Sexta-feira é dia de "pescoço" no jornal. Para quem é apenas leitor, e não "fazedor" de, o termo é utilizado para nomear o arranca-toco de fechar duas edições em um só dia. No caso, as edições de sábado e domingo. Tudo na sexta-feira. Logo, neste fatídico e aguardado dia, tudo o que puder ser feito para torná-lo menos agonizante é bem vindo.
Por isso, eu e uma amiga, que também é editora no jornal, decidimos que toda sexta-feira, antes do trabalho, fariamos uma coisa que adoramos: tomar capuccino de avelã na Nobel, megastore de livros que fica num shopping aqui da cidade.
Claro que a coisa não fica só no café com chocolate. Passamos um bom tempo vasculhando as prateleiras de livros, CDs e DVDs em busca de um destino para nosso "faz-me-rir". E foi aí que concluí algo que jamais poderia conceber: NINGUÉM da loja sabe ABSOLUTAMENTE NADA de livros.
Sacaram?
Uma livraria cujos funcionários não manjam NIENTE de livros!
Então o que explica "A Origem das Espécies", do Darwin, estar na prateleira de "Agropecuária"?
"Ah, tem um cágado na capa. É livro de bicho, oras", deve ter pensado o repositor.
Ou "O Poder do Mito", do Campbell, dividir a seção de "Esoterismo" com "Anjos Cabalísticos", da Mônica Buonfiglio?
"Mito não é uma coisa que não existe? Então. É igual anjo, cabala e Paulo Coelho", raciocinara o brilhante repositor.
Pior (ou melhor) ainda. "Fritz, The Cat", do Crumb, sendo vendido na ala de "Infantis"!!!
"História em quadrinho é coisa de criança. Põe lá também esse ´A Última Noite de Casanova´", ordena o mesmo sujeito.
Sem esquecer de "Matrix - Bem-Vindo ao Deserto do Real" acomodado na estante de "Informática".
"Hum... pela capa, deve ser alguma coisa de computador. Já sabe onde colocar, né?", indaga o senhor de todos os ISBNs.
Mas aí eu não aguentei quando vi "Windows on the World", romance de Beigbeder que tem como pano de fundo os atentados do 11 de setembro, confortavelmente classificado como "Informática". Chamei um dos atendentes. "Meu filho, esse livro é um romance, não tem nada a ver com informática. Tá na prateleira errada". O rapaz: "Ah, é? Bom, vou avisar para trocar então". "Faça isso, porque isso confunde os compradores e...", tentei continuar, mas ele já estava de volta ao balcão prosseguindo a animada conversa que havia interrompido com outra antendente.
Desisto.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
segunda-feira, setembro 12, 2005
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8 comentários:
e vc reparou que tava vazio? fui lá semana passada e qdo olhei as prateleiras pensei que a nobel tava fechando! mas como não achei anúncio de promoção, pensei que devia ser outra coisa.. Um amigo meu perguntou e parece que eles erraram no balanço, sei lá.. Assim fica bem dificil, né...
E olha que você não está falando de uma livrariazinha de fundo de quintal... Sempre me surpreendo com a miopia dos comerciantes em geral: acham que qualquer um pode vender qualquer coisa. Basta pregar um sorriso na cara (as vezes nem isso). Experiemente entrar em loja que vende roupas pra adolescentes. É um despreparo total. Mas o caso da livraria ainda é mais triste mesmo.
que revolta, agora pegou gosto de trocar a fonte das frases? Então, se eu quiser almoçar com você em uma sexta vai ser beeeem difícil, né?! hahahaha
haahhaaa muito bom! mas a verdade é que nada ameniza um pescoção... só a hora de ir embora.. rs Beijos!
Nem me diga, Tata, nem me diga...
HAHAHA! Muito bom o texto e os exemplos que você citou aqui. Crumb na seção infantil?? Putasqueopariu!
Os atentendentes destas livrarias são mesmo totalmente despreparados, é um horror. A livraria em que eu passo menos estresse aqui em Sampa é a Cultura, porque no resto...bagunça por bagunça, fico com os sebos dos livros empilhados...pelo menos não se tem em quem colocar a culpa...a gente que se vire pra achar, não é?
E seu texto abaixo tá ótimo também, Brigatti! Como disse o Ina, muito inspirado!
E as pessoas TÊM que saber que se envolver é correr riscos, sempre. Tem outro jeito não...
Um beijo.
ler todo o blog, muito bom
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