Ziper na b***
I'm Winston Wolfe. I solve problems.
quarta-feira, janeiro 09, 2008
Mala e cuia
sexta-feira, janeiro 04, 2008
quinta-feira, dezembro 27, 2007
Uh, fudeu, Americana apareceu!
Nem em Punta del Este dá para se esconder. Tome tento para a combinação de camisa xadrez azul com blusa de flanela xadrez verde. Sabe como é, final de viagem, péssima programação de roupas, cuecas começando a serem usadas do avesso...
E este blog vai dar um tempo. Muda-se temporariamente para o blog da Revista de Verão. Tem meu encontro com o Dr. House de Punta del Diablo.
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Medo e delírio no Uruguai
terça-feira, dezembro 18, 2007
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Ondotô?
Esses gauleses são mesmo uns loucos. Além de permitirem um romano compartilhar o mesmo espaço, ainda lhe dão pena e papel. No primeiro post, breve introdução. A partir daí, é fogo morro acima, água morro abaixo.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Index
Ninguém tem listas mais legais que a Blender, mas Rolling Stone se superou - pelo menos no quesito se-virem-que-precisamos-de-uma-nova-lista-pelamordedeus.
Alguma nova sugestão?
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Canção-tema para noite chuvosa em PoA
Solidão amiga do peito
Me dê tudo que eu tenha por direito
Me diga, me ensina
Ao dormir não sinto medo
Há um sol, existe vida
Me trate com jeito
Eu tenho saída
Eu quero calor e o mundo é frio
Minha vaidade não enxerga o paraíso
Eu preciso de alguém pra fugir,sem avisar ninguém
Não vou olhar pra trás
A saudade está morta
E já não me importa
Está longe demais
Longe demais de tudo
Eu estou longe demais
Longe demais de tudo
Eu estou longe demais
Tão perto de mim
Tão longe de tudo
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Na toca o ogro / Minha primeira Neosaldina em POA
"Let's get it started
let's get it started in here"
Let's Get It Started - Black Eyed Peas
O convite veio com o seguinte aviso:
"O boteco é 'fechado', então batam na porta - vão olhar estranho, digam que vão tomar uma ceva com o tiago casagrande e fica beleza. pra quem não conhece, é uma adega de cerveja, self-service - e só $ ou cheque :D "
Então vamos elencar o que eu NÃO SABIA até aquele momento:
- O que diabos é um boteco "fechado", que só te deixam entrar se você tiver uma senha?
- Quem é Tiago Casagrande? E por que ele era a tal senha?
- Que porra é uma adega de cerveja self-service? Bandejão vá lá, mas adega?
- Não aceita Visa nem Mastercard?
Aquilo não estava certo. Tinha conhecido o tal Tiago Casagrande através do Bia - o mesmo que me apresentou o conhaque Macieira (e um posterior vício), ao Vic Chesnutt e uma ou outra cosita ilegal. Quer dizer, bela referência, não? Mas Tiago Casagrande na verdade era o alter-ego de Tiagón, ou El Rey, como é conhecido em Petrópolis - não a cidade carioca que fabrica a cerveja estranha que o Bia aprendeu a gostar por motivo de força maior, mas o bairro porto alegrense onde coisas estranhas acontecem com cervejas. Tiagón também é dono do Verbeat, um desses condomínios de luxo para intelectuais da terceira idade - ops, melhor idade, desculpem o politicamente incorreto.
Mas eu iria. Claro que iria. Para onde mais eu poderia ir? Sete horas em ponto Tiagón estava lá, enquanto eu chamava um taxi - agora só ando de táxi, igual a vocês-sabem-quem-porra! Entro no carro e o motorista: "Para onde vamos?". Eu: "Rua João Abótti esquina com Carazinho". Ele: "Ah, João Ábott com Carazinho. Tu é paulista, é?". Era só a primeira da noite que mal começava. E ao contrádio do que dizia o Gessinger, o anoitecer em Porto Alegre é mineiro. Hum, essa ficou boa.
Eu vou de preto. Eu só visto preto. Porque não sou moleque nem convencional, oras. E calço coturnos recém-engraxados. E algumas notas cor-de-rosa na carteira. A carteira também é preta. "Verde, amarelo, vermelho, espelho retrovisor...", tô mentindo, Berto? Mas o bar é azul. Não tem placas, não tem luminosos, sequer um neónzinho indicativo. Na verdade, só falta uma placa dizendo "Cuidado, cão anti-social". Bato na porta e percebo que não falta nada. A rótula abre e um sujeito parrudo, careca, de olhos vidrados e bochechas inexpressivas, surge. Sou automaticamente transportado para uma das inúmeras partidas de Dangeons & Dragons de minha adolescência, onde toda história sempre envolvia uma taverna - ou taberna - e um ogro. Quer dizer, eu era o Hank e estava pronto para envergar meu arco de luz, dar fim àquela criatura e conseguir algum XP quando optei pela diplomacia. "Oi... hã... vim tomar uma... tomar uma com o... hã... Tiago Casagrande".
Ele não pisca. Fecha a portinhola de vidro, abre a porta maior e faz sinal para eu entrar. Guardo meu arco e piso com minhas botas bucaneiras de cortiça. "Pode entrar, eu te encaminho", indica, solícito, o ogro branco de grandes olhos esmeralda. Sigo por um corredor tortuoso até uma sala com dois ambientes. O teto coberto de capas de discos de vinil. Duas mesas ocupadas. Numa delas, um grupo de louras semi-nuas e desbocadas, entornando lascivamente long necks de cerveja uruguaia, besuntava uma a outra com óleo de bronzear. Uma delas usava uma tiara dourada, botas brancas, tomara-que-caia dourado e acariciava um cavalo alado. Na outra mesa, dois sujeitos com cara de publicitários fodidos e mal pagos empilhavam garrafas de vários rótulos.
"Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas faça o tal Tiagón ser uma daquelas gatas, e eu serei salvo", rezei, entredentes. O ogro me encara, percebe que não faço idéia de quem vim procurar. Ele fareja uma mentira e está pronto para me bicudar para fora da taverna - ou taberna - quando o próprio El Rey se apresenta. Claro que não era uma garota. "Ei, eu esperava um careca!", é a primeira coisa que ele diz. Rebato com uma piadinha sobre ter esterco na cabeça e tal. Na mesa está o inacreditável Alexandre Alaniz - AA para os integrantes do seu grupo de apoio homônimo - e a bela... a bela... ah... ah, sim, Márcia Prado. Segundo a lenda, Márcia é a feliz proprietária de um grupo de amigas mais seletas que a laranja da feijoada do Chico. AA que o diga. Eu não vou dizer nada a esse respeito por amor aos meu bagos, entendam.
Feitas as devidas apresentações, precisava de um copo, porque ao contrário das garotas da mesa ao lado, não estava, assim, digamos, tão inspirado a dar beijo de língua em garrafa. "Pega lá", chapiscou Tiagón. "Lá na cristaleira da entrada. Vai lá e pega um copo". Então entendi o significado de uma adega de cerveja self-service. Fui lá e saquei uma tulipa profissional pintada com um rótulo de Itaipava - eu acho... Daí por diante o que se seguiu foi basicamente um toma-lá-da-cá de impropérios, vitupérios, causos ternos, tiradas ácidas, palavrões, gargalhadas homéricas e galhofas pândegas das mais diversas embalando o eterno clássico paulistas X gaúchos.
Isso até às 22h. Porque às dez EM PONTO a taberna - ou taverna - fecha. O ogro proprietário toca os incautos. "Vou fechar. Saideira", anuncia. Ninguém é louco de questionar. Tiagón ainda tenta passar uma lábia no calvo. Mas ele está nos seus domínios. Saímos. Ainda com sede. Ah, sim, o boteco é imperdível. E só entra quem conhece alguém conhecido do proprietário. Mais um segredo revelado. Estariam as coisas entrando nos eixos? Ao longe, o Laçador observava, passivo, o cair da noite. Havia sede, era fato. E Tiagón e AA, para usar uma expressão típica de um capiau paulista, pareciam ligados no 220V. Dupla de ataque, linha de frente, vocal e guitarra, queijo com goiabada, Lennon e McCartney, complentando frases, trocando insultos, rememorando piadas internas, interrelacionando conspirações, a noite começava a girar e eu queria sair cavalgando a noite no cavalo alado daquela garota de botas brancas e tiara dourada.
Ainda deu tempo de uma nova saideira no Show do Íche, agora acompanhados de sereno e contrastante casal. Hora de ir embora. AA me confidencia que gosta de videogame e tem um Play Station 2 em casa. Meus olhos marejam. Faço um talho no dedo e proponho um pacto. Meu taxi chega.
sábado, dezembro 01, 2007
As primeiras impressões
Tentei mudar de endereço para fazer jus a minha nova situação, mas não seria totalmente verdade porque coração e pensamentos ainda estão no mesmo lugar - o que torna tudo bem difícil, acreditem. Pelo menos estou mais bem vestido agora, diz aí?
Bom, primeiras vinte e quatro horas em um lugar dizem muito a respeito do que esperar dele pelas demais pernadas dos ponteiros. Então acho que posso engordar algumas boas expectativas.
A começar pela chegada. Definitivamente não se pode viajar com uma embalagem de soro fisiológico sem lacre. Aprendi isso, claro, inundando o simpático compartimento de bagagem e tudo o que havia dentro dele. A tampa, pelo visto, era apenas ornamental.
Devidamente seco e instalado, fui rodar pelo Parque Moinhos de Vento, o Parcão. Eu, crescido em bucólicas pracinhas de bairro, tenho certeza que ostentei o tempo todo aquela expressão de turista abestalhado. Como por enquanto é o que sou mesmo, fiquei dando voltas por ali para gravar nomes de ruas e pontos de referência - cacoete de jornalista de guerra, sabem como é.
O Parcão é cortado pela Avenida Goethe, localidade perfeita, pelo que pude notar, para uma farra gastronômica insuspeitíssima. Mesinhas na calçada são coisas que me atraem e quase todos os botecos ali atendem a essa exigência. Parei na Padaria Central após ler uma lousinha que oferecia chivito com batatas fritas por R$ 7. Aí então fiquei menos - ou mais, não sei - turista. Chivito é basicamente um fast-food uruguaio. E o Uruguai é, literalmente, logo alí.
Não sei se a parada foi mal preparada, mas não gostei. Lembrava qualquer gororoba gordurosa e melequenta que tem gosto de tudo e de nada ao mesmo tempo, feita e devorada as toneladas madrugada adentro. Mas as batatas estavam excelentes e desceram perfeitas com um Skol gelada. Eram 18h30 e nem sinal de anoitecer em Porto Alegre. Mesmo assim, me botei a caminhar. Paguei os R$ 7 do lanche e estupradores R$ 4 da cerva. Ainda estou para conferir se este é o preço padrão por aqui. Se for, recomendo desde já para os futuros visitantes trazerem caixinhas para esse exilado.
De banho tomado e cabelo penteado, me inteirei no universo portoalegrense lendo o "Cavernas & Concubinas", a coletânea perdida de contos do Cardoso. Uma pena a parada ter se perdido por aí. Merecia mais. E eu mereço comer alguma coisa agora. De novo. Dá-lhe pernada, então.
terça-feira, novembro 20, 2007
Babando azul
“I get by with a little help from my friends
Gonna try with a little help from my friends”
With a Little Help From My Friends – The Beatles
Todo clichê que eu economizei no último post acabei usando na citação aí de cima. Mas é uma exceção que não podia abrir mão depois de comentários tão legais quanto os que apareceram. Pensei em agradecer na caixa de comentários mesmo, mas também houve os e-mails, então resolvi registrar aqui meu sorriso bobo de satisfação por ter amigos e conhecidos tão legais a ponto de encher um par de mãos.
Gente que eu sempre esperei apoio, como a Núria, que mesmo antes de formada é maior que boa parte da imprensa da região; o Bia (vou parar de puxar o saco dele, chega...) e a Karen (a.k.a. Fresca), que fizeram delicioso bota-fora pra esse capiau no solar Biajoni no último sábado e desenterraram ainda a dupla João & Daniel, companheiros dos ótimos tempos do insuperável Tiro & Queda, junto com os não menos incríveis PC (parceiro de mandrakismo) e o Cris; o Gustavo N, velho parceiro de domingueiras e que, diz a lenda, está na Alemanha fazendo pós-graduação em alguma coisa ligada a tudo aquilo que ele aprendeu por aí; o Shiraga, uma das melhores figuras que conheci nos últimos meses, parceiro de boas horas; Sandra Pontes, maravilhosa blogueira e escritora que, apesar dos poucos encontros pessoais, está no meu rol de personas sempre gratas em qualquer lugar; o J.R. “Corvo Bêbado” Fidalgo, um pouco responsável, mesmo com poucas palavras, por toda essa reviravolta; a Viva, divina carioca que não deixa a peteca de ninguém cair; a Jussara, quase-companheira de jornada (ainda nos trombanos, garouta!) e para quem devo, de uma forma ou de outra, uma boa caixa de geladinhas; LuizaGO, sem palavras de tanta gratidão pelas palavras tão bem colocadas; o John Nunes, crítico de cinema e editor no Diário do Povo, um dos melhores papos sobre qualquer coisa que tive o prazer de conhecer; aos verbeats Milton Ribeiro e Tiagón, pelo fundamental respaldo a distância; fora gente que sempre apreciei, como o Marcelo, do Sopa no Exílio, blog que devorei com vontade durante meu período de nóia canadense. Claro, tem ainda a minha galera do TodoDia (todos, com as exceções óbvias), minha primeira casa, escola da vida sem igual, enfim - para o bem ou para mal, devo o que sou a ele.
Humpft. Fico parecendo agradecimento de contracapa de CD.
Jóia. Melhor que a encomenda. Agora chega.
quarta-feira, novembro 14, 2007
Go Speed, go!
“Took my chances on a big jet plane,
never let them tell you that they are all the same”
“Going to California” – Led Zeppelin
Tem coisas que são esquisitas, mesmo. Há coisa de um ano me meti a fazer pós-graduação em jornalismo literário. Estava lendo os Mailers, Capotes e Wolfes de sempre e pensei que poderia aplicar aquilo no meu espartano jornalismo diário. Saí do curso seis meses e um abraço coletivo depois. Tal qual a faculdade, não aproveitei nada dos mestres. Mas fiz amizades que parecem saídas de um enredo do David Lynch.
A Bia e o Daniel são dois deles. Ela eu puxei pra redação do jornal onde trabalhava como editor de cultura. Babava azul em editar os textos delas, tão superiores aos da imensa maioria que já havia passado pelas minhas páginas. Ele... bom, ele me ensinou uma das lições mais preciosas. “Amigo dá trabalho”, dizia. E não poderia estar mais certo, de várias maneiras.
Mas o curso acabou. A Bia ficou comigo no jornal. O Daniel foi pra Porto Alegre casar, ler e ser feliz. Péssimo amigo que sou, perdi contato com ele. A Bia, não. Meio sem querer, tentei comunicação com ele novamente, mas tinha certeza que nossas freqüências eram outras. Quase. Se não fosse, claro, pela Bia. Então, se querem culpar alguém nessa história toda, culpem a melhor repórter de cotidiano da região.
Tempos depois, ele me responde. Diz que tem um babado forte pra mim lá pelos pampas. Em uma semana, vôo para POA e acerto um trampo na Zero Hora. Três meses de frila no suplemento especial de verão deles com possibilidade de estender o prazo. Há aqui um terceiro e crucial elemento, de coisa de 1,60m e grandes olhos azuis que fez toda a diferença, mas que prefiro manter nas entrelinhas. Ela tem minha eterna e mais profunda gratidão, porque me deu aquilo que sempre pedi: uma chance. “Amigo dá trabalho”, ensinou o Dani. De certa forma, olha só, foi o que eles me fizeram.
Claro que os créditos não acabam aqui. To indo pra Porto Alegre. Mas definitivamente não vou citar Kleiton & Kledir. Prefiro dar crédito aqui para gente que só faz aumentar uma dívida há muito impagável. O Bia é um deles. Alcoviteiro como só, já me arrumou contato com o grande Tiagón – não esqueci das geladas, tchê! – e com o mestre Milton Ribeiro, para quem devo pedir uma grana emprestada. E farei no melhor estilo Capitão Nascimento: “bota na conta do Papa”. O papa é gaúcho, né não? Estamos em casa, oras.
Esse blog vai passar por alguma reforma. Se ele espelha minha vida, nada mais justo. Daqui até sabe-se lá quando, ele fica em stand by.
Bom, eu vou por ali. Tá afim?
sexta-feira, novembro 02, 2007
Momento Domenico De Masi
"I can't get a life if my heart's not in it"
The Importance of Being Idle - Oasis
Bom, duas coisas sobre a mesma coisa. A primeira é essa.
O Branco tem um dos textos (e caras) mais legais que já li (conheci). Mas um deles (texto, não o Branco) me soa especial e está na coletânea "Os melhores (e também alguns dos piores) textos de Branco Leone". "Sobre escrever" é o prosaico título do rápido diálogo que ele travou com um garoto de e em Curitiba. Na ocasião, BL autografava um de seus livros quando foi interpelado pelo rapaz, que se dizia escritor - pior, poeta - e vocalista de uma banda de punk-rock. A diferença é que o moleque, ao contrário de 99% dos escritores não queria ser publicado. Sequer lido. Quiçá reconhecido. "Eu escrevo, xeroco e grudo dentro dos orelhão", sentenciou. BL conta, em outras palavras, ter perdido a chave da bunda de sua veia literária. Depois disso, nunca mais foi o mesmo. "Um cara que escreve. E só", define BL.
A segunda é essa.
O Corvo Bêbado nega o título de jornalista e isso já é motivo para gostar dele. Ao que tudo indica, escreve - e parece viver - como um Henry Miller do baixo trópico. Acabei esta semana de ler o que, em breve, será um dos livros mais interessantes a sair dessa blogosfera atulhada de gente chata, pedante e feia e ganhar o papel. "O Ano da Lagartixa" é uma ego trip existencial de primeira e merecer ser lida. Mas o Corvo me acertou mesmo foi em uma troca de e-mails, quando contou porque havia largado mão de, hã, jornalismo cultural. "Escrevia sobre música, o que acabava me tirando o prazer de simplesmente ouvir música. Então parei de escrever e fiquei com o meu prazer".
É isso. A maioria das pessoas tem um prazer despudorado, um tesão sincero e justo, uma disposição natural, e até um desprendimento singular em fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Pode ser escrever, ouvir (ou fazer) música, assistir a filmes, e até ser legal - eu não vejo nada mais complicado do que ser legal, e tem gente que é legal sem qualquer esforço. O problema é quando se resolve faturar - não apenas financeiramente - com e sobre esse talento, dom, dádiva, ou o que quer que seja.
Não há nada de errado em ganhar dinheiro ou ser reconhecido por algum feito, seja ele resultado de um segundo de inspiração ou uma vida de muita transpiração. O caldo entorna quando se faz disso seu ganha pão. E a maioria das pessoas mais talentosas que conheço - ou não - faz isso. Não se contentam em ser expoentes no que naturalmente são boas. Querem ter um séqüito de puxa-sacos, uma coleção de invejosos, a conta bancária recheada e deixar um legado. Começam a perder-se em devaneios egocêntricos e sepultam a espontaneidade que os fazia de fato especiais.
É o caso do sujeito que aprende a tocar violão aos 8 anos, de brincadeira. Aos 18 descobre que de fato é bom naquilo e, aconselhado pelos amigos, começa a tocar em barzinhos, ganhando uns trocados. Ele é original, procura aprender composições novas, arranjos diferentes, cria suas próprias melodias, mistura ritmos, pesquisa influências, enfim. Até o dia que o dono do boteco propõe a ele que toque toda semana. Ele gosta, é um reconhecimento de certa forma. Só que o que era prazer virou obrigação. Mesmo quando ele acorda com o saco na lua, precisa ir lá e entreter a platéia. Firmou um contrato, não pode, como antes, simplesmente ficar em casa. Além de tudo fez dívidas e agora não pode prescindir da grana. Resolve, então, usar "muletas" para quando não está a fim de se empenhar. Aí ele joga pra platéia, toca as baboseiras que a maioria do público quer ouvir e boa. E como os dias de saco na lua são cada vez mais freqüentes, seu repertório vai empobrecendo. E sua vontade de buscar coisas novas, assim como o tesão em tocar, se esvai. Ele não é mais um músico. É um cantor profissional de barzinho, burocrático, previsível e, acima de tudo, chato.
Não tem jeito. Acontece com a maioria das pessoas que são boas no que fazem e acabam perdendo a mão quando resolvem ganhar alguma coisa com isso. Pouquíssimos passam ilesos. O que me leva a concluir que, sim, precisamos fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro, mas não com aquilo que nos dá prazer, que ilumina e torna nossa existência menos maçante. Porque inevitavelmente a rotina e a obrigação vão acabar destruindo isso e o resultado disso Kurt Cobain sabe muito bem. Um sacrifício grande demais por tão pouco.
sexta-feira, outubro 05, 2007
Ti-ti-ti era uma novela, né não?
A blogosfera é como um quarteirão de bairro de periferia. Cheio de comadres debruçadas sobre suas muretas espiando o desenrolar de qualquer coisa que dê pano pra manga. Pode ser a gata de uma vizinha que está prenha ("Também, com uma dona daquelas, não é de estranhar que viva grávida e não saiba quem é o pai..."), pode ser o novo pirralho que chegou de mudança ("Acredita que ele passa por mim e nem olha na minha cara? Mal criado, isso sim...") e pode ser um grupo de garotas que resolveram levantar uma lebre envolvendo nudez ("Santíssima trindade!").
Eu, como não faço parte da comunidade - sou no máximo um andarilho, desses que vive andando pra cima e pra baixo carregando um caixote e com um vira-latas na cola - fico cada vez mais impressionado com a capacidade de mobilização dessa galera. Principalmente em temas dessa importância. O caso das blogueiras que foram convidadas - ou se convidaram, é difícil saber - para um papo com a Playboy foi magistralmente destrinchado aqui pelo Ian Black. Leiam, é um primor de síntese. Eu mesmo dei minha contribuição, maleporcamente, vejam só.
O caso repercutiu como sói acontece nos aglomerados periféricos. Quase todos os moradores da quadra opinaram, deram suas versões, apontaram possíveis desfechos, revisaram os antecedentes, e calcularam a hipotenusa com base na soma dos quadrados dos catetos. De fazer inveja ao Hercule Poirot.
Mas o que ninguém pensou ainda é que essas garoutas são, hum, blogueiras. Logo, tem um público, adivinhem só, majoritariamente blogueiro. Público esse que, quero acreditar, recorre a outros meios que não o de dirigir-se até uma banca e pagar para passar os olhos em meia dúzia de mancebas. Até porque, tirando milionários como o Galvão e o Bia, poucos tem poder aquisitivo real para contribuir com o coelhinho. Fora que aquele explanou brilhantemente, em duas linhas, o que levei um texto inteiro.
Donde conclui-se que a Playboy só assina contrato com essas malucas se for mais maluca ainda! Pela lógica, não vão vender uma impressão sequer no que depender do ensaio delas, posto seus vizinhos serem, resumindo, adeptos de meios que em nada contribuirá para engordar o cofre dos Civita e, acima de tudo, uns duros! Porque se tivessem dinheiro não estariam blogando, e sim pescando em alto mar, comendo jujubinha e cercados de gente bonita, ora essa!
É, o sonho acabou. Desculpem, é verdade. Melhor arrumarem outro tema, o que, convenhamos, não é tão difícil assim. Como só estou de passagem, vou me recolher a minha insignificância digital e preparar o iate e os arpões.
sexta-feira, setembro 28, 2007
Problemas - parte II
Duvido que exista profissão mais paternalista que jornalismo. Talvez o funcionalismo público, essa praga entranhada historicamente nas nossas costas e que serve apenas para dar emprego a gente que, por mérito, nem mãe deveria ter. Mas isso é outro escalão e vou falar do que conheço. Sim, o jornalismo, pelo menos o praticado no interior, ainda funciona de maneira estranhamente burra. Ele premia as maçãs podres enquanto pune aquelas que fazem as melhores saladas de frutas.
Mas antes, um aparte: você sabe o que é um pescoço?
Em jornalismo, pescoço - ou pescoção - é como chamamos o expediente de fechar duas edições num mesmo dia. Normalmente ele acontece de sexta-feira ou vésperas de feriados. Isso significa ficar revisando textos, escolhendo fotos, pensando em páginas e orientando diagramadores madrugada adentro. Enquanto todo mundo está na esbórnia, o editor de pescoço está - perdoem o trocadilho - até o pescoço de trabalho (para não usar um termo chulo). Eu sou editor de pescoço. E toda sexta-feira desço até o mais profundo dos infernos editando reportagens que muitas vezes são simplesmente inacreditáveis - no pior sentido do termo. E isso me faz pensar justamente na primeira frase deste texto. Jornalismo é a profissão mais paternalista do mundo.
Não vou entrar no mérito da empresa, que deveria investir o necessário para me poupar da excursão semanal às profundezas da Terra. Se você é repórter - ou editor - deve fazer seu trabalho direito independente da estrutura que disponha. E ponto final. O problema é que, fazendo ou não seu trabalho direito, no final do mês está lá, na sua conta, alguns pares de digitos positivos. É aí que está a merda toda. É aí que reside o motivo do meu papo com o capeta toda sexta-feira.
Não importa se o cara faz ou não um bom trabalho. Ele ganha do mesmo jeito. Tanto faz ele trazer uma manchete arrasadora ou um release meia-boca sobre a quermesse do bairro. O salário é o mesmo, o que é, no mínimo, desestimulante para quem pertence ao primeiro grupo. Não entendo o que faz alguém passar oito horas por dia dentro de uma redação para, no final, entregar textos chatos, mal apurados, com informações desencontradas ou cheios de erros de português. Fica em casa, pombas!
E como sou editor, penso logo numa solução. E a única que encontro é pagar apenas por matéria publicada. Pura e simplesmente. Jornal algum vai deixar de publicar uma boa reportagem. Logo, quem faz seu trabalho direito nunca ficará sem dinheiro. Ao contrário de quem só produz bobagem, é desleixado, preguiçoso ou ruim de serviço. Os bons, ficam. Os ruins, vão procurar outra coisa pra fazer. Pura e simplesmente.
E digo isso por conhecer muito bem os dois lados da moeda. Admito sem constrangimento que deveria ter ficado sem a cervejinha do final de semana em alguns momentos da minha curta vida profissional. Momentos que não me esforcei o suficiente para fazer um bom trabalho e empurrei com a barriga porque sabia que, lá na frente, haveria alguém para segurar minha bronca (um editor, vejam só, ironia das ironias) e veria meu salário intacto pingar na conta. Fácil, né? Chego, agora, a pensar que se tivessem cortado minha ração, eu talvez fosse um profissional melhor hoje.
Trocando em miúdos, é preciso fazer jus ao pouco que ganham - que ainda é mais do que muitos merecem.