Neste final de semana, pude finalmente assistir a "9 Canções". O filme seria uma grande bobagem com ares de polêmica se não contivesse dois elementos fundamentais para a vida na Terra e um terceiro que tem atormentado minhas sinapses nesses tempos. Sexo e rock´n´roll são os dois primeiros. A verdade é o terceiro, que advém daqueles de uma maneira bem pouco sutil, praticamente explícita por assim dizer. E isso é bom. Muito bom.
Um dos grandes méritos de "9 Canções" e seu diretor, Michael Winterbottom, é trazer a, hã, "estética da pornografia", para um filme com alguma pretensão artística e um bom tino comercial conferido pela trilha sonora de bandas indie de grande expressão (?) lá fora, como Black Rebel Motorcycle Club, Von Bondies, Primal Scream, Franz Ferdinand entre outras. E fazer isso tudo com muita verdade.
A verdade do sexo. Os protagonistas fazem sexo de verdade. Não há cenas em penumbra, que revelam apenas curvas e nesgas de seios e bundas. Tampouco há o hipócrita nu frontal que as estrelas de Hollywood gostam de exibir em parcos segundos de pelos pubianos. Na tela, o que se vê não são ensaios de movimentos ou gemidos em falsete. Há um pau duro penetrando uma vagina. Há felação. Há cunilíngua. Há jogos eróticos. Há brinquedinhos. Há drogas. Há ejaculação. E tudo em close, para não haver dúvida. O que não há é fantasia, divagação ou opções. Winterbottom não dá isso para o espectador. Ele o joga num turbilhão de sentimento tão forte que dá até pra sentir o cheiro.
E tem o rock e sua verdade. Quando não fazem sexo, o casal protagonista vai a shows de uma boa safra de bandas. São apresentações ao vivo, no melhor esquema documental, sem interferência posterior. Os músicos estão no palco fazendo o que sabem e o público se entrega totalmente ao momento, sem ensaio ou prévia. Apenas uma câmera digital na mão e um microfone para captar o som, que se apresenta sujo, distorcido, tosco e maravilhosamente impreciso. Apenas rock´n´roll. Sem playback. Sem fingimento. Sem possibilidade de voltar atrás. Sem necessidade de fazer bonito. Sem pureza. Apenas rock´n´roll. E nós gostamos, pode ter certeza.
Mas há um quarto elemento, que corrobora definitivamente para que a verdade torne-se ainda mais escancarada: a Antárdita. O continente congelado é palco das incursões filosóficas de um dos protagonistas, que trabalha como analista de gelo (!). Nas planícies geladas e brancas que ele percorre não há espaço para nada além de verdade. A imensidão solitária e quieta do mar de gelo é tão sincera e peremptória que exerce sua razão sem deixar dúvidas.
Ao final, fica a sensação de que verdade ou a mentira não podem ser idealizadas ou definidas. Elas existem e ponto final. Estão alí, mas só as vê (e sente) quem realmente quer. Podem ser explícitas ou implícitas. Podem ser ao vivo ou em playback. Podem ser nas agitadas ruas de Londres ou na desolação gelada do extremo sul do planeta.
Ao final, não há mentiras nem verdades aqui. Só há música urbana.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
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3 comentários:
Sexo e rock n'roll, para mim, já estaria ótemo.
... e não seria Antártida?
Eu não gostei desse filme.
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