I'm Winston Wolfe. I solve problems.
segunda-feira, agosto 08, 2005
quinta-feira, agosto 04, 2005
Voyer
Hipnotizada pelo trabalho, não dava atenção a mais nada. Entretanto, era observada. Em detalhes. Os dedos nervosos que ajeitavam a franja distraída que insistia em cair pelos olhos. O olhar concentrado, quase lacrimejante, de quem faz o que se deve sem muitas perguntas. Ao lado, copo descartável meio-cheio-meio-vazio de água ainda gelada, úmido por fora como seu peito parecia estar por dentro. O sorriso automático a cada saudação, os pés que não paravam quietos embaixo da mesa, o escapulário torcido e enroscado nos cabelos soltos que encobriam a nuca. Detalhes. Detalhes sem importância se comparados aos cosmo de que eram feitos, mas únicos pela situação alí subentendida. Do outro lado, apenas observando. Uma piscadela cumplicidade.
quarta-feira, agosto 03, 2005
Ensaboado
Os Stones disponibilizam para download três canções de seu novo disco, previsto para 5 de setembro. "Rough Justice", "Streets of Love" e "Back of My Hand" são as ditas cujas.
Mas, como bons félasdaputa capitalistas, o lance é pago, via Itunes. Ninguém mandou não ter American Express.
Lógico que o Soulseek já deve ter as três em todos os formatos, cores e sabores.
Vai encarar?
Mas, como bons félasdaputa capitalistas, o lance é pago, via Itunes. Ninguém mandou não ter American Express.
Lógico que o Soulseek já deve ter as três em todos os formatos, cores e sabores.
Vai encarar?
terça-feira, agosto 02, 2005
Básico Instinto
Roberto Jefferson diz que Zé Dirceu desperta nele instinto primitivos.
Não sei quanto a vocês, mas vou incluir essa no meu rol de cantadas ordinárias para um noite de muita bebedeira e pouca ou nenhuma opção.
Não sei quanto a vocês, mas vou incluir essa no meu rol de cantadas ordinárias para um noite de muita bebedeira e pouca ou nenhuma opção.
domingo, julho 31, 2005
Por dentro de dentro
Olhou para ela com pena. Mas, quem por ali passasse, poderia jurar sentir um leve desprezo nos olhos que fitavam o corpo nu enrolado em lençol. Sem testemunhas, ficava com a comiseração dos canalhas que, réu confesso, insistia em sustentar.
Havia ejaculado. Mas não como das outras vezes. Se demorou, não foi para prolongar o orgasmo dela, mas sim pelo tempo que ficou vasculhando a memória atrás de alguma lembrança que o fizesse esporrar. Ex-namoradas, trepadas casuais, filmes pornográficos, fantasias com colegas de trabalho e até pensamentos homoeróticos foram utilizados. Em vão.
Foi pensando nela que tudo terminou. Nela foi também que tudo começou. Sem a lembrança dela, não teria tido sequer uma ereção. E o corpo agora exausto ao seu lado estaria ainda pulando sobre seu pau até que não sobrasse pele alguma.
Sentiu alívio no final, como o cumprimento de uma missão impossível. Igual ao seriado.
No banho, masturbou-se pensando nela. Aí sim gozou. Chegou mesmo a socar o azulejo da parede. Assaltou-lhe a idéia que ela poderia estar fazendo o mesmo naquele momento. Sim, tinha certeza que a impressionara, fazendo com que jurasse nunca mais gozar com outro que não ele. Não com a aquela intensidade. Outra ereção. Inevitável. Meneou a cabeça: "chega de punheta".
Havia ejaculado. Mas não como das outras vezes. Se demorou, não foi para prolongar o orgasmo dela, mas sim pelo tempo que ficou vasculhando a memória atrás de alguma lembrança que o fizesse esporrar. Ex-namoradas, trepadas casuais, filmes pornográficos, fantasias com colegas de trabalho e até pensamentos homoeróticos foram utilizados. Em vão.
Foi pensando nela que tudo terminou. Nela foi também que tudo começou. Sem a lembrança dela, não teria tido sequer uma ereção. E o corpo agora exausto ao seu lado estaria ainda pulando sobre seu pau até que não sobrasse pele alguma.
Sentiu alívio no final, como o cumprimento de uma missão impossível. Igual ao seriado.
No banho, masturbou-se pensando nela. Aí sim gozou. Chegou mesmo a socar o azulejo da parede. Assaltou-lhe a idéia que ela poderia estar fazendo o mesmo naquele momento. Sim, tinha certeza que a impressionara, fazendo com que jurasse nunca mais gozar com outro que não ele. Não com a aquela intensidade. Outra ereção. Inevitável. Meneou a cabeça: "chega de punheta".
sexta-feira, julho 29, 2005
Master Card 1
Buquê de rosas vermelhas colombianas: R$ 30
Jantar completo: R$ 90
Suíte master do motel: R$ 120
Ouvir que você é muito melhor que o namorado dela: NÃO TEM PREÇO
Jantar completo: R$ 90
Suíte master do motel: R$ 120
Ouvir que você é muito melhor que o namorado dela: NÃO TEM PREÇO
terça-feira, julho 26, 2005
Sexo-pop 3
segunda-feira, julho 25, 2005
Terrier
Filmes de zumbis são uma grande babaquice, coisa pra ser usada em enredo de videogame. Mas nem sempre foi assim. E a prova disso é o novíssimo título do pai-de-todos George Romero, "Terra dos Mortos". Assistí-lo me fez voltar a crer que é possível fazer um belo filme de horror sem recorrer a garotinhas japonesas carentes ou paspalhos mascarados. Mas Romero vai além.
Seu filme de estréia, "A Noite dos Mortos Vivos", de 1968, é referência para qualquer sujeito que ouse pegar uma câmera e filmes seres cambaleantes sedentos por carne humana. O problema é que a picaretice, na maior parte das vezes, prevalece. As seqüências do clássico não filmadas por Romero são desastrosas, limitando-se a puras e simples carnificinas, gore ao extremo do mau gosto. Limitam a obra do cara aos mortos-vivos quando, na verdade, a coisa vai além.
Um dos que perceberam isso foi M. Night Shyamalan. No seu "Sinais", ele chupa Romero com vontade. Primeiro, por usar a perspectiva do sujeito comum lutando contra algo que ele desconhece e sobre a qual não possui qualquer explicação racional ou meios de reagir de fato. Nada de exércitos, discursos inflamados, naves gigantescas e aquela patrioatada hollywoodiana de dar nojo. Segundo, o indiano desce os protagonistas para o porão da casa, já precariamente isolada, e os deixa apenas com um rádio como meio de comunicação com o mundo exterior. De onde vem os ETs? O quê querem? Para os assustados e confusos protagonistas de "Sinais" isso pouco importa, já que está mais interessados em sobreviver e, depois, se der, buscar respostas.
Romero fez exatamente isso com seus zumbis mais de 30 anos antes de Shyamalan. Um grupo de pessoas isoladas numa casa que se vê, de repente, cercada por mortos-vivos e precisa arrumar um meio de sair dalí ou, no mínimo, resisitir à invasão. Não resposta para a origem dos monstros, apenas que todos que morrem ou são mordidos por eles tornam-se seus iguais. E ponto final. Ninguém lá está interessado se foi contaminação por lixo tóxico, um meteoro ou experimentos militares que fizeram os mortos voltarem a vida. Romero foi inteligente em sacar que certas coisas não precisam ser explicadas quando se tem uma boa história nas mãos, do tipo que coloca o espectador dentro da tela. Esse erro foi exaustivamente cometido nas seqüências, onde todo tipo de explicação foi dada com álibi para que os comedores de cérebro agissem. Pífio.
Desde então, não surgiu nada de realmente inovador em termos de roteiro. "Madrugada dos Mortos", de 2004, nada mais foi que uma refilmagem, em ritmo de vídeoclipe, do título homônimo de Romero de 1978. Agora, o diretor traz, num mesmo pacote, a übber deusa Asia Argento, filha do não menos fantástico Dario Argento e espécie de afilhada de Romero, John Leguizamo e um canastríssimo Denis Hopper como há muito não se via.
Mas não vou contar nada sobre o filme. Tem uma porrada de sites fazendo isso já. Apenas quero registro meu apreço pelo grande George Romero e convidar todos para assistir "Terra dos Morto". Na boa. E de estômago vazio, de preferência, já que o sujeito também não é de ferro.
P.S. Destaque para a participação de Sexy Machine. Para quem não lembra, um dos vampiros de "Um Drink no Inferno", de Robert Rodriguez que, claro, não deixou de beber na fonte do velho Roma.
Seu filme de estréia, "A Noite dos Mortos Vivos", de 1968, é referência para qualquer sujeito que ouse pegar uma câmera e filmes seres cambaleantes sedentos por carne humana. O problema é que a picaretice, na maior parte das vezes, prevalece. As seqüências do clássico não filmadas por Romero são desastrosas, limitando-se a puras e simples carnificinas, gore ao extremo do mau gosto. Limitam a obra do cara aos mortos-vivos quando, na verdade, a coisa vai além.
Um dos que perceberam isso foi M. Night Shyamalan. No seu "Sinais", ele chupa Romero com vontade. Primeiro, por usar a perspectiva do sujeito comum lutando contra algo que ele desconhece e sobre a qual não possui qualquer explicação racional ou meios de reagir de fato. Nada de exércitos, discursos inflamados, naves gigantescas e aquela patrioatada hollywoodiana de dar nojo. Segundo, o indiano desce os protagonistas para o porão da casa, já precariamente isolada, e os deixa apenas com um rádio como meio de comunicação com o mundo exterior. De onde vem os ETs? O quê querem? Para os assustados e confusos protagonistas de "Sinais" isso pouco importa, já que está mais interessados em sobreviver e, depois, se der, buscar respostas.
Romero fez exatamente isso com seus zumbis mais de 30 anos antes de Shyamalan. Um grupo de pessoas isoladas numa casa que se vê, de repente, cercada por mortos-vivos e precisa arrumar um meio de sair dalí ou, no mínimo, resisitir à invasão. Não resposta para a origem dos monstros, apenas que todos que morrem ou são mordidos por eles tornam-se seus iguais. E ponto final. Ninguém lá está interessado se foi contaminação por lixo tóxico, um meteoro ou experimentos militares que fizeram os mortos voltarem a vida. Romero foi inteligente em sacar que certas coisas não precisam ser explicadas quando se tem uma boa história nas mãos, do tipo que coloca o espectador dentro da tela. Esse erro foi exaustivamente cometido nas seqüências, onde todo tipo de explicação foi dada com álibi para que os comedores de cérebro agissem. Pífio.
Desde então, não surgiu nada de realmente inovador em termos de roteiro. "Madrugada dos Mortos", de 2004, nada mais foi que uma refilmagem, em ritmo de vídeoclipe, do título homônimo de Romero de 1978. Agora, o diretor traz, num mesmo pacote, a übber deusa Asia Argento, filha do não menos fantástico Dario Argento e espécie de afilhada de Romero, John Leguizamo e um canastríssimo Denis Hopper como há muito não se via.
Mas não vou contar nada sobre o filme. Tem uma porrada de sites fazendo isso já. Apenas quero registro meu apreço pelo grande George Romero e convidar todos para assistir "Terra dos Morto". Na boa. E de estômago vazio, de preferência, já que o sujeito também não é de ferro.
P.S. Destaque para a participação de Sexy Machine. Para quem não lembra, um dos vampiros de "Um Drink no Inferno", de Robert Rodriguez que, claro, não deixou de beber na fonte do velho Roma.
domingo, julho 24, 2005
quarta-feira, julho 20, 2005
It´s only rock´n´roll
Quero muito acreditar que o novo disco dos Rolling Stones, com previsão de lançamento para o dia 5 de setembro, vai ser o melhor do ano. E vai salvar a minha vida. E colocará fim a série de prodreras que eles vêm lançando desde o começo da década de 80.
Especulações dão conta que o disco será um tanto politizado, com uma faixa atacando Bush e Rice. Não sei, mas quando Mick Jagger para de mexer os quadris para brandir o punho, o resultado não costuma ser dos melhores. Mesmo afirmando que "voltaram às origens", papo típico de quem já não sabe muito o que fazer.
"Oh No, Not You Again", "She Saw Me Coming", "Under The Radar", "Look What The Cat Dragged In", "This House Is Empty Without You", "Walking Alone In The Rain", "You Drive Too Fast", "Back of My Hand" e "Neo-Con", esta última a tal faixa anti-Bush, são os prováveis títulos das canções do novo disco, que ainda não tem nome.
Já acendi minha vela de sete dias.
Especulações dão conta que o disco será um tanto politizado, com uma faixa atacando Bush e Rice. Não sei, mas quando Mick Jagger para de mexer os quadris para brandir o punho, o resultado não costuma ser dos melhores. Mesmo afirmando que "voltaram às origens", papo típico de quem já não sabe muito o que fazer.
"Oh No, Not You Again", "She Saw Me Coming", "Under The Radar", "Look What The Cat Dragged In", "This House Is Empty Without You", "Walking Alone In The Rain", "You Drive Too Fast", "Back of My Hand" e "Neo-Con", esta última a tal faixa anti-Bush, são os prováveis títulos das canções do novo disco, que ainda não tem nome.
Já acendi minha vela de sete dias.
terça-feira, julho 19, 2005
Mystery Tour
Inglaterra proibe venda de cogumelos mágicos.
O ministro do Interior, Paul Goggins, diz que o lance é alucinógeno, potencialmente perigoso e os coloca no mesmo nível que cocaína e heroína. A cana é de até sete anos nos calabouços da rainha.
Os produtores e varejistas ficam putos e querem debater a questão, alegando violação dos artigos 28 e 30 dos Direitos Humanos.
Neguinho não gostou nada, nada.
O ministro do Interior, Paul Goggins, diz que o lance é alucinógeno, potencialmente perigoso e os coloca no mesmo nível que cocaína e heroína. A cana é de até sete anos nos calabouços da rainha.
Os produtores e varejistas ficam putos e querem debater a questão, alegando violação dos artigos 28 e 30 dos Direitos Humanos.
Neguinho não gostou nada, nada.
segunda-feira, julho 18, 2005
Minha geração
(Originalmente publicado no T&Q. Agora revisto e ampliado)
Minha geração bebe. E bebe muito. Bebe até cair. Bebe pra esquecer, pra fugir, pra se esconder, pra desabafar, pra chorar e pra sorrir. Detesta o gosto amargo da cerveja, mas bebe assim mesmo. Não se importa com a data de vencimento do vinho barato que comprou na loja de conveniência do posto de gasolina, e não faz diferença quem paga a conta. Afinal, minha geração paga as contas com o dinheiro dos pais, e quem se importa depois, desde que não apareça em casa com a camisa manchada de vômito ou os olhos vermelhos?
Sim, minha geração usa drogas. Todas elas, de todas as formas e, muitas vezes, de uma vez só. E não parece se importar, porque sabe que no final é ela quem vai limpar tudo mesmo. Fumam, tragam, cheiram, se picam, acenam para o infinito como se aquele momento fosse o último de sua curta e inóspita existência surreal. E depois grita. Grita para não chorar. Grita para ser ouvida. Grita por socorro. Grita por perdão. Grita por misericórdia, por um pouco de comiseração, talvez um pouco mais de compreensão ou um gole a mais de cerveja long neck quente.
Minha geração nunca pegou uma gonorréia de leve num puteiro de beira de estrada. Não sabe o que é sentir o calor de uma mulher sem pensar no que isso pode acarretar para o seu futuro ainda cheio de incertezas. Querem o sexo como um sedento num deserto sem direito a um copo d´água decente. Transam sem camisinha para depois serem censurados por aqueles que inventaram a porcaria toda. Broxam aos 21, têm ejaculação precoce aos 25 e procuram nas páginas de revistas especializadas um pouco de luxúria artificial para suas vidas. Mentem para si mesmo e acreditam nisso.
Nunca sentiram o vento nos cabelos pilotando uma moto, porque a lei não permite que andem sem capacete. Vivem suas prisões como se fossem confortáveis e inevitáveis residências.
Minha geração gosta de música. Gosta de jaquetas de couros, calças rasgadas, toucas de lã, camisas de flanela, tênis de fibra de cânhamo e piercings nas cartilagens. Pensa que quatro garotos norte-americanos de cabelos espetados e pele bem tratada são punks, mas têm pôsteres de quatro garotos norte-americanos vestindo jaquetas de couro e calças jeans rasgadas colados na parede do quarto. Minha geração tem bandas que jamais farão sucesso além do quarteirão onde moram, pois precisam acordar cedo na manhã seguinte para aprender que o país onde moram foi descoberto e dominado por estrangeiros e permanece assim até hoje. Aprendem que é inútil resistir, que seus sonhos são “coisa de moleque” e sumirão logo que descobrirem que são pequenos demais, roucos demais, fracos demais e bonitos demais para conseguirem o que querem.
Minha geração é humilhada constantemente por sua própria incoerência, não vê saída senão a sarjeta onde o mundo deposita seu lixo. Minha geração se sente pior que lixo. É repleta de dúvidas, e elas não são solucionadas por velhos livros que ninguém mais lê, mas que assim mesmo permanecem na prateleira para lembrarem o quanto existe gente melhor e mais bem sucedida que um punhado de garotos com a cara purulenta e olhos faiscantes. Ouve histórias fantásticas de gerações anteriores e não encontra eco na sua, não possuem argumentos para barrar o caudaloso rio de lava de informações que frita seus cérebros e faz pavê de seus anseios.
Minha geração vomita quando leva um fora, ainda não aprendeu a lidar com seus impulsos mais primitivos e é taxada de auto-destrutiva e perdida, abobalhada, sonsa e incapaz, e ajuda psicólogos a venderem livros de auto-ajuda. É filha de gente que não sabe como ter filho, que venderam suas almas e esperam que as vozes em constante mutação paguem o preço.
Claro, minha geração não pertence a esse mundo. Ouve dizer que há lugares onde os dias são puro fastio e as noites, pura festa. Quer viver em um rave interminável, dopada, aloprada, livre de qualquer responsabilidade, porque minha geração é irresponsável, não consegue sequer lavar o carro do pai direito para poder ter direito a uma volta na avenida principal da cidade. E conta para os amigos que nada que faz dá certo e eles acenam positivamente com as cabeças cobertas de cabelos desgrenhados ou empastados de gel. E ouvem que se não cortarem a barba e não pararem de usar camiseta com estampa de disco de banda norte-americana não conseguirão empregos, e não terão dinheiro para nada, e não serão nada e então não servirão para nada e serão pegos pela carrocinha e transformados em sabão, pois morarão pelo resto da vida com os pais.
Então bebem. E choram. E são carregados. E vomitam. E dormem. E sonham. Sonham até se cansarem. Então acordam. E amaldiçoam o tempo que nasceram.
Minha geração é igual a todas as outras.
Minha geração bebe. E bebe muito. Bebe até cair. Bebe pra esquecer, pra fugir, pra se esconder, pra desabafar, pra chorar e pra sorrir. Detesta o gosto amargo da cerveja, mas bebe assim mesmo. Não se importa com a data de vencimento do vinho barato que comprou na loja de conveniência do posto de gasolina, e não faz diferença quem paga a conta. Afinal, minha geração paga as contas com o dinheiro dos pais, e quem se importa depois, desde que não apareça em casa com a camisa manchada de vômito ou os olhos vermelhos?
Sim, minha geração usa drogas. Todas elas, de todas as formas e, muitas vezes, de uma vez só. E não parece se importar, porque sabe que no final é ela quem vai limpar tudo mesmo. Fumam, tragam, cheiram, se picam, acenam para o infinito como se aquele momento fosse o último de sua curta e inóspita existência surreal. E depois grita. Grita para não chorar. Grita para ser ouvida. Grita por socorro. Grita por perdão. Grita por misericórdia, por um pouco de comiseração, talvez um pouco mais de compreensão ou um gole a mais de cerveja long neck quente.
Minha geração nunca pegou uma gonorréia de leve num puteiro de beira de estrada. Não sabe o que é sentir o calor de uma mulher sem pensar no que isso pode acarretar para o seu futuro ainda cheio de incertezas. Querem o sexo como um sedento num deserto sem direito a um copo d´água decente. Transam sem camisinha para depois serem censurados por aqueles que inventaram a porcaria toda. Broxam aos 21, têm ejaculação precoce aos 25 e procuram nas páginas de revistas especializadas um pouco de luxúria artificial para suas vidas. Mentem para si mesmo e acreditam nisso.
Nunca sentiram o vento nos cabelos pilotando uma moto, porque a lei não permite que andem sem capacete. Vivem suas prisões como se fossem confortáveis e inevitáveis residências.
Minha geração gosta de música. Gosta de jaquetas de couros, calças rasgadas, toucas de lã, camisas de flanela, tênis de fibra de cânhamo e piercings nas cartilagens. Pensa que quatro garotos norte-americanos de cabelos espetados e pele bem tratada são punks, mas têm pôsteres de quatro garotos norte-americanos vestindo jaquetas de couro e calças jeans rasgadas colados na parede do quarto. Minha geração tem bandas que jamais farão sucesso além do quarteirão onde moram, pois precisam acordar cedo na manhã seguinte para aprender que o país onde moram foi descoberto e dominado por estrangeiros e permanece assim até hoje. Aprendem que é inútil resistir, que seus sonhos são “coisa de moleque” e sumirão logo que descobrirem que são pequenos demais, roucos demais, fracos demais e bonitos demais para conseguirem o que querem.
Minha geração é humilhada constantemente por sua própria incoerência, não vê saída senão a sarjeta onde o mundo deposita seu lixo. Minha geração se sente pior que lixo. É repleta de dúvidas, e elas não são solucionadas por velhos livros que ninguém mais lê, mas que assim mesmo permanecem na prateleira para lembrarem o quanto existe gente melhor e mais bem sucedida que um punhado de garotos com a cara purulenta e olhos faiscantes. Ouve histórias fantásticas de gerações anteriores e não encontra eco na sua, não possuem argumentos para barrar o caudaloso rio de lava de informações que frita seus cérebros e faz pavê de seus anseios.
Minha geração vomita quando leva um fora, ainda não aprendeu a lidar com seus impulsos mais primitivos e é taxada de auto-destrutiva e perdida, abobalhada, sonsa e incapaz, e ajuda psicólogos a venderem livros de auto-ajuda. É filha de gente que não sabe como ter filho, que venderam suas almas e esperam que as vozes em constante mutação paguem o preço.
Claro, minha geração não pertence a esse mundo. Ouve dizer que há lugares onde os dias são puro fastio e as noites, pura festa. Quer viver em um rave interminável, dopada, aloprada, livre de qualquer responsabilidade, porque minha geração é irresponsável, não consegue sequer lavar o carro do pai direito para poder ter direito a uma volta na avenida principal da cidade. E conta para os amigos que nada que faz dá certo e eles acenam positivamente com as cabeças cobertas de cabelos desgrenhados ou empastados de gel. E ouvem que se não cortarem a barba e não pararem de usar camiseta com estampa de disco de banda norte-americana não conseguirão empregos, e não terão dinheiro para nada, e não serão nada e então não servirão para nada e serão pegos pela carrocinha e transformados em sabão, pois morarão pelo resto da vida com os pais.
Então bebem. E choram. E são carregados. E vomitam. E dormem. E sonham. Sonham até se cansarem. Então acordam. E amaldiçoam o tempo que nasceram.
Minha geração é igual a todas as outras.
Gente pelada
Adoro gente pelada. Inclusive escrevi um artigo sobre isso no T&Q há algum tempo.
Mas o lance é que gosto de gente de verdade pelada. Logo, nem passo os olhos por revistas especializadas, onde qualquer um com um par de neurônios sabe que a carne exposta ali é adulterada. Lisa, esticada, perfeita. Cadê as cicatrizes, manchas, celulites, estrias, marcas do tempo e do destempero, queimaduras, rachaduras, sinais de nascença e de vivência? Nada. Nem lembrança.
Pra mim, aquilo não é gente pelada. É gente despelada, sem graça, envergonhada das próprias imperfeições que, sabemos, são o que fazem de nós o que somos. Os defeitos nos tornam especiais, atraentes, desejáveis. O máximo que sinto quando vejo uma Playboy é saudade do tempo em que tinha que entrar em casa com a revista escondida debaixo da camiseta para minha mãe não perceber. No mais, nem um leve formigamento na pélvis.
Nessas andanças, encontrei um site muito bom. Ao contrário dos milhares de sítios dedicados a fotos amadoras, que primam pela grosseria, o Supertangas é sóbrio e, arrisco dizer, elegante. Mulheres realmente bonitas que, pelo que dá pra perceber, mandam suas fotos espontaneamente. Coisa de gente quer ser vista e pode ser vista. Não sei, mas deve ter alguma restrição para barangas, porque o conteúdo é de altíssimo nível. Mesmo sendo fotos de gente comum, é gente comum bem acabada.
O lance é espanhol e tem acesso restrito em algumas áreas. Mas tem bastante coisa disponível.
Altamente recomendável.
Mas o lance é que gosto de gente de verdade pelada. Logo, nem passo os olhos por revistas especializadas, onde qualquer um com um par de neurônios sabe que a carne exposta ali é adulterada. Lisa, esticada, perfeita. Cadê as cicatrizes, manchas, celulites, estrias, marcas do tempo e do destempero, queimaduras, rachaduras, sinais de nascença e de vivência? Nada. Nem lembrança.
Pra mim, aquilo não é gente pelada. É gente despelada, sem graça, envergonhada das próprias imperfeições que, sabemos, são o que fazem de nós o que somos. Os defeitos nos tornam especiais, atraentes, desejáveis. O máximo que sinto quando vejo uma Playboy é saudade do tempo em que tinha que entrar em casa com a revista escondida debaixo da camiseta para minha mãe não perceber. No mais, nem um leve formigamento na pélvis.
Nessas andanças, encontrei um site muito bom. Ao contrário dos milhares de sítios dedicados a fotos amadoras, que primam pela grosseria, o Supertangas é sóbrio e, arrisco dizer, elegante. Mulheres realmente bonitas que, pelo que dá pra perceber, mandam suas fotos espontaneamente. Coisa de gente quer ser vista e pode ser vista. Não sei, mas deve ter alguma restrição para barangas, porque o conteúdo é de altíssimo nível. Mesmo sendo fotos de gente comum, é gente comum bem acabada.
O lance é espanhol e tem acesso restrito em algumas áreas. Mas tem bastante coisa disponível.
Altamente recomendável.
domingo, julho 17, 2005
Dude (looks like a lady)
Eu na fila do banco. Cabelos soltos pelos ombros. Puto com o dinheiro que foi depositado na conta errada. Já tinha o texto pronto pra esfregar na cara de pau do gerente. Três horas da tarde, a agência lotada. Eu odeio bancos e tudo o que diz respeito a eles.
Na minha frente, um velho de pulôver com um garoto agarrado à sua perna. Olho para o pequeno, que presumo ser seu neto. Ele me olha e me encarar com o dedão enfiado na boca. Tento sorrir pra ele, mas o máximo que consigo é mostrar os dentes.
"Como você chama?", ele me pergunta. "Gustavo", respondo. Ele vira-se para o avô e puxa de leve a calça do velho. Manda uma certeira: "Vô, você não disse que só mulher tem cabelo comprido?".
O sujeito me olha por detrás de lentes amareladas de um óculos de armação de aro de tartaruga. Sorri pra mim sem jeito. Devolvo o mimo. "Ele queria deixar o cabelo crescer, então tivemos que arrumar uma desculpa, né?", me confidencia. "Não, tudo bem, eu entendo. Criança é assim mesmo", torno.
Ele menea a cabeça e vira pra frente. Eu esqueço por alguns instantes as sandices que ia dizer pro engravatado de cabelo empastado.
Agora é que não corto mesmo.
Na minha frente, um velho de pulôver com um garoto agarrado à sua perna. Olho para o pequeno, que presumo ser seu neto. Ele me olha e me encarar com o dedão enfiado na boca. Tento sorrir pra ele, mas o máximo que consigo é mostrar os dentes.
"Como você chama?", ele me pergunta. "Gustavo", respondo. Ele vira-se para o avô e puxa de leve a calça do velho. Manda uma certeira: "Vô, você não disse que só mulher tem cabelo comprido?".
O sujeito me olha por detrás de lentes amareladas de um óculos de armação de aro de tartaruga. Sorri pra mim sem jeito. Devolvo o mimo. "Ele queria deixar o cabelo crescer, então tivemos que arrumar uma desculpa, né?", me confidencia. "Não, tudo bem, eu entendo. Criança é assim mesmo", torno.
Ele menea a cabeça e vira pra frente. Eu esqueço por alguns instantes as sandices que ia dizer pro engravatado de cabelo empastado.
Agora é que não corto mesmo.
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