Se tem uma coisa que marca é música para dor de cotovelo. Principalmente aquelas inesperadas, que estava tocando no momento errado, no lugar errado e para o sujeito errado. E elas ficam grudadas no seu cortex com muito mais força que aquelas sugestivamente colocadas de trilha sonora para uma bela trepada, uma viagem longa ou uma tentativa de aproximação mais incisiva.
Sempre que você ouve a dita cuja, lembra da melhor parte daquele lance que sabe que nunca mais vai rolar. Pode até rolar, em forma de revival, mas não vai ser a mesma coisa. Não com aquela espontaneidade, aquele vigor de descoberta, enfim, tudo que fez daquilo algo que acaba sendo revivido por uma canção. E como dói.
Como bom discípulo de Sade, cheguei a fazer um CD só com músicas que lembravam uma antiga namorada. A primeira, acredito. Acho que era uma forma de expiar um sentimento de culpa (larguei e voltei com a garota duas vezes. Mas eu tinha 16 anos, pô...) que me consumia. Então colocava o disco no aparelho, apertava repeat, e ficava ouvindo por horas intermináveis. Mas ninguém sabia daquilo. Quando consegui minha habilitação e passei a pegar o carro do papai, escondia o CD numa abertura estratégica dentro do porta-CDs. Assim, quando saia com a galera, o case era passado para todas as mãos, que escolhiam a trilha sonora da noite, mas não achava a coletânea que carinhosamente havia apelidado de "Músicas para lembrar dela".
Sim, que queria lembrar dela. Queria ficar pensando nos momentos que havíamos passados juntos e imaginar que, naquele instante, um outro agora ocupava meu lugar. E ela estaria bem, estaria feliz, pois a besta quadrada aqui só agora se tocava de sua total descartabilidade. Mais tarde, tomaria consciência que todos são substituíveis.
Custei a acreditar que um dia me livraria daquele CD, que até então estava em sua quarta cópia. Sim, de tanto ouvir, manipular, tirar e colocar de esconderijos, as mídias acabavam estragando. Então fazia outro e marcava o título com pincel atômico. Isso durou uns bons quatro anos. Mas um dia, não sei bem porquê, resolvi jogar fora a bolachinha. Ou melhor, destrui-la. Fui até a oficina do meu pai e fiz do CD um queijo suíço, utilizando para tanto uma furadeira de bancada das melhores. Era o fim.
Hoje, revirando alguns CDs de backup antigos, me deparei com os arquivos em MP3 originais. Ouvi e sorri. Foi um tempo bom. Um tempo que uma música realmente me marcava, porque estava aberto para isso, precisava da canção me queimando como um marcador de gado. Agora, com o couro um pouco mais duro, o aço em brasa demora mais para cumprir sua missão.
Mas, como havia dito, canção de dor de cotovelo a gente não escolhe. A lista a seguir é a que compunha minha obra de auto-flagelação. São canções pop interessantes, que retratam uma época. Pelo menos para mim.
1. Always - Bon Jovi
2. Perfect - Alanis Morissette
3. 2 become 1 - Spice Girls
4. My all - Mariah Carey
5. Don´t speak - No Doubt
6. Amor eu grande amor - Barão Vermelho
7. Torn - Natalie Imbruglia
8. Under the bridge - Red Hot Chili Peppers
9. Nostalgia - Shakira
10. Midnigth in Chelsea - Jon Bon Jovi
11. Hole in my soul - Aerosmith
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
quarta-feira, junho 15, 2005
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