Quando eu era pequeno, vivia escutando que “o brasileiro é um povo sem memória”. E passei a acreditar nisso quando desenvolvi uma capacidade imensa de simplesmente não lembrar de muita coisa que não deveria esquecer. Mas sempre me virei bem, escrevendo recados nas costas das mãos. O problema é quando certas lembranças (defuntos?) são revividas sem mais nem menos. E na música brasileira, isso tem acontecido com mais freqüência do que deveria.
No final do mês passado, a atriz Patrícia Pillar produziu um show do cantor Waldick Soriano que deu origem a um CD e um DVD. Para o próximo ano, a mulher do Ciro Gomes promete um documentário sobre o sujeito. Agora pare e releia o trecho anterior e me responda: qual a importância disso? Quem, por Deus, dá a mínima para Waldick Soriano? O que ele fez de tão importante para ser resgatado do ostracismo para onde havia sido merecidamente mandado? Alguém sabe dizer, sem pesquisar no Google, alguma outra música dele além de “Eu Não Sou Cachorro Não”? Qual a sua importância para a música, de fato, além de entupir o cancioneiro popular com melodias pobres e rimas de gosto duvidoso?
Ainda se WS fosse o único, vá lá. Mas de coisa de 10 anos pra cá essa onda de ressuscitar velhos bagaceiros da MPB brega tornou-se uma praga. O primeiro, se não me engano, foi Reginaldo Rossi e seu horrendo “Garçom”, que ganhou quilos de versões. Depois veio Odair José com “Pare de Tomar a Pílula”, seguido de Cauby Peixoto - com direito a um fracassado musical produzido por Diogo Vilela. Mais recentemente, Ronnie Von teve discos de sua fase “psicodélica” relançados e foi homenageado em um tributo de bandinha desconhecidas. Agora, Waldick Soriano. Não vai demorar muito para regurgitarem Wanderley Cardoso e Simonal.
Esses movimentos de volta à vida sinceramente me chateiam. Primeiro, porque parece que nada do que é feito hoje presta, necessitando-se, então, de resgatar o que era feito antes. Porém, esse resgate normalmente é acompanhado de uma idolatria burra, um douramento inútil de uma pílula que nunca foi lá essas coisas. Essa turma caiu no esquecimento porque não tinha nenhum tipo de relevância, seja artística, seja comercial. Prova disso é que suas segundas vidas não duraram mais que uma temporada.
Concordo que há muita porcaria sendo feita atualmente e muito pouco se aproveita, mas revirar a lata de lixo não resolve muito, concordam? Que tal olhar para frente e buscar novos caminhos? Esquecer de uma vez estes esqueletos e provar que o brasileiro, ao contrário do que ouvia, não sofre de falta de memória. Ele tem é memória seletiva. Como eu aprendi a ter.
Um comentário:
É mais que evidente o valor tanto histórico quanto cultural das canções de Waldick Soriano, além de muitos outros músicos enquadrados como "cafona", e é sempre bom saber que Waldick Soriano também foi censurado pela ditadura militar.
Sugiro a leitura de EU NÃO SOU CACHORRO NÃO, MÚSICA CAFONA NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR, para uma ampliação de seu horizonte, tens todo direito de não gostar das músicas, mas por uma questão de inteligência é preciso respeitá-las e entender que seu VALOR está acima do seu gosto pessoal e duvidoso.
Postar um comentário