I'm Winston Wolfe. I solve problems.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Momento Domenico De Masi



    "I can't get a life if my heart's not in it"
    The Importance of Being Idle - Oasis

    Bom, duas coisas sobre a mesma coisa. A primeira é essa.

    O Branco tem um dos textos (e caras) mais legais que já li (conheci). Mas um deles (texto, não o Branco) me soa especial e está na coletânea "Os melhores (e também alguns dos piores) textos de Branco Leone". "Sobre escrever" é o prosaico título do rápido diálogo que ele travou com um garoto de e em Curitiba. Na ocasião, BL autografava um de seus livros quando foi interpelado pelo rapaz, que se dizia escritor - pior, poeta - e vocalista de uma banda de punk-rock. A diferença é que o moleque, ao contrário de 99% dos escritores não queria ser publicado. Sequer lido. Quiçá reconhecido. "Eu escrevo, xeroco e grudo dentro dos orelhão", sentenciou. BL conta, em outras palavras, ter perdido a chave da bunda de sua veia literária. Depois disso, nunca mais foi o mesmo. "Um cara que escreve. E só", define BL.

    A segunda é essa.

    O Corvo Bêbado nega o título de jornalista e isso já é motivo para gostar dele. Ao que tudo indica, escreve - e parece viver - como um Henry Miller do baixo trópico. Acabei esta semana de ler o que, em breve, será um dos livros mais interessantes a sair dessa blogosfera atulhada de gente chata, pedante e feia e ganhar o papel. "O Ano da Lagartixa" é uma ego trip existencial de primeira e merecer ser lida. Mas o Corvo me acertou mesmo foi em uma troca de e-mails, quando contou porque havia largado mão de, hã, jornalismo cultural. "Escrevia sobre música, o que acabava me tirando o prazer de simplesmente ouvir música. Então parei de escrever e fiquei com o meu prazer".

    É isso. A maioria das pessoas tem um prazer despudorado, um tesão sincero e justo, uma disposição natural, e até um desprendimento singular em fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Pode ser escrever, ouvir (ou fazer) música, assistir a filmes, e até ser legal - eu não vejo nada mais complicado do que ser legal, e tem gente que é legal sem qualquer esforço. O problema é quando se resolve faturar - não apenas financeiramente - com e sobre esse talento, dom, dádiva, ou o que quer que seja.

    Não há nada de errado em ganhar dinheiro ou ser reconhecido por algum feito, seja ele resultado de um segundo de inspiração ou uma vida de muita transpiração. O caldo entorna quando se faz disso seu ganha pão. E a maioria das pessoas mais talentosas que conheço - ou não - faz isso. Não se contentam em ser expoentes no que naturalmente são boas. Querem ter um séqüito de puxa-sacos, uma coleção de invejosos, a conta bancária recheada e deixar um legado. Começam a perder-se em devaneios egocêntricos e sepultam a espontaneidade que os fazia de fato especiais.

    É o caso do sujeito que aprende a tocar violão aos 8 anos, de brincadeira. Aos 18 descobre que de fato é bom naquilo e, aconselhado pelos amigos, começa a tocar em barzinhos, ganhando uns trocados. Ele é original, procura aprender composições novas, arranjos diferentes, cria suas próprias melodias, mistura ritmos, pesquisa influências, enfim. Até o dia que o dono do boteco propõe a ele que toque toda semana. Ele gosta, é um reconhecimento de certa forma. Só que o que era prazer virou obrigação. Mesmo quando ele acorda com o saco na lua, precisa ir lá e entreter a platéia. Firmou um contrato, não pode, como antes, simplesmente ficar em casa. Além de tudo fez dívidas e agora não pode prescindir da grana. Resolve, então, usar "muletas" para quando não está a fim de se empenhar. Aí ele joga pra platéia, toca as baboseiras que a maioria do público quer ouvir e boa. E como os dias de saco na lua são cada vez mais freqüentes, seu repertório vai empobrecendo. E sua vontade de buscar coisas novas, assim como o tesão em tocar, se esvai. Ele não é mais um músico. É um cantor profissional de barzinho, burocrático, previsível e, acima de tudo, chato.

    Não tem jeito. Acontece com a maioria das pessoas que são boas no que fazem e acabam perdendo a mão quando resolvem ganhar alguma coisa com isso. Pouquíssimos passam ilesos. O que me leva a concluir que, sim, precisamos fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro, mas não com aquilo que nos dá prazer, que ilumina e torna nossa existência menos maçante. Porque inevitavelmente a rotina e a obrigação vão acabar destruindo isso e o resultado disso Kurt Cobain sabe muito bem. Um sacrifício grande demais por tão pouco.

7 comentários:

Anônimo disse...

Interessante ponto de vista, mas acho que no meu caso foge a sua regra.

Meu sonho e me tornar um degustador de cervejas, e duvido que tornar isso uma rotina, ou ganhar dinheiro fazendo isso vai me "destruir". Pensando ainda melhor, ao fazer isso eu ficaria no minimo 2x mais rico, porque metade do que eu ganho eu gasto com cerveja, se ganhasse para beber teria vida de magnata !

Pra voce ver que eu nao estou mentindo:

http://picasaweb.google.de/gdmtbr/Biersorten

Abraco Gustavo

Gustavo

Fábio Shiraga disse...

Olha, eu acho que eu vou ficar sempre com o prazer e não vou abrir mão. Mas uma vez vi o Cunha Jr dizendo que ele já chegou a se perguntar, em várias ocasiões, se o que ele estava fazendo era lazer ou trabalho. Se um dia eu conseguir isso, estarei quase feliz.

Brigateando disse...

O senhor é um fanfarrã mesmo, não é, senhor Gustavo N?

E Shira, realmente existem pessoas que ganham dinheiro fazendo o que gostam. Mas pelo visto, sempre serão minoria. Triste, mas...

Biajoni disse...

grande texto, briga.
:>)

A Fresca disse...

Fala salmão-killer, vc tá ficando velho mermão.

Anônimo disse...

Porque Gustavo N ?

Gustavo T

Anônimo disse...

Ordenaram que eu te conhecesse em Porto Alegre lá por dezembro e eu sempre obedeço ao Biajoni. Sempre.