I'm Winston Wolfe. I solve problems.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Lagartas de pedra

Já disse e repito: não tem lugar melhor para consumir cultura que nas Lojas Americanas. Não é exagero. A rede pode não ter a variedade de uma Fnac, ou o atendimento de uma Siciliano, mas, putz, é campeã no preço. Nisso é imbatível. Dá até pra esquecer a cupidez dos atendentes, que, sem sua maioria, sequer sabem consultar o catálogo digital da loja e vão logo dizendo "não tem" antes mesmo de você perguntar pelo produto.

O lance é que, de tempos em tempos, o sujeito que faz os pedidos surta e pede algumas peças que são, no mínimo, impressionantes. Tanto que nunca vi um acervo tão grande da discografia do Jetro Tull (encalhada, evidentemente) em uma loja de shopping popular. Até cheguei a questionar uma atendente sobre a quantidade de discos da banda do flautista perneta. A resposta: "Ah, não sei. De vez em quando vem essas coisas". Tá explicado, querida, pode voltar a ouvir sua coletânea de temas de novela.

Mas não é raro encontrar coisa realmente boa. Jimi Hendrix, Janis Joplin, Ray Charles e B.B. King, Clash, John Lee Hooker e Buddy Guy são alguns que podem ser encontrados a preços abaixo de trinta mangos. Mas os Rolling Stones são campeões. Tanto na variedade quanto na relação custo/benefício.

Da fase amada pela crítica, por exemplo, eu já encontrei a módicos R$ 19,90 as obras Their Satanic Majesties Request, Exile On Main St e Sticky Fingers. Além de It's Only Rock 'N Roll, Black And Blue e Dirty Work. E sobram aos baldes coletâneas da banda, sempre a custos atrativos e, cá entre nós, muito bem pagos por se tratarem de compilações caça-níqueis.

Entretanto, na minha busca semanal por algo novo, me deparei com Metamorphosis.


"Caralho", pensei. "O disco não consta na discografia oficial elencada no site. E também nunca ouvi falar de tal disco. Uadarrélisiti?". A etiqueta amarela indicava um valor acima do habitual, coisa de 38 paus. E eu já estava com Apocalypse Now Redux numa mão e o cartão de débito na outra. Gastar mais não constava nos meus planos.

Acionei meu radar para picaretices. Seria um destes discos-tributos? Não havia nada que indicasse tal artimanha, ainda mais com esse preço. Tributos tendem a ser BEM baratos, o que não era, definitivamente, o caso. E havia a chancela da porca da ABKCO, responsável pela melhor parte do catálogo dos Stones e sazonais relançamentos do mesmo. Uma olhada cuidadosa concluiu que não poderia ser uma compilação de hits tocada por alguma orquestra, já que hits não haviam ali. Resolvi arriscar e levei o embrulho. Pelo menos a capa era bonita, bolas!

Mas qual não foi minha surpresa, ao colocar o CD para rodar o aparelho do carro, que era realmente Mick Jagger quem cantava. O encarte, paupérrimo como é de praxe da ABKCO, constava uma lista de agradecimentos para gente como Phil Spector, John Paul Jones, Jimmy Page, além de todos os Stones vivos e mortos. Aquilo me intrigou. Seria uma coletânea de lados B? Restos de gravação, talvez?

Fui para a Internet. Tava . Metamorphosis, o disco renegado dos Stones. Lançado em 1975, continha restos de gravações de 1964 a 1969, ou seja, o cerne do legado stoniano. E como em tudo o que envolve os sujeitos o que não falta é sujeira, a história do disco segue a mesma linha. Allen Klein, um fanfarrão que na época já havia tapeado os Fab Four, se apossou do catálogo da banda anterior a Stick Fingers e despejou o disco no mercado. Muita porradaria judicial depois, os Stones conseguem banir a coletânea. Mas Klein já havia adquirido legalmente as músicas e fundado, com sua esposa Betsy, a famigerada ABKCO (Allen and Betty Klein and Company). Claro que o dinheiro falou mais alto e aí...

... a bolacha foi relançada em 2002, em comemoração a turnê Fouty Licks. Só que não deve ter vendido nada, ao contrário da época de seu lançamento, quando alcançou boas posições no mercado norte-americano. Resumindo, são Mick, Keith, Watts, Jones e Wyman tentando soar como os Beatles ao mesmo tempo que buscam uma identidade sonora própria. Tem até espaço para uma cover de Steven Wonder ("I Don´t Know Why") e uma composição só de Wyman ("Downtown Suzie").

O restante das composições são da dupla Jagger/Richards. E dão o tom de um verdadeiro disco dos Rolling Stones, como em "Family", única das faixas que eu conhecia por constar, na mesma versão, numa coletânea tão picareta quanto interessante denominada Acoustic Motherfuckers, mas que de acústico não tem nada. Já de filhadaputice...

Dezzesseis canções que não vão salvar a vida de ninguém. Mas que precisam ser ouvidas, pelo menos uma vez. Toscas e gravadas como dava, elas representam o que os Stones tinham de melhor: sua autenticidade. Enfim, coisa do passado.

Sonhos molhados

Ui!
Abra sua alma e feche suas pernas.
Do teu corpo quero o que não vejo.
Tem mais aqui.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Welcome to the jungle

Noite de quarta-feira. O São Paulo Futebol Clube massacra o Chivas, do México, em partida válida pela Taça Libertadores da América. Empolgado, meu irmão, integrante do baby boom de sãopaulinos pós-bi-Mundial, vibra. "Isso sim é time. Joga como se fosse uma empresa. Joga para ter resultado. Imagina o quanto um título desses vai render de patrocínio depois? Não é que nem o Corinthians, com aquela babaquice de amor à camisa".

Corta.

Imperatriz Leopoldinense é campeã do Carnaval Carioca. Os meios de comunicação dão conta que a vitória da agremiação foi devido um desfile considerado técnico. Ivo Meireles, presidente da Mangueira, declara que "a Mangueira perdeu porque desfilou com o coração".

Corta.

Primeiro DVD da caixa Four Flicks, dos Rolling Stones. Mick Jagger discute com sua equipe sobre os palcos da turnê da coletânea ao vivo "Forty Licks", que teria estruturas individuais para apresentações em clubes, ginásios e estádios. Um dos engravatados diz que foi sempre assim. Jagger sempre esteve à frente dos negócios da banda, gerenciando cada centavo que entra e que sai. Um Donald Trump do rock´n´roll.

Corta. Edita.

O que o time do São Paulo, a Imperatriz Leopoldinense campeã e Mick Jagger tem em comum? Profissionalismo. Nenhum deles está interessado em jogar para a torcida, levantar a Sapucaí ou angariar novos fãs. Inegável que todos amam o que fazem. Mas não são idiotas. Diferente do Corinthians, da Mangueira e dos Beatles, eles sabem viver (e sobreviver) no sistema capitalista.

Pouco importa se o goleiro não gosta do zagueiro. Não interessa se o mestre-sala desaprova a porta-bandeira. E vai ficar para segundo plano a eterna relação de amor e ódio entre Mick Jagger e Keith Richards. O que está em jogo é a movimentação de um negócio que precisa virar. Precisa gerar divisa. Tem que dar lucro. Independente das idiossincrasias de cada componente. O time, a escola e a banda são maiores que os indivíduos que os formam.

É preciso saber jogar o jogo. E isso não é nada fácil. Principalmente quando tudo o que se tem é um punhado de referências tortas e uma vontade insana de mudar o mundo. O que não pressupões tornar-nos todos um bando de burocratas bundões, autômatos sem vontade própria alienados pelo sistema. Ao contrário, é preciso aprender a interagir de acordo com as regras que estão prontas muito antes de se entrar no jogo.

Aprender isso, acreditem, está me custando mais do que eu posso pagar. Esse jogo é para gente grande. E crescer dentro dele é pior do que se imagina.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Momento Stendhal

- Sou o diabo.

- O nariz. Tô ouvindo U2 no talo.

- Para o carro pra gente conversar.

- Não posso. Tô com pressa.

- Hã?

- Preciso chegar em casa antes do meu irmão pra poder usar o computador com Internet. Depois que ele chegar, vai dizer que precisa trabalhar e aí já era. Só amanhã.

- É importante. Diz respeito a grande verdade que cobre o universo e todas as perguntas jamais feitas cujas respostas foram se perdendo nas brumas do infinito.

- Sacanagem é importante, bicho. E é por isso que estou correndo. Vi um videozinho amador muito massa para baixar no Só Putaria. Vou me acabar hoje.

- Pare o carro, já disse.

- Vai a merda, véio. Se liga. Ei, como tu entrou no meu carro?

- Já disse que sou o diabo.

- Mas eu tô ouvindo U2! O Bono anda sobre as águas, bicho. Ainda se fosse Harmonia do Samba...

- Sou o diabo. Mas tenho bom gosto.

- Então numa coisa concordamos. Legal. Sobre o que estávamos falando mesmo?

- Preciso te dizer sobre a verd...

- Ah tá, lembrei. Mas hoje não, véio. Tô louco pra chegar em casa e baixar o videozinho. Não tem como marcarmos outra hora? Melhor: me manda por e-mail. Eu acesso direto, te respondo na boa. É sério.

- Esquece. Para o carro que eu vou descer.

- Mas tu não é o diabo? Sai da mesma forma que entrou, carai...

- Não é tão simples assim.

- Eita. Tu tá me enrolando. Ó, tamo quase chegando. Espera só eu abrir o portão. Essa merda de controle sempre dá defeito, peraí... Ei! Ei! Fecha a porta pelo menos.

Coisas que me fogem do controle (e precisam ser explicadas)

O post abaixo dava conta da minha felicidade por ter, finalmente, conseguido a discografia oficial dos Beatles. Ou The Beatles, como preferem os mais puristas e/ou bestas. Mas rapidamente notei que, quando se trata de unanimidades, todo cuidado é pouco. É como pisar em ovo. Ovos de aves de rapina, que já nascem bicando pra dentro o primeiro naco de carne que encontram pela frente.

Primeiro foi o inoxidável Rafael Galvão, que me deu um toque quase proctológico, dedo em riste como lhe é de costume: "na sua discografia (se for aquela que está no post) faltam 4 álbuns: o Live at BBC e os Anthologies I, II e III. Faltaria ainda o Let it Be... Naked, mas esse disco é uma fraude nojenta e deve ser evitada a todo custo". Nessa, ele me mata duas vezes com uma porrada só. Primeiro, fazendo desmanchar minha tentativa de salvar minha alma ao apontar que me faltam peças na obra que considerava completa e fechada. Segundo, ao dizer para evitar um dos poucos discos que tenho originais do quarteto. Resumindo, terei que esperar um pouco mais por salvação. Mas, ainda assim, ela não me parecia assim tão distante. Coisa de um link ou dois, nada mais.

Mas eis que, do nada, surge . , que já conhecia de passagem nas caixas de comentário no reservado de MJ, lasca sem dó: disco dos Beatles tem que ser original. Em sua prosa firme e determinada, que pode ser conferida e auferida a qualquer momento em sítio próprio, decretou a extinção quase completa de minhas esperanças de salvação. Se soubesse fazer trocadilhos em inglês, diria que ela trocou minha hope por uma rope.

Devo concordar com ela. Sigo essa linha de pensamento para quase todos os grandes nomes que acredito terem feito a diferença na música. Rolling Stones, só original. Led Zeppelin, só original. Oasis, idem. Nirvana também. Hendrix e Joplin certamente. Então, porque teria eu a pachorra de fazer distinção justamente com os maiores?

Grana. Pô, disco dos Beatles é caro pacas. Consigo encontrar, por exemplos, clássicos absolutos dos Stones (Exile on Main Street, Stick Fingers, It´s Only Rock´n´Roll) por R$ 19,90, R$ 29,90 nas Lojas Americanas. Já contei da vez que encontrei um duplo do negão canhoto por R$ 19. Mas quando o assunto é Beatles... não tem choro. Nunca sai por menos de R$ 40 em média. E isso qualquer bolacha, sem distinção de fase, ano ou capa. É tudo inflacionado.

Mas isso não é desculpa. Vou fazer o que a me pediu e, ao longo de minha existência, irei substituindo as cópias pelos originais.

Tá bom assim, galera? Posso voltar a brincar com vocês agora? Prometo não chutar mais a bola pro mato, tá?

terça-feira, agosto 01, 2006

Agora eu também tenho um White Album

Minha alma está salva. Tenho a discografia oficial completa dos Beatles. Não, não é original. É baixada. Mas devidamente armazenada em disquinhos e com capinhas caprichadas.

Para quem quer evitar o inferno certo, tá aqui o link para as obras.

Amém.

Uma pergunta para Rafael Galvão

Galva,

"Taxman", dos Beatles, pode ser considerada a fonte de inspiração para a música-tema da série "Batman", com Adam West e Burt Ward?

Heresia?

Quem resta comida no prato faz Jesus (para o Bia) ou Dom Bosco (para o Denitcho) chorar. Eles não gostam de desperdício quando tem tanta criancinha na África passando fome. E fazer um deles chorar é pecado, evidentemente.

Mas e restar um livro? Será que alguma figura cristã vai chorar se eu não terminar de ler um livro e jogar ele fora? Afinal, tem tanta gente no mundo sem ter o que ler, carente de leitura, que não me causaria espanto uma entidade sobrenatural ser contrária. Hum, talvez Mary Jane, pelo seu amor incondicional pelas letras... Porque quando digo jogar fora, digo enfiar num saco plástico, dar um nó na ponta e colocar na cestinha para o lixeiro levar.

Porque foi exatamente isso que fiz com "O Diário de Marise - A vida real de uma garota de programa". O CARTAPÁCIO tem inacreditáveis 415 páginas de uma prosa chatíssima em letra miúda, daquelas que, a cada virada de folha, te faz olhar a numeração para ver se já está acabando. Não dá. Simplesmente não dá.



A obra vem na esteira, claro, de "O Doce Veneno do Escorpião", da hoje ex-puta (?) e atual apresentadora de canal pornô e candidata favorita à cadeira na ABL Bruna Surfistinha. E o problema começa aí. O livro da garota que atendia num flat nos Jardins em São Paulo deve grande parte de seu sucesso ao blog que o precedeu. Ela já tinha um nome forte na Internet e havia sido capa de sites e revistas de grande porte, como o No Mínimo e a Isto É. Logo, colocar no livro o que ela já tinha no site era certeza de sucesso, pois atingiria um público que não acessa a web e, como todo ser humano, é pelo menos curioso com relação a sexo. Ainda mais uma compilação de contos pornográficos que, em tese, são reais.

O que não acontece com Marise. Ninguém a conhece. Seu livro vem para alimentar um mercado complicado, que é o de literatura ligada a sexo. Não necessariamente erótica, porque a obra está mais para uma autobiografia com tudo aquilo que todo mundo está careca de saber. A garota que precisa de dinheiro para terminar os estudos, se cansa de ralar em subempregros e entra no mundo da prostituição, onde conhece sujeitos asquerosos e passa por situações-limite, mas consegue sair do lamaçal e vai viver feliz para sempre, cheia de boas intenções e lições aprendidas. Só falta um Pangloss na história toda.

É fácil, portanto, perceber que é preciso bem mais que um XXX subentendido para vender. Bruna vendeu e se tornou um sucesso também porque seu livro é curto, rápido, intenso, e dá pra ler no banheiro numa sentada só. Já Vanessa é pura choradeira, lamentações sem fim, quase um arremedo de drama mexicano. Dá pra prever como será a próxima frase sem nem começar a anterior.

E a chamada da capa promete, claro, um mundo de delícias. Como se recortado da sessão de classificados de algum jornal, está lá: "Marise. Ruiva, olhos verdes, universitária. Linda". Aí tem o site, onde dá para ver algumas belas fotos, bem produzidas e tal. Mas nenhuma de rosto. Na contracapa do livro é possível ter uma idéia dele, mas ainda assim, bem distante dessa realidade. Brrrrr...

Então, se alguém quiser essa preciosidade, me envia um e-mail. Eu vou dar abrigo e água para ela até sexta-feira, quando, sem me preocupar com qualquer entidade civil, militar ou eclesiástica, depositarei o mesmo num grande saco preto.

segunda-feira, julho 31, 2006

Canção para ela (que se foi)

I think I'm gonna be sad
I think it's today
Yeah
The girl that's drivin' me mad
Is goin' away

She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride,
But she don't care

She said that livin' with me
Was bringin' her down
Yeah
She would never be free
When I was around

She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride,
But she don't care

I don't know why she's ridin' so high
She oughtta think twice
She oughtta do right by me
Before she gets to sayin' goodbye,
She oughtta think twice
She oughtta do right by me

I think I'm gonna be sad
I think it's today
Yeah
The girl that's drivin' me mad
Is goin' away
Yeah

Ah, she's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride,
But she don't care

I don't know why she's ridin' so high
She oughtta think twice
She oughtta do right by me
Before she gets to sayin' goodbye,
She oughtta think twice
She oughtta do right by me

She said that livin' with me
Was bringin' her down
Yeah
She would never be free
When I was around

Ah, she's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride,
But she don't care

My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care
My baby don't care

sexta-feira, julho 28, 2006

É preciso saber viver

Se suja um pouco, meu amor!

Vai, meu querido, enche um pouco esses pulmões de fumaça podre. Não tenha medo, tu não vai morrer por conta de uma meia dúzia de bons cigarros sem filtro. E o quéquitem de demais dar uma ou outra tragadinha num Romeu e Julieta? Anda, vira esse copo inteiro de bebida podre e vagabunda, que logo vai sair por todos os poros do seu corpo.

Se estraga um pouco, rapaz!

Joga veneno nas tuas veias. Macula essa carinha de anjo. Repica o cabelo empastado de vergonha e joga para trás essa franja que tolhe teus impulsos mais sádicos e grotescos. Deixa de lado, pelo menos por um minuto, a sabatina duramente apreendida durante os catecismo católicos apostólicos romanos e abraça a doutrina zeferiana como quando era criança.

Faz um pouco de merda, pombas!

De que adianta essa visão plácida da vida, como quem espera por uma canonização ou coisa que o valha? O toque de um Papa não vai te fazer santo, assim como um porre de rabo-de-galo não vai te matar logo de primeira. Saca essa fúria entalada na garganta, arranja uma briga, encha os punhos de sangue alheio e doa um pouco do teu para a calçada de alguém.

Toca o foda-se, amigo!

Não seja tímido com o lado escuro da vida, com aquilo que ele tem a te oferecer. Aceita a maledicência de estar vivo e respira fundo e, com gosto, coloca pra fora essa mixórdia de existência que você leva. Larga o suor escorrendo pelo rosto, amarrota essa camisa bem passada e mete esses sapatos de verniz na lama. Chafurda esse nariz nela, meu querido. Vai, de uma vez, sem dar tempo dos pulmões se recuperarem.

Enfia o pé na jaca, truta!

Amplia teu repertório de palavrões e usa ele com freqüência. Deixa a polidez de lado, os bons modos, a etiqueta, os 10 Mandamentos, e coma de boca aberta, os cotovelos sobre a mesa. Não vão te barrar na porta se você limpar a boca na toalha uma única vez. Ou se enxer o corpo de desenhos belos, insanos e desconexos. Pega uma DST pra variar, em alguém casebre imundo de beira de estrada, algo que te faça expelir pus e gargalhar de dor.

Deixa de tomar tento, cara!

Veste um pouco da imundície que te cerca, aceita o errado como parte inseparável do certo. Rasga essa cartilha de bom-mocismo ridícula e entra com a gente nessa fossa de desilusão, desamor e verdade. É de graça e ainda faz bem pra pele. Pisa n´algumas violetas desse jardinzinho que você tão bem cultiva dentro do teu peito. Planta uns cravos nele, deixa a lagarta virar borboleta e ser comida por um sapo. É assim que funciona.

quarta-feira, julho 19, 2006

Clube da luta

Preciso de exercícios. Menos cerveja, pizza e ar condicionado. Mais caminhada, cereais e ar fresco. Acordar cedo, o que significa maneirar na leitura da madrugada. Usar mais os tênis que os coturnos. Deixar jeans de lado e vestir um moleton.

Caralho, não sirvo pra isso.

Mas gosto de pedalar. E posso fazer isso ouvindo música. Melhor. Mando consertar a magrela. Vinte paus para remendar alguns raios soltos e lubrificar corrente e cabos. Lubrificação é tudo nessa vida, diz meu pai. Beleza.

Será que ainda sei me equilibrar? Consigo. E andar sem as mãos? Hum, nada mal. Pareço em forma. "Mamas Boy", da Suzi Quattro estourando na minha orelha. Legal. Posso tentar pular lombadas? Rapaz, ainda sei fazer isso. Fantástico. E subir guia sem encostar nela? Moleza.

Voltei a ter 15 anos. O vento sopra no rosto que é uma beleza. Dá pra sentir os tendões preguiçosos esticando ao máximo a cada curva que a coroa maior faz. Os pulmões voltam a respirar o que devem, fazendo força para absorver cada golfada de ar que agora entra pela boca. Não dá pra acreditar. Solto as mãos e abro os braços feito um idiota que acabou de aprender a andar de bicicleta e quer mostrar para a mãe que ela não precisa se preocupar porque ele já domina totalmente o dispositivo.

Mas falta uma coisa. Não posso passar sem essa. E sei como conseguir um com classe. Preciso de um tombo. Uma bela ralada. Uma prova de que estou de volta, que estou na ativa. Sangre, baby, sangre.

Meu algoz é a lombada em frente ao prédio da prefeitura, na avenida mais movimentada da cidade. Se for para cair, que seja na frente de um monte de gente. Assim ninguém vai poder dizer que não me esforcei.

Quero velocidade máxima. Ajeito as marchas para as catracas mais pesadas. Do começo ao fim do meu propósito, acho que alcanço bons 30 km por hora. E acredito poder levantar um vôo de aproximadamente um metro e meio de altura da camada asfáltica que reveste a avenida. Já fiz isso antes. Vai ser lindo. Meus músculos pressentem minha intenção e se preparam para o pior. E o pior virá. Mas será bom. Como uma primeira vez bem dada.

Lá vamos nós. O boné ficou para trás, levado pelo vento, que mais do que nunca, é o ar em inabalável movimento. Os pedais rangem. Manoplas bem apertadas. Passo o primeiro semáforo. Verde. Beleza. O próximo provavelmente estará vermelho. Mas não posso parar. Seria melhor se fosse um domingo, quando o trânsito da avenida estaria mais calmo. Mas é segunda-feira. E o bicho vai pegar da mesma forma. Não dá pra voltar atrás. Não dá pra parar. Start me up. E I never stop.

Corto quatro carros até o terceiro semáforo. É perto da hora do almoço e todo mundo tem pressa. Eu também tenho. Sinto que ainda sou bom em costurar os veículos. O máximo de incidente é um retrovisor de uma Brasília que pega de leva no barhand esquerdo. Acontece.

O quinto e último semáforo se aproxima. É a fronteira final entre eu e o chão que pretendo beijar selvagemente. Vem nimim, sacana, vem. A luz é verde e já não sinto meu pés. A adrenalina que percorre meu corpo é inacreditável. Ela amortece tudo, inclusive minha consciência. É como ser lançado ao espaço, sem gravidade e prestes a explodir pela pressão. Lá vai.

Toco a base da lombada. Puxo o guidon com toda força para trás, jogando o corpo no mesmo sentido. Uma última pedalada para ganhar o impulso necessário. Uff. Solto do o ar dos pulmões, ranjo os dentes e abro bem os olhos. Quero ver onde vou cair. Não quero perder um instante sequer do estrago.

O pneu da frente é o primeiro a atingir o asfalto. Aciono o freio dianteiro até o manete encostar na manopla. As sapatilhas guincham e travam o aro.

Tudo pára.

Meu corpo é atirado para frente. Lindo. Lindo. Exatamente como planejei. Lá vou eu. Coloco as mãos para trás, não protejo nenhuma parte do corpo. Quero sentir por inteiro. Cada pedaço de pele branca vai agora se confraternizar com o betume negro e vai gostar disso. Eu sei que vai. Eu vou.

Vou de peito no chão, como se pegasse um jacaré numa onda sólida. Prancho que é uma delícia. Sinto a camiseta rasgar e o tecido fundir com o sangue que jorra da epiderme aberta. Os cotovelos aterrisam aos poucos, feito trens de pouso de um Boeing desgovernado, quase em chamas de tanto que ardem. Bato levemente o queixo, mas suficiente para o lábio inferior rasgar um pequeno corte e chorar vermelho. O golpe me faz virar de lado e oferecer a nádega esquerda e a coxa para ser degustada pelo asfalto. A bermuda sobe e carne alva é exposta, lancinada rapidamente. Gula.

Carne queimada. Mal passada, diria. É minha. O cheiro é latente e dói nos ouvidos. Sinto o corpo todo formigar e as parte raladas latejam. Ela gritam por socorro. Sorrio. Vai ficar tudo bem. Eu estou bem.

Me levanto. Ao redor, olhos me fitam num misto de susto, pena e reprovação. Não consigo me conter e gargalho histericamente. Um guarda pergunta se está tudo bem. Levanto o polegar. Nunca estive melhor. O sangue escorre dos cotovelos, da boca e do joelho.

Pego a bicicleta. Sofreu pouco. Apenas a corrente soltou. Recoloco no lugar, mas não vou sobre ela. Empurro até em casa. No caminho, penso que talvez deva chamar mais gente para fazer isso. Depois, quem sabe, preparar bombas de gordura humana e recrutar outros como eu. Não fai ser difícil. Basta ter uma bicicleta.

E aí? Tá afim?

segunda-feira, julho 17, 2006

Be a perfect

Olha, desculpa, mas você não pode mais andar com a gente. É, sabe, a gente decidiu isso ontem a noite, enfiados nessa catacumba aqui. Esse lance todo que rolou criou uma situação, digamos insustentável. Resumindo: tu não tem mais direito de compartilhar da nossa companhia.

É, eu sei, não foi fácil. Mas tu pisou feio na bola. Na boa? Não sei o que tu pode fazer para reverter isso. E nem quero saber, pra falar a verdade, já que jamais me meteria numa roubada desse tamanho. E não foi por falta de aviso, né? Caralho, como você pôde? Sabe, não dá pra entender. E, pra ser sincero, nem esquecer. A gente até desculpa, mas não esquece.

Aí fica difícil de continuar caminhando pelos mesmo trilhos, sabe? O que todo mundo vai dizer? Vão pensar que a gente é igual a você, e aí já viu, né? Sobra pra quem não tem culpa alguma no cartório. E você já estorou em muito a sua cota e sabe disso. Então decidimos dessa forma. Tu num canto, nós em outro.

Não, cara, não dá pra apagar isso. Nem que você peça. Foi grave demais. Não há amizade, pudor ou lágrimas que suporte isso. Tu tá marcado feito gado. Para ser mais bíblico, diria que tu tem um 666 na testa e outro na mão, manja? Uma marca eterna. Teve gente que chegou a passar mal só de ouvir metade da história. Não tem jeito, então.

Acho que tu já esperava isso, né? As coisas tem limite, e você ultrapassou o seu. E a gente não pode mais ficar do teu lado. Não dá mais. Não há estômago que aguente. É, eu sei, não vai ser fácil. Mas tu devia ter pensado nisso antes, né?

Agora não adianta mais. As coisas nunca mais serão as mesmas, e você sabe o quanto a galera preza que as coisas continuem como sempre foram. É duro mexer nessas coisas. É duro. A gente nunca faria uma coisa dessas, você sabe. E se fizéssemos, aposto que você faria a mesma coisa que estamos fazendo agora.

Bom, é isso. A gente não se esbarra por aí.

segunda-feira, julho 03, 2006

Ô, sina...

No Oscar torcemos para "O Jardineiro Fiel", filme anglo/americano, só porque tinha um brasileiro na direção.

Agora, na Copa, vamos torcer para a seleção de Portugal só porque ela tem um técnico brasileiro.

Gozar com o pau dos outros duas vezes num mesmo ano é dose, hein?

Nomenclatura

- Uma biscate, isso que ela é.

- Biscate é artesanato. Ela é uma tornozeleira de sisal, por acaso?

- Não. Então é uma puta.

- Putas cobram para dar. Duvído que ela o faça.

- Então é uma cadela.

- Ela não tem uma carreira de tetas, tem?

- Vagabunda.

- Vagabunda são duas nádegas sem a devida profundidade intelecutal. Sem trocadilho.

- Piranha, isso sim.

- Um peixe, meu caro, um animal que respira embaixo d´água. Tô errado?

- Uma ordinária, tá bom?

- O que vem pela ordem, que segue determinada seqüência. Não, não se aplica.

- Vaca?

- Preciso responder?

- Galinha...?

- ...

- Então me diz, caralho, do que eu posso chamar ela?

- Já tentou mãe?

- Tá louco? Eu também tenho uma.

- Pois então desista.

domingo, junho 25, 2006

Ai, que legal...

Se eu fosse um adolescente japonês, certamente seria fã dessa garouta

http://www.youtube.com/watch?v=f-ARgDzko9A&mode=related&search=heroin

Aceita-se novos membros


Ao que tudo indica, Deus abandonou o Rat Pack (abaixo, visualizado em seu auge há exato um ano), composto, na ordem, por este cabeludo, Biajoni e o próprio...


... para, ao que tudo indica, integrar novo agrupamento, doravante denominado Brat Pack.

Sem mais a acrescentar, os titulares remanescentes colocam-se agora procura de outro, cuja divindade deve equiparar-se, e assim restabelecerem a Santíssima Trindade.

Sugestões na caixa ao lado.

segunda-feira, junho 19, 2006

Embarque nesse carrossel

Se você tem mais de 25 anos, provavelmente se lembra da Maria Joaquina, a riquinha chatinha da novela mexicana "Carrossel", que ficou um ano em cartaz no SBT e TODO MUNDO deve ter, pelo menos, dado uma zapeada.



Olhando agora, concluo que éramos felizes e não sabíamos...

Siméia é coisa nossa

A Simy despirocou de vez aqui para os Blogspots. Tá de backside, digo, blog novo.

É, eu sei, é notícia velha. Mas eu não ligo de tomar furo. E furo é com ela, pode crêr.

Inclusive foi por causa do furo - não o meu, o dela - que ela precisou se escafeder para os Spots, onde encontrou sombra, água fresca que passarinho não bebe e chinchilas albinas peladas de New Hampshire.

Dizem que fizeram miséria. É, sacanearam legal, com tudo o que têm direito. Não foi bonito de se ver, pode crêr. Acredito que até aliviam um pouco quando contam, mas não dá pra ter certeza, já que, quando o bicho pega, é cada um por si e fire in the hole. Sacaram? Fogo no buraco. Ah, sim, ela entende disso. De fogo e de buraco.

Essa Simy...

domingo, junho 18, 2006

Momento Lúcio Ribeiro ou Como ser Colunista Pop em Poucas Lições ou Dessa Fruta eu Como até o Caroço - para Nunu

Sabe aquela banda que você estava esperando para salvar sua vida? Que soprasse um pouco de ar revigorante na cena (escolha algum movimento/estilo qualquer, como indie, poser, rocker, garage, ulli-bulli)? Então o (escreva aqui algo longo e sem sentido) é exatamente o que você procurava. Diretamente dos cafundós do (algum Estado quente e caipira dos EUA ou cinza e chato da Inglaterra), quatro moleques que mal aprenderam a tocar seus instrumentos trazem o sopro revigorante que faltava na música pop mundial. E já são os novos queridinhos da imprensa, capa dos prestigiosos (escolha algumas publicações, como o New Music Express, Rolling Stone, Blender, Mojo, Spin, etc...)

Misturando riffs que remetem diretamente a (nome de algum guitarrista famoso - morto ou em vias de - dos anos 60) em sua fase mais lisérgica, um vocal que bebe direto no (escolha um movimento musical qualquer famoso, como o punk, pós-punk, gótico, grunge), o (grupo de nome longo e sem sentido) carrega no seu som a loucura herdada do (se sobrou algum movimento, acrescente aqui). O resultado é um caldo sonoro que lembra (escolha algum conhecido grupo setentista) em seus momentos mais nervosos, embora em algum canto soe como (escolha um grupo famoso dos anos 80).

As letras, bem, as letras conseguem te jogar para o céu e, num só golpe, te derrubarem para o chão, que lembram bastante (acrescente algum compositor afetado e cheio de manias esquisitas de alguma banda dos anos 80 ou 90), numa reedição adolescente do dândi supremo. Timidez extrema, problemas com garotas, o valentão da escola, os pais que o querem como melhor aluno, as confusões em boates, está tudo lá. É como se (coloque o nome do vocalista, compositor e guitarrista base do grupo de nome longo e sem sentido) soubesse exatamente como nos sentimos nessa difícil fase da vida. E faz isso como ninguém dessa nova safra.

E não é exager achar que eles estão com a corda toda. Mesmo com pouco tempo de existência, já estão escalados para o palco principal do super festival (escolha algum festival europeu ou norte-americano que reúne um sem número de bandas). Detalhe: devem fazer o aquecimento para ninguém menos que (escolha algum grupo indie desconhecido ou uma atração já com prazo de validade vencida). Para se ter uma idéia, (coloque o nome de algum astro famoso e decadente) alardeou em recente entrevista a (escolha alguma revista das já citadas acima) que é fã de carteirinha dos garotos. Quer mais? O líder do (escolha alguma banda com mais de uma década de existência), (coloque o nome do sujeito), chamou o grupo para abrir os shows de sua próxima turnê mundial.

Por aqui, fontes garantem que as negociações para o (grupo de nome longo e sem sentido) toque no (escolha algum festival de música patrocinado por empresa de celular ou marca de bebida/cigarro) estão mais do que adiantadas. É possível, embora não confirmado, que eles façam shows extras ainda em (escolha três capitais das regiões Sul ou Sudeste do país).

quinta-feira, junho 15, 2006

De trailers e jeans

Certa vez, li – ou ouvi dizer – que trailers são como calças jeans justas. Fazem uma coisa parecer que é outra. E é essa sensação que tenho toda vez que vou ao cinema e assisto a algum trailer. Fico com aquele gosto de "ah, mas será que o filme todo vai manter esse ritmo?".

Explicando melhor, é quando uma mulher veste uma calça jeans apertada. Ela ganha formas que, às vezes, pode não ter sem a dita cuja. A famosa propaganda enganosa, entendem? O tecido "levanta" o que seria esteticamente "caído". Com os filmes acontece a mesma coisa.

Se antes um trailer era meramente um pedaço do filme inteiro, uma amostra do que estava por vir, hoje existem equipes exclusivas voltadas apenas para a elaboração dele. Porque é sabido que um bom trailer – assim como uma boa calça jeans – garantem, pelo menos, um bom público de estréia. Por isso é feito com base em uma edição das cenas mais impactantes, com trilha sonora própria e, não raro, instigando o sujeito da poltrona com mais dúvidas ainda. E sua função é exatamente essa, a de empolgar o espectador, que foi até a sala de cinema para ver outro filme, voltar lá novamente com o propósito de conferir inteira a obra da qual só apreciou uma idéia.

O mesmo raciocínio se aplica no caso daquela garota na boate se esbaldando dentro de um justíssimo jeans de cós baixo. Aquela calça não é simplesmente uma calça. É uma arma de sedução. Foi pensada de forma a aumentar a libido alheia e atrair olhares. Ela transcende a simples idéia de mero pedaço de pano com três buracos.

O problema é que, com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais difícil de ceder a essas artimanhas. Tanto no caso dos trailers quanto do recheio dos jeans apertados. A reação depois de apreciar um ou outro é a mesma. Desconfiança. "Hum... será que é tudo isso mesmo?", pensa o espectador, coçando o queixo. Em ambos, o resultado pode ser até melhor que o esperado.
Ou não. Uma sessão apenas de trailers seria ideal, se pensarmos bem. Assim como se todas as mulheres só vestissem jeans justos até para dormir e tomar banho.

Porém, via de regra, é bom desconfiar de trailers muito elaborados ou de calças justas demais. Ele podem guardar surpresas nada agradáveis e o resultado vai ser uma broxada – literal ou metafórica – monumental. Aí só resta ligar a TV e relaxar.

terça-feira, junho 13, 2006

Deus também faz aniversário (e não é no dia 25 de dezembro)

O lance é que hoje se comemora o aniversário do Denis. Não um Denis qualquer. Mas o Denis Guimarães, filho da dona Rúbia e do seu Daniel. Irmão do Thiago e da Thaís. O Denão. Denitcho. Carpetinho. Soul Brother para quem entende do riscado.

Hoje é aniversário dele. E eu nem sei quantos anos ele tá fazendo, pra ser bem sincero. Acho que são 27 ou 28. Aposto no último, mas não tenho certeza. Como também tenho certeza que ele não se importa da minha memória não guardar esse tipo de coisa. Ela guarda coisa mais importante.

Guarda momentos impagáveis e impublicáveis. Guarda amores e rancores. Guarda vontades e frustrações. Guarda risos e lágrimas. Guarda vitórias e derrotas. Guarda sufocos e alívios. Guarda festa cara e vinho gelado na calçada. Guarda ups e downs. Guarda vida. Muita vida.

E vai guardar muito mais. Sem precisão alguma, é bom ressaltar.

Feliz aniversário, latinfuckinloversoulbrother do caralho. Vai que é tua.

Cinco dedos no toba

Dizem que depois disso...



... virá a Groselha Carla Perez. Oh, mainha, tem dó...

segunda-feira, junho 12, 2006

Estado de graça

Nos últimos tempos, tornei-me um legítimo caçador de CDs nas Lojas Americanas. Toda semana, não deixo de dar, pelo menos, umas três passadas pela loja aqui da cidade. E quase nunca me arrependo.

Ontem, por obra e graça do destino, adquiri um legítimo "Jimi Hendrix: Live at Woodstock". A peça, contendo dois discos da antológica, histórica e necessária apresentação do negrão, me saiu pela bagatela de R$ 19,90. Logo, posso afirmar com segurança que paguei menos de R$ 10 por cada CD que agora roda freneticamente no meu aparelhinho portátil.

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Mas essa não foi a primeira vez. Por pouco mais que a mesma quantia - coisa de R$ 10 - levei para casa "Axis: Bold as Love" do próprio Hendrix; "Exile on Main Street", "Stripped" e "Their Satanic Majesties Request" dos Rolling Stones; "Bring ´em In", do Buddy Guy; "Face to Face", do John Lee Hooker; "Definitly Maybe", "Be Here Now" e "Heathen Chemestry", do Oasis.

Só coisa boa. Só coisa fina. Tudo lá, escondido no meio de toneladas de Jennifer Lopez, Jethro Tull e Rod Stewarts.

"E eu trilhei o teu caminho, ó Pai, e não me furtei de resignar-me ante teus ofícios, pois são justas as tuas palavras e certos os teus designios" - Proteus, 23:12

Amém

sábado, junho 03, 2006

Ah, não...

Existem certas coisas que jornalista só aprende da pior maneira possível. Uma delas é não escrever sobre o que não se sabe. Primeiro, porque vai desinformar o leitor. Segundo, porque via de regra alguém que entende daquilo vai ler e te espinafrar sem dó.

Dêem um bico nisso:


"No melhor estilo 'jornalismo gonzo', que consagrou Truman Capote, Hunter Thompson, Norman Mailer, Lester Bangs e Gay Talese, entre outros nomes imortais, Nick Tosches vai a campo (...)".


Saiu hoje, 3 de junho, no Caderno C, do Correio Popular.

É foda, vai dizer? Bangs gonzo, tá, vai lá. Mas Capote? Mailer? Talese? Parafraseando Marcelo Camelo, tenha dó.

Cardoso, cadê você numa hora dessas, meu filho?

sábado, maio 27, 2006

Gosto não se discute

- E aí? Vai na festa do peão?

- Não gosto de mulher feia, cheiro de estrume e bêbado chapeludo.

- E no pagode? No pagode você vai, né?

- Não gosto de mulher que se veste mal, cheiro de perfume vagabundo e bêbado com camisa regata.

- Ah, mas na próxima rave eu posso colocar seu nome, né?

- Não gosto de mulher de cabelo raspado, cheiro de incenso e bêbado doidão.

- Bom, então tá aqui sua pulseirinha para entrar de graça no Rock Punk Hard Metal Fest.

- Não gosto de mulher que se veste como homem, cheiro de maconha ordinária e bêbado de cerveja quente.

- Nesse caso, melhor buscar os convites para o camarote do carnaval...

- Não gosto de mulher que não é mulher, cheiro de espuma e bêbado de camisa de cervejaria.

- Tá. Dá seu nome para colocar na entrada da boate nova que vai inaugurar neste final de semana.

- Não gosto de mulher que dorme de maquiagem, cheiro de maquiagem e bêbado maquiado.

- Ok. Toma duas entradas para o bingo.

- Vai rolar pastelzinho?

sexta-feira, maio 26, 2006

Fora de catálogo

A Shakira é legal. Mas antes de se tornar uma bitch da pior espécie, um arremedo de latina criado pelas mentes perturbadas dos capos da indústria fonográfica estadunidense, ela também era singela. E doce. E 100% latina. É, latina. Corpo roliço, cabelos negro escorridos, pêlos em profusão e um rebolado naturalmente hipnótico. Não tinha, como faz questão de mostrar cada vez mais, essa cintura de batedeira com ataque epilético. Exagero, fala sério. Fora os cabelos louros e os discos em inglês. Perdeu toda sua originalidade, sua essência, e principalmente, sua coerência. Agora, é apenas mais um gostosa rebolando o rabo na MTV e alimentando fantasias adolescentes naqueles repulsivos moleques punheteiros norte-americanos.

Mas eu gosto da Shakira. Gosto da Shakira de antigamente, quando ainda usava o sobrenome Mebarak. E no encarte do primeiro CD tinha um número de caixa-postal para se corresponder com ela, veja você. Isso faz quase 10 anos. Dez anos que ela surgiu, no estouro de outra grande cantora, esta com um pouco mais de bom senso e respeito a si própria, Alanis Morissette. Sem comparações, evidentemente, cada uma com seu cada um.

Então, um belo dia, eu senti saudades dessa Shakira. Porque ela me remetia a um tempo que a única coisa que me preocupava era arrumar um jeito de enfiar a mão dentro da calcinha da minha namoradinha. Geralmente ouvindo "Pies Descalzos", diga-se de passagem.

Aquilo me bateu forte. E decide comprar o dito. Nostalgia sempre foi o meu forte, então, porque não? Minha namorada também gosta, então seríamos dois a voltar a um adolescência que parece já tão distante.

Impossível achar em lojas de discos. E sebos era uma alternativa até então descartada, já que o negócio era ter o CD novo. Vou no Submarino. Tudo tem no Submarino. Digito Shakira. Aparecem primeiro os últimos discos. DVDs ao vivo. Vou descendo a barra de rolagem. Embaixo de tudo, tá lá "Pies Descalzos". Ao lado, em vermelho, a terrível informação: "Fora de Catálogo".

É, bróder, fora de catálogo. Quer dizer que não fabricam mais. Quer dizer que é legalmente impossível eu adquirir o primeiro CD da Shakira. Não fazem mais, sacou? Se eu quiser ouvir "Antologia" e lembrar da primeira vez que dancei com uma garota numa domingueira do Rio Branco, eu não vou poder. Não tenho mais como voltar a sentir vontade de dançar ao ouvir "Un poco de amor".

Fui cerceado no meu direito de recordar através de estímulos externos. Isso significa que parte da minha adolescência está oficialmente fora de catálogo! Claro que posso recorrer a Internet e baixar facilmente as músicas, ou mesmo ir até um sebo decente e comprar o disco por um preço honesto, mas não! Eu quero um disco novo! Quero "Pies Descalzos" e tudo aquilo a que ele me remete da mesma forma que era.

Não é justo retirarem das prateleiras uma parte da porra da minha adolescência! Que foi uma merda na sua maior parte, é bom ressaltar. Mas a Shakira representa exatamente a parte boa. A parte que gosto de lembrar. E que agora não posso mais, graças a um bando de executivos filhosdaputa que decidiram que aquela Shakira da minha adolescência não servia mais.

Porra, Shakira. Até você?

domingo, maio 07, 2006

Arrá, urrú, o Biajonio é nosso!

Depois de exatos 365 dias e algumas horas de negociação, finalmente o TodoDia vai receber um coluna assinada por Luiz Biajoni, o Bia, pai biológico da Belle e da Lia, postiço do Dudu, irmão da Jennifer Aniston e sortudo (por N motivos) marido da Karen, que dispensa apresentações. A coisa, devo confessar, não foi fácil. Para ambas as partes. Alguns trechos, desde o início do processo.

Outono de 2005

- Chefe, que tal uma coluna do Bia?

- Bia? Quem é Bia? Bia Seidel?

- Não, o Luiz Biajoni. Tu conhece ele, tá lembrado? Do tempo da TV e tal...

- Ah, tá. Sei. Biajoni. Hum.

- E então?

- Não.

- Por que não?

- Porque não, oras. Eu que mando aqui e não quero esse terrorista dando trabalho. De problema já basta você.

Primavera de 2005

- Chefe, tô com uma idéia de reforma do caderno de cultura.

- Ótimo. Faz e me mostra.

- Tá aqui, já fiz. Mais colunas, gente formadora de opinião, polêmica e tal... fora o visual, mais arrojado, leve... coisa fina, você sabe...

- Ah, sabia. Deu um jeito de encaixar o Biajoni, né?

- Claro.

- E ele vai falar sobre o quê?

- Sobre o que ele quiser.

- Há, essa é ótima. O Biajoni com espaço a vontade para escrever o que quiser? Cê tá lôco...

- Mas a idéia é essa mesma. Loucura. Insanidade. E mais um punhado de processos e adevogados nos nossos calcanhares, chefia...

- Se ele quer falar o que quiser, que monte um blog.

- Ele já tem um.

- Então não precisa do jornal.

- Mas o jornal precisa dele.

- Ah, que coisa mais gay... Mas tá bom. Vou pensar no caso.

Início do verão de 2005

- Os últimos ajustes estão sendo feitos, chefia. Quer dar uma olhada?

- Tá. Me passa o projetinho completo por e-mail.

- Beleza. Mas o Bia fez uma exigência.

- Quê? Qual?

- Gerânios. Ele quer um vaso de gerânios na entrada do jornal.

- E posso saber porquê?

- Diz ele que, por ser renal, ele não pode se associar a nada que não possua a influência magnética dos gerânios. Todas as empresas para quem ele presta assessoria têm gerânios na entrada.

- Ah, claro. Uma garrafa de Chandon ele não quer?

- Não. Diz que prefere Jim Bean.

Final do verão de 2005 e início de 2006

- Tudo certo, chefitcho?

- Cadê o restante do projeto?

- Que restante?

- Ué, preciso ver ele completo. Pede umas colunas para o Biajoni. Vai saber quais são as intenções dele, então é melhor verificar.

- Mas eu já li e estão dentro da proposta.

- Da proposta dele, que deve ser a mesma que a sua, né? Você não conta, é farinha do mesmo saco. Deixa eu ler alguma coisa dele.

- Tem o livro.

- Quê livro?

- Ele escreveu um livro. Inclusive já até saiu matéria sobre ele.

- Ah, o Sexo Anal. Sei. Hum. Bom. Sei lá.

- Vai por mim, o lance tem tudo pra dar certo.

- Bão, então toca adiante.

- Ah, tu não esqueceu dos gerânios, né?

Outono de 2006

- Bia, tua coluna foi aprovada, bicho. Começa na próxima semana.

- Agora não posso.

- Como não? Tá louco? Quer me foder?

- Tô entrando no meu inferno astral. E ele vai até o meu aniversário. Esse ano faço 36, filhão. Sabe o que é isso? É a velhice cada dia mais perto e ...

- Ah, não, esse papo de idade de novo não, pelamor. Ó, escreve logo alguma coisa e me manda aí, cara, senão eu rodo...

- Posso falar sobre mim?

- E tudo sabe falar sobre outra coisa?

- ...

- Tô zuando, cara, manda vê aí...

Final do outono de 2006

ESTRÉIA - 9 DE MAIO

Provavelmente aqui.

domingo, abril 30, 2006

Receita para ficar triste (mas...)

Hoje eu decide que ficaria triste. Não para a vida toda, mas por um momento. Um momento em que eu seria totalmente triste. 100% triste. Free happy. Melancolia pura e simples, dessas de mudar a expressão do rosto, repuxando lábios, causando olheiras que custam a sumir, aumentando as rugas e tal.

Então vasculhei lá no fundo (bem, não tão fundo) e puxei minhas mágoas. Ah, são várias, pode acreditar. Os bilhetes românticos que eu colocava dentro do estojo das garotas no primário e elas faziam questão de rasgar na minha frente e gritar em alto e bom som que jamais teriam nada comigo; as festinhas do ginásio, na casa dos amigos, eternamente com o pé esquerdo encostado na parede, frustrado por não conseguir tirar ninguém para dançar na hora da música lenta; os sucessivos nãos, seguidos de gargalhadas, das meninas das domingueiras ante minha completa inabilidade de dizer as palavras certas na hora certa; os risinhos abafados da classe quando a professora me escolhia para ler algum texto em voz alta e eu naturalmente gaguejava; o nome sempre de fora das baladas organizadas pela comissão de formatura no colegial; o coração comido aos pedaços por vocês-sabem-quem na faculdade; o olhar de "nossa, que tipo esquisito" diante da minha total incapacidade de me sociabilizar em ambientes ou com pessoas que não padeciam da mesma angústia existencialista que eu; alguma amizades que se partiram como vidro ao mesmo tempo que cortaram como tal...

Só com isso já era possível montar uma tarde toda de tristeza. Mas faltava uma tilha sonora. Sim, nenhuma tristeza é completa sem uma trilha sonora. Aí tome Legião Urbana, Smiths, Janis Joplin, John Lennon, Billie Holliday, e tins e bens e tais. Nada de novidades. Elas não me deixam triste, e sim irritado, então vou para a velharia óbvia. Nada mais novo que 20 anos. Tá, poderia incluir aí o Muse ou o Placebo, mas não precisa. Fico com os clássicos do cancioneiro melancólico, que de certa forma marcaram os períodos de cada mágoa lembrada.

Claro que falta mais. A bebida. Ninguém consegue ficar suficientemente triste sóbrio. É a bebida quem faz o link entre a música e as mágoas. Escolho vinho tinto, evidentemente, a bebida da melancolia por excelência. Encorpado, forte, cheiroso e... um tanto caro.

Sim, é preciso gastar dinheiro para ficar realmente triste. Não conheço ninguém triste de bolso cheio. O dinheiro pode não comprar a felicidade, mas certamente distrai a tristeza. E não é o que quero. Quero a tristeza total, completa, cheia até a borda, quase derramando. Na verdade, quero a tristeza jorrando pelos meus póros.

Então tenho minhas piores lembranças. Tenho a música. Tenho a bebida.

Mas tenho você.

Você não me deixa ficar triste. Não deixa que esses meus sentimentos, tão queridamente cuidados e preservados ao longo dos anos, venham à tona. Quer que eu me embriague, sim, mas nos seus apelos de amor incondicional, nas promessas de amor eterno. Quer que eu ouça a tristeza da minha própria alma entrando na sua e se fazendo uma só, se libertando desses fantasmas todos que me atormentam diuturmanente.

Você, que não me deixa opção senão ser feliz. Que me escancara um sorriso besta toda vez que lamento minha existência pífia e niilista. Que desdenha das minhas cicatrizes beijando-as com sofreguidão e lascíva. Que me mostra caminhos dentro desse coração tão jovem e ao mesmo tempo tão velho e pedregoso. Que tira força sabe-se-lá de onde para prosseguir nesse lugar inóspito e tardio que é o meu desejo.

Você não me quer triste. E não me deixa escolha. Deve ser por isso que... bem... você sabe. Nós dois sabemos. E isso basta.

segunda-feira, abril 17, 2006

Conversa fiada

Mesa de bar. Quatro cadeiras cheias. Um assunto qualquer entre goles de cerveja e beliscadas no frango frito. Porfírio chega. Sorriso de orelha a orelha.

- Tô namorando - diz.

Expressões de incredulidade seguidas de ares de muxoxo.

- Sério - continua. Acabei de pedir e ela aceitou. E digo mais. Ela adora sexo e não gosta de dançar.

Engasgos. Bofes botados pra fora. Pigarros profundos.

- Gosta de trepar? - pergunta um dos convivas.

- E como. Rola de tudo. Chego a arrepiar só de pensar.

- E não gosta de dançar? - questiona um segundo, os olhos ainda lacrimejantes após engasgar com a bebida.

- Vixi... - antecipa Porfírio. Não pode nem ouvir falar em balada. O negócio dela é esse aqui, ó. Tomar um gorós, curtir com a galera e se mandar.

Silêncio.

- E então? Não vão me dar os parabéns? - questiona Porfírio.

Constrangimento. Um pigarro discreto. Dedos alisando os copos suados, brincando com palitos quebrados, tamborilando sobre a mesa. Porfírio sente o ar pesado. Arqueja as sobrancelhas.

- Cara, então, é que... - começa um deles.

Porfírio empalidece. Sabia que era bom demais para ser verdade. Tenta antecipar a notícia, mas emudece. A língua trava. O garçon traz uma dose de vermute com amendoim.

- Sabe, é que isso que você tá falando não existe. Mulher que gosta de trepar e não gosta de dançar... sinceramente... olha, a gente nem conhece ela, de repente é estrangeira - continua outro.

- Às vezes, pode ser até uma alienígena - permeia um, conseguindo a aquiescência de todos.

"Amigo é pra essas coisas", pensa Porfírio, entornando a bebida num gole só. Se lembra das noitadas selvagens, o sexo oral maravilhoso - "ela até engolia, se querem saber" - a disposição para um ménage, a loucura por música clássica e barzinhos fora do circuito de badalação social...

Sente nojo, repulsa de si mesmo. Faz menção de levantar. Os amigos o seguram. Cabeças baixas. Dor compartilhada. O pensamento é um só, quase saindo para fora: "Mulher que gosta de sexo e não gosta de dançar só pode ser homem".

quarta-feira, abril 12, 2006

Causos helenísticos

Heleno é um paraíba arretado. Em meio a cocotas e mancebos bem aprumados que freqüentam as aulas de pós-graduação mandrakiano - inclusos este e este aqui também - ministrados ao final de cada quinzena, Heleno se destaca. Primeiro, por ser nordestino de cabo a rabo e muito orgulhoso disso. Fez faculdade de jornalismo a cuspe e barbante, faz frila para jornais comerciais (?) e, exalando tendências S&M, sonha ser repórter policial do TodoDia. Num self-service onde o quilo da gororoba custa R$ 15, seu prato nunca sai por menos de R$ 17. Uma máquina, o cabra.

Segundo, Heleno gosta de todo mundo. E todo mundo gosta de Heleno. Principalmente quando conta seus causos.

Conta ele que, durante um comício lá na cidadezinha de onde veio, no ermo sertão da Paraíba, o candidato subiu ao palanque para discursar. Dedo em riste para o céu, perdigotos aos litros sendo lançados a cada frase proferida, o político soltou.

- Eu e meu vice vamos formar um trio de honestidade e descência.

Um assessor, percebendo a cagada, cutuca o homem e o corrige.

- Doutor, um trio são três. Você e seu vice são dois.

Claro que o discípulo de Arraes não se fez rogado e justificou, quase engolindo o microfone.

- A linha férrea são duas e é chamada de trio de trem. Então eu e meu vice também somos um trio. E tenho dito.

Mas tem mais.

Durante a inauguração de uma praça pública, o prefeito enche a própria bola.

- Tá aí, meu povo, a praça que eu prometi durante a campanha. A praça tá fazida, meu povo.

Um assessor o chama de lado e tenta corrigir.

- Hã, prefeito, não é fazida, é feita.

Como perder o rebolado é coisa de paulista prego, o prefeito estica o dedo para a praça atrás da multidão que se aglomerada para ouví-lo e dispara.

- Fazida ou feita, não importa. A palavra tá dizida e a praça, construída.

Ovação total e reeleição garantida.

sexta-feira, abril 07, 2006

Agora não falta mais nada

Depois disso, acabou de vez nossa utilidade...

quinta-feira, abril 06, 2006

Sem graça

Não sei se a intenção foi auto-ironia, mas Peter Fonda, o sujeito-homem que personificou o ideal da liberdade setentista pilotando uma Fat Boy em "Easy Rider" e está há anos afastados do cinema, volta às telas participando do filme do Motoqueiro Fantasma. Para quem não sabe, ele, o Motoqueiro Fantasma, é um sujeito que encarna o tal Espírito da Vingança na forma de um motociclista com visual sadomasoquista, cabeça de caveira em chamas, uma escopeta, e pilota uma... Harley-Davidson.

Sacaram? Peter Fonda, "Easy Rider", Harley-Davidson, Motoqueiro Fantasma... Hã? Hã?

Pelo menos ele não pagará o mico de emprestar a carcaça para o cabeça de fósforo. Isso ficou a cargo do Nicolas Cage. É, a grana deve tá ficando curta...

terça-feira, março 28, 2006

Pô, PAS...

Pedro Alexandre Sanches foi meu primeiro professor.

Quando moleque, dos 15 aos 22, não perdi uma reportagem que fosse na Ilustrada que levasse seu nome. Podia até ser resenha de disco novo da Gal Costa ou Max de Castro (?). Não importava. Pouco importava o conteúdo na verdade. O lance era absorver o estilo inconfundível do Pedro. Classe. Vigor. Criatividade. Voz autoral.

"Quanto crescer, quero ser como ele", pensava, enquanto limpava as mãos cheias de restos de graxa no jaleco azul da oficina de meu pai, onde trabalhava. Eu, não Pedro. Mas, ainda assim, ele estava alí comigo, todas as manhãs, seja na folha do jornal ainda limpo, estendido sobre a bancada de madeira-de-lei enegrecida pela ação do pó de ferro das máquinas de tornear discos e tambores de freio, graxa velha e fluídos sintéticos diversos, seja no momento de usar essa mesma folha para embrulhar alguma peça.

E eu o lia. Embora, secretamente, eu o traísse com outros escribas, de outros meios, veículos ou da sua própria casa. Mas não tinha jeito. Ele era o preferido. Um texto de Pedro é um texo de Pedro, e ponto final. Continuei a ler a Ilustrada após sua saída graças a um TOC desenvolvido graças a ele.

Mas fui atrás dele, evidentemente. E lá estava Pedro, agora na Carta Capital. Revista legal, do "seu" Mino Carta e tal, figurão do jornalismo, desses que a gente aprente a admirar no curso de jornalismo e blá, blá, blá. E Pedro também tem blog, dos mais acessados. Prova de vida inteligente na rede, e cousa e lousa.

Claro que nessa história toda há um porém. Pedro, acredito, deve ser um sujeito bem relacionado. Chapa de todo mundo, companheiro de todas as horas, quebrador oficial de galhos da galera, enfim. Gente fina, gente boa. E isso, percebo, acaba refletindo na sua produção. Mais especificamente, refletiu nessa reportagem aqui.

Na quinzena que todos resenham o lançamento do disco do Seu Jorge, o Pedro faz um perfil do cara. Para não falarem que não falou da fina flor, ele escreve um único parágrafo sobre Life Aquatic – Studio Sessions Featuring Seu Jorge. E ponto final. O resto é mais do mesmo. Tô errado, mestre? Quem não sabe ainda que o carioquíssimo em questão foi morador de rua, despontou em Cidade de Deus, virou cult na França, é amigo do Bill Murray e esnoba a fama ao mesmo tempo que deita na cama?

Tu não acha que o sujeito já está hypado demais? Até em novela ele anda tocando. Quem ainda não falou do sujeito? Pô, PAS... tinha que fazer isso? Tinha que deitar mais do mesmo para a massa? Qualé, neguinho? Não quer se indispor com o Jorge? Se tá com medo, porque veio? Tu não é disso, não. Nunca foi. Que chapa-branca é essa? Nelson Motta is not dead.

Pega mal falar mal, é isso? Tem sempre que achar um lado bom, então? Claro que toda unimidade é burra, mas quando ela grita em uníssono, é bom pelos menos ouvir com mais cuidado. Como fez o Dapieve. E tantos outros. Menos tu, PAS. Menos tu. Pô, PAS...

domingo, março 26, 2006

Você sabe que está ouvindo rock progressivo demais quando...

(Adaptação de lista extraída do Whiplash. Que joguem os ovos...)

1. A palavra "mellotron" provoca uma estranha sensação nas suas partes intímas.

2. Você se refere ao vocalista do Yes como "O Profeta Sagrado Jon Anderson".

3. Você culpa Phil Collins pela saída de Peter Gabriel do Genesis.

4 Você adora os discos "Invisible Touch" (Genesis), "90125" (Yes) e "Love Beach" (Emerson, Lake & Palmer), mas tem vergonha de admitir.

5. Você sabe o significado da palavra "firth".

7. Você acredita que o talento de um baterista é mensurável pelo tamanho de seu instrumento.

8. Você considera letras um desperdício de tempo entre solos.

9. Você vai a um show do King Crimson e toma notas.

10. Você não respeita nenhum tecladista que não usa um Hammond B3 verdadeiro.

11. A sua fantasia de Menage à Trois envolve você, Keith Emerson e Rick Wakeman.

14. Você não vê nada de engraçado com Robert Fripp e está disposto a sair no braço com quem vê.

15. Os adjetivos "Canterbury", "melódico", "sinfônico" e "neo" anexos à palavra "progressivo" significam apenas "ruim".

16. Você deu aos peixes do seu aquário nomes de membros antigos e atuais do Yes.

17. As letras de "Close to the Edge" (Yes) têm um sentido profundo em sua vida.

18. Você fez e usou a sua própria roupa de palco da turnê "Aqualung" do Jethro Tull.

19. Você gastou anos de terapia tentando esquecer que John Wetton já fez outra coisa além de tocar com o King Crimson.

20. O seu código secreto para sair de um show do Yes é: "Roundabout".

21. Todas as suas bandas favoritas têm nomes de personagens ou lugares de "O Senhor dos Anéis".

22. Você acredita que um baixista não merece respeito se não usar Rickenbacker.

23. Você sabe o que é uma Warr Guitar.

24. Você chama a maior parte do Rock Progressivo atual de "derivado", mas sonha secretamente com o Yes gravando um "Close to the Edge II".

25. Você acredita que tocar em uma rádio é o sinal de decadência de uma banda.

26. Você considera "Os Reis do Iê-Iê-Iê" uma besteira para pessoas presas ao passado, mas já assitiu "The Musical Box" seis vezes.

27. Você gasta mais tempo e energia tentando fazer a sua mullher se animar com Rock Progressivo do que a animando efetivamente.

28. Você já dançou ouvindo "Tom Sawyer" (Rush).

29. Você não está disposto a considerar Led Zeppelin uma banda de Rock Progressivo.

30. Você é homem, escolado, groupie e assexuado.

31. Você ligou para uma rádio e xingou todo mundo por terem tocado a versão editada de "Thick As A Brick", do Jethro Tull.

32. Você insiste em ter um tapete persa no palco.

33. Você sabe o que são pedais Taurus.

34. Você ouve o barulho de um acidente de carro e diz "Isso é derivado de {coloque o nome da banda aqui}".

35. A sua coleção de CDs é separada por ordem das notas que cada músico tocou.

36. Você gasta rios de dinheiro para conhecer o som de uma banda, mas acaba descobrindo que só vai conseguir algum CD deles na base de troca.

37. Você condena o som da música techno, porque nenhum som feito por computador pode ser considerado música, mas compara às escondidas o estilo dos sons de [coloque o nome de qualquer sucesso aqui] com o de [coloque o nome de algum tecladista aqui] tocando em [coloque o nome de um clássico do Rock Progressivo aqui].

38. Você considera todo e qualquer estilo de música como um derivado do Rock Progressivo, que é a a única forma verdadeira de música.

39. Você tentou escutar toda a sua coleção (e as dos seus amigos) de discos de Rock Progressivo lendo "O Retorno do Rei" e chegou à conclusão que, já que todos combinaram, Tolkien era fã de Rock Progressivo também.

40. A "turnê mundial" da sua banda favorita consiste em três apresentações pela costa oeste - um show acústico em uma livraria, um show de aquecimento pré-festival em uma noite de sexta ao lado de outras seis bandas, e um show grátis na loja de aluguel de ternos do seu tio.

41. Você acredita que tocar teclado sem estar usando uma capa é uma desonra em relação ao instrumento e ao Rock Progressivo em si.

42. Você pode tranquilamente sentar em uma sala ao lados de outros fãs de Rock Progressivo e levar uma conversa inteligente sobre bandas como Renaissance e Illusion... mas o que você queria mesmo é que eles fossem embora para ouvir o seu vinil de "Hero and Heroine" do The Strawbs.

43. Você é capaz de recitar qualquer uma das histórias que Peter Gabriel contava entre uma música e outra nos shows do Genesis, tanto em inglês quanto em francês.

44. Você chora quando seus filhos chama a sua coleção de CDs de chata e pedem se não tem nada do Nirvana.

45. Seus olhos se enchem de lágrimas quando vê um filho seu cantando junto com um de seus discos de Rock Progressivo.

46. A primeira coisa que você verifica na procura de uma boa escola para seus filhos é se possuem aulas em Kobaian.

47. Você não fala mais com a sua esposa desde que ela se recusou a batizar as crianças de Dweezil e Moon Unit.

48. O seu chefe tem perguntando o porque de uma letra "K" maiúscula antes de algum "c" nos seus relatórios e memorandos.

49. Suas filhas se chamam Galadriel e Nico.

50. Você levou seu filho para comprar pratos para a bateria dele, porque ela estava pequena demais, com menos de uma dúzia.

51. Você mede o valor de uma música com o número de variações de compassos nela.

52. Para você, a letra X no fim do nome de uma banda significa que ela é Progressiva.

53. Você não respeita um baixista que não toca mais do que quatro cordas.

54. Você parou de ouvir Pink Floyd quando começou a ouvir uma banda de nome estranho que vem da Indonésia.

55. Você não considera música qualquer passagem improvisada que uma banda faz ao vivo.

56. Você fez uma lista dos 10 melhores discos conceituais.

57. Você pediu que "Time Stand Still" do Rush fosse o tema da sua formatura.

58. Tocou "June" ou "Surrounded" no seu casamento.

59. Você verificou se "A Change Of Seasons" do Dream Theater sincroniza com "A Sociedade dos Poetas Mortos", como Pink Floyd com "O Mágico de Oz".

60. Você admite que uma banda é boa, mas diz que é ruim porque você é fiel ao Rock Progressivo, e se não é Prog, não é bom.

61. Você assiste a gravações de shows do Genesis no auge e não vê nada de estranho em ver Peter Gabriel vestido de flor.

62. "The Dark Side Of The Moon" não é Progressivo o bastante para você.

63. Suas visitas sempre perdem a hora quando você coloca alguma música: "Nossa, já é tudo isso? Mas é a mesma música que você colocou desde quando eu cheguei!".

64. O paradeiro atual dos integrantes da sua banda favorita é desconhecido.

65. Você mandou cartas para todas as emissoras de TV possíveis dando a idéia de fazer um desenho animado sobre as histórias do Gong.

66. Conta quantas notas seu músico favorito é capaz de tocar por segundo.

67. "Revolution 9" é a única coisa dos Beatles que você gosta.

68. Você fez questão de se tornar um virtuoso em um instrumento usado apenas para produzir algum efeito sonoro eventual em uma determinada música.

69. Ninguém deixa você escolher as músicas para uma festa.

70. Os anos 80 foram difíceis para você.

segunda-feira, março 20, 2006

Eu já participei de um episódio de Além da Imaginação ou O Bia é FORGADO pacas

Domingo pede cachimbo, me ensinou mamãe quando pequeno. E mais: que o cachimbo é de ouro e, não se sabe porque cargas d´água, ele bate em touros. Os bovinos, considerados valentes e até inteligentes pois sabem que fomos nós quem fizemos os cachimbos de ouro que batem neles, revidam. Em nós. Como somos fracos, caímos em buracos. E, bem, o buraco é fundo, e aí... acabou-se o mundo. Fim.

Mas naquele domingo eu não pitaria. Minha tarde seria toda sugada pelo trabalho. Bobagem explicar porquê, coisas do jornalismo diário. Antes, porém, um convite me esperava. Velho companheiro de redação, amigo de todas as horas, bom copo e bom garfo, o calvo e santista Arthur Jorge Trevisoni queimaria carnes no quintal dos fundos. Recém casado, morando em uma chácara na campestre Nova Odessa, eram comuns os assados dominicais organizados por ele e sua excelentíssima esposa. Era só levar cerveja.

Pego minhas coisas. Meu celular toca. "Compra Coca-Cola", pede, do outro lado da linha, minha namorada. Mesmo afeita ao álcool, naquela tarde ela não beberia outra coisa que não refrigerante a base de caramelo. Um vício insuperável, diga-se de passagem. Murmuro qualquer coisa e penso onde poderia comprar o litro e meio do famoso desentupidor de pia sem desviar do caminho. Economizar combustível é uma merda. Não ter dinheiro é uma merda maior ainda.

Traçando um mapa mental, encontro um posto de combustível na saída da cidade, próximo a entrada/saída da rodovia que leva à Nova Odessa e, consequentemente, a casa de Arthur e suas carnes e cerveja. Eu trabalharia naquela tarde, portanto, entupiria minhas artérias com o máximo de substâncias etílicas que encontrasse disponíveis.

Paro no posto. Entro na loja de conveniência. Abro a geladeira e pego uma lata de Bohemia e uma garrafa de Coca-Cola. Lá fora, os frentistas trocam impressões sobre uma senhorita trajando pouco mais que meio metro de tecido. Eles gostam. Dou de ombros. Acho que estou ficando "afrescalhado", como diria a esposa do Arthur, boa pernambucana e mulé-macho-sim-sinhô que é. Relevo. Penso rápido num Monte de Vênus. Gosto. Cheiro. Textura. Sinto sangue descer para a virilha e o pênis ficar firme, mas não ereto. Tudo confere. Beleza, ainda tenho salvação.

Deposito a mercadoria no caixa, entre potes e prateleiras de guloseimas de todo tipo. Coisas para mastigar no cinema, para disfarçar mau-hálito do fim do dia e para foder com o esmalte dos dentes. Deus salve os dentistas, menos o meu, que destruiu minha boca para extrair meus dentes do siso. Legal, o Word não sabe o que é siso, então ele sublinha a palavra e dá como opções as palavras Celso, censo, cesso, cesto e cios. Deve ser porque o Word é mais evoluído que eu. Logo, não tem dente do siso. E se não tem siso, não precisa se preocupar em saber o que é, então fica grifando de vermelho toda hora que escrevo siso.

Não tenho dinheiro. Não em notas. Entrego meu cartão e digo ao mesmo tempo "débito" antes mesmo que a atendente pergunte "crédito ou débito?". Todas perguntam. Então digo antes. Não que eu as considere burras, longe disso, mas é que gosto de facilitar.

Ela passa o cartãozinho na maquininha. Passa o teclado para que eu digite a senha e libere o pagamento. De repente, ela se vira e diz, num misto de surpresa e alívio. "Você é Gustavo Brigatti?". Bingo. Tá escrito no cartão. Mas ela complementa, em seguida. Não que ela me achasse burro, mas é que ela preferiu facilitar. "E trabalha no TodoDia?". Opa. Isso não estava escrito no cartão. Uma fã, pensei. Vai pedir para que eu autografe seu seio esquerdo, querer tirar foto, enfim. Mas não. Ela pega uma caixa retangular, com aproximadamente 1cm de espessura e 20cm de altura. "Um tal de Luiz deixou isso para você. Disse que você viria buscar ao meio dia de ontem, mas você não apareceu".

Era um DVD. Um filme em DVD. "O Senhor das Armas", estrelado por Nicolas Cage. Gosto dele. Sabe ser canastrão quando preciso. E mandou bem nesse último, sobre um contrabandista de armas que renega a família para continuar enchendo a burra de dinheiro. Humano, demasiadamente humano. E preciso, claro. Gostei do filme. Mas eu não havia locado aquele. Nem emprestado para alguém.

Então senti a nuca arrepiar. As pupilas dilataram. "Nem tô sabendo", balbuciei. Ela insistiu, olhos colados nos meus. "Tem certeza? Ele veio aqui sexta-feira, deixou o filme e disse que era para entregar para você. Você não conhece nenhum Luiz?".

Porra, conheço 500 Luiz. Tios, primos, amigos, detratores, reis, marcas de cigarro, de conhaque, nomes de ruas, de avenidas, de cidades, uma infinidade de possibilidades. Pergunto como ele era. "Tinha uma barbinha", ela responde, passando os dedos gordinhos pelas maçãs do rosto. Opa, agora facilitou. TODOS os Luiz que conheço TEM BARBA. Com exceção, talvez, dos monarcas. Mas eles também não alugariam "O Senhor das Armas". Nem o deixariam para eu pegar num posto na saída de Americana ao meio-dia de um sábado.

Aquilo estava cada vez mais estranho. Ao lado da atendente, uma segunda balconista fitava o desenrolar da conversa enquanto esperava o forninho da loja de conveniência cuspir os pães de queijo que havia colocado há pelo menos 15 minutos. Estava impaciente, roendo o canto das unhas. Mania mais nojenta.

"Putz, nem sei do que se trata, sinceramente", consigo dizer, já sentindo as primeiras gotas de suor quente e úmido pingarem das axilas cobertas pela camiseta vermelha que coloquei especialmente para aquela ocasião. As pupilas ainda dilatadas, entregavam meu nervosismo. Eu estava nervoso. Eu sou nervoso. E um pouco disfluente também. Há, o Word grifa disfluente também. Ele não sabe o que é não conseguir dizer certas palavras em determinadas ocasiões. De fato, é mais evoluído que eu, que sou popularmente classificado como gago, embora não o seja de fato. Se fosse, faria análise com uma fonoaudióloga e tudo estaria resolvido. Mas o buraco é mais embaixo, caso para divã e remédio tarja preta e regressão ou hipnose.

"Olha, vou deixar meu telefone para você. Se ele aparecer aqui, pede para ele me ligar, porque eu não sei quem é o cara", coloquei. Ela assentiu, pegou uma caneta e escreveu no mesmo papel que havia escrito meu nome e o nome do jornal onde trabalho e colocado dentro plástico que reveste a caixa que guarda o DVD do filme.

"Então tá. Se ele aparecer, peço para ligar", ela responde. Aceno com a cabeça e saio. Sinto o ar quente invadir meus pulmões e expulsar o regelo do ar condicionado que respirei dentro da loja. Aquilo era muito estranho. Quase podia avistar o Forrest Whitaker apresentando minha alucinação para um bando de insones ligados no SBT. Loucura. Insensatez. Estado inevitável. Embalagem de iogurte inviolável. Fome. Miséria. Incompreensão. O Brasil é Treta campeão.

Sigo reto. Entro no carro. Ar condicionado ligado. Jimi Hendrix por R$ 19,90 nas Lojas Americanas tocando. Direção hidráulica. Vidros elétricos e insufilmados. Engate e maçanetas internas cromados. 18 prestações devidas para a BV Financeira. Churrasco e cerveja. Depois, trabalho. E o Forrest na minha cabeça. É, precisaria de muitas iscóis.

Aperto FF. É tarde da noite. Perto de 22h. O celular toca. Vou atender fora da redação. É Karen, a Senhora Biajoni. Junto com o Mestre, estavam curtindo uma sauna em Penedo, verdadeiro paraíso cravado entre a triste vila militar de Resende e nosso Haiti particular, o Rio de Janeiro. Àquela hora, já estavam acomodados novamente no maior bairro de Americana, Santa Bárbara d´Oeste, onde vivem atualmente enquanto aguardam o término da reforma na Maison Biaggioni.

"Então, o Bia deixou um filme para você no posto. Ele falou com você?", diz ela. Luiz. Luiz com barbinha. Luiz com barbinha que deixou DVD para eu devolver. Luiz com barbinha FORGADO que deixou um DVD para eu devolver. Luiz Biajoni.

Fim do mistério. Caso encerrado. Minha vida volta às cores de sempre. Forrest se afasta. Os créditos sobem.

segunda-feira, março 13, 2006

Decisão

De posse de uma Magnum 44 - igual ao do Tom Seleck no seriado de mesmo nome - carregada com apenas um projétil para cada opção, em quem você atiraria?

1. Beto Jamaica ou Cumpadi Washington?

2. Roberto Shinyashiki ou Lair Ribeiro?

3. Paulo Coelho ou Zibia Gasparetto?

4. Bel (Chiclete com Banana) ou Durval Lelys (Asa de Águia)?

5. Frank Aguiar (o Cãozinho dos Teclados) ou Chimbinha (Banda Calypso)?

6. Pitty ou Wanessa Camargo?

7. Pica Pau ou Picolino?

8. Jaspion ou Jiraya?

9. Um camelo ou um dromedário?

10. DJ Malboro ou DJ Mau Mau?

11. Roberto Avallone ou Milton Neves?

12. Xuxa ou... hã.... Maria da Graça Meneghel?

13. Edir Macedo ou R.R. Soares?

14. O Papa ou o Pop?

14. Biajoni ou Galvão?

E então?

quarta-feira, março 08, 2006

Selvagem?

Enquanto escrevo essas mal traçadas linhas, uma notícia chega pela Internet e me pega de surpresa: esgotaram-se os ingressos com desconto para o show do Jamiroquai. Como sofro de dislexia, leio novamente para ter certeza daquilo que está escrito na tela crepitante do meu computador e chego a uma conclusão. Contando com o milhão e meio de pessoas que pelo menos ouviram os Rolling Stones, os quase 200 mil que assistiram ao U2 e Franz Ferdinand, e os 15 mil ingressos para a apresentação do Oásis esgotados a sete dias do show, só posso crer que esse povo não gosta de música. Gosta mesmo é de pagar pau pra gringo.

Exatamente. Deixamos de ser um povo carente por atrações de qualidade para nos tornarmos pura e simplesmente tietes enlouquecidas por qualquer porcaria que venha de fora. De repente, parece que basta soar a notícia de que um artista que não cante em português virá para o Brasil que uma onda de histerismo toma conta da mídia e da população com menos de 40 anos. De repente, todo mundo vira crítico de música, entendido de cultura pop e sabe na ponta da língua a discografia completa do sujeito.

Isso é triste, porque dá a medida do tamanho da nossa ignorância e necessidade de atenção. Não basta apenas ouvir um disco e discutir a música de determinada banda. É preciso viajar centenas de quilômetros, pagar metade de um salário mínimo por um ingresso, dormir na porta do estádio e ter uma síncope na hora da balada romântica. Exagero. Bestice.

Tomo o Jamiroquai como exemplo. Quem se importa com o decano grupo de Jay Kay ainda? O máximo que banda conseguiu até hoje foi um hit, "Space Cowboy", do disco homônimo lançado em 1995, que vendeu horrores. Depois disso, foi laureado pelo Grammy várias vezes, mas nenhuma suficiente para trazer o grupo de maneira concisa de volta às paradas de sucesso. Então, o que explica essa corrida desenfreada por ingresso? Se pegarmos o último disco deles, “Dynamite”, de 2005, dá menos vontade ainda de gastar dinheiro para ver o show. Não passa de releitura de tudo o que já fizeram, mais do mesmo, tertúlias flácidas para ninar bovinos.

Então o que leva uma multidão a gastar até R$ 130 pelo espetáculo em São Paulo no dia 24 deste mês? Pura e simples necessidade de atenção. Não estão realmente interessados na música que o Jamiroquai está fazendo, mas sim em terem um artista pomposo respirando o mesmo ar que eles, que viajou de longe apenas para se apresentar ali, a poucos metros do alcance dos dedos.

O mesmo pode ser dito do Santana, que pela enésima fez repete sua fórmula de duetos com estrelas pop fugazes e tão carismáticas quanto uma lagartixa. O velho mexicano, que deixou a ripongada de Woodstock de quatro ao tocar "Soul Sacrifice", hoje faz solinhos para gente do calibre de Michele Branch, Chad Krueger (Nickelback), Rob Thomas (ex-Matchbox 20) e Alex Band (The Calling) cantarem. Chega a ser sofrível. De dar pena. Mas ele vai lotar os shows que fizer por aqui este mês, ah, isso pode ter certeza.

E em todos esses, o que mais vai ter serão VIPs. Essa praga que se disseminou como mato e não perde a chance de parecer "descolada", "antenda" e outros adjetivos inventados por colunistas sociais e demais pseudojornalistas. Enfim, a escória.

Mas é bobagem. Eles não ligam pra gente, como diria o Rei do Pop, esse sim, digno de arrastar multidões. Não mais, é verdade, embora ainda dê um caldo se quiser.

Eu não vi os Rolling Stones – ou uma epopéia caipira na terra dos biscoitos Globo (parte 1)

Meados de 2005 - uma tarde qualquer na redação. Meus olhos piscam. Penso serem as lentes de contato castigando os olhos. Esfrego. A sensação não passa. Lembro do porre da noite anterior e a cabeça dói. Abro a agenda na letra D. Disco o único número que se encontra lá.

- Denão?
- Fala, gaguinho...
- Os Stones vão fazer show no Brasil ano que vem.
- Ô lôco... Nem brinca, cara...
- Sério. Tô lendo aqui, agora, uma matéria que caiu na rede.
- Putz, senti uma pontada no coração agora... ai... depois eu te ligo...

Madrugada de 18 de fevereiro de 2006 - concentração em frente ao No Canto, em Nova Odessa. Apreensão.

- Cadê o microônibus? - indaga Núria, mãos dadas com o então namorado.
- Sei lá - respondo. Do outro lado da rua, Denis engole uma cápsula de Valium para controlar a tremedeira. Ao meu lado, Dringola entorna a terceira caipirinha da noite.
- Caralho, cara, esse busão ta demorando. Não vai sair no horário, eu sabia, puta merda, eu sabia - resmunga o rotundo diagramador.
- É, acho melhor darmos o fora. Será o Mineiro ta aberto? Queria um X-Tudão Com Tudo - sugiro.
- Vão a merda os dois, ok? A merda, a merda - vocifera Denis, devidamente alterado, chacoalhando o tubo de comprimidos numa mão e uma garrafa de Petra na outra. Ele é fino, só toma cerveja preta. E esquisito, porque espera esquentar. "É um costume andino", costuma justificar.
- Olha o busão - aponto, indicando para um microônibus Clewis que acaba de aportar na apreensiva esquina da praça onde se encontra a pequena multidão de corajosos interioranos que desprenderam algumas dúzias de cobres para custear a viagem. E sobrou pouco, pelo que dava para perceber pela enorme quantidade de cerveja caseira preparada por uns e os sanduíches de mortadela e apresuntado devidamente armazenados por outros tantos.
- Hora de partir - penso, fazendo um discreto sinal da cruz invertido. "Se vou ver o filho do demo, é melhor começar a pagar pau desde já", raciocino.

No ônibus, todo tipo de hálito e secreção se mistura. São caipiras, gente simples - porém aguerrida e honesta, "antes de tudo, uns fortes", diria Euclides da Cunha - que ainda reluta em se entregar à ética primeiromundista da assepsia social.
- Eu trouxe um leitão. Ele quer ver o mar - aponta um dos presentes, exibindo uma peça completa de pernil defumado. Mais veloz que uma bala, numa fração de segundo, Denis dispara, a boca arroxeada pelos medicamentos.
- Gaguinho, tamo fudido. A gente vai morre, vai morre, eu sei. Ontem, minha mãe leu no fundo da panela de carne moída que a gente ia morre.
Isso era fato. A mãe de Denis, dona Rúpia, era conhecida e requisitada gastrotérica da cidade. Era capaz de adivinhar quanto o sujeito carregava no bolso contado a quantidade caroços de azeitona separados para uma Ceasar Salad. Tentei contemporizar.
- Nada, filhão, relaxa. Toma, bebe um pouco desse daikiri de curaçao.
- Brigado, véio. Deus lhe pague - retornou Denis, entornando um estranho copo quadrado plástico. Em seguida, virou para o lado, a mão por dentro da calça, segurando o pênis. "Tradição andina", dizia. Ok, não me meto em assuntos abaixo da linha da cintura dos meus amigos.
Logo atrás, Núria balbucia.
- Ta chegando?
- Na Anhanguera? - respondo, em tom sarcástico.
- Vai se f****, filho da p***. Vai come a b******* da sua tia, vai - dispara, feito metralhadora. "Ela ta assistindo muito o filme do bateman. Preciso pedir para a mãe dela ficar de olho", penso, enquanto amarro uma tripa-de-mico no antebraço. Na outra mão, uma seringa hipodérmica cheia de groselha. "Delícia", meus olhos dizem.

Tomar um pico de groselha é como mergulhar numa piscina cheia de música com rotação alterada de um disco qualquer do Atari Teenage Riot. Traduzindo: é merda na certa. "Parado você havia com isso, Babaganuche-san", ecoava em minha mente a voz do dublador do Pat Morita em Karate Kid. Sim, estava limpo, vez ou outra sorvendo pelas ventas um pouco de Haggen-Das sabor limão. Mas era só quando precisava buscar o holerite no RH. A groselha entrava agora pelos meus pulmões, me fazendo soltar lufadas de ar colorido pelas narinas. Ao meu lado, uma estranha planta de aspecto rosáceo regurgitava borbulhas de cor ocre e cheiro acre. Ou seria o contrário? "Sempre me confundo nessa parte...", busquei ao longe.
De repente, um solavanco. Sinto o coração batendo entre as pernas. Mas nada mais é que uma enorme boca fazendo movimentos de sucção na minha pélvis. "Lick up, lick up, I wanna lick up", dizia alguém ao fundo, enquanto aquela boca enorme, com uma língua maior ainda, fazia algo que nenhum ser vivo no mundo seria capaz de igualar. "Andy Warhol, claro", pensei, as forças já ao longe.

- Parada para o xixi. Quinze minutinhos, hein? - avisa a coordenadora do ônibus, do alto de seus 2,10m de altura, colant azul turquesa e saltos plataforma de treliça almiscarada. "Do sítio", penso comigo mesmo, já livre do transe da groselha, que agora coagulava no meu intestino grosso. Dringola cola em mim e sussura, entre assustado e estranhamente excitado.
- Cara, onde a gente tá?
- Como vou saber, bicho? Manda o Denis ligar para a mãe dele e perguntar.
- Boa.
Olho ao meu redor e não reconheço nada. Mas faço uma idéia. Árvores de açúcar cristalizado de onde pendiam maçãs carameladas, cercadas por grama de jujubas de cores sortidas regadas por riachos de chocolate mentolado. O chocolate mentolado, não sei porque, me fez lembrar de Sidney Sheldon. "Velho de merda", rebato, em pensamento. Sinto algo puxando a barra do meu jeans. É um cachorro feito de goma de mascar. Ao morder, deixa pedaços de seus dentes de Mentex na calça. "Caraleo", digo a mim mesmo, sem notar que, a essa altura, o ônibus já estava de partida.
- Vem logo, ô pagliaço! - grita Dringola. Com tamanha delicadeza, não posso recusar. Penso nas árvores doces. "Maldito seja Tim Burton. Fui envenenado", digo algo, creditando minha alucinação ao cineasta amigo do Johnny Depp que adora usar óculos escuros e não gosta de pentear o cabelo.
O expresso parte e eu acendo um charuto de acerola.
- Alguém aí aceita? - oferece, educado. Núria se atira com sofreguidão ao cilindro antes mesmo de eu terminar a frase. "Dá aqui", pede, cortez, a rádio-escuta. E lá se foi meu único enrolado, não me dando outra opção que não tentar. Ou pelo menos tentar, se não fosse o maldito banco feito de marshmellow que me engolia e atraia formigas gigantes, daquelas que estreavam filmes no Cinema em Casa do SBT.
Mas o ônibus retomou sua rota. Eu me servi de um pouco do doce do assento e adormeci. Adormeci para acordar e encontrar algo muito pior que baunilha com gosto de Mash.

domingo, março 05, 2006

Healter Skelter

De vez em quando (mas só de vez em quando), o cinema consegue transportar astros da música para as telonas de maneira original, criativa e bem humorada. Nem é preciso dizer que isso só acontece quando se deixa de fora cantoras capazes de trincar taças com um único grito ou rappers que, de duas palavras, uma e meia é "modafoca". Ainda sem previsão de lançamento para o Brasil, "Live Freaky! Die Freaky!" consegue juntar a galera do punk rock da geração 90 para recontar a história da Família Manson. E o melhor: utilizando marionetes!

A história, segundo consta do site do filme (www.livefreakydiefreaky.com), começa no ano de 3069, quando, após o derretimento das calotas polares, um nômade encontra um livro que o remete ao ano de 1969 e conta o massacre que Charlie Manson organizou contra a casa do cineasta Roman Polanski e que culminou na morte de sua esposa, Sharon Tate, grávida na ocasião do crime. Claro que os nomes verdadeiros dos envolvidos foram parodiados e o absurdo toma conta de cada cena. A matança promovida pela Família chega a ter mais sangue que "A Paixão de Cristo" do Mel Gibson, por exemplo. No site, dá para baixar o trailer e clips especiais para ter um gostinho da coisa.

A produção ficou a cargo de ninguém menos que Tim Armstrong, vocalista e guitarrista do seminal Rancid, que compôs a trilha sonora com a ajuda do malucaço Roddy Bottom, ex-tecladista e fundador do extinto Faith No More. No elenco, figurinhas carimbadas da cena punkrock/ska norte-americana, como Billie Joe, Tre Cool e Mike Dirnt (Greend Day), Theo Kogan (Lunachicks), Rob Aston e Travis Barker (The Transplants), Kim Chi (The Destillers), John Doe (X), Lars Frederiksen e Matt Freeman, (Rancid), Benji e Joel Madden (Good Charlotte), entre outros. Para completar, integra a equipe, como membro da Família Manson, ninguém menos que Asia Argento, a übber-deusa underground filha do cultuado diretor Dario Argento.

E precisa de mais? Claro que precisa. A trilha sonora traz o melhor do ska-punk-rock. A faixa "Live Freaky! Die Freaky! (You Blood Will Set You Free)" está disponível inteira para download no site oficial. Além dela, Billie Joe resolveu disponiblizar a música "Mechanical Man", que ele compôs especialmente para obra, no site de seu projeto paralelo, o The Network Band. Ta lá no www.thenetworkband.com/mechanicalman.wma.

Para quem gostou de "Team America" e seu bonequinhos desbocados, não pode ter pedida melhor.

terça-feira, fevereiro 28, 2006

Músicas de quem gosta de liberar o brioco

1 - 53rd & 3rd - Ramones

2 - Cocksucker Blues - Rolling Stones

Ô turminha que gosta de soltar o lhôrdo...

3 - Lament - The Doors (by Nunu)

4 - Cock-suckers Ball - Frank Zappa (by Nunu)

5 - Evil Dildo - Placebo (by Nunu)

Alguém conhece mais alguma?

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Capote


"Capote" é um filme chato.

Não. Não venha me dizer que é legal. Legal é "Guerra nas Estrelas", "Senhor dos Anéis" e "Porky´s". Um filme como "Capote" não pode ser considerado legal. Ele é lento, sua narrativa é arrastada, o clima é tedioso e antes da metade dele é bem capaz que você, assim como o próprio Capote, comece a torcer para que a tortura temine logo e te libere para comer um BigMac.

Acredito, porém, que não tenha jeito de ser diferente. Um filme que fala sobre a produção de um obra tão aclamada e adorada quanto "A Sangue Frio", invariavelmente pisa em ovos. O sujeito cerca-se de tantos cuidados que é inevitável ousar o mínimo possível e fazer um filme para uma audiência bem específica. De preferência, uma que não durma no cinema.

O único mérito de "Capote", como a crítica fez questão de salientar, é o ator Philip Seymour Hoffman . Ele carrega o filme nas costas incorporando o personagem com uma força que eu só havia visto antes no Jim Morrison de Val Kilmer em "Doors". A estatueta, previsivelmente, é dele. O que não justifica o par de horas a que o diretor Bennett Miller submete o espectador.

Claro que as faculdades de jornalismo vão organizar excursões para que os estudantes - que em sua imensa maioria serão modorrentos e incompetentes assessores de imprensa de órgãos públicos - assistam ao filme após lerem o livro. O que será um engano, pois o Capote da tela é milhões de vezes menos interessante que o Capote do livro, mesmo que eu não tenha folheado o dito cujo.

Sua fama o precede, e isso parece bastar. "A Sangue Frio" é um caso típico de obra que quase todo mundo conhece, poucos leram e apenas uma minoria absorveu aquilo que Truman escreveu. Levado às telas, a história da confecção do livro perdeu força e naufragou num mar de tédio. Como diria o Agente Smith: "Inevitável".

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Estupefacientes auditivos

Músicas legais que falam sobre drogas

1 - Heroin - Velvet Underground

2 - Cold Turkey - John Lennon

3 - Sister Morphine - Rolling Stones

4 - Under the Bridge - Red Hot Chili Peppers

5 - Mr. Tambourine Man - Bob Dylan

6 - Cocaine - Eric Clapton

7 - House Of The Rising Sun - The Animals

8 - Purple Haze - Jimi Hendrix

9 - Carbona Not Glue - Ramones

10 - Special K - Placebo

E a lista cresce...

11 - Got to Get You Into My Life - Beatles (by Galvão)

12 - Lithium - Nirvana (by Nunu)

13 - Mr. Brownstone - Guns´n´Roses (by Nunu)

14 - Hurt - Johnny Cash (by Dringola)

Mais alguma?

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Mulher é um bicho estranho, mesmo...

Só porque a garota dançou 15 minutinhos agarrada ao maior astro pop dos últimos 20 anos durante um show para no mínimo 70 mil pessoas e acompanhado por outras estimadas 100 mil em casa, não quer dizer que ela mereça tudo isso.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Mariana – ou o dia em que quis ter sido santo

Na 2ª série, Mariana era uma garota feia. Gorda, cheia de sardas, cabelo mau tratado, roupas apertadas e desbotadas e - pior de tudo - uma inteligência não muito privilegiada. Logo, sem atrativos para meninos e meninas. Mas diferente de eu - que era um garoto magrelo, branquelo e tímido - ela começava a sofrer as típicas pressões sociais que a obrigavam a ser mulher em corpo e mente. Ao contrário dos machos, que nessa idade ainda não possuem sequer pêlos pelo corpo (salvo exceções das quais ninguém queria fazer parte), as fêmeas já se preparam para a puberdade, o que significa transformarem-se em objetos de desejos obscenos daqueles.

Mas não era o caso de Mariana. Enquanto as amigas já possuíam um par de montes pontudos sob a camiseta do uniforme, e os shorts de lycra de educação física começam a apertar as coxas que engrossavam, ela ostentava apenas uma rotunda circunferência sob o agasalho - que não tirava por nada. Eu observava. Observava com pena e certa simpatia. Assim como ela, eu também não era dos mais populares, já que não praticava esportes e gostava de desenhar alienígenas.

E ela sabia de minha paixão pelo desenho. Tanto que no final do ano, por conta de um amigo-secreto, me presenteou com um estojo de hidrocores. "Só podia te dar isso, né? Você não parar de desenhar", disse, sorrindo, solícita, como que pedindo por atenção. Senti vergonha. Apesar de dividirmos o mesmo status social escolar, não queria ser visto conversando com ela, ou mesmo estar perto dela. Queria - assim como todos os outros garotos - dividir minha mesa com a filha da professora que, apesar de ser um poço de antipatia, era um primor de beleza pré-púbere.

Mas o ano acabou. E Mariana saiu da escola.

Eu continuei e cheguei até a 5ª série, ainda magrelo e branquelo, mas já quase sem o tesão pelo desenho e com uma disfluência de fala que começava a se agravar. Ela não. Retornou cheia de curvas bem delineadas. Nem sombra da gordinha estapafúrdia de outrora. Estava uma delícia, era inegável, embora permanecesse com a inteligência bem pouco privilegiada. O que, claro, deixou de ser impecilho, já que pouco importa se seus miolos funcionam quando se tem um belo par de peitos e nádegas firmes e luxuriosas.

E ela as tinha. Diziam as más línguas - inveja, claro - que ela havia comprado tudo aquilo. Spa, lipoaspiração e essas intervenções todas. Pouco importava. Mariana agora dominava a parada. Era dela todos os olhares masculinos de admiração e todos os olhares femininos de raiva.

E ela foi a forra. Beijava os caras mais populares nas excursões. Atraia o desejo até dos marmanjos do Colegia. Ela escolhia e derrubava. Ninguém mais podia com ela.

Nessa época, pensava que, se tivesse sido um pouco mais legal com ela quando ainda ostentava o perfil de uma barrica de chopp, talvez tivesse alguma chance agora, algo como uma recompensa. Mas pensando bem, acho que não. Mariana não queria misericórdia. Queria vingança. Queria esfregar na cara de toda aquela gente que ela também podia ser como eles. E foi isso que se tornou. Em pouco tempo, também estava zuando as novas gordinhas da classe. E eu voltei a desenhar alienígenas.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Não sei porque perco tempo explicando essas coisas

- Mas ele canta com o nariz!

- Ele não canta. Quem canta é cantor, e ele não é um cantor. É um poeta. A voz é o de menos. Se você quer ouvir um cantor, vai ouvir o Fábio Júnior.

- Ah, então porque ele não escreve apenas ao invés de gravar um CD?

- Porque dessa forma a mensagem dele vai atingir mais pessoas.

- Mas é em inglês! Quem não sabe inglês, não tem como saber o que ele tá falando. Mas se ele cantasse direito, tivesse uma voz bonita, isso não iria importar.

- Ele canta em inglês porque nasceu e se criou nos Estados Unidos. Se fosse na Birmânia, faria o mesmo em birmanês. E já falei que quem gosta dele não gosta pela voz, gosta pela poesia das letras, e, se forçar, pelos arranjos das músicas. E conhece um pouco de inglês também.

- Ainda acho que ele canta com o nariz.

- Quer que ele tire o nariz para cantar?

- Ah, besta, você entendeu o que eu quis dizer.

- Infelizmente.

Acho que sou caucasiano demais para isso...

Comentário de Isabelle Biajoni no site do papai, a respeito do show dos Rolling Stones, me fez sentir uma fisgada estranhamente conhecida na porção posterior-lateral do estômago:

"pow... o morrão vai descer todo!"

Sim, ela disse isso. E com conhecimento de causa, posto ser carioca da gema, o que me fez sentir nova e mais forte puxadela, desta vez na boca do dito aparelho digestivo.

Acho que vai dar merda. Alguém tem um antiácido sobrando?