I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quarta-feira, maio 23, 2007

Vestibular na catraca


    Você é estudante? E tem a famigerada carteirinha que comprova sua situação? Se sim, é certo que costuma fazer uso dela para pagar meia-entrada onde quer que vá. E, claro, você adora isso - e quem não gosta de economizar uns trocados para a pipoca e o refrigerante enquanto assiste a "Duro de Matar" ou "Rambo"? Pois é, mas a mamata está para acabar.

    Quem acompanha os cadernos de cultura deve saber que começou um movimento de empresas de entretenimento - especialmente salas de cinema - para endurecer a aprovação do benefício da meia-entrada. Segundo eles, há muito marmanjo picareta que forja carteirinha para aproveitar o desconto. Por isso, são obrigados a aumentar o preço dos bilhetes inteiros - o mesmo vale para shows, teatros, festas de peão, e congêneres.

    Os que se dizem prejudicados defendem regras mais rígidas para dar meia-entrada. Desde apresentar boleto pago da última mensalidade até um boletim cheio de 10 mostrando que o sujeito é sim, um bom aluno e não apenas um turista. Para mim, tudo isso não passa de maldade. Maldade e leviandade, intriga da oposição. Querem dificultar o acesso a cultura dos pobres estudantes, essa grande nação de famélicos por conhecimento. Perseguição, isso sim. Onde já se viu duvidar que uma pessoa seja de fato um esforçado e esfolado acadêmico? Porque se tem uma coisa eu ninguém gosta ou se orgulha é de estudar, vamos ser sinceros. Então qual o motivo de algum mentir que frequenta a escola, e mais, mandar falsificar uma carteirinha que comprova a situação? Custo a acreditar que seja apenas para espoliar a indústria do entretenimento e chancelar a Lei de Gerson.

    Penso, sim, que eles - se de fato existem - os falsificadores, querem é se sentir inclusos no meio estudantil. É gente que não teve oportunidade de freqüentar os bancos escolares e por isso, através da confecção de uma carteirinha falsa, pode pelo menos sentir o gostinho de se apresentar como estudante. E uma das únicas benesses de estudar é poder pagar menos para ter acesso a cultura, informação e conhecimento. Vai dizer que, além dos supracitados no primeiro parágrafo, filmes como "Homem-Aranha 3" não agregam valor? Ou "Harry Potter"? Ou "Todo Mundo em Pânico"? Tais obras são os que mais atratem estudantes, pode checar - todos sedentos por absorver cada gota dos diálogos inteligentes, do roteiro bem costurado e desafiador, da história original, do embate de idéias que se desenrola na tela, enfim.

    Os estudantes - esse povo mal entendido e subestimado pelos donos do poder que regem as avassaladoras engrenagens do sistema - querem e merecem ter acesso a alta cultura proporcionada por Hollywood. Suas vidas serão certamente mais vazias se forem impedidos de saborear esse manjar de altruísmo e bem-aventurança que são os blockbusters feitos em Los Angeles. Oh, sim, não há dúvida.

    Por isso, vida longa à carteirinha. Que cada vez mais gente tenha acesso a esse bem que, além de permitir o afortunamento cultural das massas que regerão nosso país no futuro, são também grandes instrumentos de inclusão social. Quanto ao dinheiro economizado, é certo que terá um destino tão nobre quando são as intenções dos conspícuos estudantes - sim, rejeito totalmente a idéia que gastarão seus suados e preciosos reais em atividades mundanas e nada enriquecedoras intelectuais. Porque são estudante, ora. E merecem todo nosso crédito, não?

Um comentário:

Nuvens de Palavras disse...

Olha, Gustavo, eu vou ter que discordar de você. A falsificação de carteirinha é muito grande e, vendo a cultura como mercadoria, é necessário ter mais rigor nesse sentido. Lógico que não concordo com avaliação de boletim para garantir meia-entrada ou com a desqualificação de estudante para quem faz ensino técnico, mas se tem gente que falsifica RG para entrar em balada, o que custa fazer uma carteirinha meia boca de alguma faculdadezinha por ai para pagar menos em cinema, teatro ou show? Ou libera de uma vez e faz um preço acessível para todos ou faz o negócio direito. É isso.