I'm Winston Wolfe. I solve problems.

segunda-feira, abril 09, 2007

O diabo veste Armani


Longe demais da capital para acompanhar os lançamentos de bons títulos do cinema internacional off Hollywood, pude finalmente assistir em DVD, neste final de semana, o ótimo "O Crocodilo". A obra, da cineasta italiana Ninna Moretti, não à toa, foi muito bem avaliada em Cannes. Mais do que um exercício de metalinguagem - posto se tratar de um filme sobre a dificuldade de se fazer um filme - traz uma reflexão interessante sobre a onipresente figura de Silvio Berlusconi nas últimas três décadas na Itália e a total ausência de produções sobre ele.

Em "O Crocodilo", um falido produtor de filmes B se vê as voltas com uma jovem e inexperiente diretora louca para falar sobre o então presidente italiano. Mostra-se então a luta por recursos, a recusa de grandes companhias em patrocinar uma obra desabonadora para um dos homens mais poderosos do país, atores mais preocupados em fazer comédias que um filme de denúncia social e política, enfim. Tudo muito bem dirigido, cheio de tiradas engraçadas e passagens inspiradoras, sobretudo quando foca a relação do produtor com seus filhos e a iminente desintegração de seu casamento. É italiano e é lindo de morrer - o filme, não o produtor.

Mas a passagem que mais chama a atenção ocorre quando a dupla - produtor e diretora - tenta convencer um ator a interpretar Berlusconi. "Os Estados Unidos tem um monte de filmes sobre seus presidentes. Porque nós não temos?", pergunta a garota, recebendo como resposta do ator "o que você quer mostrar de Berlusconi que ninguém saiba? Todos sabem tudo sobre ele, não há o que mostrar mais". Como não há o que falar sobre um mandatário como Berlusco? Ele mesmo dá a pista. Durante um trecho real de programa de TV, ele discursa para líderes europeus dizendo que a maior parte das emissoras e jornais da Itália são, sim, seus e de sua família, mas são justamente seus maiores opositores, os que mais o atacam. Claro, o velho provérbio: mantenha seus amigos perto de você, e os inimigos, mais perto ainda. Numa cena ilustrada do filme, o presidente italiano conversa com o editor de um jornal, que afirmar ser um prazer falar mal dele. Este diz que acabou de comprar o diário, mas gostaria muito que ele, o editor, não mudasse sua postura e continuasse a atacá-lo.

Berlusconi não é burro. Sabe que, pelo bem ou pelo mal, é importante se manter na mídia. Ainda mais quando é acusado de crimes que, ele sabe muito bem, ninguém é capaz de provar. No melhor estilo Paulo Salim Maluf, sai a público para dizer que não há nada contra ele e que apenas seus eleitores podem julgá-lo. Mas isso apenas seus pares italianos sabem, e daí a importância de se fazer um filme e talvez um dos objetivos de Ninna Moretti com seu "Crocodilo". Espalhar o que os italianos já sabem para que o resto do mundo tire suas próprias conclusões - e de quebra, dizer o quanto isso é difícil.

Entretanto parece ser "coisa de latino" essa resistência em colocar em xeque uma figura, hã, querida pela massa. Nós mesmos não temos obras sérias sobre governantes ou demais sujeitos que fizeram história. Não, minisséries da Rede Globo não contam sequer como referência para figurino de época. Infelizmente esse não é um privilégio dos brasileiros. O mundo latino em geral - incluindo aí espanhóis e franceses - gosta de preservar seus mitos e mantê-los dessa forma, como intocáveis e irretocáveis figuras de importância inquestionável. Um triste legado dos militares que regeram essas nações década atrás.

Diferente, por exemplo, dos norte-americanos. Sim, os estadunidenses deve ser o povo que mais escarafuncha a vida de seus comandantes - não só presidentes, mas figuras históricas, políticas e culturais. Essa vontade de expor seus supostamente melhores sujeitos é uma característica que parece dizer respeito, cada vez mais, apenas a eles. Justamente o povo que mais dá razão ao pensamento Bretchniano e adora cultivar heróis, transformando pessoas em exemplos para qualquer ocasião quando a razão foge ao debate, não abre mão de saber e expor os podres de cada um tornando-os, vejam só, heróis de verdade, pois são, como todos, apenas cidadãos comuns que, por um motivo ou outro, servem de referência. Pelo menos isso, talvez, tenhamos a aprender com eles.


    Um comentário:

    Unknown disse...

    Confesso que nao li nada do que esta aí escrito, mas era so pa responder ao comentario no meu. Nao devias ter vergonha.. adoro a novela, é a unica brasileira que vejo, e ja nao via novelas brasileiras ah algum tempo. Quando ao kutcher, ele é lindo :')