Na 2ª série, Mariana era uma garota feia. Gorda, cheia de sardas, cabelo mau tratado, roupas apertadas e desbotadas e - pior de tudo - uma inteligência não muito privilegiada. Logo, sem atrativos para meninos e meninas. Mas diferente de eu - que era um garoto magrelo, branquelo e tímido - ela começava a sofrer as típicas pressões sociais que a obrigavam a ser mulher em corpo e mente. Ao contrário dos machos, que nessa idade ainda não possuem sequer pêlos pelo corpo (salvo exceções das quais ninguém queria fazer parte), as fêmeas já se preparam para a puberdade, o que significa transformarem-se em objetos de desejos obscenos daqueles.
Mas não era o caso de Mariana. Enquanto as amigas já possuíam um par de montes pontudos sob a camiseta do uniforme, e os shorts de lycra de educação física começam a apertar as coxas que engrossavam, ela ostentava apenas uma rotunda circunferência sob o agasalho - que não tirava por nada. Eu observava. Observava com pena e certa simpatia. Assim como ela, eu também não era dos mais populares, já que não praticava esportes e gostava de desenhar alienígenas.
E ela sabia de minha paixão pelo desenho. Tanto que no final do ano, por conta de um amigo-secreto, me presenteou com um estojo de hidrocores. "Só podia te dar isso, né? Você não parar de desenhar", disse, sorrindo, solícita, como que pedindo por atenção. Senti vergonha. Apesar de dividirmos o mesmo status social escolar, não queria ser visto conversando com ela, ou mesmo estar perto dela. Queria - assim como todos os outros garotos - dividir minha mesa com a filha da professora que, apesar de ser um poço de antipatia, era um primor de beleza pré-púbere.
Mas o ano acabou. E Mariana saiu da escola.
Eu continuei e cheguei até a 5ª série, ainda magrelo e branquelo, mas já quase sem o tesão pelo desenho e com uma disfluência de fala que começava a se agravar. Ela não. Retornou cheia de curvas bem delineadas. Nem sombra da gordinha estapafúrdia de outrora. Estava uma delícia, era inegável, embora permanecesse com a inteligência bem pouco privilegiada. O que, claro, deixou de ser impecilho, já que pouco importa se seus miolos funcionam quando se tem um belo par de peitos e nádegas firmes e luxuriosas.
E ela as tinha. Diziam as más línguas - inveja, claro - que ela havia comprado tudo aquilo. Spa, lipoaspiração e essas intervenções todas. Pouco importava. Mariana agora dominava a parada. Era dela todos os olhares masculinos de admiração e todos os olhares femininos de raiva.
E ela foi a forra. Beijava os caras mais populares nas excursões. Atraia o desejo até dos marmanjos do Colegia. Ela escolhia e derrubava. Ninguém mais podia com ela.
Nessa época, pensava que, se tivesse sido um pouco mais legal com ela quando ainda ostentava o perfil de uma barrica de chopp, talvez tivesse alguma chance agora, algo como uma recompensa. Mas pensando bem, acho que não. Mariana não queria misericórdia. Queria vingança. Queria esfregar na cara de toda aquela gente que ela também podia ser como eles. E foi isso que se tornou. Em pouco tempo, também estava zuando as novas gordinhas da classe. E eu voltei a desenhar alienígenas.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Exceto pelos desenhos de alienígenas (os meus eram caveiras e congêneres) e disfluência de fala, me vejo nestas linhas.
Lembro-me de um episódio onde fiquei com as "nádegas", brancas como a neve, de fora em plena quadra de esportes quando ali encontravam-se toda a escola...
Quanto a franzina garota... Bruna...
Té mais Brigatti
Lembre-se sempre disso: as mulheres podem ser vingativas.
É... conheço bem essa história...
Postar um comentário