Daniela é uma puta. Como todas as mulheres de verdade, ela é uma puta. Mas não porque faz sexo por dinheiro, afinal, já tem sua profissão muito bem afinada com sua vocação. Tampouco por sair copulando a torto e a direito, pois isso não faria dela uma puta, e sim uma vadia. E nem toda vadia pode ser uma puta. As putas de verdade não são vadias. São mulheres. E toda mulher de verdade é uma puta. Uma puta porque sabe como transformar garotos em homens, e homens em garotos. E Daniela, como boa puta que é, me transformou em homem.
Na avenida mais movimentada da cidade, numa noite de Natal chuvosa, me obrigou a estacionar entre dois carros. Eu, que mal havia conseguido minha permissão para dirigir. "Vai, bota o carro aí ou não vai ter isso aqui", disse, levantando a saia e exibindo a renda de uma meia 7/8 preta e o início de uma cinta-liga. Quinze minutos depois, lá estava o Santana 2.0 1999 do meu pai encaixado rente à guia. Daniela foi a primeira mulher que me fez fazer uma baliza. E também a última.
Juntos, ela não me deixava ir além de uma nesga de seio, cujos mamilos rosados me faziam ter a maior das ereções. No máximo, me permitiu masturbá-la uma vez. Jamais tocou em meu sexo. Sequer tirou-me as calças. Chegou, sim, ainda na mesma noite e na mesma avenida, a insinuar um toque, subindo em meus quadris e enfiando 2/3 de dedos dentro de minha cueca, enquanto empinava o nariz, desafiadora, e lambia os lábios. Foi o suficiente.
Suas pernas, logo, nunca me foram abertas de fato. Embora gostasse de entrelaçá-las em minhas costas, simulando um coito infantil e imprestável, nunca chegamos as vias de fato. Como diria Caetano, fazíamos um sexo não-ortodoxo a nosso modo. Ou ao modo dela, para ser mais preciso. Ela era a puta. E eu, o garoto que precisa ser transformado em homem. E ainda assim, sem nunca tê-la jamais penetrado, sequer sentido o cheiro de seu sexo, após uma noite com ela, me sentia o mais deflorado dos homens.
Mesmo não sendo mais virgem à época, era como se ela tivesse sido minha primeira mulher.
Mas Daniela é uma puta. A mais perfeita das putas. Me fez dançar Emílio Santiago num antigo boteco do shopping, e convenceu meu orgulho de que era melhor não sermos nada mais do que bons amigos.
Enfiada num tubinho preto de veludo, de mangas longas e barra acima dos joelhos, me levou, de calça-cargo, camisa do Kiss e blusa de flanela xadrez amarrada na cintura, para ver qualquer coisa no cinema numa noite chuvosa. Na volta, fez questão de correr até o carro apenas para se molhar e tirar a roupa. Não toda, evidentemente, mas o suficiente para mostrar sua carne alva em contraste com os cabelos e olhos negros. Olhos de puta. Olhos que sabem esperar, que não hesitam em serem cruéis e se fecham sem dizer adeus.
Então ela sumiu. Mastigou meu coração com algo do tipo "não sei", ou "sei lá".
Eu fui ouvir Rolling Stones. Ela casou. Mudou de cidade. Mas não perdeu a vocação de ensinar. Como puta nata que é, virou professora. Ensina para adolescentes imberbes o be-a-bá inútil das apostilas. Mal sabem eles o que estão perdendo. Eu sei.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
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4 comentários:
Muito bom, uncle Briga.
O texto está ótimo e até tiver certos arrepios... hehe
Na natureza cada um cumpre o seu papel! (rs*)
Feliz ano novo! Beijus
Gostei dessa Daniela.
excelente esse texto. impagáveis aulas.
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