Amanhã do Aerosmith no Brasil - sim, São Paulo é o Brasil, o resto, pra cima de Ribeirão Preto de acordo com mestre Walter Bartels, é tudo Canadá. E tudo leva a crer a que o Morumbi estará lotado de novos e velhos fãs, todos pagando tributo para a bocarra de Steven Tyler berrando "yeah, yeah, yeah" no final de "Cryin", acendendo o celular na hora de "Crazy" e balançando as mãozinhas para o alto durante o refrão "Amazing".
Porque o Aerosmith é isso: um amontoado de deliciosos clichês que fazem dele um dos últimos bastiões do rock feito para ser ouvido e curtido coletivamente, de preferência num estádio lotado, durante uma apresentação com mais pirotecnia que técnica, mais emoção que música propriamente dita, mais encenação que ensaio, mais agradecimentos ensaiados na língua nativa do país onde se apresentam que palavrões espontâneos, mais pra lá do que pra cá, enfim.
A banda de Boston representa a decadência de um rock que definha a olhos vistos. O Aerosmith, em pleno século 21, ainda faz, por exemplo, referências ao demônio (o nome de sua turnê é Route of All Evil, mas desde sempre o grupo adora isso), coisa que nem o Iron Maiden mais tem coragem. Ainda mais quando o principal grupo da nova geração do pop rock - e queridinho da mídia - o canadense Arcade Fire, se inspira na bíblia e o que a cerca para compor seu novo disco. Nadar contra a corrente é tudo o que esses senhores parecem mais gostar de fazer.
Mas as novas e impúberes manadas não têm a manha se encher um estádio, é bom ressaltar. Não senhor. Se tivessem, duvido que os organizadores dos "indies" Tim Festival, Claro Q é Rock e Motomix não optariam por abrir os portões do Pacaembu ou o próprio Morumbi ao invés de suar para alcançar metade da lotação permitida no Tom Brasil ou na Arena Skol. Lotar campos de futebol é tarefa para grupos quase ou declaradamente circenses, que levantam platéias de todas as idades com canções feitas especialmente para tais espaços.
O Velvet Revolver, banda que abre o show, segue nessa pista aberta pelo pai do hard rock, o Led Zeppelin. Graças a este, espetáculo de rock que se preze não recebe menos que 50 mil pessoas. Foi assim com o Queen também, outro membro da classe que fez sua parte em concertos para, fácil, 100 mil cabeças.
Além da quantidade de gente, é preciso também agüentar o tranco por, no mínimo, um par de horas. Novamente isso é tarefa para esse bando de degenerados, velho caquéticos, que na casa dos 60, levam 20, 30 anos de hits nas costas como se fosse a primeira vez. Peça para os Strokes fazerem mais que uma hora e meia de show para ver o que acontece. Ou os pivetes do Arctic Monkeys. Para eles, essa porrada de festivais europeus onde só precisam tocar meia dúzia de músicas - ops, mas aí é o repertório inteiro! - são perfeitos. Vão lá, tocam suas guitarrinhas e correm pro telefone ligar para os pais e avisar que foi tudo bem (ou para o quarto chorar e escrever seus diários, no caso dos emos...).
O Aerosmith é um dos últimos representantes de algo que marcou no mínimo duas gerações. Não apenas musicalmente, mas em âmbitos maiores principalmente no que toca ao fazer shows. Formações como as de Tyler e Perry, Kiss e Queen, além de cantores solos como Bruce Springsteen, inauguraram o conceito hoje cada dia menos viável dos suntuosos espetáculos de música, com toneladas de efeitos visuais e sonoros, duração superior a duas horas e meia e muita, muita disposição sob o palco. São a definição perfeita de dinossauros do rock, apenas esperando sua hora chegar. Mas enquanto ela não chega, continuarão a fazer o que sempre fizeram. E isso é muito bom.
2 comentários:
Vida longa ao Aerosmith!
Uma vez ouvi dizer que a trilogia deste rock aí era Kiss, Van Halen e Aerosmith.
Já ouvi prá caralho estes coroas.
Agora eu prefiro ouvir estas bandas de pivetes. [risos]
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