Daniela é uma puta. Como todas as mulheres de verdade, ela é uma puta. Mas não porque faz sexo por dinheiro, afinal, já tem sua profissão muito bem afinada com sua vocação. Tampouco por sair copulando a torto e a direito, pois isso não faria dela uma puta, e sim uma vadia. E nem toda vadia pode ser uma puta. As putas de verdade não são vadias. São mulheres. E toda mulher de verdade é uma puta. Uma puta porque sabe como transformar garotos em homens, e homens em garotos. E Daniela, como boa puta que é, me transformou em homem.
Na avenida mais movimentada da cidade, numa noite de Natal chuvosa, me obrigou a estacionar entre dois carros. Eu, que mal havia conseguido minha permissão para dirigir. "Vai, bota o carro aí ou não vai ter isso aqui", disse, levantando a saia e exibindo a renda de uma meia 7/8 preta e o início de uma cinta-liga. Quinze minutos depois, lá estava o Santana 2.0 1999 do meu pai encaixado rente à guia. Daniela foi a primeira mulher que me fez fazer uma baliza. E também a última.
Juntos, ela não me deixava ir além de uma nesga de seio, cujos mamilos rosados me faziam ter a maior das ereções. No máximo, me permitiu masturbá-la uma vez. Jamais tocou em meu sexo. Sequer tirou-me as calças. Chegou, sim, ainda na mesma noite e na mesma avenida, a insinuar um toque, subindo em meus quadris e enfiando 2/3 de dedos dentro de minha cueca, enquanto empinava o nariz, desafiadora, e lambia os lábios. Foi o suficiente.
Suas pernas, logo, nunca me foram abertas de fato. Embora gostasse de entrelaçá-las em minhas costas, simulando um coito infantil e imprestável, nunca chegamos as vias de fato. Como diria Caetano, fazíamos um sexo não-ortodoxo a nosso modo. Ou ao modo dela, para ser mais preciso. Ela era a puta. E eu, o garoto que precisa ser transformado em homem. E ainda assim, sem nunca tê-la jamais penetrado, sequer sentido o cheiro de seu sexo, após uma noite com ela, me sentia o mais deflorado dos homens.
Mesmo não sendo mais virgem à época, era como se ela tivesse sido minha primeira mulher.
Mas Daniela é uma puta. A mais perfeita das putas. Me fez dançar Emílio Santiago num antigo boteco do shopping, e convenceu meu orgulho de que era melhor não sermos nada mais do que bons amigos.
Enfiada num tubinho preto de veludo, de mangas longas e barra acima dos joelhos, me levou, de calça-cargo, camisa do Kiss e blusa de flanela xadrez amarrada na cintura, para ver qualquer coisa no cinema numa noite chuvosa. Na volta, fez questão de correr até o carro apenas para se molhar e tirar a roupa. Não toda, evidentemente, mas o suficiente para mostrar sua carne alva em contraste com os cabelos e olhos negros. Olhos de puta. Olhos que sabem esperar, que não hesitam em serem cruéis e se fecham sem dizer adeus.
Então ela sumiu. Mastigou meu coração com algo do tipo "não sei", ou "sei lá".
Eu fui ouvir Rolling Stones. Ela casou. Mudou de cidade. Mas não perdeu a vocação de ensinar. Como puta nata que é, virou professora. Ensina para adolescentes imberbes o be-a-bá inútil das apostilas. Mal sabem eles o que estão perdendo. Eu sei.
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
quarta-feira, dezembro 28, 2005
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Não, não e não
Isso não pode ser verdade. Não pode ser.
Meu inglês só pode estar me pregando uma peça. Eu li errado, tenho certeza.
Pelamor, se alguém realmente entender o que isso significa, me explica, tá? Vou estar ouvindo minha coletânea da Barbra Streisand...
Meu inglês só pode estar me pregando uma peça. Eu li errado, tenho certeza.
Pelamor, se alguém realmente entender o que isso significa, me explica, tá? Vou estar ouvindo minha coletânea da Barbra Streisand...
domingo, dezembro 18, 2005
Tentativa de diálogo
- Como você não gosta de balada, gato?
- Ah, nem curto. Sei lá, princípios, entende? Quer dizer, eu...
- Putz, sou maior baladadeira. Segunda a segunda só na perdição, tá ligado?
- Ahã. Legal.
- Ai, meu, o som, a galera, a azaração, nossa, não vivo sem.
- Ah. É que meu lance é outro.
- Ah, sei. Tá.
- Só ouço aquilo que consigo cantar junto ou dedilhar, sabe? Então eu...
- Ah, gato, eu curto dançar. Nossa, me acabo na pista, tá ligado? Tomo uns daikiris e ninguém me segura, sabe? Nossa, não vivo sem uma balada.
- É, pode crer. Ahã.
- Fora que, tipo assim, sempre tem um gatinho pra gente dar uns beijinhos, trocar uns telefones e tal. Mas nada sério, tá ligado? Vou pra curtir mesmo, e tal.
- Ah, tá. É que é meio difícil conversar com alguém dentro de uma boate, e eu gosto de convesar, então prefiro nem entrar e...
- Pô, gato, mas ninguém tá lá pra conversar, né? A azaração é o que conta, tá ligado? Chega junto, fala qualquer besteirinha e se bater, se for um gatinho, rola alí mesmo, na pista.
- Ahã. É. Sei.
- Vamos em um monte, aí sempre rola um lance meio de desespero, sabe? Então é cada uma por si. Nossa, só risada. A turma é muito da hora, dou muita risada quando saio, tá ligado?
- É mesmo? Mas sabe que...
- Ai, nem tô vendo, sabe, gato? O lance é chegar, chegando, ir pra balada, curtir um montão, zuar mesmo. Eu sou assim, e tipo, sou eu mesma, na minha, totalmente sussa.
- Hã...
- Agora vou indo, gato. Hoje tem trance com pagode na Houzes e nem posso perder. Inclusive, ó, tô aqui com as cortesias pras minhas amigas e tudo.
- Ah, tá. Então tá. Eu só...
- Beijo, vô nessa. A gente se vê por aí.
- Tá...
- Ah, nem curto. Sei lá, princípios, entende? Quer dizer, eu...
- Putz, sou maior baladadeira. Segunda a segunda só na perdição, tá ligado?
- Ahã. Legal.
- Ai, meu, o som, a galera, a azaração, nossa, não vivo sem.
- Ah. É que meu lance é outro.
- Ah, sei. Tá.
- Só ouço aquilo que consigo cantar junto ou dedilhar, sabe? Então eu...
- Ah, gato, eu curto dançar. Nossa, me acabo na pista, tá ligado? Tomo uns daikiris e ninguém me segura, sabe? Nossa, não vivo sem uma balada.
- É, pode crer. Ahã.
- Fora que, tipo assim, sempre tem um gatinho pra gente dar uns beijinhos, trocar uns telefones e tal. Mas nada sério, tá ligado? Vou pra curtir mesmo, e tal.
- Ah, tá. É que é meio difícil conversar com alguém dentro de uma boate, e eu gosto de convesar, então prefiro nem entrar e...
- Pô, gato, mas ninguém tá lá pra conversar, né? A azaração é o que conta, tá ligado? Chega junto, fala qualquer besteirinha e se bater, se for um gatinho, rola alí mesmo, na pista.
- Ahã. É. Sei.
- Vamos em um monte, aí sempre rola um lance meio de desespero, sabe? Então é cada uma por si. Nossa, só risada. A turma é muito da hora, dou muita risada quando saio, tá ligado?
- É mesmo? Mas sabe que...
- Ai, nem tô vendo, sabe, gato? O lance é chegar, chegando, ir pra balada, curtir um montão, zuar mesmo. Eu sou assim, e tipo, sou eu mesma, na minha, totalmente sussa.
- Hã...
- Agora vou indo, gato. Hoje tem trance com pagode na Houzes e nem posso perder. Inclusive, ó, tô aqui com as cortesias pras minhas amigas e tudo.
- Ah, tá. Então tá. Eu só...
- Beijo, vô nessa. A gente se vê por aí.
- Tá...
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Essa juventude...
- Vô, que merda é essa?
- É um DVD.
- Dã... eu sei. Mas o que tem nele? Só tem uma língua desenhada...
- Ah, isso foi um culto coletivo que o vovô participou quando era mais novo. Já faz tanto tempo...
- Culto coletivo? Mas você é agnóstico.
- Não. A religião do vovô é a música. Mas você é muito novo pra entender essas coisas. O fato é que, nessa ocasião, os maiores pastores se reuniram para pregar e o vovô foi lá ver.
- Vou colocar, então, tá?
- Tá. Deixa só eu pegar meu Telex e minhas bolinhas. Pronto.
- Nossa, onde foi isso?
- Na Praia de Copacabana, numa cidade chamada Rio de Janeiro. É onde hoje é aquele enorme estacionamento coberto do Wal Mart.
- Caraca... e o quê é praia?
- Era uma faixa de areia com água do mar. É onde hoje é aquele imenso pântano cheio de criaturas radiotivas.
- Hã... Nossa, quanta gente, hein?
- Pois é. Na época, esperavam 1,5 milhão, mas é certo que ultrapassou os 3 milhões. Tinha gente de todo tipo e todas as intenções, mas a maior parte queria mesmo era ouvir a palavra de libertação.
- Desse cara pulando feito uma gazela? Coisa mais afetada...
- Olha a boca, moleque! Quer saber que gosto tem a madeira da minha bengala? Esse é o reverendo mor. Lava a boca antes de falar dele.
- Ô, vô, tá bom, tá bom... e esse outro tocando guitarra? Ele toca fumando?
- Ele fazia tudo fumando. Era o segundo na hierarquia. Tá vendo esse solo? Nessa hora, caí de joelhos e louvei com toda força.
- Eita...
- Olha alí! Olha alí! Pausa! Tá vendo? Olha o vovô alí, de bandana e calça jeans.
- E quem é aquele alí do seu lado com a cabeça enfiada na areia?
- Ah, era o seu tio-avô-de alma, o Denitcho. Nessa hora, ele estava entrando em transe. Como quase todo mundo, na verdade...
- E quando ele volta?
- Nem eu sei. Deve estar em órbita ainda, ou pousado em algum planeta bem melhor que esse. Às vezes, nossa cabeça é o lugar mais seguro para se ficar... Mas toca a fita. Digo, o DVD...
- E essa gostosinha de saia e bota? Putz, ela ergueu a blusa e mostrou os peitos! Locona...
- Nem me diga. Era uma amiga do vovô, sabe... Ei, olha o tamanho desse rapaz.
- Não é o Dringola? O papai fala bastante dele, tem tudo o que é CD dele.
- É, mas na época ele era diagramador do jornal onde o vovô trabalhava e tava começando apenas. Saudades...
- Cadê o Bia?
- Devia estar comprando cerveja ou... ãh... bom, você é muito novo pra saber essas coisas ainda. Mas na época ele era mais que uma cabeça conservada no museu de história natural e um busto na galeria de grandes pensadores do século 21.
- Não é por nada não, mas como eles se mantinham em pé?
- Quer tomar uma bengalada mesmo, né? Eles não eram velhos. Seus corpos podiam ser decrépitos, mas sua música não. E era disso que eles eram feitos e era nisso em que eu acreditava e acredito até hoje.
- E onde eles estão hoje?
- Mortos, claros. Houve um tempo que achávamos que eles jamais morreriam, mas descobrimos que eternos mesmo eles seriam nas retinas de nossas memórias.
- Então por quê nunca ouvi falar deles?
- Porque é muito novo pra isso. Quando for mais crescidinho, vovô te empresta a chave do sótão onde estão umas coisas. Lá vai ter alguma coisa.
- Ah, fala sério, vô! Ele não usam nenhum computador no palco. Não tem nem DJ e... ai, vô, essa bengala dói, pô!
- Juventude de merda. Eles eram homens, não um bando de bichas vestidas com roupinhas descoladas esfregando a mão num disco. Olha alí agora, é a hora do beijo na boca. Putz..
- É, a galera se empolga mesmo com o cara da guitarra. Mas quem é essa garota com você, vovô? É a vovó?
- Sabe que não lembro? Tava tão louco que... ops!
- Humpft! Sei. E como terminou isso tudo?
- E quem disse que terminou? Tá tudo aqui ainda, fervendo meu cérebro. Se bem que podem ser também essas malditas pílulas ou um início de AVC...
- Tá tremendo, vô! Calma, vou chamar o papai...
- Não, deixa. Deixa eu ir com eles.
- Que é isso, vô, é só rock´n´roll!
- Sim, mas eu gosto.
- É um DVD.
- Dã... eu sei. Mas o que tem nele? Só tem uma língua desenhada...
- Ah, isso foi um culto coletivo que o vovô participou quando era mais novo. Já faz tanto tempo...
- Culto coletivo? Mas você é agnóstico.
- Não. A religião do vovô é a música. Mas você é muito novo pra entender essas coisas. O fato é que, nessa ocasião, os maiores pastores se reuniram para pregar e o vovô foi lá ver.
- Vou colocar, então, tá?
- Tá. Deixa só eu pegar meu Telex e minhas bolinhas. Pronto.
- Nossa, onde foi isso?
- Na Praia de Copacabana, numa cidade chamada Rio de Janeiro. É onde hoje é aquele enorme estacionamento coberto do Wal Mart.
- Caraca... e o quê é praia?
- Era uma faixa de areia com água do mar. É onde hoje é aquele imenso pântano cheio de criaturas radiotivas.
- Hã... Nossa, quanta gente, hein?
- Pois é. Na época, esperavam 1,5 milhão, mas é certo que ultrapassou os 3 milhões. Tinha gente de todo tipo e todas as intenções, mas a maior parte queria mesmo era ouvir a palavra de libertação.
- Desse cara pulando feito uma gazela? Coisa mais afetada...
- Olha a boca, moleque! Quer saber que gosto tem a madeira da minha bengala? Esse é o reverendo mor. Lava a boca antes de falar dele.
- Ô, vô, tá bom, tá bom... e esse outro tocando guitarra? Ele toca fumando?
- Ele fazia tudo fumando. Era o segundo na hierarquia. Tá vendo esse solo? Nessa hora, caí de joelhos e louvei com toda força.
- Eita...
- Olha alí! Olha alí! Pausa! Tá vendo? Olha o vovô alí, de bandana e calça jeans.
- E quem é aquele alí do seu lado com a cabeça enfiada na areia?
- Ah, era o seu tio-avô-de alma, o Denitcho. Nessa hora, ele estava entrando em transe. Como quase todo mundo, na verdade...
- E quando ele volta?
- Nem eu sei. Deve estar em órbita ainda, ou pousado em algum planeta bem melhor que esse. Às vezes, nossa cabeça é o lugar mais seguro para se ficar... Mas toca a fita. Digo, o DVD...
- E essa gostosinha de saia e bota? Putz, ela ergueu a blusa e mostrou os peitos! Locona...
- Nem me diga. Era uma amiga do vovô, sabe... Ei, olha o tamanho desse rapaz.
- Não é o Dringola? O papai fala bastante dele, tem tudo o que é CD dele.
- É, mas na época ele era diagramador do jornal onde o vovô trabalhava e tava começando apenas. Saudades...
- Cadê o Bia?
- Devia estar comprando cerveja ou... ãh... bom, você é muito novo pra saber essas coisas ainda. Mas na época ele era mais que uma cabeça conservada no museu de história natural e um busto na galeria de grandes pensadores do século 21.
- Não é por nada não, mas como eles se mantinham em pé?
- Quer tomar uma bengalada mesmo, né? Eles não eram velhos. Seus corpos podiam ser decrépitos, mas sua música não. E era disso que eles eram feitos e era nisso em que eu acreditava e acredito até hoje.
- E onde eles estão hoje?
- Mortos, claros. Houve um tempo que achávamos que eles jamais morreriam, mas descobrimos que eternos mesmo eles seriam nas retinas de nossas memórias.
- Então por quê nunca ouvi falar deles?
- Porque é muito novo pra isso. Quando for mais crescidinho, vovô te empresta a chave do sótão onde estão umas coisas. Lá vai ter alguma coisa.
- Ah, fala sério, vô! Ele não usam nenhum computador no palco. Não tem nem DJ e... ai, vô, essa bengala dói, pô!
- Juventude de merda. Eles eram homens, não um bando de bichas vestidas com roupinhas descoladas esfregando a mão num disco. Olha alí agora, é a hora do beijo na boca. Putz..
- É, a galera se empolga mesmo com o cara da guitarra. Mas quem é essa garota com você, vovô? É a vovó?
- Sabe que não lembro? Tava tão louco que... ops!
- Humpft! Sei. E como terminou isso tudo?
- E quem disse que terminou? Tá tudo aqui ainda, fervendo meu cérebro. Se bem que podem ser também essas malditas pílulas ou um início de AVC...
- Tá tremendo, vô! Calma, vou chamar o papai...
- Não, deixa. Deixa eu ir com eles.
- Que é isso, vô, é só rock´n´roll!
- Sim, mas eu gosto.
segunda-feira, dezembro 12, 2005
Entrevista
- Quer ser repórter de cultura, então?
- Nossa, é o que eu mais quero.
- Legal. Do que gosta de ler?
- Ah, pra falar a verdade, só leio o primeiro caderno da Folha de S. Paulo.
- Não lê a Ilustrada?
- Não, não...
- Hum... e livro? Alguma coisa específica?
- Ah... putz... tô terminando o último do Sidney Sheldon.
- Certo... e música? Tá ouvindo o quê agora?
- Gosto de coisas que ninguém gosta, sabe? Baladinhas românticas tipo Norah Jones, Shanaia Twain, um pouco de Beatles, ah, essas coisas...
- Mas você procura coisas novas, vai atrás e tal ou não?
- Não, nem vou. Nem me ligo muito nessas coisas.
- Ah, tá... E o que te fez gostar de cultura, tipo escrever em um caderno de cultura?
- Ai, porque não gosto de política, acho um saco. E cultura é fácil, e dá pra falar com os artistas, gente famosa, sabe? É isso que me atrai, eu acho.
- Ok. Brigado. Valeu. Entramos em contato.
- Ah, brigada eu.
- Caraca, onde eu coloquei meu vidro de Lexotan, senhor Jesus, rápido!
- Nossa, é o que eu mais quero.
- Legal. Do que gosta de ler?
- Ah, pra falar a verdade, só leio o primeiro caderno da Folha de S. Paulo.
- Não lê a Ilustrada?
- Não, não...
- Hum... e livro? Alguma coisa específica?
- Ah... putz... tô terminando o último do Sidney Sheldon.
- Certo... e música? Tá ouvindo o quê agora?
- Gosto de coisas que ninguém gosta, sabe? Baladinhas românticas tipo Norah Jones, Shanaia Twain, um pouco de Beatles, ah, essas coisas...
- Mas você procura coisas novas, vai atrás e tal ou não?
- Não, nem vou. Nem me ligo muito nessas coisas.
- Ah, tá... E o que te fez gostar de cultura, tipo escrever em um caderno de cultura?
- Ai, porque não gosto de política, acho um saco. E cultura é fácil, e dá pra falar com os artistas, gente famosa, sabe? É isso que me atrai, eu acho.
- Ok. Brigado. Valeu. Entramos em contato.
- Ah, brigada eu.
- Caraca, onde eu coloquei meu vidro de Lexotan, senhor Jesus, rápido!
Considerações
Ainda não consigo olhar para as coisas dela. Estão todas por aqui, espalhadas por cima de tudo. Engraçado como nada do que a gente quer esquecer não vai parar embaixo da cama ou sobre o armário. Não, elas ficam bem visíveis, tipo em cima da cômoda ou no tapete da sala. Saco.
Por que simplesmente não vão embora com o vento ou entram de uma vez por todas dentro do aspirador de pó? Por que insistem em se fazer valer, mostrando aquilo que já não tem mais razão de ser? Ficam por aqui, enroscando nos meus cabelos, roçando minhas pernas, cutucando minhas orelhas e beliscando minha bunda.
Poderia (mas jã não deveria ter?) enfiar tudo num saco e jogado no rio, com uma pedra amarrada na boca. Mas certamente ficaria com pena e me atiraria junto cheio de arrependimento e culpa. Vou ligar para ela. Mandar vir aqui e levar tudo embora. É dela, oras, que se vire como rumo que isso deve tomar. Comigo é que não pode ficar. Não aqui, assim, como testemunhas mudas de um crime sem motivo.
E vou ser taxativo. Talvez até providencie o carreto para ela, assim não tenho que me preocupar se irão se quebrar durante o transporte. Melhor já ir acondicionando nas caixas de copos de cristais da mamãe. Mas pode ser que molhem se eu deixar lá fora, então vou colocá-las todas dentro do armário. Antes um pano úmido para tirar o pó. Isso. Pronto. É. Até que não ficou de todo mal. Logo, logo evapora e acabou-se. De uma vez.
Por que simplesmente não vão embora com o vento ou entram de uma vez por todas dentro do aspirador de pó? Por que insistem em se fazer valer, mostrando aquilo que já não tem mais razão de ser? Ficam por aqui, enroscando nos meus cabelos, roçando minhas pernas, cutucando minhas orelhas e beliscando minha bunda.
Poderia (mas jã não deveria ter?) enfiar tudo num saco e jogado no rio, com uma pedra amarrada na boca. Mas certamente ficaria com pena e me atiraria junto cheio de arrependimento e culpa. Vou ligar para ela. Mandar vir aqui e levar tudo embora. É dela, oras, que se vire como rumo que isso deve tomar. Comigo é que não pode ficar. Não aqui, assim, como testemunhas mudas de um crime sem motivo.
E vou ser taxativo. Talvez até providencie o carreto para ela, assim não tenho que me preocupar se irão se quebrar durante o transporte. Melhor já ir acondicionando nas caixas de copos de cristais da mamãe. Mas pode ser que molhem se eu deixar lá fora, então vou colocá-las todas dentro do armário. Antes um pano úmido para tirar o pó. Isso. Pronto. É. Até que não ficou de todo mal. Logo, logo evapora e acabou-se. De uma vez.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
A primeira coisa que eu faria seu fosse mulher...
... seria dar a xoxota para os meus amigos olharem.
Mas só olharem.
Mas só olharem.
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Verdade 2 - A Missão
Neste final de semana, pude finalmente assistir a "9 Canções". O filme seria uma grande bobagem com ares de polêmica se não contivesse dois elementos fundamentais para a vida na Terra e um terceiro que tem atormentado minhas sinapses nesses tempos. Sexo e rock´n´roll são os dois primeiros. A verdade é o terceiro, que advém daqueles de uma maneira bem pouco sutil, praticamente explícita por assim dizer. E isso é bom. Muito bom.
Um dos grandes méritos de "9 Canções" e seu diretor, Michael Winterbottom, é trazer a, hã, "estética da pornografia", para um filme com alguma pretensão artística e um bom tino comercial conferido pela trilha sonora de bandas indie de grande expressão (?) lá fora, como Black Rebel Motorcycle Club, Von Bondies, Primal Scream, Franz Ferdinand entre outras. E fazer isso tudo com muita verdade.
A verdade do sexo. Os protagonistas fazem sexo de verdade. Não há cenas em penumbra, que revelam apenas curvas e nesgas de seios e bundas. Tampouco há o hipócrita nu frontal que as estrelas de Hollywood gostam de exibir em parcos segundos de pelos pubianos. Na tela, o que se vê não são ensaios de movimentos ou gemidos em falsete. Há um pau duro penetrando uma vagina. Há felação. Há cunilíngua. Há jogos eróticos. Há brinquedinhos. Há drogas. Há ejaculação. E tudo em close, para não haver dúvida. O que não há é fantasia, divagação ou opções. Winterbottom não dá isso para o espectador. Ele o joga num turbilhão de sentimento tão forte que dá até pra sentir o cheiro.
E tem o rock e sua verdade. Quando não fazem sexo, o casal protagonista vai a shows de uma boa safra de bandas. São apresentações ao vivo, no melhor esquema documental, sem interferência posterior. Os músicos estão no palco fazendo o que sabem e o público se entrega totalmente ao momento, sem ensaio ou prévia. Apenas uma câmera digital na mão e um microfone para captar o som, que se apresenta sujo, distorcido, tosco e maravilhosamente impreciso. Apenas rock´n´roll. Sem playback. Sem fingimento. Sem possibilidade de voltar atrás. Sem necessidade de fazer bonito. Sem pureza. Apenas rock´n´roll. E nós gostamos, pode ter certeza.
Mas há um quarto elemento, que corrobora definitivamente para que a verdade torne-se ainda mais escancarada: a Antárdita. O continente congelado é palco das incursões filosóficas de um dos protagonistas, que trabalha como analista de gelo (!). Nas planícies geladas e brancas que ele percorre não há espaço para nada além de verdade. A imensidão solitária e quieta do mar de gelo é tão sincera e peremptória que exerce sua razão sem deixar dúvidas.
Ao final, fica a sensação de que verdade ou a mentira não podem ser idealizadas ou definidas. Elas existem e ponto final. Estão alí, mas só as vê (e sente) quem realmente quer. Podem ser explícitas ou implícitas. Podem ser ao vivo ou em playback. Podem ser nas agitadas ruas de Londres ou na desolação gelada do extremo sul do planeta.
Ao final, não há mentiras nem verdades aqui. Só há música urbana.
Um dos grandes méritos de "9 Canções" e seu diretor, Michael Winterbottom, é trazer a, hã, "estética da pornografia", para um filme com alguma pretensão artística e um bom tino comercial conferido pela trilha sonora de bandas indie de grande expressão (?) lá fora, como Black Rebel Motorcycle Club, Von Bondies, Primal Scream, Franz Ferdinand entre outras. E fazer isso tudo com muita verdade.
A verdade do sexo. Os protagonistas fazem sexo de verdade. Não há cenas em penumbra, que revelam apenas curvas e nesgas de seios e bundas. Tampouco há o hipócrita nu frontal que as estrelas de Hollywood gostam de exibir em parcos segundos de pelos pubianos. Na tela, o que se vê não são ensaios de movimentos ou gemidos em falsete. Há um pau duro penetrando uma vagina. Há felação. Há cunilíngua. Há jogos eróticos. Há brinquedinhos. Há drogas. Há ejaculação. E tudo em close, para não haver dúvida. O que não há é fantasia, divagação ou opções. Winterbottom não dá isso para o espectador. Ele o joga num turbilhão de sentimento tão forte que dá até pra sentir o cheiro.
E tem o rock e sua verdade. Quando não fazem sexo, o casal protagonista vai a shows de uma boa safra de bandas. São apresentações ao vivo, no melhor esquema documental, sem interferência posterior. Os músicos estão no palco fazendo o que sabem e o público se entrega totalmente ao momento, sem ensaio ou prévia. Apenas uma câmera digital na mão e um microfone para captar o som, que se apresenta sujo, distorcido, tosco e maravilhosamente impreciso. Apenas rock´n´roll. Sem playback. Sem fingimento. Sem possibilidade de voltar atrás. Sem necessidade de fazer bonito. Sem pureza. Apenas rock´n´roll. E nós gostamos, pode ter certeza.
Mas há um quarto elemento, que corrobora definitivamente para que a verdade torne-se ainda mais escancarada: a Antárdita. O continente congelado é palco das incursões filosóficas de um dos protagonistas, que trabalha como analista de gelo (!). Nas planícies geladas e brancas que ele percorre não há espaço para nada além de verdade. A imensidão solitária e quieta do mar de gelo é tão sincera e peremptória que exerce sua razão sem deixar dúvidas.
Ao final, fica a sensação de que verdade ou a mentira não podem ser idealizadas ou definidas. Elas existem e ponto final. Estão alí, mas só as vê (e sente) quem realmente quer. Podem ser explícitas ou implícitas. Podem ser ao vivo ou em playback. Podem ser nas agitadas ruas de Londres ou na desolação gelada do extremo sul do planeta.
Ao final, não há mentiras nem verdades aqui. Só há música urbana.
Momento piada interna em uma tarde de domingo depois de várias Brahmas e tortinhas de limão
"A Dani é uma Lena de Itu"
quinta-feira, dezembro 01, 2005
Das coisas que eu não entendo
Porque Pearl, da Janis Joplin, custa R$ 20 e o Ao Vivo do Daniel tá R$ 35?
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