Eles são feios. Eles são sujos. Eles são malvados. E também velho, podres de rico auto-referenciais e reduntantes. Eles são os Rolling Stones. E por isso não fazem rock´n´roll. Eles SÃO o rock´n´roll. "A Bigger Bang", último lançamento dos sujeitos, vem para redimir a banda da trajetória errática e mezzo-portuguesa mezzo-muzzarella feita desde meados da década de 70.
Os mais xiitas devem saber que "Exile on Main Street", de1972, considerado o melhor disco do grupo é, também por isso, tido como marco zero na carreira de Sir Mick Jagger e amigos. Depois disso, a coisa degringolou. Flertaram com a disco music, o heavy metal, o hard rock, o reggae, o power pop, e mais um monte de definições até chegar ao indefinível "Bridges to Babylon", de 97, cujo execrável conteúdo - apesar de alguns bons momentos - só perde para a capa de "Dirty Work", de 86. Introduzindo elementos de rap e música eletrônica, parecia o réquiem da banda. A Marcha Fúnebre. O Steven Segal num fim de domingo.
Mas eis que três coletâneas caça-níqueis depois, é anunciado um novo disco. Um disco de inéditas, o mais longo (em número de faixas, pelo menos) desde o saudoso "Exile", que contém nada menos que 18 canções. "A Bigger Bang" chegaria com 16 novas composições da parceria água-e-óleo Jagger-Richards. Era a tão esperada volta às raízes. O blues. O jazz. O country. A boca grande e suja cuspindo impropérios, fazendo as vovós tremerem e a molecada delirar. Voltaríamos para 1969 e enfiaríamos um grande cacete no rabo do Médici.
Claro que não foi tudo isso. Quando a primeira música de trabalho apareceu nas rádios, meu colar de contas coloridas arrebentou e minha camisa de algodão cru pintada psicoldelicamente a mão foi ao chão. "Streets of love" é o nome do quinto Cavaleiro do Apocalise stoniano. Não, outra balada não. Choradeira, não, Mick, puta que o pariu. Cadê aquele frenesi sexual embutido nos quadris? Onde foi parar a sem-vergonhice nata e leiga? Deu perdido na fúria santa que costumava carregar agarrado ao microfone? Parecia o fim. Era desistir ou esperar pelo disco todo, que não, não poderia seguir aquela linha mela-cueca óbvia. Claro que queríamos o óbvio, mas não ESSE óbvio.
E o óbvio veio. Ululante, até. Como um moribundo que ainda respira, o disco abre despretensiosamente com "Rough Justice", que poderia muito bem estar entre "Let it Bleed" e "Sticky Fingers". É como se Keith Richards estivesse dedilhando sua guitarra e algum moleque guitarrista, de cabelinho bem tratado e dentes alinhados e brancos, de alguma dessas novas e superestimadas bandinhas que pretendem "salvar o rock", chegasse dizendo "olha o que eu sei fazer, tio", e o velho pirata baforasse replicando "esqueceu de tomar leite, né?". E segue adiante a grande explosão, como numa aula de como fazer música de homem.
Inegável, porém, é a influência do pop dançante de Lenny Kravitz, quer parece ter agradado em cheio Mick Jagger quando este o chamou para participar do seu trabalh solo, "Godness in the Doorway". A pegada de "It wont take long" é totalmente pintada a imagem e semelhança do tampinha fã de alisamento japonês. O que não a deixa interessante, embora nada digna de mérito. Pra ouvir durante a leitura. O mesmo para a seguinte, "Rain fall down", com guitarrinha muuuito parecida com a de Prince em "Kiss". Medo.
O mérito, entretanto, vai para "Back of my hand", a que de longe mais lembra "Exile". Gaita, guitarra na distorção certa e bateria de vassourinha. Para ouvir mascando fumo, pagando de sulista invertebrado durante um fim de tarde nos pântanos da Lousiana. Se é que você me entende. "She saw we coming" é que mais aproxima o grupo de sua fase auto-destrutiva, podendo muito bem figurar em "Steel Wheels", junto com a calça branca de malha e as joelheiras azuis do pai do Lucas.
Claro que há baladas. Mais do que deveria, é verdade. "Bigger mistake" é quase auto-explicativa, trazendo mais tintura da fase solo de Jagger. Lembra "Don´t call me up" da última pulada de cerca do cara. Mas a coisa muda de figura quando é Richards cantando. Quando se imaginava que ele não tinha mais nenhum órgão interno funcionando, eis que ele dedilha um belo violão de aço e parte corações com "This place is empty", balada certamente feita sobre efeito narcoléptico e dedicada a alguma droga.
Chega de choradeira. O troco vem em "Oh no not you again", que diziam ter sido feita para Luciana Gimenez. A letra pode dizer alguma coisa, mas não creio que, à luz de um candelabro, Mick Jagger coçou a cabeça e soltou algo do tipo "vou ferrar aquela filha da puta. É, vou mandar um recado pra ela e ela vai ver só, se meteu com o servo errado da rainha". Sem chance. É para alguma mulher, como "Some Girls", "Bitch" ou qualquer outra, cheia de som e fúria, feita para ser tocada ao vivo.
"Dangerous beauty" acalma os ânimos como um "I go wild", do "Voodoo Lounge", mas com personalidade própria. Um típico e óbvio rock stoniano. O resto sobra do prato e vai pro lixo. A seguinte, "Laughin early died" inicia com a batida de "Hey Joe", de Jimi Hendrix, e apresenta a música mais soturna do disco, feita para um striptease cheio de evolução. Cheira a sexo, daquele feito embriagado, cheio de culpa e raiva.
Mais guitarrinha do Johnny Marr em "Look what the cat dragged in", boa para ser tocada em show também. Mas poderia ter ficado de fora e encurtado a empreitada, assim como "Driving too fast", que soa repetitiva e um tanto óbvia. Mas não o óbvio que queremos. E fecha com "Infamy", novamente levada pelo vocal podraço de Keith. Tá na cara que o cara andou ouvindo bastante Lou Reed e acrescentou um tecladinho Moog pra disfarçar. E tome gaitinha do INXS. Dispensável.
Deixando de lado as também dispensáveis amabilidades de "Streets of love" e o forçado engajamento político de "Sweet Neo Con" - que trás de quebra uma gaitinha à lá INXS - o álbum serve como registro de uma banda que sabe seu lugar na história e que ainda tem fôlego para se manter na ativa enquanto a medicina, seja ela qual for, conseguir manter vivos seus integrantes. Espera-se que, pelo menos, até fevereiro de 2006.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
terça-feira, setembro 20, 2005
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5 comentários:
Briga, é claro que não tenho essa visão do disco dos caras, aprecio como fã mesmo e por isso gosto dele todo, o meu lado Mainardi se omite quando o assunto são os bons velhinhos... O mais importante e que eu concordo contigo é o desfecho, que eles durem muito, ou pelo menos até fevereiro!!!! Cara, não vai prestar...
Não vai prestar meeeeesmo!
não entendi essa de até fevereiro. o q tem demais em fevereiro? eles vêm pro Brasil?
Matão é uma cidadezinha feia vizinha a minha Araraquara-Sp
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