Todo mundo sabe que a Hello Kitty não tem boca.
Não tem boca porque fala com coração.
Logo, só pode pagar boquete com o dito cujo.
(Em breve, fotos reveladoras e comprometedoras)
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
domingo, setembro 25, 2005
Não, isso não pode ser sério...
Alguém conhece a cidade de Matão? É uma típica cidade do interior de São Paulo, cercada por plantações de cana-de-açúcar, café, laranja e povoada por descendentes de imigrantes europeus. É quente e irritantemente monótona, como toda típica cidade do interior de São Paulo. Entretanto, Matão pode ser gabar de possuir lugar de destaque dentro do imaginário musical. Foi lá que os Rolling Stones, em idos de 1969, deram uma passada de 18 dias.
Agora respire fundo e raciocine.
Não foi o CPM22 que resolveu fazer um churrasquinho de lagarto no meio do mato. Nem o Planet Hemp que resolveu fumar unzinho afastado dos meganha. Foram os Rolling Stones. Mick Jagger, Keith Richard, Charlie Watts, Marianne Faithfull e um séquito de ingleses babões, todos enfurnados dentro de uma chácara, nadando pelados e tocando o dia todo. A chácara era de ninguém menos que Walther Moreira Salles, o dono do Unibanco, ex-patrão do Bia e pai de vocês-sabem-quem.
Entendeu? Em Matão.
Não foi no Rio de Janeiro. Não foi em São Paulo. Nem em qualquer outra capital imunda. Foi numa insuspeita cidadela cheia de pés-vermelhos que o maior grupo de rock vivo teve sua primeira experiência brasileira. Nada de mulatas despudoradas, vagabundas profissionais, hotéis podres de chiques ou camas king size. Matão. Nada mais.
Eu, claro, descobri isso ONTEM. Fuçando algumas Caros Amigos do Bia, me deparei com a edição de número 37, de abril de 2000. A capa tem dá destaque para o filho não reconhecido de Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista da Globo. Não preciso dizer o que é mais importante. Ninguém é perfeito, afinal de contas...
Porém, passado o choque incial, refleti: quem eram os Rolling Stones em 1969? Seguramente a banda mais inspirada e inspiradora do mundo. Tá, mas o Brasil não fazia parte do mundo naquele ano. Em 1969, ele lançavam o estupendo "Let it Bleed", o primeiro sem o guitarrista e fundador Brian Jones, encontrado morto boiando na piscina de sua mansão, vítimado por uma suposta overdose. Enquanto isso, o Brasil tomava um AI-5 na cabeça e a coisa ficaria ainda pior com a subida do Medici ao poder.
Ou seja: QUEM ERAM OS ROLLING STONES PARA O BRASIL EM 1969?
No máximo, um grupo de gringos branquelos doidões, que faziam música estranha e gostavam de festas estranhas com gente esquisita, como deixam claro os depoimentos do que presenciaram a visita dos demônios a pequena e ensolarada Matão.
Se o que eles queriam era passar incógnitos, não poderiam ter escolhido lugar melhor. Fora meia-dúzia que tinha acesso ao que acontecia no restante do globo, o Brasil não passava de um mar de ignorantes famélicos comandados pelo que de pior a Mãe Natureza deixou passar em sua seleção natural. A imprensa "especializada" tupinambá descobriu, como sempre, tardiamente. E ainda fez porquice.
Em 2001 a história ressurgiu com força pelas mãos de Nelio Rodrigues, no obrigatório "Os Rolling Stones no Brasil".
Aí, durante a primeira turnê dos caras aqui, em 1995, com "Voodoo Lounge", vem um locutor metido a inteligente e diz: "Pela primeira vez no Brasil...".
Agora respire fundo e raciocine.
Não foi o CPM22 que resolveu fazer um churrasquinho de lagarto no meio do mato. Nem o Planet Hemp que resolveu fumar unzinho afastado dos meganha. Foram os Rolling Stones. Mick Jagger, Keith Richard, Charlie Watts, Marianne Faithfull e um séquito de ingleses babões, todos enfurnados dentro de uma chácara, nadando pelados e tocando o dia todo. A chácara era de ninguém menos que Walther Moreira Salles, o dono do Unibanco, ex-patrão do Bia e pai de vocês-sabem-quem.
Entendeu? Em Matão.
Não foi no Rio de Janeiro. Não foi em São Paulo. Nem em qualquer outra capital imunda. Foi numa insuspeita cidadela cheia de pés-vermelhos que o maior grupo de rock vivo teve sua primeira experiência brasileira. Nada de mulatas despudoradas, vagabundas profissionais, hotéis podres de chiques ou camas king size. Matão. Nada mais.
Eu, claro, descobri isso ONTEM. Fuçando algumas Caros Amigos do Bia, me deparei com a edição de número 37, de abril de 2000. A capa tem dá destaque para o filho não reconhecido de Fernando Henrique Cardoso com uma jornalista da Globo. Não preciso dizer o que é mais importante. Ninguém é perfeito, afinal de contas...
Porém, passado o choque incial, refleti: quem eram os Rolling Stones em 1969? Seguramente a banda mais inspirada e inspiradora do mundo. Tá, mas o Brasil não fazia parte do mundo naquele ano. Em 1969, ele lançavam o estupendo "Let it Bleed", o primeiro sem o guitarrista e fundador Brian Jones, encontrado morto boiando na piscina de sua mansão, vítimado por uma suposta overdose. Enquanto isso, o Brasil tomava um AI-5 na cabeça e a coisa ficaria ainda pior com a subida do Medici ao poder.
Ou seja: QUEM ERAM OS ROLLING STONES PARA O BRASIL EM 1969?
No máximo, um grupo de gringos branquelos doidões, que faziam música estranha e gostavam de festas estranhas com gente esquisita, como deixam claro os depoimentos do que presenciaram a visita dos demônios a pequena e ensolarada Matão.
Se o que eles queriam era passar incógnitos, não poderiam ter escolhido lugar melhor. Fora meia-dúzia que tinha acesso ao que acontecia no restante do globo, o Brasil não passava de um mar de ignorantes famélicos comandados pelo que de pior a Mãe Natureza deixou passar em sua seleção natural. A imprensa "especializada" tupinambá descobriu, como sempre, tardiamente. E ainda fez porquice.
Em 2001 a história ressurgiu com força pelas mãos de Nelio Rodrigues, no obrigatório "Os Rolling Stones no Brasil".
Aí, durante a primeira turnê dos caras aqui, em 1995, com "Voodoo Lounge", vem um locutor metido a inteligente e diz: "Pela primeira vez no Brasil...".
sábado, setembro 24, 2005
terça-feira, setembro 20, 2005
Estilingue
Eles são feios. Eles são sujos. Eles são malvados. E também velho, podres de rico auto-referenciais e reduntantes. Eles são os Rolling Stones. E por isso não fazem rock´n´roll. Eles SÃO o rock´n´roll. "A Bigger Bang", último lançamento dos sujeitos, vem para redimir a banda da trajetória errática e mezzo-portuguesa mezzo-muzzarella feita desde meados da década de 70.
Os mais xiitas devem saber que "Exile on Main Street", de1972, considerado o melhor disco do grupo é, também por isso, tido como marco zero na carreira de Sir Mick Jagger e amigos. Depois disso, a coisa degringolou. Flertaram com a disco music, o heavy metal, o hard rock, o reggae, o power pop, e mais um monte de definições até chegar ao indefinível "Bridges to Babylon", de 97, cujo execrável conteúdo - apesar de alguns bons momentos - só perde para a capa de "Dirty Work", de 86. Introduzindo elementos de rap e música eletrônica, parecia o réquiem da banda. A Marcha Fúnebre. O Steven Segal num fim de domingo.
Mas eis que três coletâneas caça-níqueis depois, é anunciado um novo disco. Um disco de inéditas, o mais longo (em número de faixas, pelo menos) desde o saudoso "Exile", que contém nada menos que 18 canções. "A Bigger Bang" chegaria com 16 novas composições da parceria água-e-óleo Jagger-Richards. Era a tão esperada volta às raízes. O blues. O jazz. O country. A boca grande e suja cuspindo impropérios, fazendo as vovós tremerem e a molecada delirar. Voltaríamos para 1969 e enfiaríamos um grande cacete no rabo do Médici.
Claro que não foi tudo isso. Quando a primeira música de trabalho apareceu nas rádios, meu colar de contas coloridas arrebentou e minha camisa de algodão cru pintada psicoldelicamente a mão foi ao chão. "Streets of love" é o nome do quinto Cavaleiro do Apocalise stoniano. Não, outra balada não. Choradeira, não, Mick, puta que o pariu. Cadê aquele frenesi sexual embutido nos quadris? Onde foi parar a sem-vergonhice nata e leiga? Deu perdido na fúria santa que costumava carregar agarrado ao microfone? Parecia o fim. Era desistir ou esperar pelo disco todo, que não, não poderia seguir aquela linha mela-cueca óbvia. Claro que queríamos o óbvio, mas não ESSE óbvio.
E o óbvio veio. Ululante, até. Como um moribundo que ainda respira, o disco abre despretensiosamente com "Rough Justice", que poderia muito bem estar entre "Let it Bleed" e "Sticky Fingers". É como se Keith Richards estivesse dedilhando sua guitarra e algum moleque guitarrista, de cabelinho bem tratado e dentes alinhados e brancos, de alguma dessas novas e superestimadas bandinhas que pretendem "salvar o rock", chegasse dizendo "olha o que eu sei fazer, tio", e o velho pirata baforasse replicando "esqueceu de tomar leite, né?". E segue adiante a grande explosão, como numa aula de como fazer música de homem.
Inegável, porém, é a influência do pop dançante de Lenny Kravitz, quer parece ter agradado em cheio Mick Jagger quando este o chamou para participar do seu trabalh solo, "Godness in the Doorway". A pegada de "It wont take long" é totalmente pintada a imagem e semelhança do tampinha fã de alisamento japonês. O que não a deixa interessante, embora nada digna de mérito. Pra ouvir durante a leitura. O mesmo para a seguinte, "Rain fall down", com guitarrinha muuuito parecida com a de Prince em "Kiss". Medo.
O mérito, entretanto, vai para "Back of my hand", a que de longe mais lembra "Exile". Gaita, guitarra na distorção certa e bateria de vassourinha. Para ouvir mascando fumo, pagando de sulista invertebrado durante um fim de tarde nos pântanos da Lousiana. Se é que você me entende. "She saw we coming" é que mais aproxima o grupo de sua fase auto-destrutiva, podendo muito bem figurar em "Steel Wheels", junto com a calça branca de malha e as joelheiras azuis do pai do Lucas.
Claro que há baladas. Mais do que deveria, é verdade. "Bigger mistake" é quase auto-explicativa, trazendo mais tintura da fase solo de Jagger. Lembra "Don´t call me up" da última pulada de cerca do cara. Mas a coisa muda de figura quando é Richards cantando. Quando se imaginava que ele não tinha mais nenhum órgão interno funcionando, eis que ele dedilha um belo violão de aço e parte corações com "This place is empty", balada certamente feita sobre efeito narcoléptico e dedicada a alguma droga.
Chega de choradeira. O troco vem em "Oh no not you again", que diziam ter sido feita para Luciana Gimenez. A letra pode dizer alguma coisa, mas não creio que, à luz de um candelabro, Mick Jagger coçou a cabeça e soltou algo do tipo "vou ferrar aquela filha da puta. É, vou mandar um recado pra ela e ela vai ver só, se meteu com o servo errado da rainha". Sem chance. É para alguma mulher, como "Some Girls", "Bitch" ou qualquer outra, cheia de som e fúria, feita para ser tocada ao vivo.
"Dangerous beauty" acalma os ânimos como um "I go wild", do "Voodoo Lounge", mas com personalidade própria. Um típico e óbvio rock stoniano. O resto sobra do prato e vai pro lixo. A seguinte, "Laughin early died" inicia com a batida de "Hey Joe", de Jimi Hendrix, e apresenta a música mais soturna do disco, feita para um striptease cheio de evolução. Cheira a sexo, daquele feito embriagado, cheio de culpa e raiva.
Mais guitarrinha do Johnny Marr em "Look what the cat dragged in", boa para ser tocada em show também. Mas poderia ter ficado de fora e encurtado a empreitada, assim como "Driving too fast", que soa repetitiva e um tanto óbvia. Mas não o óbvio que queremos. E fecha com "Infamy", novamente levada pelo vocal podraço de Keith. Tá na cara que o cara andou ouvindo bastante Lou Reed e acrescentou um tecladinho Moog pra disfarçar. E tome gaitinha do INXS. Dispensável.
Deixando de lado as também dispensáveis amabilidades de "Streets of love" e o forçado engajamento político de "Sweet Neo Con" - que trás de quebra uma gaitinha à lá INXS - o álbum serve como registro de uma banda que sabe seu lugar na história e que ainda tem fôlego para se manter na ativa enquanto a medicina, seja ela qual for, conseguir manter vivos seus integrantes. Espera-se que, pelo menos, até fevereiro de 2006.
Os mais xiitas devem saber que "Exile on Main Street", de1972, considerado o melhor disco do grupo é, também por isso, tido como marco zero na carreira de Sir Mick Jagger e amigos. Depois disso, a coisa degringolou. Flertaram com a disco music, o heavy metal, o hard rock, o reggae, o power pop, e mais um monte de definições até chegar ao indefinível "Bridges to Babylon", de 97, cujo execrável conteúdo - apesar de alguns bons momentos - só perde para a capa de "Dirty Work", de 86. Introduzindo elementos de rap e música eletrônica, parecia o réquiem da banda. A Marcha Fúnebre. O Steven Segal num fim de domingo.
Mas eis que três coletâneas caça-níqueis depois, é anunciado um novo disco. Um disco de inéditas, o mais longo (em número de faixas, pelo menos) desde o saudoso "Exile", que contém nada menos que 18 canções. "A Bigger Bang" chegaria com 16 novas composições da parceria água-e-óleo Jagger-Richards. Era a tão esperada volta às raízes. O blues. O jazz. O country. A boca grande e suja cuspindo impropérios, fazendo as vovós tremerem e a molecada delirar. Voltaríamos para 1969 e enfiaríamos um grande cacete no rabo do Médici.
Claro que não foi tudo isso. Quando a primeira música de trabalho apareceu nas rádios, meu colar de contas coloridas arrebentou e minha camisa de algodão cru pintada psicoldelicamente a mão foi ao chão. "Streets of love" é o nome do quinto Cavaleiro do Apocalise stoniano. Não, outra balada não. Choradeira, não, Mick, puta que o pariu. Cadê aquele frenesi sexual embutido nos quadris? Onde foi parar a sem-vergonhice nata e leiga? Deu perdido na fúria santa que costumava carregar agarrado ao microfone? Parecia o fim. Era desistir ou esperar pelo disco todo, que não, não poderia seguir aquela linha mela-cueca óbvia. Claro que queríamos o óbvio, mas não ESSE óbvio.
E o óbvio veio. Ululante, até. Como um moribundo que ainda respira, o disco abre despretensiosamente com "Rough Justice", que poderia muito bem estar entre "Let it Bleed" e "Sticky Fingers". É como se Keith Richards estivesse dedilhando sua guitarra e algum moleque guitarrista, de cabelinho bem tratado e dentes alinhados e brancos, de alguma dessas novas e superestimadas bandinhas que pretendem "salvar o rock", chegasse dizendo "olha o que eu sei fazer, tio", e o velho pirata baforasse replicando "esqueceu de tomar leite, né?". E segue adiante a grande explosão, como numa aula de como fazer música de homem.
Inegável, porém, é a influência do pop dançante de Lenny Kravitz, quer parece ter agradado em cheio Mick Jagger quando este o chamou para participar do seu trabalh solo, "Godness in the Doorway". A pegada de "It wont take long" é totalmente pintada a imagem e semelhança do tampinha fã de alisamento japonês. O que não a deixa interessante, embora nada digna de mérito. Pra ouvir durante a leitura. O mesmo para a seguinte, "Rain fall down", com guitarrinha muuuito parecida com a de Prince em "Kiss". Medo.
O mérito, entretanto, vai para "Back of my hand", a que de longe mais lembra "Exile". Gaita, guitarra na distorção certa e bateria de vassourinha. Para ouvir mascando fumo, pagando de sulista invertebrado durante um fim de tarde nos pântanos da Lousiana. Se é que você me entende. "She saw we coming" é que mais aproxima o grupo de sua fase auto-destrutiva, podendo muito bem figurar em "Steel Wheels", junto com a calça branca de malha e as joelheiras azuis do pai do Lucas.
Claro que há baladas. Mais do que deveria, é verdade. "Bigger mistake" é quase auto-explicativa, trazendo mais tintura da fase solo de Jagger. Lembra "Don´t call me up" da última pulada de cerca do cara. Mas a coisa muda de figura quando é Richards cantando. Quando se imaginava que ele não tinha mais nenhum órgão interno funcionando, eis que ele dedilha um belo violão de aço e parte corações com "This place is empty", balada certamente feita sobre efeito narcoléptico e dedicada a alguma droga.
Chega de choradeira. O troco vem em "Oh no not you again", que diziam ter sido feita para Luciana Gimenez. A letra pode dizer alguma coisa, mas não creio que, à luz de um candelabro, Mick Jagger coçou a cabeça e soltou algo do tipo "vou ferrar aquela filha da puta. É, vou mandar um recado pra ela e ela vai ver só, se meteu com o servo errado da rainha". Sem chance. É para alguma mulher, como "Some Girls", "Bitch" ou qualquer outra, cheia de som e fúria, feita para ser tocada ao vivo.
"Dangerous beauty" acalma os ânimos como um "I go wild", do "Voodoo Lounge", mas com personalidade própria. Um típico e óbvio rock stoniano. O resto sobra do prato e vai pro lixo. A seguinte, "Laughin early died" inicia com a batida de "Hey Joe", de Jimi Hendrix, e apresenta a música mais soturna do disco, feita para um striptease cheio de evolução. Cheira a sexo, daquele feito embriagado, cheio de culpa e raiva.
Mais guitarrinha do Johnny Marr em "Look what the cat dragged in", boa para ser tocada em show também. Mas poderia ter ficado de fora e encurtado a empreitada, assim como "Driving too fast", que soa repetitiva e um tanto óbvia. Mas não o óbvio que queremos. E fecha com "Infamy", novamente levada pelo vocal podraço de Keith. Tá na cara que o cara andou ouvindo bastante Lou Reed e acrescentou um tecladinho Moog pra disfarçar. E tome gaitinha do INXS. Dispensável.
Deixando de lado as também dispensáveis amabilidades de "Streets of love" e o forçado engajamento político de "Sweet Neo Con" - que trás de quebra uma gaitinha à lá INXS - o álbum serve como registro de uma banda que sabe seu lugar na história e que ainda tem fôlego para se manter na ativa enquanto a medicina, seja ela qual for, conseguir manter vivos seus integrantes. Espera-se que, pelo menos, até fevereiro de 2006.
Afivelando as malas
Eu vou no Tim Festival em Sampa.
Quem mais vai?
Bem que poderia rolar uma reuniãozinha de blogueiros fanáticos por indie lá, hein?
Digam aí. Ou aqui.
Quem mais vai?
Bem que poderia rolar uma reuniãozinha de blogueiros fanáticos por indie lá, hein?
Digam aí. Ou aqui.
sábado, setembro 17, 2005
Duela e quiem duela
Mick e cia. é capa da Rolling Stone deste mês. Entrevistona e tudo.
A massa pergunta: cadê o Maca, Galvão?
sexta-feira, setembro 16, 2005
Confissão no escuro
Estavam deitados. Ela, incomodada. Ele, pressentindo o abate. "Não sei", diz baixinho, quase suspirando, os lábios semicerrados, fingindo ajeitar um brinco. O estômago dá um pulo e congela, como se fotografado no momento mais alto de um salto com vara. Pela primeira vez sente o gosto amargo de uma lágrima que pinga retardada do olho para a boca. Quer ver os olhos dela, mas não consegue. Está escuro demais e ele não consegue olhar nos olhos dela e ver se eles estão mentindo ou úmidos como os dele.
Estala um dedo. Suspira por dentro. Pensa em alguma música que lembre a situação. Quer ligar o rádio, mas a bateria está fraca e depois terá que fazer o carro pegar no tranco para sair do drive-in. "Injeção eletrônica nova, nem pensar", permite-se. Volta para o banco traseiro. A boca ensaiando alguma contrapartida evasiva, uma palavra que seja apenas para restabelecer a ordem naquele que já foi um universo tão perfeitamente equilibrado quanto a prova de matemática da Vanessa, a garota que sentava na sua frente na quarta-série e não gostava de pentear os cabelos. "Devia ser filha de hippies, só pode", foge. Mas que era boa em cálculos, ah isso era.
Ela ainda estava imóvel. Olha para o teto. Vira-se para o outro lado. Ele apoia-se sobre um cotovelo e faz menção de beijá-la. "Belo subterfúgio", arrisca. Mas hesita. Olha para o relógio do painel e conta exato um minuto desde o impacto do iceberg em seu Titanic. Iceberg. O estômago agora estava gelado. Pensava numa boa dose de vodca. Odiava vodca. Na verdade, odiava todo tipo de bebida alcoólica. Bebia pelo social. Lembrou dos tempos de faculdade. "Tomara que estejam todos fodidos agora", amargou, enumerando os colegas que passavam as noites quentes no boteco, enquanto ele procurava a razão de existir socado dentro da biblioteca.
"Olha...", ela deixa escapar. Era como o engatilhar do trabuco. O polegar apertou firme o cão e puxou-o para trás, preparando o golpe fatal. O impacto seria rápido e seco. Fechou os olhos e ouviu os gemidos quentes vindos do box ao lado. Palavrões. Obscenidades. Súplicas de submissão. Palavras de ordem. Tudo era claro pela fina parede de concreto pré-moldado que separava os amantes.
Adorava sacanagem. Uma sinapse o transportou para o primeiro filme erótico de sua vida. "As Idades de Lulu". Não era como as besteiras adolescentes que o faria se consumir tempos depois nas madrugadas de sexta-feira e sábado na TV aberta. Era bonito. A tal da Lulu era bonita. Era na verdade um drama erótico, como toda situação erótica parece ser. Uma mistura de lágrimas e lubrificação vaginal, que mais tarde desbanca para a pura e simples putaria, orgia deslavada, como a que acontecia com seus vizinhos de coito.
O relógio do painel apontava quase dois minutos desde o início do naufrágio. Sentia ser necessário fazer valer sua presença ali. Mas faltavam palavras. Preferiu agir. Pegou a calça em um dos bancos e a vestiu. Ela moveu a cabeça olhando-o. Parecia espantada, mas não poderia precisar pela maldita escuridão em que estava metido. "Olha, eu...", tentou continuar. Pensou em chorar. A garganta secou e sentiu acumular gosminhas brancas nos cantos da boca, como quando ficava com muita sede e passava muito tempo sem tomar água. Queria água. Mas no sentido figurado.
Calçou os sapatos. Vestiu a camiseta. Ela não se mexeu, nua da cintura pra cima. Amarrou os cabelos e o segurou pelo braço. "Eu te amo", disse. E abaixou a cabeça. Se tivesse um machado naquele momento, a executaria, oferecendo a cabeça para algum deus pagão. Mas limitou-se a beijar os cabelos desgrenhados e suspirar.
"Vamo nessa".
Estala um dedo. Suspira por dentro. Pensa em alguma música que lembre a situação. Quer ligar o rádio, mas a bateria está fraca e depois terá que fazer o carro pegar no tranco para sair do drive-in. "Injeção eletrônica nova, nem pensar", permite-se. Volta para o banco traseiro. A boca ensaiando alguma contrapartida evasiva, uma palavra que seja apenas para restabelecer a ordem naquele que já foi um universo tão perfeitamente equilibrado quanto a prova de matemática da Vanessa, a garota que sentava na sua frente na quarta-série e não gostava de pentear os cabelos. "Devia ser filha de hippies, só pode", foge. Mas que era boa em cálculos, ah isso era.
Ela ainda estava imóvel. Olha para o teto. Vira-se para o outro lado. Ele apoia-se sobre um cotovelo e faz menção de beijá-la. "Belo subterfúgio", arrisca. Mas hesita. Olha para o relógio do painel e conta exato um minuto desde o impacto do iceberg em seu Titanic. Iceberg. O estômago agora estava gelado. Pensava numa boa dose de vodca. Odiava vodca. Na verdade, odiava todo tipo de bebida alcoólica. Bebia pelo social. Lembrou dos tempos de faculdade. "Tomara que estejam todos fodidos agora", amargou, enumerando os colegas que passavam as noites quentes no boteco, enquanto ele procurava a razão de existir socado dentro da biblioteca.
"Olha...", ela deixa escapar. Era como o engatilhar do trabuco. O polegar apertou firme o cão e puxou-o para trás, preparando o golpe fatal. O impacto seria rápido e seco. Fechou os olhos e ouviu os gemidos quentes vindos do box ao lado. Palavrões. Obscenidades. Súplicas de submissão. Palavras de ordem. Tudo era claro pela fina parede de concreto pré-moldado que separava os amantes.
Adorava sacanagem. Uma sinapse o transportou para o primeiro filme erótico de sua vida. "As Idades de Lulu". Não era como as besteiras adolescentes que o faria se consumir tempos depois nas madrugadas de sexta-feira e sábado na TV aberta. Era bonito. A tal da Lulu era bonita. Era na verdade um drama erótico, como toda situação erótica parece ser. Uma mistura de lágrimas e lubrificação vaginal, que mais tarde desbanca para a pura e simples putaria, orgia deslavada, como a que acontecia com seus vizinhos de coito.
O relógio do painel apontava quase dois minutos desde o início do naufrágio. Sentia ser necessário fazer valer sua presença ali. Mas faltavam palavras. Preferiu agir. Pegou a calça em um dos bancos e a vestiu. Ela moveu a cabeça olhando-o. Parecia espantada, mas não poderia precisar pela maldita escuridão em que estava metido. "Olha, eu...", tentou continuar. Pensou em chorar. A garganta secou e sentiu acumular gosminhas brancas nos cantos da boca, como quando ficava com muita sede e passava muito tempo sem tomar água. Queria água. Mas no sentido figurado.
Calçou os sapatos. Vestiu a camiseta. Ela não se mexeu, nua da cintura pra cima. Amarrou os cabelos e o segurou pelo braço. "Eu te amo", disse. E abaixou a cabeça. Se tivesse um machado naquele momento, a executaria, oferecendo a cabeça para algum deus pagão. Mas limitou-se a beijar os cabelos desgrenhados e suspirar.
"Vamo nessa".
segunda-feira, setembro 12, 2005
Todos estão loucos
Sexta-feira é dia de "pescoço" no jornal. Para quem é apenas leitor, e não "fazedor" de, o termo é utilizado para nomear o arranca-toco de fechar duas edições em um só dia. No caso, as edições de sábado e domingo. Tudo na sexta-feira. Logo, neste fatídico e aguardado dia, tudo o que puder ser feito para torná-lo menos agonizante é bem vindo.
Por isso, eu e uma amiga, que também é editora no jornal, decidimos que toda sexta-feira, antes do trabalho, fariamos uma coisa que adoramos: tomar capuccino de avelã na Nobel, megastore de livros que fica num shopping aqui da cidade.
Claro que a coisa não fica só no café com chocolate. Passamos um bom tempo vasculhando as prateleiras de livros, CDs e DVDs em busca de um destino para nosso "faz-me-rir". E foi aí que concluí algo que jamais poderia conceber: NINGUÉM da loja sabe ABSOLUTAMENTE NADA de livros.
Sacaram?
Uma livraria cujos funcionários não manjam NIENTE de livros!
Então o que explica "A Origem das Espécies", do Darwin, estar na prateleira de "Agropecuária"?
"Ah, tem um cágado na capa. É livro de bicho, oras", deve ter pensado o repositor.
Ou "O Poder do Mito", do Campbell, dividir a seção de "Esoterismo" com "Anjos Cabalísticos", da Mônica Buonfiglio?
"Mito não é uma coisa que não existe? Então. É igual anjo, cabala e Paulo Coelho", raciocinara o brilhante repositor.
Pior (ou melhor) ainda. "Fritz, The Cat", do Crumb, sendo vendido na ala de "Infantis"!!!
"História em quadrinho é coisa de criança. Põe lá também esse ´A Última Noite de Casanova´", ordena o mesmo sujeito.
Sem esquecer de "Matrix - Bem-Vindo ao Deserto do Real" acomodado na estante de "Informática".
"Hum... pela capa, deve ser alguma coisa de computador. Já sabe onde colocar, né?", indaga o senhor de todos os ISBNs.
Mas aí eu não aguentei quando vi "Windows on the World", romance de Beigbeder que tem como pano de fundo os atentados do 11 de setembro, confortavelmente classificado como "Informática". Chamei um dos atendentes. "Meu filho, esse livro é um romance, não tem nada a ver com informática. Tá na prateleira errada". O rapaz: "Ah, é? Bom, vou avisar para trocar então". "Faça isso, porque isso confunde os compradores e...", tentei continuar, mas ele já estava de volta ao balcão prosseguindo a animada conversa que havia interrompido com outra antendente.
Desisto.
Por isso, eu e uma amiga, que também é editora no jornal, decidimos que toda sexta-feira, antes do trabalho, fariamos uma coisa que adoramos: tomar capuccino de avelã na Nobel, megastore de livros que fica num shopping aqui da cidade.
Claro que a coisa não fica só no café com chocolate. Passamos um bom tempo vasculhando as prateleiras de livros, CDs e DVDs em busca de um destino para nosso "faz-me-rir". E foi aí que concluí algo que jamais poderia conceber: NINGUÉM da loja sabe ABSOLUTAMENTE NADA de livros.
Sacaram?
Uma livraria cujos funcionários não manjam NIENTE de livros!
Então o que explica "A Origem das Espécies", do Darwin, estar na prateleira de "Agropecuária"?
"Ah, tem um cágado na capa. É livro de bicho, oras", deve ter pensado o repositor.
Ou "O Poder do Mito", do Campbell, dividir a seção de "Esoterismo" com "Anjos Cabalísticos", da Mônica Buonfiglio?
"Mito não é uma coisa que não existe? Então. É igual anjo, cabala e Paulo Coelho", raciocinara o brilhante repositor.
Pior (ou melhor) ainda. "Fritz, The Cat", do Crumb, sendo vendido na ala de "Infantis"!!!
"História em quadrinho é coisa de criança. Põe lá também esse ´A Última Noite de Casanova´", ordena o mesmo sujeito.
Sem esquecer de "Matrix - Bem-Vindo ao Deserto do Real" acomodado na estante de "Informática".
"Hum... pela capa, deve ser alguma coisa de computador. Já sabe onde colocar, né?", indaga o senhor de todos os ISBNs.
Mas aí eu não aguentei quando vi "Windows on the World", romance de Beigbeder que tem como pano de fundo os atentados do 11 de setembro, confortavelmente classificado como "Informática". Chamei um dos atendentes. "Meu filho, esse livro é um romance, não tem nada a ver com informática. Tá na prateleira errada". O rapaz: "Ah, é? Bom, vou avisar para trocar então". "Faça isso, porque isso confunde os compradores e...", tentei continuar, mas ele já estava de volta ao balcão prosseguindo a animada conversa que havia interrompido com outra antendente.
Desisto.
quarta-feira, setembro 07, 2005
De ex para ex
Então ela me mandou uma carta. A primeira coisa que notei foi um tremendo "FILHO DA PUTA", desse jeito, em caixa-alta, no primeiro parágrafo. Ela é uma ex-namorada, cujo relacionamento terminou a coisa de dois meses. Entretanto, só agora resolveu desabafar e lavar a roupa suja. E precisou de 10kb de texto para isso.
Ok. Tudo bem. Estou acostumado a ouvir impropério de ex-namorada. Entre os amigos, brincávamos que existia o "Clube das Odiadoras do Brigatti", composto por garotas com as quais já tive algum tipo de envolvimento amoroso. Sempre achei graça nisso, apesar de, inegavelmente, me incomodar. Só que depois dessa carta, a coisa perdeu a graça. E por que?
Porque doeu. A epístola - muito bem escrita, por sinal - me deixou exatas duas noites sem dormir. A primeira, me sentindo culpado, o pior ser humano da Terra, indigno de sequer caminhar entre os demais. Essa era, lógico, a intenção da carta. A segunda noite, espumei de ódio pelo quarto como um cão preso dentro de um canil.
Nela, a ex-namorada é a vítima, que sofreu horrores nas mãos do crápula aqui, sujeito incapaz de amar ou que - questiona ela - sequer amou ou sabe o que isso significa. Se coloca como mais uma das minhas conquistas, iludida que com ela seria diferente. Diz ainda que eu não me coloco no lugar das pessoas que faço sofrer e que tenho uma vontade incontrolável de traçar todas que aparecem pelo meu caminho sem me importar com as conseqüências. Óbvio, final, sou um inconseqüente, imaturo, que busco algo que nem mesmo sei o que é e que, por isso, nunca encontrarei.
Como disse, à primeira vista o relato causou o efeito desejado. Pensei até em imprimir várias cópias e, sempre que uma garota se aproximasse de mim, daria uma para ela dizendo: "olha no que você tá se metendo, hein? Melhor cair fora agora".
Mas pensei um pouco. Ok, um pouco mais.
E conclui o seguinte:
FODA-SE
E resolvi encerrar, de uma vez por todas, essa história de que eu sempre sou o culpado por uma relação não dar certo e todas as minhas ex-namoradas terem razão me me odiar. Então...
FODA-SE QUEM NÃO GOSTA DE MIM.
Porque todas eram maiores de idade e sabiam o que estavam fazendo. O fato de ser sempre eu o carrasco que dá fim a coisa não pressupõe ser eu o culpado. Mas, como já disse uma vez, alguém precisa sujar as mãos. Claro que esse alguém sou eu. Então saio como vilão da história, como o cara sem coração que deixou a pobre e indefesa donzela jogada ao relento.
Porra, eu também já fui deixado, rejeitado, chifrado, sacaneado e iludido. E daí? Por acaso sai espalhando que odiava a pessoa, queimando a orelha dela de tanto falar mal ou escrevendo 10kb de rancor e mágoa? Não. Aceitei, engoli e segui em frente, como se deve fazer. Claro que não é fácil, mas sabia da minha parcela de culpa. Não jogava tudo nas costas do outro. Émuito cômodo encontrar um culpado, ainda mais quando se está por baixo e todo mundo sente pena.
O fato de eu não conseguir ficar nem seis meses com alguém pode me colocar no barco dos insatisfeitos, mas não no dos idiotas. Porque sei muito bem o que quero numa mulher, ao contrário do que a platéia pensa. E se ainda não encontrei, não foi por falta de tentativa. Se nessas tentativas quebrei corações e fiz algumas lágrimas verterem, lamento profundamente. Só conheço essa maneira de encontrar o que quero. Não conheço jeito de achar a parceira ideal sem ser experimentando.
Se iludi, enganei e menti? Às vezes. O problema é que apenas a parte podre bóia depois que esse tipo de barco afunda. Como um goleiro que fecha o gol o jogo inteiro e só é lembrado nas mesas redondas quando toma um frango.
Os mundos e fundos que prometi foram sinceros. Sempre acreditei, em todos os meus relacionamentos, que a coisa seria eterna. Pode parecer ridículo, mas não sei gostar pela metade. Não me envolvo apenas com os olhos. Ou entro com os dois pés, ou fico do lado de fora.
Mas porque apenas eu sou taxado como o grande monstro insensível? Simples. Porque eu tento. Porque não fico parado esperando aparecer uma mulher com um letreiro piscante na testa dizendo "Par perfeito". Coisa que, por sinal, não existe.
Não quero - longe disso - piedade ou comiseração. Nem me acho injustiçado e passo longe do rótulo de coitadinho. Nunca fui e nunca vou ser, porque assumo minhas besteiras e faço questão da minha parcela de culpa. Se a vida é feita de relacionamentos, então estou só começando. E foda-se quem não gostar de mim.
Ok. Tudo bem. Estou acostumado a ouvir impropério de ex-namorada. Entre os amigos, brincávamos que existia o "Clube das Odiadoras do Brigatti", composto por garotas com as quais já tive algum tipo de envolvimento amoroso. Sempre achei graça nisso, apesar de, inegavelmente, me incomodar. Só que depois dessa carta, a coisa perdeu a graça. E por que?
Porque doeu. A epístola - muito bem escrita, por sinal - me deixou exatas duas noites sem dormir. A primeira, me sentindo culpado, o pior ser humano da Terra, indigno de sequer caminhar entre os demais. Essa era, lógico, a intenção da carta. A segunda noite, espumei de ódio pelo quarto como um cão preso dentro de um canil.
Nela, a ex-namorada é a vítima, que sofreu horrores nas mãos do crápula aqui, sujeito incapaz de amar ou que - questiona ela - sequer amou ou sabe o que isso significa. Se coloca como mais uma das minhas conquistas, iludida que com ela seria diferente. Diz ainda que eu não me coloco no lugar das pessoas que faço sofrer e que tenho uma vontade incontrolável de traçar todas que aparecem pelo meu caminho sem me importar com as conseqüências. Óbvio, final, sou um inconseqüente, imaturo, que busco algo que nem mesmo sei o que é e que, por isso, nunca encontrarei.
Como disse, à primeira vista o relato causou o efeito desejado. Pensei até em imprimir várias cópias e, sempre que uma garota se aproximasse de mim, daria uma para ela dizendo: "olha no que você tá se metendo, hein? Melhor cair fora agora".
Mas pensei um pouco. Ok, um pouco mais.
E conclui o seguinte:
FODA-SE
E resolvi encerrar, de uma vez por todas, essa história de que eu sempre sou o culpado por uma relação não dar certo e todas as minhas ex-namoradas terem razão me me odiar. Então...
FODA-SE QUEM NÃO GOSTA DE MIM.
Porque todas eram maiores de idade e sabiam o que estavam fazendo. O fato de ser sempre eu o carrasco que dá fim a coisa não pressupõe ser eu o culpado. Mas, como já disse uma vez, alguém precisa sujar as mãos. Claro que esse alguém sou eu. Então saio como vilão da história, como o cara sem coração que deixou a pobre e indefesa donzela jogada ao relento.
Porra, eu também já fui deixado, rejeitado, chifrado, sacaneado e iludido. E daí? Por acaso sai espalhando que odiava a pessoa, queimando a orelha dela de tanto falar mal ou escrevendo 10kb de rancor e mágoa? Não. Aceitei, engoli e segui em frente, como se deve fazer. Claro que não é fácil, mas sabia da minha parcela de culpa. Não jogava tudo nas costas do outro. Émuito cômodo encontrar um culpado, ainda mais quando se está por baixo e todo mundo sente pena.
O fato de eu não conseguir ficar nem seis meses com alguém pode me colocar no barco dos insatisfeitos, mas não no dos idiotas. Porque sei muito bem o que quero numa mulher, ao contrário do que a platéia pensa. E se ainda não encontrei, não foi por falta de tentativa. Se nessas tentativas quebrei corações e fiz algumas lágrimas verterem, lamento profundamente. Só conheço essa maneira de encontrar o que quero. Não conheço jeito de achar a parceira ideal sem ser experimentando.
Se iludi, enganei e menti? Às vezes. O problema é que apenas a parte podre bóia depois que esse tipo de barco afunda. Como um goleiro que fecha o gol o jogo inteiro e só é lembrado nas mesas redondas quando toma um frango.
Os mundos e fundos que prometi foram sinceros. Sempre acreditei, em todos os meus relacionamentos, que a coisa seria eterna. Pode parecer ridículo, mas não sei gostar pela metade. Não me envolvo apenas com os olhos. Ou entro com os dois pés, ou fico do lado de fora.
Mas porque apenas eu sou taxado como o grande monstro insensível? Simples. Porque eu tento. Porque não fico parado esperando aparecer uma mulher com um letreiro piscante na testa dizendo "Par perfeito". Coisa que, por sinal, não existe.
Não quero - longe disso - piedade ou comiseração. Nem me acho injustiçado e passo longe do rótulo de coitadinho. Nunca fui e nunca vou ser, porque assumo minhas besteiras e faço questão da minha parcela de culpa. Se a vida é feita de relacionamentos, então estou só começando. E foda-se quem não gostar de mim.
segunda-feira, setembro 05, 2005
domingo, setembro 04, 2005
Casa
- Então, o que rola por aqui?
- É um bar de garota.
- E o que vocês fazem?
- Nóis é puta aqui. Os homem vem, paga drinqui, conversa e, se quisé, a gente faiz pograma com eles.
- E é caro?
- Deiz real o quarto, mais cinco e cinqüenta do drinqui e vinte real da garota.
- E tem bastante hoje?
- Garota? Tem essas minina aqui e mais umas quatro lá drento. Pára o carro aí do lado e entra, dá uma oiada, vê se gosta.
- E... de onde vocês são?
- Nóis é de Goiais.
- Humpf, claro...
- É um bar de garota.
- E o que vocês fazem?
- Nóis é puta aqui. Os homem vem, paga drinqui, conversa e, se quisé, a gente faiz pograma com eles.
- E é caro?
- Deiz real o quarto, mais cinco e cinqüenta do drinqui e vinte real da garota.
- E tem bastante hoje?
- Garota? Tem essas minina aqui e mais umas quatro lá drento. Pára o carro aí do lado e entra, dá uma oiada, vê se gosta.
- E... de onde vocês são?
- Nóis é de Goiais.
- Humpf, claro...
sábado, setembro 03, 2005
De quarentões e espumantes
A Simy, garota ishpérta do sul da nação, pergunta sobre o termo Tio Sukita, já amplamente explanado pela Carol. Então vou dar meus pitacos também, claro.
Sukita é, por definição, aquele refrigerante de laranja ruim pra caralho que, a exemplo de seus iguais, só é engolível com vódca vagabunda servida em festa de república estudantil.
Tio é, por definição, o irmão da mãe ou do pai.
Porém, a junção dos dois resultou no Tio Sukita, entidade que ganhou fama e notoriedade graças a propaganda do tal refrigerante. Nele, um sujeito de meia idade pensa estar "fazendo bonito" para uma garota que aparenta menos da metade de sua idade, quando na verdade ela sequer está interessada no seu pulover sobre os ombros, cabelos grisalhos ou camisa de gola pólo. Em todo episódio, ele acaba constrangido pela guria.
Se levarmos em consideração a questão da idade, todo homem, com no mínimo o dobro da idade de uma garota, pode colocar o crachá de Tio Sukita. Entretanto, a situação é mais gritante exatamente na faixa etária retratada pela propaganda, o que é fácil de entender.
O homem, ao chegar na hipotética metade de sua vida, vê-se na mesma situação que a mulher quando na primavera da mesma existência: podendo escolher. E atrai, evidentemente, a atenção - e tensão - das fêmeas mais novas, que vêem no sujeito alguém capaz de atender às suas expectativas e fantasias pós-adolescente.
Ele, claro, percebe que é o momento de aproveitar. E vingar-se. Vingar-se dos momentos em que, quando adolescente feio, desengonçado e inseguro, era preterido pelas garotas em detrimento de caras que agora ele é. E não pensa duas vezes em satisfazer sua raiva contida por anos de terapai, agora transformada em um fálico azougue (!) que estala em costas macias e imaturas de suas presas. E elas gostam. E gozam.
Mas não é o que ele quer. Ele nunca sabe o que quer. Como Tio Sukita que é, não amadureceu suficientemente para saber que nunca vai satisfazer o moleque existente embaixo da epiderme peluda que ostenta. Ou talvez saiba, mas prefere tocar adiante para ver até onde a brincadeira vai. Nisso, deixa um rastro de pequenos e jovens corações carcomidos por sua irresponsabilidade.
Um Tio Sukita é, por definição, um homem que se recusa a crescer. Mas ao contrário de Peter Pan, ele quer comer a Sininho.
Sukita é, por definição, aquele refrigerante de laranja ruim pra caralho que, a exemplo de seus iguais, só é engolível com vódca vagabunda servida em festa de república estudantil.
Tio é, por definição, o irmão da mãe ou do pai.
Porém, a junção dos dois resultou no Tio Sukita, entidade que ganhou fama e notoriedade graças a propaganda do tal refrigerante. Nele, um sujeito de meia idade pensa estar "fazendo bonito" para uma garota que aparenta menos da metade de sua idade, quando na verdade ela sequer está interessada no seu pulover sobre os ombros, cabelos grisalhos ou camisa de gola pólo. Em todo episódio, ele acaba constrangido pela guria.
Se levarmos em consideração a questão da idade, todo homem, com no mínimo o dobro da idade de uma garota, pode colocar o crachá de Tio Sukita. Entretanto, a situação é mais gritante exatamente na faixa etária retratada pela propaganda, o que é fácil de entender.
O homem, ao chegar na hipotética metade de sua vida, vê-se na mesma situação que a mulher quando na primavera da mesma existência: podendo escolher. E atrai, evidentemente, a atenção - e tensão - das fêmeas mais novas, que vêem no sujeito alguém capaz de atender às suas expectativas e fantasias pós-adolescente.
Ele, claro, percebe que é o momento de aproveitar. E vingar-se. Vingar-se dos momentos em que, quando adolescente feio, desengonçado e inseguro, era preterido pelas garotas em detrimento de caras que agora ele é. E não pensa duas vezes em satisfazer sua raiva contida por anos de terapai, agora transformada em um fálico azougue (!) que estala em costas macias e imaturas de suas presas. E elas gostam. E gozam.
Mas não é o que ele quer. Ele nunca sabe o que quer. Como Tio Sukita que é, não amadureceu suficientemente para saber que nunca vai satisfazer o moleque existente embaixo da epiderme peluda que ostenta. Ou talvez saiba, mas prefere tocar adiante para ver até onde a brincadeira vai. Nisso, deixa um rastro de pequenos e jovens corações carcomidos por sua irresponsabilidade.
Um Tio Sukita é, por definição, um homem que se recusa a crescer. Mas ao contrário de Peter Pan, ele quer comer a Sininho.
sexta-feira, setembro 02, 2005
Hierarquia
- Gustavo, você vai no show da Avril Lavigne.
- Ah, bicho, nem fudendo.
- E porque não?
- Putz, nem curto, né? Só vai dar pirralhada, vou me sentir o maior Tio Sukita no meio da gurizada. Não pode ser outro?
- Não. Você não é metido a entender de música? Então, agora vai lá. Assina sua credencial aqui.
- Putz, tu só me fode, hein? Alguém mais vai?
- A Tati.
- Ah, saquei, vou de babá da sua filha...
- Sim e não. Ela vai fazer a fotos e você me traz a reportagem.
- O que eu poderia falar de um show da Avril Lavigne? Deixa eu pensar... hum... ah... é... hum...
- Tá, tá, muito engraçado. Tudo bem que você não gosta, mas não esculacha. Faz direito lá, hein?
- Humpft, beleza. Vou preparar a chapinha pra ficar com o cabelo igual ao dela. Assim ninguém me reconhece...
- E não esquece da gravatinha. A Tati falou que ela usa uma gravatinha. De repente, até combina....
- Às onze da noite todo mundo incorpora o espírito do Costinha e vira humorista, né?
- É. Vai se engraçado.
- Só se for pra você.
- E precisa mais?
- ...
- Ah, bicho, nem fudendo.
- E porque não?
- Putz, nem curto, né? Só vai dar pirralhada, vou me sentir o maior Tio Sukita no meio da gurizada. Não pode ser outro?
- Não. Você não é metido a entender de música? Então, agora vai lá. Assina sua credencial aqui.
- Putz, tu só me fode, hein? Alguém mais vai?
- A Tati.
- Ah, saquei, vou de babá da sua filha...
- Sim e não. Ela vai fazer a fotos e você me traz a reportagem.
- O que eu poderia falar de um show da Avril Lavigne? Deixa eu pensar... hum... ah... é... hum...
- Tá, tá, muito engraçado. Tudo bem que você não gosta, mas não esculacha. Faz direito lá, hein?
- Humpft, beleza. Vou preparar a chapinha pra ficar com o cabelo igual ao dela. Assim ninguém me reconhece...
- E não esquece da gravatinha. A Tati falou que ela usa uma gravatinha. De repente, até combina....
- Às onze da noite todo mundo incorpora o espírito do Costinha e vira humorista, né?
- É. Vai se engraçado.
- Só se for pra você.
- E precisa mais?
- ...
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