I'm Winston Wolfe. I solve problems.

domingo, setembro 25, 2005

Não, isso não pode ser sério...

Alguém conhece a cidade de Matão? É uma típica cidade do interior de São Paulo, cercada por plantações de cana-de-açúcar, café, laranja e povoada por descendentes de imigrantes europeus. É quente e irritantemente monótona, como toda típica cidade do interior de São Paulo. Entretanto, Matão pode ser gabar de possuir lugar de destaque dentro do imaginário musical. Foi lá que os Rolling Stones, em idos de 1969, deram uma passada de 18 dias.

Agora respire fundo e raciocine.

Não foi o CPM22 que resolveu fazer um churrasquinho de lagarto no meio do mato. Nem o Planet Hemp que resolveu fumar unzinho afastado dos meganha. Foram os Rolling Stones. Mick Jagger, Keith Richard, Charlie Watts, Marianne Faithfull e um séquito de ingleses babões, todos enfurnados dentro de uma chácara, nadando pelados e tocando o dia todo. A chácara era de ninguém menos que Walther Moreira Salles, o dono do Unibanco, ex-patrão do Bia e pai de vocês-sabem-quem.

Entendeu? Em Matão.

Não foi no Rio de Janeiro. Não foi em São Paulo. Nem em qualquer outra capital imunda. Foi numa insuspeita cidadela cheia de pés-vermelhos que o maior grupo de rock vivo teve sua primeira experiência brasileira. Nada de mulatas despudoradas, vagabundas profissionais, hotéis podres de chiques ou camas king size. Matão. Nada mais.

Eu, claro, descobri isso ONTEM. Fuçando algumas Caros Amigos do Bia, me deparei com a edição de número 37, de abril de 2000. A capa tem dá destaque para o filho não reconhecido de Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista da Globo. Não preciso dizer o que é mais importante. Ninguém é perfeito, afinal de contas...

Porém, passado o choque incial, refleti: quem eram os Rolling Stones em 1969? Seguramente a banda mais inspirada e inspiradora do mundo. Tá, mas o Brasil não fazia parte do mundo naquele ano. Em 1969, ele lançavam o estupendo "Let it Bleed", o primeiro sem o guitarrista e fundador Brian Jones, encontrado morto boiando na piscina de sua mansão, vítimado por uma suposta overdose. Enquanto isso, o Brasil tomava um AI-5 na cabeça e a coisa ficaria ainda pior com a subida do Medici ao poder.

Ou seja: QUEM ERAM OS ROLLING STONES PARA O BRASIL EM 1969?

No máximo, um grupo de gringos branquelos doidões, que faziam música estranha e gostavam de festas estranhas com gente esquisita, como deixam claro os depoimentos do que presenciaram a visita dos demônios a pequena e ensolarada Matão.

Se o que eles queriam era passar incógnitos, não poderiam ter escolhido lugar melhor. Fora meia-dúzia que tinha acesso ao que acontecia no restante do globo, o Brasil não passava de um mar de ignorantes famélicos comandados pelo que de pior a Mãe Natureza deixou passar em sua seleção natural. A imprensa "especializada" tupinambá descobriu, como sempre, tardiamente. E ainda fez porquice.

Em 2001 a história ressurgiu com força pelas mãos de Nelio Rodrigues, no obrigatório "Os Rolling Stones no Brasil".

Aí, durante a primeira turnê dos caras aqui, em 1995, com "Voodoo Lounge", vem um locutor metido a inteligente e diz: "Pela primeira vez no Brasil...".

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