I'm Winston Wolfe. I solve problems.

sexta-feira, julho 27, 2007

De pipocas e cinema

Os romanos criaram a política do pão e circo. E Edson Moura conseguiu a proeza de aprimorá-la. Como pão é blasé demais e o circo está pela hora da morte, o prefeito de Paulínia resolveu instituir a política da pipoca e cinema. A prova é a 2ª Mostra Paulínia Magia do Cinema, que termina neste final de semana e trouxe tudo o que há de mais irrelevante do que toca a Sétima Arte.

Mas a idéia de usar o cinema como plataforma populista travestida de boa intenção não é nova. O crédito, até onde sei, pode ser dado para o Secretário de Cultura de Americana, Fernando Giulinani, com seu inacreditável Cine Teatro. Claro que as comparações param por aqui. Como tudo que leva a mão de EM, a Mostra de Paulínia ostentou números inversamente proporcionais a sua alegada importância. É aí que as coisas se complicam.

Porque ao contrário de Americana, cuja secretaria não possui ninguém que entenda minimamente de cinema (ou de cultura mesmo, dependendo do ponto de vista...), o festival de Paulínia contou com a consultoria de Rubens Ewald Filho, o mais midiático crítico de cinema do País. Mesmo quem não sabe a diferença entre uma trufa e Truffaut tem ele como referência. Então o que explica a exibição pura e simples de blockbusters hollywoodianos entremeados por um ou outro filme nacional de qualidade/gosto/importância duvidoso?

Segundo o próprio REF, é preciso primeiro criar o hábito de ir ao cinema. Para isso, filmes populares são o caminho mais seguro – se não o único. Depois de acostumada, acredita o "especialista", a população estará apta a apreciar obras mais importantes. O que ele não leva em conta é que ninguém desenvolve bom gosto por hábito, mas sim com educação. Boa educação, diga-se de passagem, coisa que envolve berço, ensino formal e círculo social diferente de onde vive a imensa maioria dos paulinenses. Não adiante entupir de mortadela um sujeito que passou a pão e água a vida toda e esperar que em seguida ele aprecie lagosta com caviar.

Se o que se quer é "ensinar" a população a ir ao cinema, que tal começar por construir uma sala na cidade? Ninguém notou ainda que o município que abriga esse elefante branco não tem uma mísera sala de projeção? Ironia das ironias, Paulínia se pretende a Hollywood brasileira, mas precisa dos vizinhos quando quer ir ao cinema. Coisas de EM, enfim...

A própria abertura da mostra evidenciou o caráter popularesco da idéia de Moura. O mestre de cerimônias foi o ator Reynaldo Giannecchini, que nada tem a ver com cinema. Depois, exibição do longa "Antonia" e show com as garotas do filme (sem Negra Li, sua principal estrela). Depois, Paulo Betti e Lázaro Ramos deram as caras por lá para falar de seus respectivos "Ed Mort" (de 1997!) e "Cafundó" (2005!). Se a razão de ser da presença dessa turma não foi a de juntar o maior número possível de pessoas no Parque Brasil 500, então não sei qual é.

Porque, em suma, o que EM quis foi isso. Lotar o evento de qualquer jeito. E como bom animador de platéia que é, soube bem como fazer. Mesmo que a Secretaria de Cultura não forneça dados precisos sobre a quantidade de gente que passou pelo festival, é fácil perceber que poucos estavam de fatos interessados em cinema. Foram para comer pipoca de graça, curtir o movimento e, com sorte, tirar foto com algum ator da Globo. Nada de errado. Num evento sobre cinema onde o verdadeiro cinema ficou em segundo plano, não se podia esperar nada mais.
Ãpideiti: neste final de semana rola também a inauguração do shopping de Paulínia. Nele, estão previstas três salas de cinema digitais - que só serão abertas em 2008. Para quem não sabe, ano que vem é ano de eleição...

6 comentários:

Fábio Shiraga disse...

Concordo em "gênero e número igual". :-b

Uma revista sobre este projeto rodou nas mãos da galera na Oficina de Cinema que frequento. Mas o interesse era pela escola. Será que nem a escola vinga, Briga?

Abraço.

Brigateando disse...

As escolas, sim, pois têm parcerias com o Senac e FGV. O problema maior, Shira, é que como tudo em Paulínia tem cunho puramente político, a vida do projeto do Pólo Cinematográfico é incerta. Pena.

Fábio Shiraga disse...

Sim, eu entendo. Por isso que concordo plenamente com tudo o que escreveu.

Anônimo disse...

E o Rubão deve te levado uma nota grandíssima nisso tudo...

Anônimo disse...

Se eu fosse o prefeito de Paulínia, vendia a idéia de separar uma pequena parte do orçamento da cidade pra comprar Limeira. Teria uma cidade inteira como cenário. Se não virasse, derrubava tudo pra estacionamento ou coisa parecida. (PC)

i disse...

Pelo menos, não foi futebol ou rodeio...