(Originalmente publicado no T&Q)
– Você é gay?
– ...
– Ei, tô falando com você.
– Oh, sim. Comigo?
– É. Perguntei se você é gay.
– Como é que é?
– Além de gay é surdo? Quero saber se tu é bicha, viado, baitola, se dá marcha ré no quibe.
– Nossa, que mina vulgar, credo. De onde tu saiu? De uma peça do Plínio Marcos?
– Ah, além de bicha é metido a intelectual, é? Já imaginava...
– Ei, ei! Chega, tá certo? Não sou gay, pronto. Respondi a sua pergunta?
– Então porque não olhou?
– Não olhei o quê?
– Quando eu entrei. Dava pra ouvir quase todos os pescoços estalando quando eu entrei. Só você não olhou. Qual o problema, hein?
– Problema algum. Apenas não te vi entrando.
– Ah, essa é boa. Qualquer homem que se preza me vê entrando. Ainda mais num lugar cafona como esse aqui.
– Puxa, desculpa, não quis ofender. Quer que eu olhe? Pronto, tô olhando. Tá satisfeita? Então sai fora que quero terminar minha cerveja antes que ela esquente.
– Amigo, você não tá entendendo. Não quero que me olhe porque eu pedi. Quero que me olhe porque sou irresistível, como atestaram todos os outros homens do lugar. Todos olharam como se quisessem me devorar, me despindo com os olhos como se eu fosse a última mulher da face da Terra. É isso que eu quero.
– Ah, saquei. Quer que eu pague pau também, né? Bom, sinto informar, mas... nem fudendo.
– O quê? Como assim? Olha, olha que decote maravilhoso. Tá vendo esse par de peitos aqui? Já me ofereceram quantias obscenas apenas para eu tirá-los para fora.
– É, são legais. Se eu fosse mulher, iria querer uns desses também. Mas guarda pra dentro, tá? Isso pode dar ato obsceno e não estou a fim de passar a noite no plantão policial...
– Não, não são legais. São apetitosos, excitantes, exalam estrógeno. Vai dizer que isso não te deixa excitado.
– Tanto quanto filme pornô na TV a cabo de madrugada. Não passo sem um...
– Olha aqui, olha que beleza de bunda. Sabe quanto tempo passo na academia para deixá-la assim, durinha, redondinha? E sabe quanto custou esse vestido semi-transparente que deixa apenas um aperitivo a mostra? Sente aqui, pega pra você ver, pega!
– Opa, calma aí, estamos num lugar público. Não vou ficar pegando na sua bunda assim, sem mais nem menos. Nem te conheço direito, sei lá...
– Não é possível. Olha que cinturinha de pilão, bem modelada. Não dá vontade de abraçar ela? E vai dizer que não sente vontade de beijar essa barriguinha lisinha, durinha. Ah, já sei, tu tem fetiche por pés. Então olha, não fico um dia sem ir na pedicure, olha como são lindos.
– Pô, tá louca? Tira esse pé daqui! Melhor tu ir sentar, tá todo mundo olhando, comentando, vai pegar mal.
– Vai pegar mal mesmo. Eu... não sei... eu.... só... ah...
– Ah não, não vai começar a chorar, pelamordedeus!
– Olha, não me leva a mal, mas eu lia a Capricho quando tinha 10 anos, não perco uma edição da Nova desde os 17, sou assinante da Cláudia e Marie Claire e assisto sempre ao Multishow. Sei exatamente tudo o quê um homem quer, tudo. Principalmente à noite, num barzinho. E agora você me despreza, faz pouco caso, nem me nota. O que eu fiz de errado, hein?
– Putz. Olha, já falei, não foi minha intenção, mas é que eu tava aqui, tomando a minha cerveja, distraído, pensando na...
– Ah, eu sabia! Pensando em quem, hein? Duvido que ela saiba a posição Flor de Lótus do Kama Sutra tão bem quanto eu! Vai, fala, quem é ela? Uma namorada? Esposa? Amante? Amiga de beijo? Uma ficante?
– Ei, calma aí, tu nem deixou eu terminar a frase. Eu tava pensando na vida, só isso. E não pergunte qual vida porque eu só tenho uma. Então era nessa mesma.
– Quer dizer que não tem outra garota?
– Não. Bom, até tem. Tinha, na verdade. Mas faz tempo. E isso não importa, não vem ao caso. O fato é que você tá no caminho errado.
– Como assim? Já te falei da minha bagagem, isso é improvável. Eu sou a fêmea suprema, eu escolho quem eu quero e quem eu quero me quer também. Na verdade, todos me querem. Sou uma verdadeira deusa da sexualidade.
– A Marta Suplicy também costumava ser...
– O quê disse?
– Nada, disse se você os quer. Os homens, quero dizer...
– Quero que eles me queiram.
– Ah, sei. Tudo se resume a isso, então?
– E tem mais alguma coisa?
– Sabe o que penso quando vejo uma garota como você?
– Há, há, há, claro. Mas comenta baixinho porque...
– Não, não penso em muita coisa. Penso só em punheta.
– Quê?
– É. Você é igual a um filme pornô caseiro, uma Playboy antiga, ou minhas lembranças da vizinha tomando banho quando eu era pequeno. É uma vontade puramente instintiva que pode ser satisfeita rapidamente.
– Mas como, se você nunca me viu nua, nunca fez nada comigo, nem sabe...
– E nem preciso, é tudo igual. Peitos, bundas, coxas, barrigas, pescoços, enfim, só mudam de tamanho e cor.
– Então quando me vê não sente nenhuma vontade, nenhuma excitação? Sua imaginação não explode de idéia a respeito do que poderia vir a acontecer?
– Sim. Por exatos 10 segundos. Depois volto a pensar na vida.
– Nossa. Nunca ouvi nada tão desagradável em toda a minha vida.
– Aposto que nunca ouvi nada de agradável também, já que, pelo visto, te dizem apenas aquilo que te interessa.
– Você é um monstro. Não é à toa que tá aí, sozinho.
– Não, não estou sozinho. Você tá aqui, me enchendo o saco, chorando as pitangas enquanto minha cerveja esquenta.
– Fica ai, então. Vou achar alguém que realmente aprecie o que é bom.
– Não vai ser difícil. Procure por alguém com torcicolo.
– Escroto.
– Saúde.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
sábado, junho 18, 2005
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5 comentários:
Quando eu parar de rir eu comento. ;)
Muito bom !!!!!
Brigatti, este foi um dos posts mais engraçados e verdadeiros que leio em muito tempo. Ainda bem que no encontro de blogueiros só tinha menina "com conteúdo" e nenhuma gostosa assim, vazia, né? Só iam estragar nossa noite... hahahahaha
Muito bom mesmo....
Simplesmente sensacional...
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