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Entrada para o cinema: R$ 5 (com carteirinha de estudante)
Combo de pipoca com refrigerante: R$ 6
Na fila para o filme, topar com aquela ex-namorada que te sacaneou e notar que ela está tomando a forma de um barril de chopp de 50 litros: NÃO TEM PREÇO
Os Beatles são uma fonte inesgotável de tudo o que se imagina. Qualquer coisa relacionada a John, Paul, George e Ringo faz sucesso. E dinheiro. Muito dinheiro. São a banda que mais fatura mesmo depois do fim. Agora, quando todos pensavam que não havia mais o que faturar em cima do quarteto - posto que toda e qualquer gravação possível e imaginável já foi lançada - eis que o produtor George Martin, o quinto besouro, chega com Love, disco com remixes das canções mais famosas do grupo. Mas não qualquer tipo de remixe.
As músicas não foram simplesmente mexidas. Passaram, sim, por singela - embora decisiva - intervenção cirúrgico-artística. A idéia foi da oportunista trupe do Cirque du Solei, que resolveu ganhar uns trocados montando um musical com base na obra dos rapazes de Liverpool. Martin gostou da idéia e, com a chancela dos responsáveis pela parte dos Beatles mortos e mais os remanescentes do grupo, mexeu como lhe deu na telha nas canções. Tirou e colocou instrumentos, inseriu levadas, alterou rotações, pintou e bordou. Qualquer semelhança com aquele engodo chamado "Let it Be... Naked" não é mera coincidência. Pois é, pois é, pois é...
Por isso, Love não é recomendado para puristas ou fundamentalistas. Dá para imaginar um beatlemaníaco, vestido com a roupa do Sgt. Pepper, enfurecido, aos berros com o disco nas mãos: "Misturaram 'Hard Days Night' com 'Get Back'! Hereges! Trocara o solo elétrico de 'While My Guitar Gently Weeps' por cordas! Vão queimar todos no fogo azul do inferno! Paul is dead!" Sejamos sensatos, pois.
Love é um caça-níqueis. Mas é um caça-níqueis que, de repente, deve render mais do que dinheiro (até porque, nenhum dos envolvidos no projeto precisa realmente de grana, sejamos francos). A molecada nova que não conhece nada de Beatles pode, por exemplo, ouvir uma dessas versões e ter curiosidade em saber como ela era originalmente. E então gostar, ir atrás de mais e, quando menos se espera, vê-se nascer outra pessoa de bom gosto musical.
Por isso, assim como outros lançamentos póstumos do quarteto, o disco serve, antes de mais nada, para mantê-los em evidência dentro da sociedade da informação que vivemos. Num contexto onde bandas surgem na mesma velocidade que desaparecem, os detentores do espólio dos Fab Four temem que o legado da banda mais importante de todos os tempos seja esquecido ou relegado a um passado que definitivamente não os pertence. Porque o que aqueles quatro moleques fizeram não tem precedente dentro da lógica espaço-temporal que rege nossas vidas. Estão bem acima dela, velando por tudo e todos. Amém.
A Bizz deste mês traz uma retranca pior do que a matéria principal, um compêndio incrivelmente inócuo sobre música digital. Nela, o jornalista-estrela Lúcio Ribeiro explica, em uma página inteira, porque é um sujeito fodaço e referência absoluta no Brasil no que toca à música independente.
Já a Rolling Stone tem a pachorra de dedicar inexplicáveis oito páginas inteiras para que oito integrantes de oito bandas de rock nacional, que lançaram discos em 1986, falem sobre seus próprios rebentos.
O que é a falta de pauta/anunciante, hein?
São duas as maiores preocupações do macho heterossexual moderno. A primeira, sexo. Segundo depoimentos de amigas próximas, a maioria sequer sabe pra quer servem aquelas dobrinhas entre as coxas e as nádegas. Ou o que fazer com um bom par de almofadas. A segunda, passar roupa. Segundo depoimentos de amigos próximos, o papo com o ferro a vapor é algo totalmente inóspito, quase como trigonometria. Sabem apenas que não devem colocar a mão na chapa quente - coisa que devem ter aprendido da pior maneira durante a infância. Compartilho, amigos.
Quando ela disse que se ausentaria por cinco dias, entrei em desespero. Recém-saído da casa da mamãe, havia a pouco aprendido os meandros que cercam a máquina de lavar automática. Agora, precisaria me inteirar dos macetes a respeito de esticar roupas. Pedi algumas lições básicas, coisa simples, apenas para não ficar sem camiseta preta no final de semana. E lá foi.
1. Armar a tábua de passar
2. Colocar água no ferro
3. Ligar o aparelho
4. Selecionar a quantidade de vapor de acordo com o tecido que será passado
5. Espirrar um pouco de Comfort antes de descer a chapa
(Momento pergunta-idiota-que-mereceu-a-resposta-que-teve:
- O que é isso? - pergunto, apontando para o recipiente azul com gatilho de spray.
- Comfort, oras - responde ela, cara de reticências.
- Eu sei a marca, mas do que é feito. É tipo um amaciante? - arrisco.
- Não, é tipo um Comfort. Não faz pergunta difícil, tá? - encerra.
Toma, besta.)
Então me atirei com vontade à pilha de roupas limpas e amarrotadas. E fui bem, até pegar uma camisa de polyester e meter nela o ferro quente exalando vapor, perfeito para fazer o tecido enrugar e rasgar antes de qualquer movimento brusco. Tinha "matado" a camisa. Uma camisa amarela que eu nem gostava tanto, mas, ainda assim, a prova irrefutável da minha falta de preparo, da minha incompetência na decana tarefa doméstica. Deduzi rápido que o excesso de vapor fora a causa da tragédia e que eu deveria ter regulado o ferro na posição mais seca possível. O tecido pedia algo que eu não sabia. E me dei mal.
Pronto. Junto com a camisa, eu havia matado também a charada. Da mesma forma que cada tecido exige uma regulagem específica de vapor, cada mulher também exige um tipo de postura durante o sexo. A seda requer um ferro seco, ao contrário do algodão, que gosta de umidade. Logo, não adianta ir rosnando feito um animal para uma manceba recém-descoberta, assim como não se deve exagerar no recato ante uma dama experimentada.
Todas, entretanto, precisam ser devidamente preparadas e trabalhadas da maneira mais quente e próxima possível. Ninguém passa roupa com o ferro frio, certo? É preciso aquecer as coisas antes. O próprio ferro a vapor necessita de um tempo mínimo para ficar no ponto. Do contrário, seu rendimento será abaixo do esperado, quando não, inexistente. Quanto mais quente, melhor.
E como qualquer boa passada de roupa, não se pode deixar qualquer dobra, vinco ou abertura sem a devida atenção. Tudo deve ser meticulosamente explorado e apreciado. Sem pressa ou preconceito. Capricho é fundamental e faz toda a diferença. Ou alguém conhece quem alisa apenas as mangas da camisa, deixando o resto amarrotado? Fazer o serviço pela metade não dá. Além de tudo, pega mal. E roupa mal passada, assim como sexo mal feito, é o tipo de coisa que não costuma ficar restrita a vizinhança. Espalha mesmo.
Mas claro que tudo fica melhor com o tempo. Quanto mais roupa se passa, mais fácil a tarefa se torna. Mas é preciso policiamento constante para evitar uma tentadora e quase automática alienização do processo. Não se pode alisar as peças sempre da mesma forma, tratando-as indiscriminadamente. Uma camisa e uma meia podem ser feitas do mesmo tecido, mas pedem ações diferentes. Cada uma tem sua maneira particular de ser manipulada para, assim, apresentar o melhor resultado.
E o que separa passadores bons de passadores ruins? Duas coisas: vontade e disciplina. Não se pode desistir na primeira "matada" de roupa. Nem pensar em se aposentar apenas porque alisou uma cueca. Passar roupa exige dedicação espartana, reciclagem constante, desprendimento e algum humor.
Óbvio que exceções existem, mas a regra é essa: faça sexo como você passa roupa. Não tem com errar.
Um grupo de jovens norte-americanos vem passar as férias no Brasil. Durante uma festa em alguma praia, são dopados e tem roupas, dinheiro e documentos roubados. Acordam estirados na areia e sem ter para onde ir. Desesperados, aceitam a ajuda de um nativo, que os leva para uma casa onde podem conseguir auxílio. Lá, descobrem que podem ser vítimas de terríveis contrabandistas de órgãos, doidos para abri-los e faturar algum com suas tripas. Gostou? Esse é o enredo de "Turistas", que estréia em dezembro nos EUA e em fevereiro por aqui.
Afora a velha idéia gringa que aqui ainda é um espécie de Haiti tamanho família - vide o site oficial do filme, cheio de esteriótipos bobos típicos de norte-americano - o filme promete cenas fortes de tortura, mutilação e morte, perfeito para quem gostou de outra película semelhante, "O Albergue". É, inclusive, a ele que "Turistas" vem sendo comparado. Ambos são a evolução técnica de um tipo de horror que surgiu nos anos 80 com os filmes de maníacos homicidas imortais que carregavam, junto com suas armas afiadas, uma grande carga moralista. Você pode não acreditar, mas Jason, Freddy Krueger e Michael Meyers eram nada menos que agentes a serviço de valores morais que perduram até hoje – ou pelo menos assim querem que seja.
A mensagem tanto das cinesséries "Sexta-Feira 13", "A Hora do Pesadelo" e "Halloween", quanto de "O Albergue" e "Turistas" é a mesma. "Se você é jovem e cheio de vida, cuidado com o que faz ou deseja. Porque se isso for contra os princípios morais reacionários e hipócritas vigentes, será punido. Sempre da pior forma possível. E não adiante fugir, porque nem nos seus pensamentos você pode fazer o que quer", parecem dizer, punhal na mão, os vilões preferidos da Cruzada das Senhoras Católicas.
"Sexta-Feira 13", por exemplo, se passa, na maior parte do tempo, em um típico acampamento de verão. Comuns nos EUA, é para lá que a classe média burguesa larga os filhos. E lá, longe dos pais, é que a maior parte dos jovens tem (ou tinha) suas primeiras experiências com sexo e drogas. Porém, não era o que os guardiões da moral e dos bons costumes tinham em mente. Por isso, em todo episódio da série Jason matava adolescentes que estavam transando ou usando drogas. Afinal, não foi para isso que mamãe e papai te jogaram no meio do mato para poder jogar strip-pôquer em paz. Era para ficar cantando em volta de fogueiras e pegando maçãs com a boca dentro de tinas.
No caso de "A Hora do Pesadelo" o cerco era maior e definitivo, porque Freddy Krueger atacava dentro da cabeça de suas jovens vítimas, único lugar onde a moral social não podia interferir de maneira incisiva. Logo, nem em sonho seria possível refugiar-se do longo braço da "lei"; nem em pensamento se estaria seguro para construir seu próprio mundo. As navalhas de Freddy estariam lá para garantir isso.
E "O Albergue" e "Turistas" continuam com essa tradição de horror moralizante. No primeiro, um grupo de mochileiros sai em busca de putaria pelo Leste Europeu. Na promessa de um lugar onde a esbórnia come solta, acabam caindo nas mãos de uma organização que serve a ricos sádicos que se comprazem em torturar e matar pessoas. Em "Turistas", o trailer avisa que "Em um lugar onde tudo é permitido, tudo é possível". E eis que nossos protagonistas, depois de se espantarem com a aparente liberdade (libertinagem?) selvagem desse paraíso tropical, caem nas mãos de contrabandistas de órgãos.
Não é preciso legenda. Onde já se viu um bando de moleques querer curtir as delícias do mundo assim, de maneira tão despudorada e escancarada, sem pagar nada por isso? Querem ser felizes enquanto nós estamos aqui, amargurados com a porcaria de mundo que construímos? O preço para tal insolência deve ser acertado em sangue e servir de exemplo para outros. Daí o clímax de todos esses filmes ser o momento em os sobreviventes encontram os corpos (ou pedaços) de seus amigos mortos. E tomados de fúria destroem, na maiorida das vezes, seu punidor. Mas apenas para ele voltar, mais forte, no próximo episódio.
Leitor dos melhores da minha coluna do jornal, o Bruno Stardust montou uma comunidade para este careca (moi non plus) no Orkut. Logo eu, que comemoro hoje um ano de um bem sucedido orkuticídio - por isso, ainda não vi a página, mas Deus me passou o serviço e disse que a coisa é boa. Ele, inclusive, está lá também.
Valeu Brunão! Que Bowie esteja com você.
A propósito, ele é mais um integrante da blogosfera (o Bruno, não o Bowie...). Dêem as boas vindas para ele lá no Ralectro. :)
O que a Rita Lee, o Ozzy Osbourne e o Aerosmith têm em comum? Além de um punhado de rugas disfarçadas por muita cirurgia plástica, todos já gravaram canções dos Beatles - no caso da madrinha do rock brasileiro, versões em português de clássicos conhecidos. O que os levou a isso não importa, assim como centenas de outros que também se aproveitaram do indiscutível magnetismo que apenas uma canção dos Fab Four contém. Mas um ponto é comum: todos se deram bem. Gravar Beatles é como vender pipoca no cinema, que até quem não gosta, compra.
A última empreitada nesse sentido que ouvi foi "Butchering The Beatles: A Headbashing Tribute", uma compilação de canções dos ingleses tocadas e cantadas por músicos de heavy metal e hard rock. E o que entrou pelos meus ouvidos me surpreendeu. Esperava, como o próprio nome do disco sugere, um destrinchamento completo de John, Paul, George e Ringo, mas que acabou ficou na promessa das guitarras distorcidas e vocais afetados. Como algo que só é possível quando se trata do grupo mais influente da história, as versões metalizadas das canções ficaram muito, mas muito aquém das originais. E em todos os sentidos, incluindo peso - isso porque estamos tratando com músicos especialistas em furar tímpanos.
Mas como músicas gravadas por adolescentes de terninhos na década de 60 podem soar mais fortes e consistentes do que versões feitas por demônios alucinados dotados do melhor equipamento existente hoje? E não são iniciantes na arte de triturar instrumentos. São músicos com longa carreira dedicada ao metal e hard rock, como Alice Cooper, Steve Vai, Billy Idol, Yngwie Malmsteen e Billy Gibbons, para ficar nos dinossauros mais famosos. Gente que, por sinal, cresceu ouvindo os Beatles. Então como soam tão frágeis, tão... sem graça? Bobo, até. Basta ouvir, por exemplo, a segunda faixa, "Back In The USSR", com o lendário Lemmy Kilmister, vocalista do não menos lendário Motorhead. Sua voz, que costumava levantar os cabelos dos pais na década de 70, hoje é quase um suspiro rouco.
O problema, acredito, foi a pretensão do projeto (a começar pela capa, uma raridade que segundo mestre Galvão parodia o single "Yesterday and Today", de 1966), algo como "temos que soar o mais alto e distorcido possível". Imaginar que peso seja equivalente a socar a bateria com uma marreta soa, no mínimo, ultrapassado e, porque não, até infantil. O mesmo vale para as cordas, quase arrancadas de tão repuxadas que são. O resultado, quero acreditar, não deve ter saído da forma planejada, principalmente para quem conhece o trabalho de alguns músicos envolvidos nele.
A não ser que o objetivo tenha sido reforçar o lugar-comum onde o estilo é comumente relegado. Mas, para isso, não era preciso evocar os Beatles. Bastava fazer o que sempre fizeram.