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“I get by with a little help from my friends
Gonna try with a little help from my friends”
With a Little Help From My Friends – The Beatles
Todo clichê que eu economizei no último post acabei usando na citação aí de cima. Mas é uma exceção que não podia abrir mão depois de comentários tão legais quanto os que apareceram. Pensei em agradecer na caixa de comentários mesmo, mas também houve os e-mails, então resolvi registrar aqui meu sorriso bobo de satisfação por ter amigos e conhecidos tão legais a ponto de encher um par de mãos.
Gente que eu sempre esperei apoio, como a Núria, que mesmo antes de formada é maior que boa parte da imprensa da região; o Bia (vou parar de puxar o saco dele, chega...) e a Karen (a.k.a. Fresca), que fizeram delicioso bota-fora pra esse capiau no solar Biajoni no último sábado e desenterraram ainda a dupla João & Daniel, companheiros dos ótimos tempos do insuperável Tiro & Queda, junto com os não menos incríveis PC (parceiro de mandrakismo) e o Cris; o Gustavo N, velho parceiro de domingueiras e que, diz a lenda, está na Alemanha fazendo pós-graduação em alguma coisa ligada a tudo aquilo que ele aprendeu por aí; o Shiraga, uma das melhores figuras que conheci nos últimos meses, parceiro de boas horas; Sandra Pontes, maravilhosa blogueira e escritora que, apesar dos poucos encontros pessoais, está no meu rol de personas sempre gratas em qualquer lugar; o J.R. “Corvo Bêbado” Fidalgo, um pouco responsável, mesmo com poucas palavras, por toda essa reviravolta; a Viva, divina carioca que não deixa a peteca de ninguém cair; a Jussara, quase-companheira de jornada (ainda nos trombanos, garouta!) e para quem devo, de uma forma ou de outra, uma boa caixa de geladinhas; LuizaGO, sem palavras de tanta gratidão pelas palavras tão bem colocadas; o John Nunes, crítico de cinema e editor no Diário do Povo, um dos melhores papos sobre qualquer coisa que tive o prazer de conhecer; aos verbeats Milton Ribeiro e Tiagón, pelo fundamental respaldo a distância; fora gente que sempre apreciei, como o Marcelo, do Sopa no Exílio, blog que devorei com vontade durante meu período de nóia canadense. Claro, tem ainda a minha galera do TodoDia (todos, com as exceções óbvias), minha primeira casa, escola da vida sem igual, enfim - para o bem ou para mal, devo o que sou a ele.
Humpft. Fico parecendo agradecimento de contracapa de CD.
Jóia. Melhor que a encomenda. Agora chega.
“Took my chances on a big jet plane,
never let them tell you that they are all the same”
“Going to California” – Led Zeppelin
Tem coisas que são esquisitas, mesmo. Há coisa de um ano me meti a fazer pós-graduação em jornalismo literário. Estava lendo os Mailers, Capotes e Wolfes de sempre e pensei que poderia aplicar aquilo no meu espartano jornalismo diário. Saí do curso seis meses e um abraço coletivo depois. Tal qual a faculdade, não aproveitei nada dos mestres. Mas fiz amizades que parecem saídas de um enredo do David Lynch.
A Bia e o Daniel são dois deles. Ela eu puxei pra redação do jornal onde trabalhava como editor de cultura. Babava azul em editar os textos delas, tão superiores aos da imensa maioria que já havia passado pelas minhas páginas. Ele... bom, ele me ensinou uma das lições mais preciosas. “Amigo dá trabalho”, dizia. E não poderia estar mais certo, de várias maneiras.
Mas o curso acabou. A Bia ficou comigo no jornal. O Daniel foi pra Porto Alegre casar, ler e ser feliz. Péssimo amigo que sou, perdi contato com ele. A Bia, não. Meio sem querer, tentei comunicação com ele novamente, mas tinha certeza que nossas freqüências eram outras. Quase. Se não fosse, claro, pela Bia. Então, se querem culpar alguém nessa história toda, culpem a melhor repórter de cotidiano da região.
Tempos depois, ele me responde. Diz que tem um babado forte pra mim lá pelos pampas. Em uma semana, vôo para POA e acerto um trampo na Zero Hora. Três meses de frila no suplemento especial de verão deles com possibilidade de estender o prazo. Há aqui um terceiro e crucial elemento, de coisa de 1,60m e grandes olhos azuis que fez toda a diferença, mas que prefiro manter nas entrelinhas. Ela tem minha eterna e mais profunda gratidão, porque me deu aquilo que sempre pedi: uma chance. “Amigo dá trabalho”, ensinou o Dani. De certa forma, olha só, foi o que eles me fizeram.
Claro que os créditos não acabam aqui. To indo pra Porto Alegre. Mas definitivamente não vou citar Kleiton & Kledir. Prefiro dar crédito aqui para gente que só faz aumentar uma dívida há muito impagável. O Bia é um deles. Alcoviteiro como só, já me arrumou contato com o grande Tiagón – não esqueci das geladas, tchê! – e com o mestre Milton Ribeiro, para quem devo pedir uma grana emprestada. E farei no melhor estilo Capitão Nascimento: “bota na conta do Papa”. O papa é gaúcho, né não? Estamos em casa, oras.
Esse blog vai passar por alguma reforma. Se ele espelha minha vida, nada mais justo. Daqui até sabe-se lá quando, ele fica em stand by.
Bom, eu vou por ali. Tá afim?
"I can't get a life if my heart's not in it"
The Importance of Being Idle - Oasis
Bom, duas coisas sobre a mesma coisa. A primeira é essa.
O Branco tem um dos textos (e caras) mais legais que já li (conheci). Mas um deles (texto, não o Branco) me soa especial e está na coletânea "Os melhores (e também alguns dos piores) textos de Branco Leone". "Sobre escrever" é o prosaico título do rápido diálogo que ele travou com um garoto de e em Curitiba. Na ocasião, BL autografava um de seus livros quando foi interpelado pelo rapaz, que se dizia escritor - pior, poeta - e vocalista de uma banda de punk-rock. A diferença é que o moleque, ao contrário de 99% dos escritores não queria ser publicado. Sequer lido. Quiçá reconhecido. "Eu escrevo, xeroco e grudo dentro dos orelhão", sentenciou. BL conta, em outras palavras, ter perdido a chave da bunda de sua veia literária. Depois disso, nunca mais foi o mesmo. "Um cara que escreve. E só", define BL.
A segunda é essa.
O Corvo Bêbado nega o título de jornalista e isso já é motivo para gostar dele. Ao que tudo indica, escreve - e parece viver - como um Henry Miller do baixo trópico. Acabei esta semana de ler o que, em breve, será um dos livros mais interessantes a sair dessa blogosfera atulhada de gente chata, pedante e feia e ganhar o papel. "O Ano da Lagartixa" é uma ego trip existencial de primeira e merecer ser lida. Mas o Corvo me acertou mesmo foi em uma troca de e-mails, quando contou porque havia largado mão de, hã, jornalismo cultural. "Escrevia sobre música, o que acabava me tirando o prazer de simplesmente ouvir música. Então parei de escrever e fiquei com o meu prazer".
É isso. A maioria das pessoas tem um prazer despudorado, um tesão sincero e justo, uma disposição natural, e até um desprendimento singular em fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Pode ser escrever, ouvir (ou fazer) música, assistir a filmes, e até ser legal - eu não vejo nada mais complicado do que ser legal, e tem gente que é legal sem qualquer esforço. O problema é quando se resolve faturar - não apenas financeiramente - com e sobre esse talento, dom, dádiva, ou o que quer que seja.
Não há nada de errado em ganhar dinheiro ou ser reconhecido por algum feito, seja ele resultado de um segundo de inspiração ou uma vida de muita transpiração. O caldo entorna quando se faz disso seu ganha pão. E a maioria das pessoas mais talentosas que conheço - ou não - faz isso. Não se contentam em ser expoentes no que naturalmente são boas. Querem ter um séqüito de puxa-sacos, uma coleção de invejosos, a conta bancária recheada e deixar um legado. Começam a perder-se em devaneios egocêntricos e sepultam a espontaneidade que os fazia de fato especiais.
É o caso do sujeito que aprende a tocar violão aos 8 anos, de brincadeira. Aos 18 descobre que de fato é bom naquilo e, aconselhado pelos amigos, começa a tocar em barzinhos, ganhando uns trocados. Ele é original, procura aprender composições novas, arranjos diferentes, cria suas próprias melodias, mistura ritmos, pesquisa influências, enfim. Até o dia que o dono do boteco propõe a ele que toque toda semana. Ele gosta, é um reconhecimento de certa forma. Só que o que era prazer virou obrigação. Mesmo quando ele acorda com o saco na lua, precisa ir lá e entreter a platéia. Firmou um contrato, não pode, como antes, simplesmente ficar em casa. Além de tudo fez dívidas e agora não pode prescindir da grana. Resolve, então, usar "muletas" para quando não está a fim de se empenhar. Aí ele joga pra platéia, toca as baboseiras que a maioria do público quer ouvir e boa. E como os dias de saco na lua são cada vez mais freqüentes, seu repertório vai empobrecendo. E sua vontade de buscar coisas novas, assim como o tesão em tocar, se esvai. Ele não é mais um músico. É um cantor profissional de barzinho, burocrático, previsível e, acima de tudo, chato.
Não tem jeito. Acontece com a maioria das pessoas que são boas no que fazem e acabam perdendo a mão quando resolvem ganhar alguma coisa com isso. Pouquíssimos passam ilesos. O que me leva a concluir que, sim, precisamos fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro, mas não com aquilo que nos dá prazer, que ilumina e torna nossa existência menos maçante. Porque inevitavelmente a rotina e a obrigação vão acabar destruindo isso e o resultado disso Kurt Cobain sabe muito bem. Um sacrifício grande demais por tão pouco.