O maior temor de um jornalista atende pelo nome de barrigada. Dar uma barrigada significa entrar numa história que, no final, se revela fraudulenta, boba ou iverossímil. E, então, ser motivo de chacota pelos companheiros e leitores mais atentos. Hoje, o "Fantástico" dedicou quase 20 minutos para contar a história do desaparecimento do vereador Arruia, de Santa Bárbara d´Oeste. O programa, como sói é capaz de fazer, ouviu especialistas e trouxe infográficos bonitões e didáticos sobre amnésia - causa alegada pelo nobre edil para sumir por quase 20 dias e ser encontrado, maltrapilho, em Bauru.
O caso foi amplamente ventilado pela mídia nacional e não conheço um jornalista da região que não tenha se empenhado pela história do sujeito - que é boa, por sinal. Mas a questão é que a maioria dos profissionais lotados nas redações de jornais, rádios e TVs daqui conhece o histórico de Arruia. Antes de se tornar o vereador mais votado da cidade, era catador de papelão nas ruas, por onde perambulava (e morava) cumprimentando a todos com o bordão pelo qual ficou conhecido. Um tipo que de tão marginal, exótico, torna-se folclórico e querido. Esta também não foi a primeira vez que o parlamentar desaparece sem deixar vestígios.
Por isso, ninguém se espantou quando soube que Arruia estava vivendo em Bauru exercendo sua antiga profissão. Tampouco acreditou na história que ele havia sido assaltado e, após levar coronhadas, ter perdido a memória e acordado há 400 km de casa, esquecido de suas obrigações de homem público e dormindo sobre uma marquise. Menos, é claro, a equipe de jornalismo da Globo. Que sequer se deu ao trabalho de pesquisar a vida pregressa dele para, no mínimo, desconfiar da histrinha. Fica claro, para quem conhece, que o sujeito encheu-se da séptica vida parlamentar e resolveu tomar a força sua liberdade de volta. Cansou de ficar atendendo gente pedindo dentadura, cesta básica e rebaixamento de guia.
Na primeira vez que fincou pé na estrada em busca de sossego, foi encontrado em Brotas - na época, alegou estar pagando promessa. Agora, criou a história da amnésia. Não será nada incrível se, da próxima vez, disser que foi seqüestrado por extraterrestres, passado uma semana nas praias de Urano e arremessado de volta, sujo e famélico, em Cuiabá. Então, pode ser que a Globo resolva usar a história para falar de discos voadores.
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