I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Uh, fudeu, Americana apareceu!


Nem em Punta del Este dá para se esconder. Tome tento para a combinação de camisa xadrez azul com blusa de flanela xadrez verde. Sabe como é, final de viagem, péssima programação de roupas, cuecas começando a serem usadas do avesso...

E este blog vai dar um tempo. Muda-se temporariamente para o blog da Revista de Verão. Tem meu encontro com o Dr. House de Punta del Diablo.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Medo e delírio no Uruguai


De hoje até domingo, esse branquinho aqui vai atrás de descobrir o que o Uruguai tem além de uma seleção de futebol que f**** com o Brasil na copa de 50 e uma filial de Miami chamada Punta del Este. Que Raoul Duke esteja comigo!
Mazááááááááááá... (piada interna)

terça-feira, dezembro 18, 2007

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Ondotô?


    Esses gauleses são mesmo uns loucos. Além de permitirem um romano compartilhar o mesmo espaço, ainda lhe dão pena e papel. No primeiro post, breve introdução. A partir daí, é fogo morro acima, água morro abaixo.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Index

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Canção-tema para noite chuvosa em PoA


    Solidão amiga do peito
    Me dê tudo que eu tenha por direito
    Me diga, me ensina

    Ao dormir não sinto medo
    Há um sol, existe vida
    Me trate com jeito

    Eu tenho saída
    Eu quero calor e o mundo é frio
    Minha vaidade não enxerga o paraíso
    Eu preciso de alguém pra fugir,sem avisar ninguém

    Não vou olhar pra trás
    A saudade está morta
    E já não me importa

    Está longe demais
    Longe demais de tudo
    Eu estou longe demais
    Longe demais de tudo

    Eu estou longe demais
    Tão perto de mim
    Tão longe de tudo

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Na toca o ogro / Minha primeira Neosaldina em POA



    "Let's get it started
    let's get it started in here"

    Let's Get It Started - Black Eyed Peas

    O convite veio com o seguinte aviso:

    "O boteco é 'fechado', então batam na porta - vão olhar estranho, digam que vão tomar uma ceva com o tiago casagrande e fica beleza. pra quem não conhece, é uma adega de cerveja, self-service - e só $ ou cheque :D "

    Então vamos elencar o que eu NÃO SABIA até aquele momento:

    - O que diabos é um boteco "fechado", que só te deixam entrar se você tiver uma senha?

    - Quem é Tiago Casagrande? E por que ele era a tal senha?

    - Que porra é uma adega de cerveja self-service? Bandejão vá lá, mas adega?

    - Não aceita Visa nem Mastercard?

    Aquilo não estava certo. Tinha conhecido o tal Tiago Casagrande através do Bia - o mesmo que me apresentou o conhaque Macieira (e um posterior vício), ao Vic Chesnutt e uma ou outra cosita ilegal. Quer dizer, bela referência, não? Mas Tiago Casagrande na verdade era o alter-ego de Tiagón, ou El Rey, como é conhecido em Petrópolis - não a cidade carioca que fabrica a cerveja estranha que o Bia aprendeu a gostar por motivo de força maior, mas o bairro porto alegrense onde coisas estranhas acontecem com cervejas. Tiagón também é dono do Verbeat, um desses condomínios de luxo para intelectuais da terceira idade - ops, melhor idade, desculpem o politicamente incorreto.

    Mas eu iria. Claro que iria. Para onde mais eu poderia ir? Sete horas em ponto Tiagón estava lá, enquanto eu chamava um taxi - agora só ando de táxi, igual a vocês-sabem-quem-porra! Entro no carro e o motorista: "Para onde vamos?". Eu: "Rua João Abótti esquina com Carazinho". Ele: "Ah, João Ábott com Carazinho. Tu é paulista, é?". Era só a primeira da noite que mal começava. E ao contrádio do que dizia o Gessinger, o anoitecer em Porto Alegre é mineiro. Hum, essa ficou boa.

    Eu vou de preto. Eu só visto preto. Porque não sou moleque nem convencional, oras. E calço coturnos recém-engraxados. E algumas notas cor-de-rosa na carteira. A carteira também é preta. "Verde, amarelo, vermelho, espelho retrovisor...", tô mentindo, Berto? Mas o bar é azul. Não tem placas, não tem luminosos, sequer um neónzinho indicativo. Na verdade, só falta uma placa dizendo "Cuidado, cão anti-social". Bato na porta e percebo que não falta nada. A rótula abre e um sujeito parrudo, careca, de olhos vidrados e bochechas inexpressivas, surge. Sou automaticamente transportado para uma das inúmeras partidas de Dangeons & Dragons de minha adolescência, onde toda história sempre envolvia uma taverna - ou taberna - e um ogro. Quer dizer, eu era o Hank e estava pronto para envergar meu arco de luz, dar fim àquela criatura e conseguir algum XP quando optei pela diplomacia. "Oi... hã... vim tomar uma... tomar uma com o... hã... Tiago Casagrande".

    Ele não pisca. Fecha a portinhola de vidro, abre a porta maior e faz sinal para eu entrar. Guardo meu arco e piso com minhas botas bucaneiras de cortiça. "Pode entrar, eu te encaminho", indica, solícito, o ogro branco de grandes olhos esmeralda. Sigo por um corredor tortuoso até uma sala com dois ambientes. O teto coberto de capas de discos de vinil. Duas mesas ocupadas. Numa delas, um grupo de louras semi-nuas e desbocadas, entornando lascivamente long necks de cerveja uruguaia, besuntava uma a outra com óleo de bronzear. Uma delas usava uma tiara dourada, botas brancas, tomara-que-caia dourado e acariciava um cavalo alado. Na outra mesa, dois sujeitos com cara de publicitários fodidos e mal pagos empilhavam garrafas de vários rótulos.

    "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas faça o tal Tiagón ser uma daquelas gatas, e eu serei salvo", rezei, entredentes. O ogro me encara, percebe que não faço idéia de quem vim procurar. Ele fareja uma mentira e está pronto para me bicudar para fora da taverna - ou taberna - quando o próprio El Rey se apresenta. Claro que não era uma garota. "Ei, eu esperava um careca!", é a primeira coisa que ele diz. Rebato com uma piadinha sobre ter esterco na cabeça e tal. Na mesa está o inacreditável Alexandre Alaniz - AA para os integrantes do seu grupo de apoio homônimo - e a bela... a bela... ah... ah, sim, Márcia Prado. Segundo a lenda, Márcia é a feliz proprietária de um grupo de amigas mais seletas que a laranja da feijoada do Chico. AA que o diga. Eu não vou dizer nada a esse respeito por amor aos meu bagos, entendam.

    Feitas as devidas apresentações, precisava de um copo, porque ao contrário das garotas da mesa ao lado, não estava, assim, digamos, tão inspirado a dar beijo de língua em garrafa. "Pega lá", chapiscou Tiagón. "Lá na cristaleira da entrada. Vai lá e pega um copo". Então entendi o significado de uma adega de cerveja self-service. Fui lá e saquei uma tulipa profissional pintada com um rótulo de Itaipava - eu acho... Daí por diante o que se seguiu foi basicamente um toma-lá-da-cá de impropérios, vitupérios, causos ternos, tiradas ácidas, palavrões, gargalhadas homéricas e galhofas pândegas das mais diversas embalando o eterno clássico paulistas X gaúchos.

    Isso até às 22h. Porque às dez EM PONTO a taberna - ou taverna - fecha. O ogro proprietário toca os incautos. "Vou fechar. Saideira", anuncia. Ninguém é louco de questionar. Tiagón ainda tenta passar uma lábia no calvo. Mas ele está nos seus domínios. Saímos. Ainda com sede. Ah, sim, o boteco é imperdível. E só entra quem conhece alguém conhecido do proprietário. Mais um segredo revelado. Estariam as coisas entrando nos eixos? Ao longe, o Laçador observava, passivo, o cair da noite. Havia sede, era fato. E Tiagón e AA, para usar uma expressão típica de um capiau paulista, pareciam ligados no 220V. Dupla de ataque, linha de frente, vocal e guitarra, queijo com goiabada, Lennon e McCartney, complentando frases, trocando insultos, rememorando piadas internas, interrelacionando conspirações, a noite começava a girar e eu queria sair cavalgando a noite no cavalo alado daquela garota de botas brancas e tiara dourada.

    Ainda deu tempo de uma nova saideira no Show do Íche, agora acompanhados de sereno e contrastante casal. Hora de ir embora. AA me confidencia que gosta de videogame e tem um Play Station 2 em casa. Meus olhos marejam. Faço um talho no dedo e proponho um pacto. Meu taxi chega.

sábado, dezembro 01, 2007

As primeiras impressões


    Nada de muito novo por aqui, hã?

    Tentei mudar de endereço para fazer jus a minha nova situação, mas não seria totalmente verdade porque coração e pensamentos ainda estão no mesmo lugar - o que torna tudo bem difícil, acreditem. Pelo menos estou mais bem vestido agora, diz aí?

    Bom, primeiras vinte e quatro horas em um lugar dizem muito a respeito do que esperar dele pelas demais pernadas dos ponteiros. Então acho que posso engordar algumas boas expectativas.

    A começar pela chegada. Definitivamente não se pode viajar com uma embalagem de soro fisiológico sem lacre. Aprendi isso, claro, inundando o simpático compartimento de bagagem e tudo o que havia dentro dele. A tampa, pelo visto, era apenas ornamental.

    Devidamente seco e instalado, fui rodar pelo Parque Moinhos de Vento, o Parcão. Eu, crescido em bucólicas pracinhas de bairro, tenho certeza que ostentei o tempo todo aquela expressão de turista abestalhado. Como por enquanto é o que sou mesmo, fiquei dando voltas por ali para gravar nomes de ruas e pontos de referência - cacoete de jornalista de guerra, sabem como é.

    O Parcão é cortado pela Avenida Goethe, localidade perfeita, pelo que pude notar, para uma farra gastronômica insuspeitíssima. Mesinhas na calçada são coisas que me atraem e quase todos os botecos ali atendem a essa exigência. Parei na Padaria Central após ler uma lousinha que oferecia chivito com batatas fritas por R$ 7. Aí então fiquei menos - ou mais, não sei - turista. Chivito é basicamente um fast-food uruguaio. E o Uruguai é, literalmente, logo alí.

    Não sei se a parada foi mal preparada, mas não gostei. Lembrava qualquer gororoba gordurosa e melequenta que tem gosto de tudo e de nada ao mesmo tempo, feita e devorada as toneladas madrugada adentro. Mas as batatas estavam excelentes e desceram perfeitas com um Skol gelada. Eram 18h30 e nem sinal de anoitecer em Porto Alegre. Mesmo assim, me botei a caminhar. Paguei os R$ 7 do lanche e estupradores R$ 4 da cerva. Ainda estou para conferir se este é o preço padrão por aqui. Se for, recomendo desde já para os futuros visitantes trazerem caixinhas para esse exilado.

    De banho tomado e cabelo penteado, me inteirei no universo portoalegrense lendo o "Cavernas & Concubinas", a coletânea perdida de contos do Cardoso. Uma pena a parada ter se perdido por aí. Merecia mais. E eu mereço comer alguma coisa agora. De novo. Dá-lhe pernada, então.

    terça-feira, novembro 20, 2007

    Babando azul


      “I get by with a little help from my friends
      Gonna try with a little help from my friends”
      With a Little Help From My Friends – The Beatles

      Todo clichê que eu economizei no último post acabei usando na citação aí de cima. Mas é uma exceção que não podia abrir mão depois de comentários tão legais quanto os que apareceram. Pensei em agradecer na caixa de comentários mesmo, mas também houve os e-mails, então resolvi registrar aqui meu sorriso bobo de satisfação por ter amigos e conhecidos tão legais a ponto de encher um par de mãos.

      Gente que eu sempre esperei apoio, como a Núria, que mesmo antes de formada é maior que boa parte da imprensa da região; o Bia (vou parar de puxar o saco dele, chega...) e a Karen (a.k.a. Fresca), que fizeram delicioso bota-fora pra esse capiau no solar Biajoni no último sábado e desenterraram ainda a dupla João & Daniel, companheiros dos ótimos tempos do insuperável Tiro & Queda, junto com os não menos incríveis PC (parceiro de mandrakismo) e o Cris; o Gustavo N, velho parceiro de domingueiras e que, diz a lenda, está na Alemanha fazendo pós-graduação em alguma coisa ligada a tudo aquilo que ele aprendeu por aí; o Shiraga, uma das melhores figuras que conheci nos últimos meses, parceiro de boas horas; Sandra Pontes, maravilhosa blogueira e escritora que, apesar dos poucos encontros pessoais, está no meu rol de personas sempre gratas em qualquer lugar; o J.R. “Corvo Bêbado” Fidalgo, um pouco responsável, mesmo com poucas palavras, por toda essa reviravolta; a Viva, divina carioca que não deixa a peteca de ninguém cair; a Jussara, quase-companheira de jornada (ainda nos trombanos, garouta!) e para quem devo, de uma forma ou de outra, uma boa caixa de geladinhas; LuizaGO, sem palavras de tanta gratidão pelas palavras tão bem colocadas; o John Nunes, crítico de cinema e editor no Diário do Povo, um dos melhores papos sobre qualquer coisa que tive o prazer de conhecer; aos verbeats Milton Ribeiro e Tiagón, pelo fundamental respaldo a distância; fora gente que sempre apreciei, como o Marcelo, do Sopa no Exílio, blog que devorei com vontade durante meu período de nóia canadense. Claro, tem ainda a minha galera do TodoDia (todos, com as exceções óbvias), minha primeira casa, escola da vida sem igual, enfim - para o bem ou para mal, devo o que sou a ele.

      Humpft. Fico parecendo agradecimento de contracapa de CD.

      Jóia. Melhor que a encomenda. Agora chega.

    quarta-feira, novembro 14, 2007

    Go Speed, go!



      “Took my chances on a big jet plane,
      never let them tell you that they are all the same”
      “Going to California” – Led Zeppelin

      Tem coisas que são esquisitas, mesmo. Há coisa de um ano me meti a fazer pós-graduação em jornalismo literário. Estava lendo os Mailers, Capotes e Wolfes de sempre e pensei que poderia aplicar aquilo no meu espartano jornalismo diário. Saí do curso seis meses e um abraço coletivo depois. Tal qual a faculdade, não aproveitei nada dos mestres. Mas fiz amizades que parecem saídas de um enredo do David Lynch.

      A Bia e o Daniel são dois deles. Ela eu puxei pra redação do jornal onde trabalhava como editor de cultura. Babava azul em editar os textos delas, tão superiores aos da imensa maioria que já havia passado pelas minhas páginas. Ele... bom, ele me ensinou uma das lições mais preciosas. “Amigo dá trabalho”, dizia. E não poderia estar mais certo, de várias maneiras.

      Mas o curso acabou. A Bia ficou comigo no jornal. O Daniel foi pra Porto Alegre casar, ler e ser feliz. Péssimo amigo que sou, perdi contato com ele. A Bia, não. Meio sem querer, tentei comunicação com ele novamente, mas tinha certeza que nossas freqüências eram outras. Quase. Se não fosse, claro, pela Bia. Então, se querem culpar alguém nessa história toda, culpem a melhor repórter de cotidiano da região.

      Tempos depois, ele me responde. Diz que tem um babado forte pra mim lá pelos pampas. Em uma semana, vôo para POA e acerto um trampo na Zero Hora. Três meses de frila no suplemento especial de verão deles com possibilidade de estender o prazo. Há aqui um terceiro e crucial elemento, de coisa de 1,60m e grandes olhos azuis que fez toda a diferença, mas que prefiro manter nas entrelinhas. Ela tem minha eterna e mais profunda gratidão, porque me deu aquilo que sempre pedi: uma chance. “Amigo dá trabalho”, ensinou o Dani. De certa forma, olha só, foi o que eles me fizeram.

      Claro que os créditos não acabam aqui. To indo pra Porto Alegre. Mas definitivamente não vou citar Kleiton & Kledir. Prefiro dar crédito aqui para gente que só faz aumentar uma dívida há muito impagável. O Bia é um deles. Alcoviteiro como só, já me arrumou contato com o grande Tiagón – não esqueci das geladas, tchê! – e com o mestre Milton Ribeiro, para quem devo pedir uma grana emprestada. E farei no melhor estilo Capitão Nascimento: “bota na conta do Papa”. O papa é gaúcho, né não? Estamos em casa, oras.

      Esse blog vai passar por alguma reforma. Se ele espelha minha vida, nada mais justo. Daqui até sabe-se lá quando, ele fica em stand by.

      Bom, eu vou por ali. Tá afim?

    sexta-feira, novembro 02, 2007

    Momento Domenico De Masi



      "I can't get a life if my heart's not in it"
      The Importance of Being Idle - Oasis

      Bom, duas coisas sobre a mesma coisa. A primeira é essa.

      O Branco tem um dos textos (e caras) mais legais que já li (conheci). Mas um deles (texto, não o Branco) me soa especial e está na coletânea "Os melhores (e também alguns dos piores) textos de Branco Leone". "Sobre escrever" é o prosaico título do rápido diálogo que ele travou com um garoto de e em Curitiba. Na ocasião, BL autografava um de seus livros quando foi interpelado pelo rapaz, que se dizia escritor - pior, poeta - e vocalista de uma banda de punk-rock. A diferença é que o moleque, ao contrário de 99% dos escritores não queria ser publicado. Sequer lido. Quiçá reconhecido. "Eu escrevo, xeroco e grudo dentro dos orelhão", sentenciou. BL conta, em outras palavras, ter perdido a chave da bunda de sua veia literária. Depois disso, nunca mais foi o mesmo. "Um cara que escreve. E só", define BL.

      A segunda é essa.

      O Corvo Bêbado nega o título de jornalista e isso já é motivo para gostar dele. Ao que tudo indica, escreve - e parece viver - como um Henry Miller do baixo trópico. Acabei esta semana de ler o que, em breve, será um dos livros mais interessantes a sair dessa blogosfera atulhada de gente chata, pedante e feia e ganhar o papel. "O Ano da Lagartixa" é uma ego trip existencial de primeira e merecer ser lida. Mas o Corvo me acertou mesmo foi em uma troca de e-mails, quando contou porque havia largado mão de, hã, jornalismo cultural. "Escrevia sobre música, o que acabava me tirando o prazer de simplesmente ouvir música. Então parei de escrever e fiquei com o meu prazer".

      É isso. A maioria das pessoas tem um prazer despudorado, um tesão sincero e justo, uma disposição natural, e até um desprendimento singular em fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Pode ser escrever, ouvir (ou fazer) música, assistir a filmes, e até ser legal - eu não vejo nada mais complicado do que ser legal, e tem gente que é legal sem qualquer esforço. O problema é quando se resolve faturar - não apenas financeiramente - com e sobre esse talento, dom, dádiva, ou o que quer que seja.

      Não há nada de errado em ganhar dinheiro ou ser reconhecido por algum feito, seja ele resultado de um segundo de inspiração ou uma vida de muita transpiração. O caldo entorna quando se faz disso seu ganha pão. E a maioria das pessoas mais talentosas que conheço - ou não - faz isso. Não se contentam em ser expoentes no que naturalmente são boas. Querem ter um séqüito de puxa-sacos, uma coleção de invejosos, a conta bancária recheada e deixar um legado. Começam a perder-se em devaneios egocêntricos e sepultam a espontaneidade que os fazia de fato especiais.

      É o caso do sujeito que aprende a tocar violão aos 8 anos, de brincadeira. Aos 18 descobre que de fato é bom naquilo e, aconselhado pelos amigos, começa a tocar em barzinhos, ganhando uns trocados. Ele é original, procura aprender composições novas, arranjos diferentes, cria suas próprias melodias, mistura ritmos, pesquisa influências, enfim. Até o dia que o dono do boteco propõe a ele que toque toda semana. Ele gosta, é um reconhecimento de certa forma. Só que o que era prazer virou obrigação. Mesmo quando ele acorda com o saco na lua, precisa ir lá e entreter a platéia. Firmou um contrato, não pode, como antes, simplesmente ficar em casa. Além de tudo fez dívidas e agora não pode prescindir da grana. Resolve, então, usar "muletas" para quando não está a fim de se empenhar. Aí ele joga pra platéia, toca as baboseiras que a maioria do público quer ouvir e boa. E como os dias de saco na lua são cada vez mais freqüentes, seu repertório vai empobrecendo. E sua vontade de buscar coisas novas, assim como o tesão em tocar, se esvai. Ele não é mais um músico. É um cantor profissional de barzinho, burocrático, previsível e, acima de tudo, chato.

      Não tem jeito. Acontece com a maioria das pessoas que são boas no que fazem e acabam perdendo a mão quando resolvem ganhar alguma coisa com isso. Pouquíssimos passam ilesos. O que me leva a concluir que, sim, precisamos fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro, mas não com aquilo que nos dá prazer, que ilumina e torna nossa existência menos maçante. Porque inevitavelmente a rotina e a obrigação vão acabar destruindo isso e o resultado disso Kurt Cobain sabe muito bem. Um sacrifício grande demais por tão pouco.

    sexta-feira, outubro 05, 2007

    Ti-ti-ti era uma novela, né não?


      A blogosfera é como um quarteirão de bairro de periferia. Cheio de comadres debruçadas sobre suas muretas espiando o desenrolar de qualquer coisa que dê pano pra manga. Pode ser a gata de uma vizinha que está prenha ("Também, com uma dona daquelas, não é de estranhar que viva grávida e não saiba quem é o pai..."), pode ser o novo pirralho que chegou de mudança ("Acredita que ele passa por mim e nem olha na minha cara? Mal criado, isso sim...") e pode ser um grupo de garotas que resolveram levantar uma lebre envolvendo nudez ("Santíssima trindade!").

      Eu, como não faço parte da comunidade - sou no máximo um andarilho, desses que vive andando pra cima e pra baixo carregando um caixote e com um vira-latas na cola - fico cada vez mais impressionado com a capacidade de mobilização dessa galera. Principalmente em temas dessa importância. O caso das blogueiras que foram convidadas - ou se convidaram, é difícil saber - para um papo com a Playboy foi magistralmente destrinchado aqui pelo Ian Black. Leiam, é um primor de síntese. Eu mesmo dei minha contribuição, maleporcamente, vejam só.

      O caso repercutiu como sói acontece nos aglomerados periféricos. Quase todos os moradores da quadra opinaram, deram suas versões, apontaram possíveis desfechos, revisaram os antecedentes, e calcularam a hipotenusa com base na soma dos quadrados dos catetos. De fazer inveja ao Hercule Poirot.

      Mas o que ninguém pensou ainda é que essas garoutas são, hum, blogueiras. Logo, tem um público, adivinhem só, majoritariamente blogueiro. Público esse que, quero acreditar, recorre a outros meios que não o de dirigir-se até uma banca e pagar para passar os olhos em meia dúzia de mancebas. Até porque, tirando milionários como o Galvão e o Bia, poucos tem poder aquisitivo real para contribuir com o coelhinho. Fora que aquele explanou brilhantemente, em duas linhas, o que levei um texto inteiro.

      Donde conclui-se que a Playboy só assina contrato com essas malucas se for mais maluca ainda! Pela lógica, não vão vender uma impressão sequer no que depender do ensaio delas, posto seus vizinhos serem, resumindo, adeptos de meios que em nada contribuirá para engordar o cofre dos Civita e, acima de tudo, uns duros! Porque se tivessem dinheiro não estariam blogando, e sim pescando em alto mar, comendo jujubinha e cercados de gente bonita, ora essa!

      É, o sonho acabou. Desculpem, é verdade. Melhor arrumarem outro tema, o que, convenhamos, não é tão difícil assim. Como só estou de passagem, vou me recolher a minha insignificância digital e preparar o iate e os arpões.

    sexta-feira, setembro 28, 2007

    Problemas - parte II



      Duvido que exista profissão mais paternalista que jornalismo. Talvez o funcionalismo público, essa praga entranhada historicamente nas nossas costas e que serve apenas para dar emprego a gente que, por mérito, nem mãe deveria ter. Mas isso é outro escalão e vou falar do que conheço. Sim, o jornalismo, pelo menos o praticado no interior, ainda funciona de maneira estranhamente burra. Ele premia as maçãs podres enquanto pune aquelas que fazem as melhores saladas de frutas.



      Mas antes, um aparte: você sabe o que é um pescoço?


      Em jornalismo, pescoço - ou pescoção - é como chamamos o expediente de fechar duas edições num mesmo dia. Normalmente ele acontece de sexta-feira ou vésperas de feriados. Isso significa ficar revisando textos, escolhendo fotos, pensando em páginas e orientando diagramadores madrugada adentro. Enquanto todo mundo está na esbórnia, o editor de pescoço está - perdoem o trocadilho - até o pescoço de trabalho (para não usar um termo chulo). Eu sou editor de pescoço. E toda sexta-feira desço até o mais profundo dos infernos editando reportagens que muitas vezes são simplesmente inacreditáveis - no pior sentido do termo. E isso me faz pensar justamente na primeira frase deste texto. Jornalismo é a profissão mais paternalista do mundo.


      Não vou entrar no mérito da empresa, que deveria investir o necessário para me poupar da excursão semanal às profundezas da Terra. Se você é repórter - ou editor - deve fazer seu trabalho direito independente da estrutura que disponha. E ponto final. O problema é que, fazendo ou não seu trabalho direito, no final do mês está lá, na sua conta, alguns pares de digitos positivos. É aí que está a merda toda. É aí que reside o motivo do meu papo com o capeta toda sexta-feira.


      Não importa se o cara faz ou não um bom trabalho. Ele ganha do mesmo jeito. Tanto faz ele trazer uma manchete arrasadora ou um release meia-boca sobre a quermesse do bairro. O salário é o mesmo, o que é, no mínimo, desestimulante para quem pertence ao primeiro grupo. Não entendo o que faz alguém passar oito horas por dia dentro de uma redação para, no final, entregar textos chatos, mal apurados, com informações desencontradas ou cheios de erros de português. Fica em casa, pombas!


      E como sou editor, penso logo numa solução. E a única que encontro é pagar apenas por matéria publicada. Pura e simplesmente. Jornal algum vai deixar de publicar uma boa reportagem. Logo, quem faz seu trabalho direito nunca ficará sem dinheiro. Ao contrário de quem só produz bobagem, é desleixado, preguiçoso ou ruim de serviço. Os bons, ficam. Os ruins, vão procurar outra coisa pra fazer. Pura e simplesmente.


      E digo isso por conhecer muito bem os dois lados da moeda. Admito sem constrangimento que deveria ter ficado sem a cervejinha do final de semana em alguns momentos da minha curta vida profissional. Momentos que não me esforcei o suficiente para fazer um bom trabalho e empurrei com a barriga porque sabia que, lá na frente, haveria alguém para segurar minha bronca (um editor, vejam só, ironia das ironias) e veria meu salário intacto pingar na conta. Fácil, né? Chego, agora, a pensar que se tivessem cortado minha ração, eu talvez fosse um profissional melhor hoje.


      Trocando em miúdos, é preciso fazer jus ao pouco que ganham - que ainda é mais do que muitos merecem.

        terça-feira, setembro 25, 2007

        Nossos ídolos não são mais os mesmos


          E pensar que pagar peitinho já foi um escândalo...

          Meg White (ou não) mandando ver e Vanessa Hudgens se perfazendo.

          De repente, isso me faz pensar em algumas fotos que foram tiradas durante uma certa festa de fim de ano...

        segunda-feira, setembro 24, 2007

        Coleguinha falando de coleguinha



          Richard Dawkins resenhando o novo livro de Christopher Hitchens. No Mais! de ontem.

          Só para assinantes. Pobres assinantes...

        quarta-feira, setembro 19, 2007

        Partido Verde


        Alicia Silverstone’s Sexy Veggie PSA
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        terça-feira, setembro 18, 2007

        Engajamento

        Yes, nós queremos blogueiras peladas!

        Luiza Gomes do Eu Capricho! (atenção para com quem a revista vai falar de sexo)


        Dani Koetz do Ah! Tri Né! (sim, isso é uma montagem...)



        Marina Santa Helena do Chiqueiro Chique



        Manda um e-mail pros caras e peça pelo número! playboy.atleitor@abril.com.br

        segunda-feira, setembro 10, 2007

        sexta-feira, setembro 07, 2007

        In Lego We Trust

        Esqueça Sagan, Dawkins, Hitchens, o Galvão e até o Bia.

        Isso aqui, sim, é heresia da boa!


        Memória de quem fica


          Quando eu era pequeno, vivia escutando que “o brasileiro é um povo sem memória”. E passei a acreditar nisso quando desenvolvi uma capacidade imensa de simplesmente não lembrar de muita coisa que não deveria esquecer. Mas sempre me virei bem, escrevendo recados nas costas das mãos. O problema é quando certas lembranças (defuntos?) são revividas sem mais nem menos. E na música brasileira, isso tem acontecido com mais freqüência do que deveria.

          No final do mês passado, a atriz Patrícia Pillar produziu um show do cantor Waldick Soriano que deu origem a um CD e um DVD. Para o próximo ano, a mulher do Ciro Gomes promete um documentário sobre o sujeito. Agora pare e releia o trecho anterior e me responda: qual a importância disso? Quem, por Deus, dá a mínima para Waldick Soriano? O que ele fez de tão importante para ser resgatado do ostracismo para onde havia sido merecidamente mandado? Alguém sabe dizer, sem pesquisar no Google, alguma outra música dele além de “Eu Não Sou Cachorro Não”? Qual a sua importância para a música, de fato, além de entupir o cancioneiro popular com melodias pobres e rimas de gosto duvidoso?

          Ainda se WS fosse o único, vá lá. Mas de coisa de 10 anos pra cá essa onda de ressuscitar velhos bagaceiros da MPB brega tornou-se uma praga. O primeiro, se não me engano, foi Reginaldo Rossi e seu horrendo “Garçom”, que ganhou quilos de versões. Depois veio Odair José com “Pare de Tomar a Pílula”, seguido de Cauby Peixoto - com direito a um fracassado musical produzido por Diogo Vilela. Mais recentemente, Ronnie Von teve discos de sua fase “psicodélica” relançados e foi homenageado em um tributo de bandinha desconhecidas. Agora, Waldick Soriano. Não vai demorar muito para regurgitarem Wanderley Cardoso e Simonal.

          Esses movimentos de volta à vida sinceramente me chateiam. Primeiro, porque parece que nada do que é feito hoje presta, necessitando-se, então, de resgatar o que era feito antes. Porém, esse resgate normalmente é acompanhado de uma idolatria burra, um douramento inútil de uma pílula que nunca foi lá essas coisas. Essa turma caiu no esquecimento porque não tinha nenhum tipo de relevância, seja artística, seja comercial. Prova disso é que suas segundas vidas não duraram mais que uma temporada.

          Concordo que há muita porcaria sendo feita atualmente e muito pouco se aproveita, mas revirar a lata de lixo não resolve muito, concordam? Que tal olhar para frente e buscar novos caminhos? Esquecer de uma vez estes esqueletos e provar que o brasileiro, ao contrário do que ouvia, não sofre de falta de memória. Ele tem é memória seletiva. Como eu aprendi a ter.

            quinta-feira, setembro 06, 2007

            Toda a diferença


              É... O lance é mesmo tocar na novela das 8

              Grunfs!

            terça-feira, setembro 04, 2007

            Clichê


              "Celebridade" gostosa semi-nua com o corpo pintado na capa...





              ... e pensar que a Rolling Stone já foi sinônimo de ousadia.

              sábado, setembro 01, 2007

              Problemas







                Se eu tivesse que responder, num questionário qualquer, o que aprendi nestes cinco anos de jornalismo - cinco anos enfiado dentro de uma redação de jornal de interior - eu responderia como o Mr. Wolfe, personagem de Harvey Keitel em "Pulp Fiction", quando chega até a casa onde está um cadáver para ser desovado: eu resolvo problemas. É isso. Sou especialista em resolver problemas. Porque se tem uma coisa que sai pelo ladrão no tipo de lugar onde aprendi a trabalhar, é problema.

                Passo a maior parte do meu tempo resolvendo problemas. Meus e das outras pessoas. E acabei me convencendo que sou realmente bom nisso. Tanto que fui promovido a editor com meros 2 anos de casa e 1 e meio de formação. Entendam que, num jornal como o que trabalho, o trabalho de um editor é medido pela capacidade dele de resolver... problemas. Não porque é de fato excepcional na área onde vai atuar ou coisa do tipo. Isso ajuda, mas não é o principal. O que conta mesmo é sua habilidade em fatiar pepinos, descascar abacaxis, enfim.

                Talvez por isso, nunca vá trabalhar numa Folha de S. Paulo, por exemplo. Ou seja contratado pela Rolling Stone. Não tenho a inclinação (afetação?) necessária para ser o sujeito que precisam. Nunca fui para fora do País, meu inglês é macarrônico, não gasto mais do que 15 minutos do meu dia tentando descobrir a origem do som da última bandinha do norte da Escócia estampada na capa de algum grande caderno de cultura, não tenho um I-Pod e sou heterossexual por opção.

                Mas sou capaz de virar um jornal inteiro nas costas. Da portaria à entrega, nada me é estranho. Houve um tempo que via demérito e até com ingratidão essa estranha sina. Para o bem ou para o mau, me formei na escola da vida. E os professores que lecionam nela não costumam amaciar. Por isso, é natural o aluno, quando se forma, apresentar calosidades nos lugares mais insuspeitos. O resultado é este diálogo, que tive hoje com uma repórter.

                - Querida, vem cá. Vamos conversar. Você gosta de escrever?

                - Ah, gosto.

                - Então porque não aprende?

                - Ai, tava ruim a minha matéria?

                - Puta que pariu! Ruim? Tive que reescrever ela inteira! Na verdade, nem deveria publicar. Mas não sou louco de derrubar trinta centímetros de texto numa sexta-feira. Aí eu ia me fodê, né?

                - Mas o que tinha de tão errado?

                - Tudo, bicho! Apuração, contextualização, fontes... até conjugação de verbo tava errada! Ah, tenha dó, filha!

                - Ai, mas eu tinha 9 pautas hoje, não tinha como fazer melhor. E outra, não tem telefone pra todo mundo, eu precisei esperar meia hora pra poder ligar para o...

                - Ah, não, não vem com essa. O que o telefone tem a ver com a sua incapacidade de combinar sujeito e verbo?

                - É que tem muita coisa, e aí eu preciso escrever rápido, porque...

                - Filhona, acorda! Escrever rápido é item de série. Não é mérito algum. É obrigação, esqueceu que o jornal é diário? O problema não é tempo, é você. Tá no lugar errado. Vai ser assessora de órgão público, sei lá.

                - Tá bom, então. É o que você acha? Tá bom, então.

                E saiu chorando pelo corredor. Aí fiquei naquela sala ridiculamente gelada e iluminada pensando que se tivesse acertado um soco no nariz dela, doeria menos. Mas não tem como saber do que as pessoas são feitas até chegarmos bem perto e experimentarmos. E então acabo me comportando como um tubarão branco, que morde para saber se aquela coisa boiando na superfície é um tronco ou uma foca. O problema é que depois da mordida, seja um tronco ou uma foca, sobra pouca coisa. Mas esse é só mais um problema...





                  quarta-feira, agosto 29, 2007

                  Assim, assim

                  Queria que a vida fosse uma canção pop perfeita. Britânica, de preferência. Mas o máximo que conseguiu foi uma passagem para o mais longe que pudesse chegar. E os lábios ressecados toda manhã durante o inverno lembravam das escolhas que não havia feito, dos caminhos partilhados por profunda e incerta necessidade de proteção e, principalmente, daquelas coisinhas que tanto a incomodavam toda vez que respirava um pouco mais forte. Sentia o amor que tanto cultivava por si espremer por entre os dedos dos pés, com se pisasse no lodaçal da própria inconstância. Sentia a vibração do vento passando pelas frestas das janelas daquela cidade tão desajeitada e abraçava o primeiro poste que encontrava pela rua, as canelas nuas e as unhas dos dedos das mãos roídas. Roídas de tristeza. Roídas de solidão. Roídas de prazeres secretos. Roídas de desejo de aprender a tocar violão só para mostrar que de fato qualquer um podia fazer poesia com meia-dúzia de fios de metal. Nunca antes atravessara o escasso matagal que separa o desejo da inconsciência, a razão de um pote de sorvete, o duvidoso do errado. Escolhia pela capa, pelo cheiro, pela cor dos cabelos, o corte do jeans e até de olhos fechados. Entre os cantos da boca, formara pequenas e duras cavidades de tanto sugar a vida logo onde nascia, e sentia o coração apertar nos primeiros goles da amarga bebida conhecida nos tantos cantos escuros que aprendera a reconhecer de sonhos e delírios nada significativos perante a grandeza e insuficiência daquilo ao redor. Os erros de ortografia nas cartas eram sinceros e propositais, feitos para mostrar o quanto não se importava, seu ego auto-inflável, sua arrogância pueril, a petulância típica dos que ainda apresentam o lombo liso de cordas e as orelhas furadas em mais de um lugar. Foi de encontro ao que sempre relutou, arrancou tudo o que podia com os dentes e assegurou-se que o tédio que cuspira para cima jamais cairia sobre seus olhos. Fez então um rabo-de-cavalo, correu e acenou para o primeiro ônibus que virou na esquina. Foi.

                    segunda-feira, agosto 27, 2007

                    O gato acabou de chegar ao telhado...





                      Sempre que Mick Jagger lança um disco solo surgem especulações sobre o fim dos Rolling
                      Stones. Interessante notar que, em todas as vezes, a coisa quase aconteceu de fato. Em 1983
                      o grupo lançou uma aberração chamada Undercover, que só seria superada pelo disco seguinte, Dirty Work (1986). No meio disso Jagger deixou os Stones de lado para gravar seu primeiro trabalho solitário, o marromeno She´s the Boss. O disco indicava o motivo do rompimento da dupla de ataque dos Stones: Mick queria se bandear para o pop mais radiofônico que começou a vingar na metade da década de 80, enquanto Keith se recusava a abrir mão de suas raízes bluseiras. Para piorar, o frontman dos Stones decide se dedicar mais ao seu projeto do que à turnê de Dirty Work.
                      Jagger então monta um time com as guitarras de Jeff Beck e Pete Townshend e produz sozinho a
                      bolacha que ficaria conhecida por uma capa de extremo mal gosto (incrível como ele é bom
                      nisso...) e pelos hits "Hard Woman" e "Just Another Night". Já Richards convocou o
                      ex-guitarrista dos Stones, Mick Taylor, e lançou Talk is Cheap. Recebido bem melhor do que o
                      trabalho de Jagger, o primeiro solo do guitarrista saiu em 1988 e traz um desfile de bons
                      riffs bluseiros e alguma carga de ressentimento (a faixa "You don´t Move Me", dizem, foi
                      feita para MJ).

                      Um ano antes de Talk is Cheap, Jagger lançaria o inclassifiável Primitive Cool, que marcaria
                      o início da parceria com o Eurythmic Dave Stewart. Cheio de faixas pop dançantes, foi
                      considerado a tentativa do cantor se firmar como estrela solo, deixando definitivamente os
                      Rolling Stones. Mas o fracasso de vendas e crítica fez o vocalista pensar seriamente em
                      voltar atrás e retomar a carreira com a banda, lançando em 1989 o regular Steel Wheels e
                      iniciando uma gigantesca turnê e uma conseqüente parada.

                      Nesse meio tempo Mick Jagger se aventura novamente sozinho e solta aquele que é até hoje
                      considerado seu melhor trabalho solo. Wandering Spirit (1993), produzido pelo midas Rick
                      Rubin, contava com a participação nas guitarras de Brendan O´Brien - que na época havia
                      mixado Get a Grip, do Aerosmith, e depois se firmaria como produtor queridinho do Pearl Jam
                      -, Flea, Lenny Kravitz e o velho amigo Billy Preston. A capa, de longe a melhor de seus
                      trabalhos solos, foi obra de Annie Leibovitz, responsável por boa parte das melhores capas
                      da Rolling Stone desde a década de 70. O disco recebeu boas críticas e vendeu relativamente
                      bem, ficando entre os 10 mais vendidos daquele ano. Keith também prepara um segundo trabalho solo, Main Offender (1992), aumentando os boatos sobre o derradeiro fim.

                      Mas ao contrário do que todos pensavem, a dupla decidiu centrar forças no próximo disco dos
                      Stones, Voodoo Lounge, e novamente sair em turnê - a primeira que passaria pelo Brasil. Em
                      1997 a banda lança Bridges to Babylon e, após outra extensa agenda de shows pelo mundo,
                      resolve parar por termpo indeterminado. Novamente os rumores de que o grupo definitivamente tomam corpo. Ron Wood lança três trabalhos solos, Live & Ecletic (2000), Not for Beginners (2002) e Always Wanted More (2003); Jagger solta Goddness in the Doorway (2001), ganha um Grammy pela trilha sonora de "Alfie" (2004) em parceria com Dave Stewart e faz um filho com Luciana Gimenez; até Charlie Watts toca sem os antigos companheiros em Watt´s at Scotts (2004).

                      Contra todos os indícios, a banda se reúne para uma turnê de aniversário de 40 anos e entra
                      em estúdio para gravar A Bigger Bang, 35º disco do grupo. A bolacha sai em 2005 seguida da
                      maior turnê que o grupo já fez. Mas do meio para o final, incluindo um megalomaníaco show
                      para 2,5 milhões de pessoas em Copacabana, o desgaste é evidente entre os integrantes, todos
                      beirando os 70 anos. Várias apresentações são canceladas por conta de problemas na garganta
                      de Mick Jagger, outras tantas adiadas após um traumatismo craniano sofrido por Richards
                      resultado de um tombo - fora as internações de Ron Wood para tratar do vício em álcool e a
                      saúde cada vez mais delicada de Watts, recém recuperado de um câncer.

                      Agora, Mick Jagger prepara uma coletânea dos seus trabalhos solos a ser lançada em outubro.
                      Além de conter material dos quatro discos individuais, traz ainda a faixa ganhadora do
                      Grammy, "Old Habits Die Hard", "Dancing in the Streets" (com David Bowie), e a inédita "Too
                      Many Cooks (Spoil the Soup)", produzida por John Lennon na década de 70. A notícia coincide
                      com novos indícios que a banda vai, de uma vez por todas, abandonar os palcos. E o que era
                      apenas um diz-que-diz tomou forma, com local e data para o último show - no caso, a
                      derradeira apresentação do giro mundial, em Londres, no último domingo.
                      Se antes o problema era o conflito de egos e a famosa "incompatibilidade musical", agora é o peso dos anos que se faz presente. E ao contrário da canção, o tempo não está mais ao lado deles.
                      .
                      .
                      .
                      Opa! - Ron Wood foi o primeiro Stone a desmentir os boatos, afirmando longa vida ao grupo. Certo...

                      domingo, agosto 26, 2007

                      Vida que vai


                        I look at you all see the love there that's sleeping
                        While my guitar gently weeps
                        I look at you all
                        Still my guitar gently weeps

                        Harrison

                      quinta-feira, agosto 23, 2007

                      O gato subiu no muro



                        Se isso aqui for sério... eu pelo menos já fiz minha comunhão.

                      Do the evolution


                        Pedido, entrega e instalação de linha telefônica - checado

                        Pedido, entrega e instalação de Speedy - checado

                        Gambiarra para puxar o ponto de telefone da sala para o quarto - checado

                        Intalação "faça-você-mesmo" de tudo isso num plug só - checado

                        Agora vai

                      terça-feira, agosto 14, 2007

                      Por mares nunca dantes surfados


                        O multi-homem Marcelo Costa publicou a resenha de "Fábrica de Animais" no Scream & Yell - para quem não conhece, um dos sites de cultura pop mais antigos e conceituados da rede.

                        Valeu, Marceleza!

                      sexta-feira, agosto 10, 2007

                      Os Últimos Dias de Virginia Berlim


                        Biajoni constrói uma personagem aparentemente nada suicida em "Virginia Berlim", inspirado nas próprias memórias e taras. Van Sant reconstrói uma personalidade claramente suicida em "Last Days", inspirado nas derradeiras horas de Kurt Cobain. Ambos são resultado de gestações difíceis, tidas como impossíveis pelas condições exigidas pelos seus criadores para a concepção. Além de Lou Reed, a solidão/isolamento compulsório os une.

                        São obras tristes, contemplativas, feitas para serem apreciadas na mais completa solitude. Nada de bacia de pipoca para “Last Days”. Nada de se esticar no colo da namorada para "Virginia Berlim". O Bia e o Gus querem você dentro do mundo que criam, seja no apartamento fumegante do primeiro, seja no gélido castelo do segundo. Neles, um contabilista sem nome e o rocker Blake (Michael Pitt) vão experimentar o que já foi cantado como Mal do Século por um certo legionário urbano, e suas vidas jamais serão as mesmas - e aí cada um que tire suas próprias conclusões.

                        Mesmo assumidamente solitários, nenhum deles quer ficar sozinho. Nenhum desejou de fato aquela situação. Foram, sim, impelidos a viver um tipo de isolamento diferente daquele quando obviamente podiam escolher. São misantropos de primeira hora, não querem aquilo pelo resto de suas vidas, viver perambulando numa edícula ou numa mata livre de contato humano.
                        Mas um corte profundo no pé obrigado o contabilistas em nome de "Virginia" a ficar trancado dentro de casa em pleno verão tropical. E sem poder se entorpecer de álcool por conta dos antibióticos que precisa tomar. As coisas pioram quando se envolve com Virginia, a garota sem-graça do escritório que passa a assombrar sua vida ordinária. Ela traz o embrulho no estômago, o suor frio, a ansiedade e, principalmente, a imprevisibilidade estranha a todo sujeito que mexe com planilhas de cálculos.

                        Blake está só. Ainda que os companheiros de banda dividam o mesmo espaço físico da propriedade enterrada no meio de uma floresta, ele não os considera. Sequer os enxerga, imerso numa paranóia auto-destrutiva, resultado possivelmente de excessos experimentados em um curto espaço de tempo e de uma história pregressa desconhecida. O final é previsível desde a primeira cena, desnecessário dizer.

                        Mas Blake não tem necessariamente um rosto. Van Sant o filme na maior parte do tempo de costas ou com os cabelos sobre a face, como se o retrato do artista fosse menos importante que o desenvolvimento de seu drama. Assim também é o contabilista do Bia, que não possui um nome, apenas a capacidade de narrar sua história de maneira direta e reta. Como uma confissão a um desconhecido.

                        "Virginia Berlim" e "Last Days" são melhores diluídos se você conhecer a história por trás de cada um. Um fã de Nirvana ou da filmografia de Gus Van Sant vai saborear de maneira mais completa o filme, da mesma forma que os mais chegados do Biajone vão encontrar muito dele ali. Inevitável em se tratando de obras autorais, introspectivas até o talo.

                        Além das circunstâncias misteriosas que morrem seus personagens - até um suicídio pode ser cercado de dúvidas, prova Van Sant - Lou Reed tem papel decisivo no desenrolar das tramas. Em "Virginia Berlim" é o momento em que Virginia de fato entra na vida do contabilista, que ouve "Berlin" após um telefonema dela. Em "Last Days", os amigos de Blake decidem deixa-lo de vez após uma audição de "Vênus in Furs". A partir daí o destino dos dois está decidido.

                        "Virginia Berlim" e "Last Days" acabaram de chegar. Estão aí para serem degustados como dois pratos raros que não fazem distinção de paladar. Mas que exigem um pouco de entrega de seus voyers. Porque voyerismo é talvez o que melhor descreve o ato de apreciar as duas obras. Como Alex Castro bem define no prefácio, "não parece um livro, mas sim um pedaço de vida que nos foi permitido espiar". Perfeito. E vale para os dois.

                      segunda-feira, agosto 06, 2007

                      Memórias do Cárcere



                        Na Inglaterra do século XIX Oscar Wilde dizia que a melhor literatura é aquela feita por quem não depende dela para viver. Do outro lado do mundo, nos EUA pós-depressão, Charles Bukowski escrevia para não morrer diante do quadro de fracasso social, financeiro e sentimental que estava inserido. E na explosão do Flower Power, enquanto hippies norte-americanos se congratulavam com roqueiros ingleses, Edward Bunker datilografava a fúria angustiante e mortal das prisões de segurança máxima que aprendeu a chamar de lar desde o final da adolescência. "Fábrica de Animais", segundo romance do escritor e obra que finaliza o pacote de lançamentos promovido pela Editora Barracuda, chega agora às livrarias.
                        Diferente do que propunha o dândi irlandês autor de "O Retrato de Dorian Gray", Bunker dependia da literatura para sobreviver mais do que dos punhos. E embora tenha feito uso destes sem hesitar durante seus quase 20 anos de encarceramento, foram as letras que o ajudaram a suportar a degradação física, moral e psicológica que normalmente recai sobre a maior parte daqueles que experimentam a vida por detrás das grades. Por isso, guarda mais semelhanças com o velho boêmio de "Barfly". Bunker, assim como Bukowski, só escreveu sobre aquilo que viveu (ou vivia enquanto escrevia).
                        Os mais insensíveis podem achá-lo repetitivo, como um - perdoem o trocadilho - hamster rodando dentro de uma gaiola. É o mesmo tipo de crítica feita, guardadas as devidas proporções, aos Ramones. Mas tanto o grupo da sombria Nova York quanto o presidiário-escritor da ensolarada Califórina são cronistas de seu tempo - repórteres de um tempo ruim, simplificaria Plínio Marcos. Em suas linhas encontram-se verdades inestimáveis para compreender um mundo que só vem a tona nas manchetes de jornais sensacionalistas. Um mundo que grita por atenção. E Bunker foi um dos que gritou mais alto.
                        Na mesma linha de "Nem os Mais Ferozes", "Cão Come Cão" e "O Menino", "Fábrica de Animais" transcreve o que Martin Scorsese convencionou no seu cinema "testosteronizado" como algo "olha o que acontece quando se coloca um monte de homem junto". E como em "O Ateneu", de Raul Pompéia, a figura do mestre, do tutor que estende a mão aparentemente sem segundas intenções, da experiência em forma de rugas e cicatrizes, é a força motriz do início da jornada do herói campbelliano de Bunker.
                        No universo inconstante e incoerente da prisão de segurança máxima de San Quentin, o jovem Ron Decker vê seu mundo descascar e ganhar cores ocre e sinceras como as da solitária que freqüenta. "Leva de um a dois anos para que a singularidade da prisão se desgaste de modo que sua realidade horrível possa se infiltrar", narra Bunker. Refletindo sobre o inevitabilidade da nova situação de seu personagem, que tenta se adaptar as novas regras da clausura enquanto equilibra-se sobre corda bamba das leis dos animais de dentro e de fora das celas, ele é direto. "O homem que deseja prevalecer onde quer que esteja, incluindo a prisão, corre perigo".
                        A nova vida de Decker só não é pior por conta de Earl Copen, detento que cumpre pena a tanto tempo que praticamente se tornou parte do corpo de funcionários do presídio. Mas ao contrário de um Obi-wan Kenobi, a velha raposa não espera fazer de seu discípulo um mestre como ele. Percebe que, embora pela pouca idade Decker já tenha uma ficha criminal considerável, ainda há chance de devolvê-lo para a sociedade dignamente. Para tanto, arrisca suas próprias chances de liberdade engendrando um audacioso plano de fuga.
                        Dependendo do ponto de vista, "Fábrica de Animais" poderia ser uma história de amor, como Copen explica a Decker: "Há algum tipo de homossexualidade envolvida, psicológica se não física... se quiser chamar assim. É a necessidade de sentimento - de sentir - que pode ser dirigida a uma mulher". Mas o foco é outro. A relação da dupla é paterna do começo ao fim, sem espaço para terceira intenções. Apenas dois perdidos numa vida suja. Homens querendo se encontrar num mundo criado por outros homens com regras feitas por terceiros.
                        Ainda a exemplo de seus outros romances, o texto de Bunker poderia deslizar melhor para dentro da cabeça se fosse menos.... barroco. O escritor por vezes divaga descrevendo recônditos da prisão que só acrescentarão algo mais para quem já esteve lá - ou irá um dia. Uma simples indicação de lugar seria suficiente. É o que talvez o diferencie de Bukowski e aproxime de Wilde. Mas entre um e outro, é com os Ramones que Bunker fica. Para o bem e para o mal.

                      quarta-feira, agosto 01, 2007

                      Verdade incoveniente

                        I cheated myself
                        Like I knew I would
                        I told ya, I was troubled
                        You know that I'm no good

                        sexta-feira, julho 27, 2007

                        De pipocas e cinema

                        Os romanos criaram a política do pão e circo. E Edson Moura conseguiu a proeza de aprimorá-la. Como pão é blasé demais e o circo está pela hora da morte, o prefeito de Paulínia resolveu instituir a política da pipoca e cinema. A prova é a 2ª Mostra Paulínia Magia do Cinema, que termina neste final de semana e trouxe tudo o que há de mais irrelevante do que toca a Sétima Arte.

                        Mas a idéia de usar o cinema como plataforma populista travestida de boa intenção não é nova. O crédito, até onde sei, pode ser dado para o Secretário de Cultura de Americana, Fernando Giulinani, com seu inacreditável Cine Teatro. Claro que as comparações param por aqui. Como tudo que leva a mão de EM, a Mostra de Paulínia ostentou números inversamente proporcionais a sua alegada importância. É aí que as coisas se complicam.

                        Porque ao contrário de Americana, cuja secretaria não possui ninguém que entenda minimamente de cinema (ou de cultura mesmo, dependendo do ponto de vista...), o festival de Paulínia contou com a consultoria de Rubens Ewald Filho, o mais midiático crítico de cinema do País. Mesmo quem não sabe a diferença entre uma trufa e Truffaut tem ele como referência. Então o que explica a exibição pura e simples de blockbusters hollywoodianos entremeados por um ou outro filme nacional de qualidade/gosto/importância duvidoso?

                        Segundo o próprio REF, é preciso primeiro criar o hábito de ir ao cinema. Para isso, filmes populares são o caminho mais seguro – se não o único. Depois de acostumada, acredita o "especialista", a população estará apta a apreciar obras mais importantes. O que ele não leva em conta é que ninguém desenvolve bom gosto por hábito, mas sim com educação. Boa educação, diga-se de passagem, coisa que envolve berço, ensino formal e círculo social diferente de onde vive a imensa maioria dos paulinenses. Não adiante entupir de mortadela um sujeito que passou a pão e água a vida toda e esperar que em seguida ele aprecie lagosta com caviar.

                        Se o que se quer é "ensinar" a população a ir ao cinema, que tal começar por construir uma sala na cidade? Ninguém notou ainda que o município que abriga esse elefante branco não tem uma mísera sala de projeção? Ironia das ironias, Paulínia se pretende a Hollywood brasileira, mas precisa dos vizinhos quando quer ir ao cinema. Coisas de EM, enfim...

                        A própria abertura da mostra evidenciou o caráter popularesco da idéia de Moura. O mestre de cerimônias foi o ator Reynaldo Giannecchini, que nada tem a ver com cinema. Depois, exibição do longa "Antonia" e show com as garotas do filme (sem Negra Li, sua principal estrela). Depois, Paulo Betti e Lázaro Ramos deram as caras por lá para falar de seus respectivos "Ed Mort" (de 1997!) e "Cafundó" (2005!). Se a razão de ser da presença dessa turma não foi a de juntar o maior número possível de pessoas no Parque Brasil 500, então não sei qual é.

                        Porque, em suma, o que EM quis foi isso. Lotar o evento de qualquer jeito. E como bom animador de platéia que é, soube bem como fazer. Mesmo que a Secretaria de Cultura não forneça dados precisos sobre a quantidade de gente que passou pelo festival, é fácil perceber que poucos estavam de fatos interessados em cinema. Foram para comer pipoca de graça, curtir o movimento e, com sorte, tirar foto com algum ator da Globo. Nada de errado. Num evento sobre cinema onde o verdadeiro cinema ficou em segundo plano, não se podia esperar nada mais.
                        Ãpideiti: neste final de semana rola também a inauguração do shopping de Paulínia. Nele, estão previstas três salas de cinema digitais - que só serão abertas em 2008. Para quem não sabe, ano que vem é ano de eleição...

                        domingo, julho 15, 2007

                        Noção de nada




                          As Lojas Americanas, como toda loja popular de departamentos, tem uma porta grande, com um televisor tipo de plasma com aparelho de som possante conectado a ele dando as boas vindas. Nele, está sempre passando um grande lançamento em DVD que a loja quer empurrar a todo custo para os passantes. Sexta-feira era a vez de "Eragon". De um lado da TV de plasma que exibia trechos do filme havia um display de papelão com dezenas de exemplares. Do outro lado, outro display de papelão com dezenas de cópias de "Last Days".








                          Sacaram? "Last Days", de Gus Van Sant, cult sobre a morte de um jovem astro do rock livremente inspirado em Kurt Cobain. Com Asia Argento. Indicado para a Palma de Ouro de Cannes em 2005. Se passou em uma sala obscura de cinema de arte paulistana foi muito. Jamais encontrei para alugar ou baixar. Agora, segura uma TV de plasma nas Lojas Americanas do Tivoli Shopping de Santa Bárbara d´Oeste, onde o nível intelectual da imensa maioria dos seus freqüentadores ainda não saiu do "Rei Leão".



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                          Por estúpidos R$ 39,90. Não vai vender nada. Então quando baixar, eu compro.

                          quarta-feira, julho 04, 2007

                          Talvez



                            Talvez um dia façamos música como se faz pastel na feira. E a consumiremos da mesma forma, com uma fome desleixada e nada mais. Um tira-gosto, lanchinho para enganar o estômago até a refeição principal, uma massa frita em óleo vagabundo com recheio duvidoso de sabor mais duvido ainda. Engolindo nacos do tamanho da nossa ansiedade, sentindo entre os dentes apenas a satisfação do dever cumprido, devoraremos as canções eleitas dentre as mais pedidas na linha de produção de críticos, produtores, DJ e engravatados tão preocupados, entendidos e sinceros com o que entregam quanto o pasteleiro no final da feira. É, talvez um dia colocaremos o dinheiro na frente de qualquer coisa e não sentiremos culpa alguma por isso. Quem sabe em porções de unidades pequenas recheadas apenas com lembranças do que deveria ter ali, embalado por uma casca bem cuidada. Então acharemos tudo muito bom e daremos graças por ser ainda tão barato e honesto se entupir de alguma coisa em pouco tempo sem precisar sequer sentar para tanto, pois logo caminharmos de volta ao que de fato importa sem pensar no que agora já é uma grande massa irreconhecível em algum lugar da parte de dentro a espera do descarte inevitável.

                            Pode ser que, quando menos esperarmos, encararemos o cinema como um adolescente imberbe trabalha sua sede de viver. Qualquer nota, pegando logo pela embalagem mais bonita, o formato mais prático, o método mais rápido ou o preço mais atraente. É, talvez um dia colocaremos o dinheiro na frente de qualquer coisa e não sentiremos culpa alguma por isso. Influenciados por um universo de sentimentos e sentidos que embotam o raciocínio e nos reduzem a meros devoradores de metáforas e estímulos pré-fabricados exatamente com esse intento. Ao invés de consultarmos nossa memória afetiva e objetiva, cataremos o primeiro cardápio de indicações fáceis que estiver em um caderno se cultura qualquer e debruçaremos nossos olhos lustrosos embebidos em néon sobre a seqüência de cores e movimentos mais próxima. E o lugar do criador e sua criatura será para sempre relegado a um passado que ninguém vai ter força ou interesse para procurar, dentro de um buraco ao mesmo tempo raso e inacessível em seu propósito. E engoliremos a seco e sem olhar o rótulo qualquer conteúdo que nos oferecem vendendo como a mais milagrosa fórmula certa de prazer imediato, direto e direito.


                            E quem sabe, não sei, pode ser que ler torne-se uma aventura tão impossivelmente distante que os poucos a seguirem sua trilha logo serão chamados de lunáticos, distópicos, distorcidos, desconexos, anormais, e até hereges. Os livros novamente serão condenados a alimentar fogueiras mais altas e brilhantes que aquelas de outrora, mas sem que ninguém registre o feito em qualquer tipo de linha maior que o entusiasmo por absorver seus ímpetos de destruição e sede por mudanças mal ou nada planejadas. É, talvez um dia colocaremos o dinheiro na frente de qualquer coisa e não sentiremos culpa alguma por isso. E tudo reduziremos a meia dúzia de capas duras com lombadas bonitas e trabalhadas para serem belas paredes em bibliotecas sem utilidade, aguardando o momento que uma nova ordem restabeleça seu lugar no imaginário que ajudaram a criar desde que nos colocamos de mãos postas para nossa própria história. Palavras jogadas sem sentido como rimas de paixão colegiais construídas com propósitos baseados em sinapses encharcadas de hormônios e sem nenhum tipo de compromisso ou singeleza tão caras para o que deveriam de fato. Encontros casuais de vogais e consoantes pintadas entre lacunas de pedantismo que oscilarão entre o descaramento puro e simples e a inocência mais perversa.


                            Porra, talvez chegaremos mesmo, um dia, quem sabe, a amar como se amam os bichos de pelúcias esquecidos dentro de caixas guardadas em porões e sótãos, quando não feitos de mordedor para cães e aparador de unhas para gatos. Nutriremos então um afeto asséptico de chão de hospital, feito de interesses mútuos, desprovidos de sangue, suor e sacanagem. Uma reciprocidade correta, perfeitamente equilibrada, sem erros, sem riscos, livre daquilo que a faz ser o grande impulso criador e transformador que a tornou tão importante e perseguida de camponeses a reis, entre eras e impérios, dentro de carros de vidros embaçados e salas de estar vitorianas. Nada além de contratos com firma reconhecida e carimbos carcomidos pela hipocrisia da necessidade de uma segurança tão tola quanto frágil, apenas fabricada dentro da cabeça de quem não entendeu que o grande sentido de tudo é exatamente não ter onde se apoiar e dar o primeiro passo sem olhar se há chão ou apenas um grande vácuo. Uma lasca de afeição destinada apenas a manter a espécie dominando o planeta e nada mais de poesia, dançar pelado ao redor de fogos fátuos ou grandes goles de pauduro e juras de amor tão inalcançáveis que seria precisa um tipo de Magirus infinita para alcançar seu topo entre as nuvens de nossa consciência imersa em qualquer substrato que não aquele formado entre as artérias devastadas pela falta de amor próprio e excesso de entrega a qualquer próximo que se apresente logo em seguida do seguinte.



                            Mas enquanto isso não acontece, vou me deitar aqui confortavelmente nesse musgo gostoso que cresce à sombra de uma mangueira centenária e descansar meus ouvidos, alimentar meus olhos e fazer tudo o que minha nudez literal e metafórica permite. Alguém me acompanha?

                              segunda-feira, julho 02, 2007

                              Meme


                                Fiz uma meme. Há uma explicação bem estilosa sobre o que é uma meme, mas pra mim é como aquelas correntes de perguntas e respostas de e-mails. Só que em blogs.
                                Esta é sobre discos e bandas. Gostaria que os trutas Léo, Pedrão, Bia, Shiraga e NNX também entrassem nessa.
                                Segue:

                                • Disco que você ouve inteiro
                                Nacional - Los Hermanos (Los Hermanos)
                                Internacional - It´s Alive (Ramones)

                                • Disco que só tem uma faixa que presta
                                Nacional - Nostalgia da Modernidade (Lobão)
                                Internacional - The Idiot (Iggy Pop)

                                • Disco horrível de uma banda excelente
                                Nacional - O A e o Z (Mutantes)
                                Internacional - In Through the Door (Led Zeppelin)

                                • Banda que você ainda vai ter todos os discos
                                Nacional - Mutantes
                                Internacional - Rolling Stones

                                • Banda que você tem todos os discos
                                Nacional - Legião Urbana
                                Internacional - Placebo

                                • Disco que você se arrependeu de comprar
                                Nacional - "Djavan Ao Vivo" (Djavan)
                                Internacional - "Undercover" (Rolling Stones)

                              quarta-feira, junho 27, 2007

                              Sad sad sad



                                Trilha sonora dos créditos finais de "O Homem Duplo".


                                Trilha sonora presente em "The Eraser", primeiro solo de Thom Yorke.


                                Trilha sonora para pegar a rodovia mais perfeita que existe, abrir uma long neck suada e rodar até o combustível acabar.


                                What will grow quickly, that you can't make straight

                                It's the price you gotta pay

                                Do yourself a favour and pack you bags

                                Buy a ticket and get on the train

                                Buy a ticket and get on the train


                                Cause this is fucked up, fucked up

                                Cause this is fucked up, fucked up


                                People get crushed like biscuit crumbs

                                And laid down in the bed you made

                                You have tried your best to please everyone

                                But it just isn't happening

                                No, it just isn't happening


                                And it's fucked up, fucked up

                                And this is fucked up, fucked up


                                This your blind spot, blind spot

                                It should be obvious, but it's not.

                                But it isn't, but it isn't


                                You cannot kickstart a dead horse

                                You just crush yourself and walk away

                                I don't care what the future holds

                                Cause I'm right here and

                                I'm today

                                With your fingers you can touch me


                                I'm your black swan, black swan

                                But I made it to the top, made it to the top


                                This is fucked up, fucked up

                                You are fucked up, fucked up

                                This is fucked up, fucked up


                                Be your black swan, black swan

                                I'm for spare parts, broken up


                                  Docinho


                                    Tem gente que faz música ruim. Mas essa música só se perpetua porque tem gente que ouve. Ora, isso é lógico, Biduzão, todo mundo sabe. Assim como todo mundo gosta de alguma música ruim.
                                    Então, para facilitar, o Framboesa organizou tudo num lugar só. O blog - cujo nomer é uma referência óbvia ao Framboesa de Ouro, Oscar dos filmes ruins - é novinho, novinho, mas promete ser lega. E, claro, aceita colaborações. Dá uma espiada lá. Eu já baixei o Michael Jackson sem a menor vergonha...

                                  segunda-feira, junho 25, 2007

                                  De cinemas e sacis


                                    Está se tornando folclórica a capacidade da Secretaria de Cultura e Turismo de Americana em ser cega, surda e muda no que toca a suas responsabilidades. Desde março, a pasta exibe filmes no Teatro Municipal Lulu Benencase, local que já foi - olha só que sacação - um cinema de rua. Mas a quantidade de absurdos que essa idéia contêm só rivaliza com um filme do David Lynch e precisaria de um blog todo para se fazer entender. Então vamos mastigar bem (o que não vai ser garantia alguma de digestão fácil...) para nos fazermos entender nessas poucas linhas.

                                    De acordo com o último informativo da secretaria, a proposta do Cine Teatro é intercalar filmes comerciais com convidados. E e só isso que se sabe, já que desde o ínicio da semana a coluna tenta mais esclarecimentos sobre o assunto e parece não haver um cristão lá dentro capaz de responder um simples e-mail. E olha que minhas dúvidas - que acredito serem compartilhadas por mais gente - são simples, nada que fará o nobre chefe da pasta, Fernando Giuliani, perder o último capítulo da novela das 18h.

                                    Primeiro, quero saber quem é o responsável pela escolha dos filmes exibidos. Não quero acreditar que seja o próprio secretário, já que a obra de estréia do projeto foi "Harry Potter a Pedra Filosofal", um blockbuster hollywoodiano de 2001 que por si só contraria a função primordial da pasta, que é a de levar cultura de qualidade para a população. Não sei qual a freqüência que o secretário vai ao cinema, mas se ele considera Harry Potter um produto que acrescenta alguma coisa, começo a me preocupar de verdade com o andar dessa carruagem cada vez mais desgovernada.

                                    Mas se não é o próprio Giuliani, quem decide que filmes serão mostrados? Talvez o dono da videolocadora que a secretaria firmou parceria? Ou quem sabe o guardinha que anota recados no balcão da recepção? Não, esse último teria mais bom senso do que o sujeito que escalou, por exemplo, "Star Wars - A Ameaça Fantasma", para a última sessão do projeto, nesta terça feira.
                                    Bom, mas o projeto, segundo a única informação que possuo, também prevê filmes "convidados". E quais são eles? Silêncio. Quantas pessoas já foram assistir aos filmes? Mais silêncio. Havia uma meta de público? Os grilos fazem cri-cri. Qual é, por Deus, o objetivo desse desperdício de esforço, tempo e dinheiro públicos? Os sapos coacham. Alguém aí pode me dizer então qual o diabo do critério utilizado para exibir produções unicamente comerciais e sem qualquer fim senão o de divertir por um par de horas?

                                    Porque parece, cada vez mais, ser essa a função da Secretaria de Cultura de Americana, que pode tranqüilamente mudar seu nome para Secretaria de Entretenimento Besta e Apático. Existem dezenas de maneiras certas - e uma única errada - de aproveitar o cinema de maneira inteligente e criativa levar um mínimo de cultura à população. E a prefeitura tem a capacidade de escolher a errada. Eita, nóis.
                                    UPDATE
                                    A secretaria escolheu o filme desta semana: "Star Wars - A Guerra dos Clones". É ou não é pra pedir guilhotina?

                                  quinta-feira, junho 21, 2007

                                  Os Canhões de Navarone (apenas para rimar com Brancoleone)


                                    Albano Martins Ribeiro não precisa abrir a boca para você logo sacar que ele é paulistano. Daqueles que te explica onde fica uma pizzaria usando como pontos de referências o MASP, estádios de futebol, clubes sociais, entidades filantrópicas e estações de metrô. O que para mim, morador de típica cidade do interior que localiza tudo o que quer usando uma única avenida, soa engraçado. E estranhamente fascinante, do tipo "caralho, eu queria morar em São Paulo apenas para saber que a fulana mora num apartamento há duas quadras da estação da Sé", ou "Tô passando pelo Memorial da América Latina agora, encontro vocês em uma hora". High Five!, diria Borat.
                                    Mas não estou aqui para zoar o Branco Leone, ou Brancoleone, alcunha usada pelo Albano Martins Ribeiro em sua abnegada cruzada virtual. Sim, porque Branco é um abnegado, quase um jesuíta da Companhia de Jesus, diria, doido pra meter o crucifixo na bunda dos selvagens e amelhá-los para seus intentos. E é mais ou menos o que ele faz com uma das mais bem organizadas e conceituadas editoras virtuais , a Os Vira Lata.
                                    Nela, pode-se encontrar o novo crime do Bia e, em breve, o próximo atentado do Alex. Além do próprio livro do Branco - que por sinal recomendo com força a todos que não têm problema de bixiga solta quanto em ataque de risos causados por situações de extrema urbanidade paulistana, e por isso mesmo, universal.

                                    E, pô, ele é casado com uma sobrinha do Jorge Amado!

                                  Todos os olhos


                                    Ela deixou colocar em todos os buracos e perguntou se não era isso que eu queria. Ah, meu bem, eu quero tudo.

                                  terça-feira, junho 19, 2007

                                  Mais Bia


                                    Depois do mestre Bia(jone), a trutíssima e repórter do coração Bia(triz) estréia na blogosfera - e ainda como vizinha, aqui no Condomínio Blogspot. Com o singelo nome de Sapatilha Elétrica, ela promete... nada. É, ela ainda não prometeu nada. Nem disse a que veio. Na verdade, só colocou um post inaugural profético. Como de costume, tenha certeza que ela não vai decepcionar. Abaixo, ela em momento de descontração.

                                      Corrigindo injustiças


                                        Por obra do acaso, travei contato, há coisa de meses, com o Gabriel, dono do parnasiano Labirinto do Não. É culpa dele a maior parte desta lista de links aí ao lado para os blogs mais quentes feitos para fazer a alegria de quem gosta de música e não deixar um rim na Fnac. E eu, péssimo ser humano que sou, não dei o devido crédito. Então, agora, corrigo a falha. E passo o link para o espertíssimo sítio do rapaz. Saravá!

                                      domingo, junho 10, 2007

                                      De festa de peão e leis que não funcionam ou dois pesos e duas medidas





                                        Americana, como qualquer outra cidade de interior, sofre com um problema histórico crônico. A falta de opções de entretenimento noturno para quem tem menos de 50 anos. Ou, mais precisamente, para quem gosta de diversão com alguns decibéis acima do permitido. E permissão é o mínimo necessário para fazer acontecer o que se pretende. Muito difícil? Vamos simplificar então: a cidade não tem um filhodaputa de um lugar para se ouvir música ao vivo depois que sol se põe – ou antes até, sejamos francos.

                                        A cidade é governada pelo prefeito Erich Hetzl Júnior (PDT), sujeito de pulso fraco e que ergue a voz apenas contra profissionais de mídia que estão alí par fazer o que são pagos para fazer – confesso que votei nele e, se pudesse, pediria meu voto de volta de tanto arrependimento. Mas a culpa não é exclusiva dele. Há coisa de uma década Americana não possui vida noturna no que toca a música ao vivo. Descartamos aí os barzinhos que cedem um canto para crooners de Djavan e Milton Nascimento, com seu violõezinhos e vozes em falsete que não fazem mal a ninguém. Estou me referindo à música movida a baixo, guitarra e bateria. Estou me dirigindo a quem não tem pena dos tímpanos e é ligado no 220, que curte um bom rock´n´roll e congêneres e sabe que estes não podem ser apreciados se o volume estiver abaixo do 10.

                                        Mas em Americana isso não existe. É proibido. De bares a festas, nada pode incomodar a vizinhança, que tem o direito de descansar em silêncio total e absoluto. E não adianta vedar as saídas de som, porque as reclamações recairão sobre o movimento que se forma ao redor do lugar – carros congestionando o trânsito, molecada falando alto, sujeira formada por garrafas, latas e copos descartados nas sarjetas pelos freqüentadores. Tudo, enfim, feito para impossibilitar ao máximo a construção de uma cena noturna na cidade.

                                        Em cinco anos, pelo menos três bares baixaram suas portas e uma dezena de festas foram impedidas de acontecer por força da prefeitura, que não hesita em dificultar ou não fornecer alvarás de funcionamento ou mesmo fechar estabelecimentos na primeira reclamação. A vizinhança, claro, tem o direito de descansar em silêncio total e absoluto. Entretanto, a coisa muda de figura uma vez por ano, quando acontece a Festa do Peão Boiadeiro de Americana. Então, tudo é permitido. Para o CCA (Clube dos Cavaleiros de Americana), organizador do evento, nada é negado. Pelo contrário.



                                        O recinto onde acontece a festa fica do outro lado da cidade. Numa região esquecida pelo poder público, abandonada à própria sorte desde sua criação, mas que recebe a atenção da municipalidade quando é tempo de rodeio. Afinal, gente de todo o Estado passa por lá e a última coisa que se quer são turistas com má impressão do governo municipal. Neste ano, por exemplo, as ruas que dão acesso à festa foram pavimentadas - numa região onde asfalto é uma realidade muito distante, é preciso agradecer ao CCA, não?

                                        Nas noites de festa, a Rodovia Anhangüera e suas vias de acesso ficam intransitáveis. Os congestionamentos nababescos se estendem por quilômetros, obrigando o incauto motorista, que está apenas de passagem pelo trecho, a esperar quantas horas forem necessárias, porque nada pode ser feito. Os acostamentos deixam de existir, tomados de vendedores e carros de gente que se cansou de esperar e resolveu ir a pé.

                                        A polícia? Ah, sim, a polícia em peso está dentro do recinto da festa para garantir a segurança dos freqüentadores. E quem está garantindo a minha segurança fora dali? Claro que a corporação afirma não haver problemas, pois o número dos que ficaram na cidade é suficiente. Nesse caso, podem demitir os outros, já que não fazem falta, correto? E por que a polícia, que é um órgão público, está fazendo a segurança de um evento particular? A festa que se vire com sua própria segurança. Eu, como contribuinte, não tenho que pagar por isso através da polícia que ajudo a sustentar com meus impostos.

                                        Entre uma semana e outra de festa há o desfile dos cavaleiros. Dezenas de cavaleiros pegam seu, hã, cavalos e saem às ruas para mostras seus... cavalos. Se a população se incomoda tanto com a sujeira que é feita nos arredores dos bares de música ao vivo, certamente não deve gostar de sentir o cheiro de estrume fresco que paira no ar da cidade durante e depois do cortejo.


                                        O recinto, por sinal, é aberto e distante quilômetros do centro da cidade. Entretanto, é possível ouvir perfeitamente todo os shows musicais que acontecem toda as noites, normalmente após às 22h. Onde está, pergunto eu, a lei do silêncio que faz fechar bares de música ao vivo ou impedir que festas aconteçam? Dois pesos, duas medidas, é isso? Ou será que ninguém reclama?

                                        É claro que reclama. Basta um pouco de bom senso e conhecimento histórico. As primeiras festas de peão de Americana aconteciam no Centro da cidade. Foi preciso um prefeito de pulso – o finado Waldemar Tebaldi, de quem Erich herdou a cidade após sua morte (e só a cidade, não o pulso) – para peitar o CCA e os mandar para qualquer outro lugar. Agora, mesmo distante do Centro da cidade, mas ainda assim no meio de um bairro residencial, a festa continua a causar os mesmos problemas que fecham os bares de música ao vivo. Ou será que quem mora na periferia da periferia não tem o direito de descansar em silêncio total e absoluto? Até nisso seus moradores são excluídos?

                                        Não sou contra a Festa do Peão de Americana ou seus freqüentadores, nem tenho nada contra seus organizadores. Mas é preciso justiça. Pau que bate em Chico, bate em Francisco, diria meu irmão. Ou estou errado?

                                      sábado, junho 09, 2007

                                      Personalidade

                                      Estilo é tudo para um artista. E um estilo próprio deriva de uma personalidade definida, marcante, honesta e, logo, única. Na música pop poucos conseguem se equilibrar na linha que separa a personalidade da mediocridade. Uma banda pode mudar seu som de um disco para o outro sem parecer forçado; ou pode fazer sempre a mesma coisa e soar sempre diferente e genial. Dois lançamentos ilustram bem a questão. Era Vulgaris, do Queens of the Stone Age e Minutes to Midnight, do Linkin Park, lideram há algum tempo as listas de downloads. Então baixe, ouça e depois volte.

                                      O QOTSA pertence ao seleto rol de bandas que bastam poucos acordes para serem reconhecidas. Liderado por Josh Homme - único membro fixo em todas as formações - o grupo segue firme como um legítimo representante do rock de macho, daqueles feito para se ouvir no volume máximo e incomodar toda a vizinhança. Não é para ouvidos sensíveis, não é para tocar no rádio ou na novela, mas serve bem como trilha sonora para competições de demolicar.
                                      Assim como seus antecessores, Era Vulgaris é facilmente reconhecível. Porque tem, acima de tudo, personalidade. E estilo. Se mantêm coerente do começo ao fim, levando o ouvinte mais experiente a concluir que, sim, ele lembra os outros três discos do QOTSA. Sua canções poderiam, sim, estar inclusas nos outros. Poderiam, mas Homme sabe o que faz. Era Vulgaris é mais uma etapa da cruzada do músico em injetar um pouco de barulho decente no cenário pop. E o faz sem exageros, com classe, na medida certa.

                                      O oposto ocorre com o Linkin Park. Minutes to Midnight não tem um terço da força e originalidade que o disco de estréia da banda, Hybrid Theory, carregava e ajudou a popularizar o grupo fazendo do nu-metal um máquina de ganhar dinheiro. Agora, o LP soa... emo. Seu peso é tão falso quanto o de um Fall Out Boy, e as letras lamuriosas ficariam perfeitas no último do Good Charlotte ou mesmo do Evanescence. A pegada rap, exaustivamente copiada por um sem número de outros garotos, não segura mais a onda - pelo contrário, mostra-se monótona e previsível.
                                      É aí que o LP peca, ao abandonar um estilo que criou - e que era legal - em razão da grana. Se tivesse ousado e ido por um caminho oposto, até renegando seu estilo, manteria pelo menos sua personalidade. Apenas “Bleed it Out”, com seus meros 2 minutos, salva Minutes to Midnight do marasmo. Muito pouco para quem foi referência para boa parte da produção mainstream dos anos 00.

                                      Claro que Era Vulgaris vai vender bem menos que Minutes to Midnight. Estamos falando de dois produtos com propostas diferente para públicos diferentes. Mas se você puder escolher, fique com quem tem mais estilo e personalidade e queime um disquinho com o primeiro.





                                        quarta-feira, junho 06, 2007

                                        Cine pop

                                        A cultura pop e tudo o que a envolve possui duas características essenciais. A primeira, é a valorização da imagem, da plástica, daquilo que envolve as coisas - sejam elas para os olhos, ouvidos ou mãos. A segunda é o curto prazo de validade e conseqüente descartabilidade dos seus produtos. No cinema, o exemplo mais bem acabado de obra pop acaba de chegar as locadoras após passagem tímida e relâmpago pelas salas brasileiras. "O Homem Duplo", de Richard Linklater, com Keanu Reeves, Robert Downey Jr., Winona Ryder e Woody Harrelson, é a mais perfeita tradução para o termo.

                                        O filme passou pela Mostra São Paulo de Cinema em outubro do ano passado - depois, se não me falha a memória, deve ter ficado mísera semana numa única sala de shoppings centers. Talvez pelo fato da obra lidar com elementos considerados inteligentes ou ousados demais para o grande público, passou despercebida e chega agora em DVD. Baseado no romance "A Scanner Darkly", de Philip K. Dick (o mesmo de "Minority Report", "Blade Runner" e "O Vingador do Futuro", apenas para ficar nas adaptações para o cinema), o filme se ergue no tripé drogas-paranóia-autoritarismo com certo exercício de futurologia presente na maioria dos livros do autor.


                                        Mas quem se importa de fato com o roteiro ou o desenrolar das história quando o que se vê é um espetáculo de imagens geradas com tecnologia de ponta? "O Homem Duplo" segue a mesma linha de "Sin City" e "300", verdadeiros deleites visuais que deixam a história para segundo plano. A técnica utilizada é a chamada de rotoscopia, que é conseguida através da captação da imagem dos atores reais que depois recebem tratamento de animação tipo aquarela. Não há nada de errado nisso, cinema não é feito só de grandes moendas de cérebros. E em se tratando de uma obra indubtavelmente pop, não se pode esperar nada além.


                                        Não que a história do agente da polícia que é escalado para vigiar a si mesmo seja rasa. Pelo contrário, ainda mais se considerado o contexto que foi escrita - na década de 70, quando Dick compôs o livro, os EUA estavam sobre a sombra de Nixon e sua cruzada santa contra as drogas, alimentado pelo clima da paranóia da deleção do "seu vizinho pode ser um perigoso traficante que vai viciar seu filhos". Substitua as drogas pelo terrorismo de Bush e o painel será o mesmo. Porém, nada que já não tenha sido feito, o que se não tira o pioneirismo de Dick, o coloca no mesmo balaio para os menos informados - e como estamos falando de cinema e cultura pop, a coisa é inevitável.


                                        Apesar do desfecho interessante e algo no future, o filme especialmente por sequências de diálogos inúteis. Entenda, não são diálogos psicóticos - estes existem e cabem à trama - mas conversas que saem do nada e chegam a lugar algum, servindo apenas para prolongar a trama ou causarem um leve riso de canto de boca. Talvez se suprimidas, poupariam as quase 350 horas que cada minuto de filme levou para ser animado.


                                        Por isso, "O Homem Duplo" pode ser uma das maiores viagens visuais da sua vida, uma experiência sem igual, mas que não acrescenta nada como obra cinematográfica de fato. Daria um belo videoclipe.




                                          terça-feira, maio 29, 2007

                                          Coisinhas

                                            • A Fergie cantando o clássico do Heart "Barracuda", na trilha sonora do "Shrek Terceiro", é cópia melhorada e muito mais interessante do vocalista do Rush, Geddy Lee. Baixem, ouçam e curtam.
                                            • O Ina tá na Rolling Stone deste mês, com direito a abre de página sobre o DVD do Pato Fu. Se tudo der certo, ele vira editor-chefe e me chama pra escrever lá.
                                            • Livro novo do Bia em breve na parada. De partir o coração-melão do mais bruto dos sertanejos. Prova que a paternidade faz um bem danado.
                                            • O fiadaputa do Galvão cometeu novamente um post que me valeu uma repreensão de toda a redação tamanho o ataque de risos que tive.
                                            • Não conheço nada que me deixe tão de pau duro quanto "No Pussy Blues", do Grinderman. Cave parou de chorar e fez a música mais tesuda do mundo. Para ouvir a dois e bêbado(s).

                                          sexta-feira, maio 25, 2007

                                          Pensamento de chuveiro


                                            Quando apresentou-se nua e crua,
                                            ninguém reclamou a verdade

                                          quinta-feira, maio 24, 2007

                                          Fase



                                            A vida de uma boa banda passa por fases. Algumas boas - normalmente o início - outras ruins - do meio para o fim. Para fãs, admiradores ou mesmo aqueles que se dispõe a olhá-las como algo além da simples expressão de egos inflamados, é comum ter suas preferências. E dentro de uma preferência por uma fase, é normal que se admire mais uma ou outra canção em detrimento de outras do mesmo balaio. Comigo é assim com os Rolling Stones.

                                            "Wild Horses" é considerada a balada mor dos Rolling Stones. Difícil encontrar quem não a tenha entre as 10 mais para embalar fossas ou rodar a esmo pela cidade remoendo alguma dorzinha-de-cotovelo. Ela faz parte de Sticky Fingers (1971), o segundo de uma quadrilogia de discos em tudo perfeitos - e não sou só eu que acho. É trilha sonora de grandes filmes, como "Adaptação", e idiotices legais, como "Ligado em Você". De tão emblemática, ganhou um novo videoclipe, desses classudos em preto-e-branco e tal. De tão legal, um monte de gente fez suas próprias versões, e até em propaganda de enlatado foi usada.

                                            Mas eu simplesmente não consigo gostar dela.

                                            Nada pessoal. Ou melhor, tudo pessoal. Ouço Mick Jagger cantando que "cavalos selvagens não conseguiriam me tirar daqui" e penso "porra, sempre morei na cidade. O que diabos cavalos têm a ver comigo?". É isso que sinto. Quer dizer, não sinto. Não sinto nada. Balanço a cabeça concordando com o ritmo, apenas esperando pela próxima faixa. Nunca cravei um repeat nela como costumo fazer com aquilo que de fato me cala fundo.

                                            E isso às vezes me incomoda. Se gosto dos Stones, em especial a parte que importa - e nela "Wild Horses" está invariavelmente inclusa - não deveria apreciar a referida balada também? O dedilhar de violões de Richards me remete a uma paisagem campestre e árida, da qual compartilho apenas a segunda parte. O que Jagger canta pra mim não faz o menor sentido. Não extraio dalí nenhum tipo de sentimento, nenhum recordação, nenhuma metáfora, nada.

                                            Se uma boa canção precisa pelo menos te fazer parar o que está fazendo para ouví-la com mais cuidado, definitivamente não é o caso de "Wild Horses". Para mim, "Out of Tears", do irregular Voodoo Lounge (1994), é que tem esse poder. O simples ouvir do piano inicial me traz uma enxurrada de recordações, arrepia os pêlos do antebraço e me faz querer cantar junto e dedilhar um air guitar.

                                            Só que "Out of Tears" faz parte de uma outra fase stoniana. Diferente de "Wild Horses", que marca o ápice criativo e revolucionário dos Stones, minha balada preferida remete ao tempo em que Jagger e cia. se transformaram numa empresa bem consolidada dentro do showbusiness disposta a tudo para faturar qualquer trocado. Logo, é decente e recomendável gostar de "Wild Horses", citá-la como preferida dentro do seu gênero, saber tirá-la numa roda de camaradas ou mesmo saber cantar seu refrão. Já "Tears" pertence ao rol de canções que se prefere esquecer não por serem ruins, mas por lembrarem de um tempo onde seus autores perderam o respeito por si mesmos. Logo, pega mal gostar dela ou até mesmo dizer que, ah, tem uma levada bonita.

                                            É estranho concluir isso. Por admirar demais determinada fase de uma banda - até com certa razão - acaba-se por abrir mão de gostar do que ela faz depois disso. Rotula-se a música que esse grupo faz entre antes e depois. "Ah, agora eles são uma farsa. Antes, sim, era bom", destacam. Claro, não dá pra comparar Beggar´s Banquet com Dirty Work. Mas mesmo dentro do segundo, que é estupidamente inferior em todos os sentidos ao primeiro, existem bons momentos. Momentos que acabam sendo desconsiderados pelo todo que a obra representa dentro de uma lógica que divide uma discografia em fases.

                                            Apreciar um grupo por fases é uma maneira de se manter acomodado e limitar o gozo do que realmente importa, no caso, a música. Esteja ela num clássico revolucionário sessentista ou numa peça feita para faturar com anúncios de carro.