I'm Winston Wolfe. I solve problems.

quinta-feira, março 29, 2007

Panela na pressão


    Igual a tudo na vida é o mundinho da literatura brasileira. Ou você faz parte de um grupinho ou faz parte de outro. Escolha o seu, oras. Com sorte, pode estar dentro daquele que, uma hora ou outra, descola uma boquinha como essa aqui. Se não, vai continuar a pastar e a lançar diatribes (ó que palavra bonita!) contra os contemplados - que, claro, do alto de sua importância auto-proclamada para o meio, gastarão o teclado para responder da mesma forma esquisita como fazem literatura.


    Agora chega mais perto, leitor comum e inteligente, que faz parte de 90% das pessoas que jamais ouviram falar desse pessoal e viveu muito bem até hoje: você se importa com isso? Não com a farra do dinheiro público, indissociável de nossa sociedade, mas com o resultado disso. Você vai mesmo se dirigir a uma livraria e comprar um exemplar de algum desses escritores? Será que vai bater aquela vontade impossível de queimar alguns suados tostões para adquirir a mais nova obra de um sujeito que você nunca ouviu falar - no máximo leu em algum "grande" caderno de cultura ou site de "cultura pop" - de verdade?


    Não, não vai. Assim como outros tantos projetos "de vanguarda", feitos por gente "descolada" e capitaneados por empresas "super antenadas", o lance vai fazer água. Não quero dar uma de profeta do apocalipse, mas é que a relevância desses sujeitos - e a tudo o que os concerne - é tão pequena que chega a dar pena. Não sei se seria diferente caso o grupinho privilegiado fosse outro, mas duvido. É tudo pirão da mesma cabeça de peixe. Agora dá licença que vou terminar meu Harry Potter.


      terça-feira, março 27, 2007

      Mulher feia sempre beija na balada


        Se você é daqueles que fica até o rodo passar, sabe do que estou falando. Se não é, constate. Fique até o final de um rebenta-fígado qualquer. Aquela tipinha que ninguém sequer espiou de rabo de olho vai mandar uns dois ou três pra dentro da boca. E com o único esforço de se manter acordada e minimamente sóbria até a última das grandes presas abandonar o recinto, deixando os caçadores com seus rifles carregados e armados literalmente na mão. Com sorte, pode até presenciar um uni-duni-tê que ela se dará ao luxo de fazer, vingando-se secretamente da hora e meia atrás onde sequer era olhada de rabo de olho.

        Sim, porque ela sabe seu lugar. Assim como suas contrapartes. Mas ao contrário destas, que normalmente vão para uma balada apenas para esnobar e zarpar rumo a uma solitária ducha quente, sentindo um certo prazer em demonstrar sua superioridade de fêmea absoluta e cheia de amor para NÃO dar, as feias não perdem tempo. Elas usam o tempo a seu favor. Estrategistas por natureza, esperam a hora certa para agir. E a hora certa para agir é quando o álcool já agiu e deixou o caminho traçado - no caso, os hormônios em fúria que substituíram o rifle de precisão pela .50 giratória. Sim, os hormônios não se preocupam com aparências e mais do que nunca estão no comando.

        Já passa das 4h. Quem se deu bem antes disso não está mais por alí. Ela então aguarda. Imóvel, reencostada no balcão, aguarda lânguidamente a aproximação da vítima cambaleante. Ela tem o texto pronto, todas as perguntas e respostas, é escolada na coisa tanto quando seu negativo, que numa hora dessas ainda está, provalmente, retirando a maquiagem e chorando sua falta de sorte, lamentando porque não encontrou o Tiago Lacerda da sua vida, se perguntando onde está o George Clooney que ela sabe merecer, e, por deus, cadê aquele Johnny Depp se encaixaria perfeitamente entre seus peitos perfeitos?

        Para as carniceiras de festa não há tempo para lamúrias. Elas não têm o direito de sentir pena de si mesmas. Nasceram prontas para combate, como guerreiros espartanos. Sabem que por mais que caprichem na produção jamais serão a primeira opção. São reservas das reservas, mas conscientes que virarão o jogo aos 46 do segundo tempo. Basta esperar. E elas esperam. Como hienas que rondam as carcaças de zebras desprezadas pelos leões, esperam pacientemente o momento de se banquetearem alí e virarem a mesa. De presas, passam a predadoras.

        E então assumem a dianteira. A essa hora, o que vier é lucro, pensam ambas as partes. E a festa está ganha. Mais uma caçada bem sucedida. Mais um para engordar a listinha. Mesmo que bem lá no fundo desejem ser como suas doppelgangers, elas não podem reclamar. Porque no fim, sempre se dão bem. E não é isso que todas querem?

      terça-feira, março 13, 2007

      A volta do Capitão Caverna






        De tempos em tempos o rock, suprema forma de transgressão e criatividade moldada em toneladas de hormônios e fúria, precisa ser colocado em seu devido lugar por algum tiozinho. Este ano, quem parece ter vindo para ensinar a molecada como a coisa deve ser feita é Nick Cave, que se apresenta com sua banda Grinderman.

        É muito pouco provável que você ouça falar de "Grinderman" (2007) nos cadernos de cultura dos grandes jornais. Pelo menos no que toca à música, eles parecem estar mais preocupados em se tornarem sucursais do New Musical Express ou da Capricho - o que dá no mesmo - do que em mostrar o que realmente importa. E Nick Cave importa. Mesmo tendo em comum com ele apenas a paixão pela feia mais bela do pop mundial - a diva Polly Jean Harvey - me sinto a vontade para indicar esse seu novo crime. Um crime perfeito, frise-se.

        Cave não é mais um tiozinho. É um tiozão. Deve estar batendo na casa dos 50 e abandonou temporariamente sua Bad Seeds para se dedicas a este novo projeto. E o que tem isso demais? Bom, é rock. Rock de gente grande, se é que alguém ainda se lembra do que é isso com tantos Klaxons, Panics, Arcades, Monkeys, Allens, Coldplays, e afins dominando o noticiário e o dial. Não que Nicholas soe velho. Não senhor. Ele é um senhor de idade, mas "Grinderman" está longe de parecer vintage.

        Ao contrário de outros contemporâneos, Cave não se dedica a revisão de sua obra. Ele olha adiante. O resultado é um disco jovem, de música vigorosa, sincera, intensa e muito bem feito, cheio de distorções, paradas abruptas e corações partidos. Cheio de... Nick Cave. Apenas "No Pussy Blues", segunda faixa do disco, já valeria pela bolacha toda. Porque se tem uma coisa que combina com blues é buceta. E Cave tem as manhas de colocar um "não" na mesma linha - é preciso muito culhão pra isso, acreditem. E o que segue é uma digníssima paulada.

        A quinta faixa "Depth Charge Ethel" mostra como se mistura punk, hard rock e uma garganta estragada pela idade - que ele não faz questão de esconder. Não que Cave pretenda soar histriônico. De fato, ele não tem pretensão alguma, e prova com uma pérola pop na sétima faixa, "Set me Free", funkeada, com pianinho e tudo no lugar. Qualquer um poderia ter feito a faixa, mas ele a faz parecer original e fresca. Isso se chama talento.

        Claro que ele não poderia deixar de pagar tributo aos inventores do punk, e na oitava faixa, "Honey Bee", a contagem inicial indica o que vêm adiante. É a fórmula ramônica para ganhar a audiência sem perder a ternura. Como se dissesse "olha aqui como se faz, cacete". Ah sim, a faixa 11, "Love Bomb", é puro Lou Reed, só que sem gelo e com dois dedos de cicuta.

        Como indica a primeira faixa, o disco todo soa como um monte de amigos que se reuniram para tomar cerveja e tocar seus instrumentos e alguém esqueceu o rec acionado. Cave não canta. Ele prega. Prega para uma audiência consciente do que quer ouvir, consciente do que a aguarda embaixo da voz – perdoem o inevitável trocadilho – cavernosa reverberando pelos auto-falantes. Não é para ouvidos virgens ou demasiado púberes. Deveria ser cobrado RG de quem fosse comprar "Grinderman" para evitar alguma besteira. Isso se ele for encontrado por aqui em versão nacional, o que também é muito pouco provável.

        De qualquer forma, "Grinderman" é a reafirmação daquela velha canção de Neil Young. "Rock´n´roll will never die". Pelo menos enquanto existirem tioziões como Nick Cave e o próprio Neil. Mas daqui por diante, a coisa vai ficar feia.



        sexta-feira, março 09, 2007

        Carioca



          Resolução para o primeiro de 30 dias de dolce far niente: passar a manhã de segunda-feira na praça central da cidade, de bermuda e sem camisa, tomando cerveja e vendo o drama proletário se desenrolar.

            segunda-feira, março 05, 2007

            C. e o sexo


              Hoje, posso dizer seguramente que não sabia o que era sexo antes de conhecer C. Isso me remete há coisa de quatro anos atrás - o que nem é tanto tempo assim se pensarmos em termos de história, mas que parece uma eternidade dada a insignificância dos envolvidos. Sim, C. foi insignificante em quase tudo. Menos no que mais importava: o sexo. Por isso, posso dividir minha vida sexual entre antes e depois de C. SAC (Sexo Antes de C.) e SDC (Sexo Depois de C.).

              Não vou entrar em detalhes a respeito de sua compleição física - isso não faz a menor diferença. Importa que C. me ensinou macetes dos quais nunca mais abriria mão. E me fez entender uma lição, talvez a mais relevante que aprendi após sair da adolescência. A de que como tratar uma mulher na cama, seja ela - a mulher, não a cama - quem for. Toda, mostrou-me C. seguem um modus operandi que, desvendado, abre quase que literalmente as portas úmidas e quentes da felicidade.

              Foi com C. que pela primeira vez notei que 98% das mulheres gostam de ser subjugadas durante o sexo - o outro 1% não trepa e o restante... bom, essas eu não comi então não vou arriscar. Ela foi a primeira que me pediu para sentar-lhe a mão nas ancas, dizer-lhe obscenidades no ouvido e chamar-lhe daquilo tudo que, em outra circunstância, a fariam registrar um boletim de ocorrência por calúnia e difamação. Sexo é uma questão de contexto, querido, sussurrava pelos poros, e pode anotar e grifar com caneta vermelha isso no seu livrinho.

              Basicamente, e acredito que não à toa, C. me entregava, sem qualquer ônus, um pacote de pequenas artimanhas que apenas uma devoradora de homens como ela poderia saber. Embora C. não fosse uma maneater como canta Nelly Furtado na canção homônima. Ela não quer nada relacionado ou proveniente do dinheiro de seus machos. Quer ser bem comida, só isso. Para tanto, não se furta em dar as cartas certas para o parceiro. Nesse jogo, ela quer ganhar mais do que tudo. Uma devoradora ao contrário, eu diria.

              C. gozava apenas quando comida de quatro. Posição essa que denota clara vontade de submissão e, por sinal, preferida por 9 entre 10 homens passivos ou ativos. Gostava - e queria - ficar por baixo. Nada de dominar a parada, nada de se mostrar superior. Isso ela já fazia no seu cotidiano de mulher independente financeira e emocionalmente. Mas na hora de saciar seu desejo mais primitivo, gostava mesmo de ser dominada, domada e domesticada da maneira mais rude possível. Sexo com ela não era território para galanteios ou gentilezas, explicavam didaticamente seus gemidos gritados e empapados de suor e saliva. Ela era um animal, e assim deveria ser (mal)tratada.

              Com o tempo, notei que as dicas contidas no livro de regras de C. valiam também para grande parte das mulheres com quem reparti uma cama – ou um banco de automóvel, uma pia de banheiro ou, se não me falha a memória etílica, uma sacada no 11º andar. Todas, de forma ou intensidade diferentes, gostavam e pediam mais daquele preparado acre. Mas recém-ingresso no meio acadêmico, ouvia os papos de colegas de classe que pareciam verdadeiros icebergs feministas, bradando sobre o quanto haviam lutado para estarem ali, em pé de igualdade com os homens e blá-blá-blá, e imaginava se, peladas e meladas, não pediam para serem grossamente enrabadas.

              É, isso me confundia às vezes. Porque quanto mais durona parecia a garota, mais submissa e indefesa ela se colocava ante um falus erectus. Amigos mais próximos relatavam casos de namoradas que chegavam a ficar completamente imóveis durante o ato, permitindo ao parceiro controle total da situação. Outros, contavam de garotas que, embora não abrissem mão de sentar, rebolar e ainda bater um bolo, curtiam finalizar a parada com a bunda para o alto e as mãos torcendo o lençol.

              Depois de nossa última noite, nunca mais encontrei C. Amigos em comum dizem que continua a mesma – a mesma o quê eu não sei, sinceramente. De qualquer forma, sou grato a C. Ela me ensinou a trepar.

            sexta-feira, março 02, 2007