?
- Já falei pra não usar esse perfume, porra...
- Uso o que eu quiser, você não manda em mim.
- Da próxima vez, esfrega no pescoço a bunda de uma cadela no cio, pode ter certeza que vai atrair muito homem...
- Você eu sei que atraio. Pra mim tá bom.
-Tu gosta de fazer esse joguinho canalha, né? Sabe onde isso vai parar...
- Sei. Numa rua escura, você urrando e o banco do carro todo lambuzado de nós dois.
- Ah! Virou poeta, agora? Vai se foder, vai...
- Não fala assim que eu me excito. Olha como tô começando a me molhar...
- Daqui minha mão, porra.
- A propósito, o perfume foi sua mãe que me deu.
- E acha que isso faz retirar o que eu disse?
- Nem a própria mãe, credo...
- Tá, chega. Vamo embora.
- Pra onde?
- Alguma rua escura. Consegui uma ereção.
- Oba.
- Tenho culpa se você gosta?
- Já falei pra não usar esse perfume, porra...
- Uso o que eu quiser, você não manda em mim.
- Da próxima vez, esfrega no pescoço a bunda de uma cadela no cio, pode ter certeza que vai atrair muito homem...
- Você eu sei que atraio. Pra mim tá bom.
-Tu gosta de fazer esse joguinho canalha, né? Sabe onde isso vai parar...
- Sei. Numa rua escura, você urrando e o banco do carro todo lambuzado de nós dois.
- Ah! Virou poeta, agora? Vai se foder, vai...
- Não fala assim que eu me excito. Olha como tô começando a me molhar...
- Daqui minha mão, porra.
- A propósito, o perfume foi sua mãe que me deu.
- E acha que isso faz retirar o que eu disse?
- Nem a própria mãe, credo...
- Tá, chega. Vamo embora.
- Pra onde?
- Alguma rua escura. Consegui uma ereção.
- Oba.
Ziper da semana
O ano é 1969. O local é um parque inglês. Sob uma plataforma de madeira com menos de 1,5 metro de altura, quatro sujeitos fazem a festa para coisa de 500 mil pessoas, que estão lá para curtir uma tarde de sol deitados sob a grama. Como se ainda tivessem saído do útero da mãe-música, Mick Jagger, Charlie Watts, Keith Richards e, estreando no lugar do recém-falecido Brian Jones, Mick Taylor, fazem um belíssimo show de rock’n’roll. Que só é interrompido quando a mulherada começa a invadir o palco para tentar agarrar o sacolejante vocalista.
Então corta. Vai para 1998. O local é um imenso estádio de futebol inglês. Embaixo e acima de uma mega estrutura de aço e estão os mesmos Jagger, Charlie, Keith e também Ron Wood, ocupou a vaga de Taylor. Eles tocam para coisa de 100 mil pessoas, que devem ter pago vários euros para estarem lá com o intuito de declarar seu amor incondicional aos tiozinhos. As músicas são praticamente as mesmas, com óbvias diferenças técnicas. Já o comportamento dos músicos beira o pastelão.
Se há 29 anos eram símbolos da rebeldia juvenil, não medindo o que falavam e se comportando como demônios de cabelos compridos, provocando e abalando o sistema, hoje tomam chá com a rainha. No show de 1998, é visível uma encenação que inexistia no auge do grupo. As reboladas de Mick Jagger, as caras e bocas de Wood, o cigarro semi-apagado de Keith e o ar blasé de Charlie soam falsas e, arrisco, de mal gosto. Dá pra notar que estão dando exatamente o que o público quer, enquanto faziam exatamente o oposto quando surgiram.
Mas isso não é privilégio dos Rolling Stones. Cito eles como exemplo por serem os mais antigos em atividade, beirando os 50 anos de carreira. Mas há outros, com bem menos tempo até, que não param de repetir os clichês que ajudaram a criar. Poucos são os artistas que conseguem se manter íntegros ao longo de sua carreira, sustentando não mitos, mas personalidade, integridade e honestidade. Dá pra contar nos dedos os sujeitos que se mantém fiéis às suas origens sem soarem anacrônicos ou limitados.
Mesmo sem acertar sempre, caras como David Bowie, Paul McCartney, Lou Reed e Patti Smith estão entre eles. São lendas, mas não ligam para isso. Não se importam com o que foi feito deles, mas sim com o que farão com isso. Mas aí já é outra história.
Então corta. Vai para 1998. O local é um imenso estádio de futebol inglês. Embaixo e acima de uma mega estrutura de aço e estão os mesmos Jagger, Charlie, Keith e também Ron Wood, ocupou a vaga de Taylor. Eles tocam para coisa de 100 mil pessoas, que devem ter pago vários euros para estarem lá com o intuito de declarar seu amor incondicional aos tiozinhos. As músicas são praticamente as mesmas, com óbvias diferenças técnicas. Já o comportamento dos músicos beira o pastelão.
Se há 29 anos eram símbolos da rebeldia juvenil, não medindo o que falavam e se comportando como demônios de cabelos compridos, provocando e abalando o sistema, hoje tomam chá com a rainha. No show de 1998, é visível uma encenação que inexistia no auge do grupo. As reboladas de Mick Jagger, as caras e bocas de Wood, o cigarro semi-apagado de Keith e o ar blasé de Charlie soam falsas e, arrisco, de mal gosto. Dá pra notar que estão dando exatamente o que o público quer, enquanto faziam exatamente o oposto quando surgiram.
Mas isso não é privilégio dos Rolling Stones. Cito eles como exemplo por serem os mais antigos em atividade, beirando os 50 anos de carreira. Mas há outros, com bem menos tempo até, que não param de repetir os clichês que ajudaram a criar. Poucos são os artistas que conseguem se manter íntegros ao longo de sua carreira, sustentando não mitos, mas personalidade, integridade e honestidade. Dá pra contar nos dedos os sujeitos que se mantém fiéis às suas origens sem soarem anacrônicos ou limitados.
Mesmo sem acertar sempre, caras como David Bowie, Paul McCartney, Lou Reed e Patti Smith estão entre eles. São lendas, mas não ligam para isso. Não se importam com o que foi feito deles, mas sim com o que farão com isso. Mas aí já é outra história.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Finis
Aos 16 anos descobri o Led Zeppelin numa extinta Showbizz que tinha o Dado Villa-Lobos e o Marcelo Bonfá, da então recém-acabada Legião Urbana, na capa. Comprei meu primeiro disco deles (do Led, não da Legião) numa loja de CDs que não existe mais num shopping que estás prestes a desaparecer. A primeira audição foi na casa de minha primeira ex-namorada.
Passado. Passado. Passado. É tudo passado. Agora mesmo parece que já passou, pertence a um tempo coberto de pó e cheirando a formol da sala de anatomia de faculdade.
Parece ser impossível viver DO presente. Apenas viver O presente da forma que ele se apresenta: inevitável. O corpo encravado nele, mas a cabeça divagando entre o ontem e o amanhã, estacionando num e noutro a esmo, sem muita consequência, sem muita predileção. Sem pertencimento.
Checo minha tímida coleção de DVDs e vejo um show dos Rolling Stones de 1969, o Woodstock do mesmo período, um The Doors de pouco antes e, putz, um Led Zeppelin de 1973. Nada do meu tempo, nada da minha geração, nada da minha época, nem sequer do ano do meu nascimento.
Ah, tem um David Bowie de 2003. Mas Bowie é futuro até quando é passado, e passado quando trata-se de futuro, é Joselito, apelão, não sabe brincar.
Então aonde eu fico? Entre o pós-punk dos Smiths e Legião (ambos finados) e o nu-punk-pop-rock do Bloc Party, Placebo e Strokes? Ou volto pra trás e me declaro um hippie de coração punk setentista?
Melhor seria esperar pelo próximo bonde da história, talvez? Porque essas bandas vão acabar. Assim como as revistas e sites que falam delas, os quais acompanho e deixo fazerem parte da minha vida. Então se acabam, uma parte da minha vida também termina. É certo que uma outra começa, mas a lacuna nunca será preenchida. Aquele buraco que estava sendo preenchido com esse amor e dedicação surreal jamais será completado, deixando um legado de ausência.
E as pessoas também irão. De uma forma ou de outra, deixarão de ser parte da minha vida da forma como são hoje. E outras virão, para depois partirem. Mas seus lugares não serão preenchidos. Novos deverão ser abertos. Ficamos, então, cheios de valas meio-cheias-meio-vazias.
Perdidas no tempo. Como uma antiga Showbizz, um disco do Led Zeppelin ou uma antiga namorada.
Passado. Passado. Passado. É tudo passado. Agora mesmo parece que já passou, pertence a um tempo coberto de pó e cheirando a formol da sala de anatomia de faculdade.
Parece ser impossível viver DO presente. Apenas viver O presente da forma que ele se apresenta: inevitável. O corpo encravado nele, mas a cabeça divagando entre o ontem e o amanhã, estacionando num e noutro a esmo, sem muita consequência, sem muita predileção. Sem pertencimento.
Checo minha tímida coleção de DVDs e vejo um show dos Rolling Stones de 1969, o Woodstock do mesmo período, um The Doors de pouco antes e, putz, um Led Zeppelin de 1973. Nada do meu tempo, nada da minha geração, nada da minha época, nem sequer do ano do meu nascimento.
Ah, tem um David Bowie de 2003. Mas Bowie é futuro até quando é passado, e passado quando trata-se de futuro, é Joselito, apelão, não sabe brincar.
Então aonde eu fico? Entre o pós-punk dos Smiths e Legião (ambos finados) e o nu-punk-pop-rock do Bloc Party, Placebo e Strokes? Ou volto pra trás e me declaro um hippie de coração punk setentista?
Melhor seria esperar pelo próximo bonde da história, talvez? Porque essas bandas vão acabar. Assim como as revistas e sites que falam delas, os quais acompanho e deixo fazerem parte da minha vida. Então se acabam, uma parte da minha vida também termina. É certo que uma outra começa, mas a lacuna nunca será preenchida. Aquele buraco que estava sendo preenchido com esse amor e dedicação surreal jamais será completado, deixando um legado de ausência.
E as pessoas também irão. De uma forma ou de outra, deixarão de ser parte da minha vida da forma como são hoje. E outras virão, para depois partirem. Mas seus lugares não serão preenchidos. Novos deverão ser abertos. Ficamos, então, cheios de valas meio-cheias-meio-vazias.
Perdidas no tempo. Como uma antiga Showbizz, um disco do Led Zeppelin ou uma antiga namorada.
quinta-feira, agosto 04, 2005
Voyer
Hipnotizada pelo trabalho, não dava atenção a mais nada. Entretanto, era observada. Em detalhes. Os dedos nervosos que ajeitavam a franja distraída que insistia em cair pelos olhos. O olhar concentrado, quase lacrimejante, de quem faz o que se deve sem muitas perguntas. Ao lado, copo descartável meio-cheio-meio-vazio de água ainda gelada, úmido por fora como seu peito parecia estar por dentro. O sorriso automático a cada saudação, os pés que não paravam quietos embaixo da mesa, o escapulário torcido e enroscado nos cabelos soltos que encobriam a nuca. Detalhes. Detalhes sem importância se comparados aos cosmo de que eram feitos, mas únicos pela situação alí subentendida. Do outro lado, apenas observando. Uma piscadela cumplicidade.
quarta-feira, agosto 03, 2005
Ensaboado
Os Stones disponibilizam para download três canções de seu novo disco, previsto para 5 de setembro. "Rough Justice", "Streets of Love" e "Back of My Hand" são as ditas cujas.
Mas, como bons félasdaputa capitalistas, o lance é pago, via Itunes. Ninguém mandou não ter American Express.
Lógico que o Soulseek já deve ter as três em todos os formatos, cores e sabores.
Vai encarar?
Mas, como bons félasdaputa capitalistas, o lance é pago, via Itunes. Ninguém mandou não ter American Express.
Lógico que o Soulseek já deve ter as três em todos os formatos, cores e sabores.
Vai encarar?
terça-feira, agosto 02, 2005
Básico Instinto
Roberto Jefferson diz que Zé Dirceu desperta nele instinto primitivos.
Não sei quanto a vocês, mas vou incluir essa no meu rol de cantadas ordinárias para um noite de muita bebedeira e pouca ou nenhuma opção.
Não sei quanto a vocês, mas vou incluir essa no meu rol de cantadas ordinárias para um noite de muita bebedeira e pouca ou nenhuma opção.
Assinar:
Postagens (Atom)