I'm Winston Wolfe. I solve problems.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Carne


    Ela me disse que gostava de ser a outra. "Só fico com a melhor parte. Filé mignon", definiu, estalando a língua. Nada de mau humor, estresse de trabalho, discutir a relação, quem apertou o tubo de creme dental no meio?, pá daqui, pá de lá. "Só aventurazinhas, sexo intenso, lugares legais, friozinho na barriga, sensação necessária de canalhice", explicou.

    Tinha, portanto, seu homem pela metade. Sempre teve homens pela metade. "A melhor metade", destacou, rápida, semicerrando os olhos.

    Mas as relações são como um filé de picanha, tentei argumentar. Por mais que a capa de gordura que envolve a parte tenra e saudável da peça não seja recomendada pelos nutricionistas, ninguém a retira para comer - salvo as exceções de sempre. Ela, a parte considerada ruim, é exatamente o que confere à carne seu gosto tão peculiar e apreciado. Pode-se comer sem, evidentemente, mas não é a mesma coisa.

    Ponderei, então, que sua dieta carecia de um pouco mais de gordura. A porção que fazia questão de extirpar era exatamente o que lhe faltava. O mau humor, estresse de trabalho, discutir a relação, quem apertou o tubo de creme dental no meio?, pá daqui, pá de lá, enfim. Podem existir separados, mas são infinitamente melhor juntos.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Preferência



    Sabe aquelas placas em agências bancárias que constam algo como "atendimento preferencial para idosos, gestantes, lactantes e mães com crianças de colo"? Acho que sei pra que servem. Não estão lá porque algum legislador resolveu trabalhar e, num ato de benevolência semi-divina, decidiu que esse pessoal tem preferência para ser atendido e não precisa pegar fila com o resto da manada. A grande sacada que vejo é, na verdade, despachar logo essa gente para não ficar incomodando o restante.

    Porque tem coisa mais irritante que criança chorando e fazendo birra em pleno dia de pagamento, dentro de uma agência bancária com ar-condicionado quebrado lá pelas duas da tarde? É capaz que alguém saque a chave do carro e costure a boca do pirralho com os cadarços do All Star do guardinha mais próximo, se não fizer pior. Por isso, é melhor mandar logo a dona da sirene ambulante fazer o que tem que fazer e se mandar depressa. Quem já não teve vontade de amarrar um moleque chiliquento pelos tornozelos com uma daquelas cordinhas que separam as filas e girá-lo até sobrar apenas os tênis, que atire o primeiro pote de Danoninho.

    O mesmo vale para os velhos. Ops, desculpe, os idosos, Ops, desculpe, a terceira idade. Ops, desculpe, a melhor idade. Ops, desculpe, os mais experientes. Ops, desculpe, os jovens senhores (é que são tantos os termos politicamente corretos que eu me perco, desculpe). Os vovôs (olha outro termo aqui! Olha! Olha!) já são reclamões por natureza (morta). Plantados numa fila para fazer qualquer coisa então, pai do céu, não há ouvido que agüente. A trindade doença-remédio-futebol pode patinar do começo ao fim do tempo de permanência dele na agência e aluga qualquer cristão há poucos metros de distância. E não importa se você quer ou não ouvir, porque ele vai falar de qualquer forma. Afinal, é um monólogo, ninguém perguntou a sua opinião.

    Por isso, proponho para o próximo impoluto legislador que olhe também para outras classes que merecem a mesma deferência. Os feios, por exemplo. Não consigo pensar em nada mais intolerável que permanecer mais de cinco minutos ao lado de alguém mal diagramado. Tenham dó, nobres parlamentares. Lembrem-se de Vinícius de Moraes, queridos eleitos. Indo além, sugiro que aqueles que não se encaixam em qualquer padrão de beleza mínimo (e existem muitos, vocês sabem) tenham um acesso exclusivo e restrito, isolado, para que não precisem compartilhar sua feldade com os demais.

    Por motivos óbvios, os apedeutas, beócios e idiotas de uma forma geral também devem ter o direito a cortar fila. Por mim, podem passar na frente e se mandar o mais rápido possível. Esse tipo de gente é contaminante. Já vi muitos luminares serem reduzidos a Caetanos ou Carlinhos Brown após curta exposição a sujeitos dessa laia. E não tem cura, o que é pior.

    Não poderia deixar de incluir na minha pauta de reivindicações os pobres. Porque se tem uma raça no mundo que é digna de todos os privilégios e regalias são os pobres. Vide a igreja católica, que até hoje os defende inapelavemente, do alto do seu castelo de ouro, vestida de seda e coroada pelo poder e glória redentoras de Deus. É constrangedor ter que dividir o mesmo metro quadrado com aquela gente cheia de carnês de folhas soltas e mal grampeadas de lojas populares, financeiras, boletos de cobrança massarocados na bolsa ou dobrados dentro de carterias de napa rachada. É a própria visão do nono círculo do inferno que nem Dante teve coragem de descrever.
    Ah, sim, proponho também um guichê exclusivo para chatos. Mas, nesse caso, seria advogar em causa própria e a fila seria quase tão grande quanto a normal. Passo a vez, portanto.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

"Now is the fuckin´ time!"


    Todo mundo sabe que o melhor das trilhas sonoras dos filmes do Tarantino são as vinhetas antes, durante ou depois das músicas.

    Aqui, uma compilação quase só delas. Para lembrar e sorrir.



Às vezes, falo coisas que depois me deixam pensando



    Chego por último no churrasco na casa de um amigo. A galera se esbalda num funk carioca qualquer. Pego uma cerveja e murmuro qualquer bobagem com um conhecido para descontrair.

    - Ah, você tem cara de quem não gosta de funk.

    A pergunta vem da acompanhante dele, que engole seco. Não consigo segurar e respondo.

    - Não, eu gosto. Agora mesmo eu vim ouvindo funk no carro.

    Ela continua, inocente. Meu amigo suspira já sabendo o desfecho do diálogo.

    - Verdade? E o que era? Tati Quebra-Barraco? Perla? Buchecha? Bonde da Rocinha?

    Prendo a respiração e respondo.

    - Não. Era Grand Funk Railroad.

    A garota sorri em forma de ponto de interrogação. Antes que ela continue, me viro e saio gingando, com minha latinha na mão e uma sentimento estranho de satisfação.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ouça essa

Sexo exige trilha sonora? Melhor: existe trilha sonora para sexo? Não estou dizendo chavões óbvios que todo mundo gosta de citar apenas para parecer interado na coisa, tipo "Je T´aime" do Gainsbourg ou o Joe Cocker de "9 1/2 Semanas de Amor". Na boa, não conheço ninguém que goste, sinceramente, de uma dessas baladas de puteiro decadente (e existe um puteiro que não seja decadente?) na hora que a coisa esquenta. Na verdade, a maioria das pessoas é como uma antiga colega de redação, que afirmava não ouvir nada durante o sexo porque estava concentrada demais para prestar atenção em qualquer outra coisa.

De fato, alguns podem dizer que a sacada mesmo é o "som ambiente", de gemidos, gritos, palavras de ordem, obscenidades, tabefes e o ruído abafado e seco das estocadas. De fato tal soundtrack não pode faltar - na verdade, ele é parte indissociável da coisa toda, como as antigas trilhas de novelas feitas sob encomenda para grandes artistas.

A grande sacada é que nem sempre o que gostamos ou admiramos acaba no toca-discos quando as roupas começam a fazer parte da decoração do recinto. Eu mesmo tenho um grande amigo, punk das antigas, daqueles que só ouvem de bandas undergrounds inglesas pra baixo. Num belo dia, tomando umas na casa do sujeito, encontro o "The Dark Side of The Moon" entre um Stooges e um GBH. "Sabe como é, a D. só goza ouvindo Pink Floyd, então...", tenta se explicar, deixando claro que tal heresia é por uma boa causa. Só posso concordar. O sexo justifica tudo e mais um pouco. Até ombrear Joe Ramone com Roger Waters (!).

Eu mesmo não dispenso um bom fundo sonoro. E como estamos falando de sexo de verdade, feio, sujo, malvado e feito com todos os seis sentidos, é inevitável apelar para a música negra. No meu caso, o hip hop feito nos EUA nesse começo de século. Que me perdoem os mestres do hard rock 60/70 que formam minha base/gosto musical, mas não consigo me imaginar pelado & melado com o Robert Plant cantarolando agudos no meu ouvido. Ou o Paul falando da cachorrinha dele. Sem essa, bróda.

Pode falar o que quiser. A discussão aqui é da cintura pra baixo e, sejamos francos, branco não consegue fazer música pra isso. O máximo que chegam perto é um Elvis ou um Mick Jagger, mas nem se compara com a sensualidade que escorre de legítimas batidas cadenciadas comandas por quem entende da coisa. É só ouvir algum monstro sagrado do jazz, qualquer um deles, para sacar que o que eles dedilham, assopram ou batucam tem um único e certeiro alvo: a pélvis do ouvinte. É lá que mora o sentido da coisa toda. Duendes, anjos e demônios, cidades na Lua, crônica social e política, é coisa de cabeludo branquelo doido de cogumelo, baby, então cala a boca que o que interessa sou eu, você e nossas bocas quentes coladas e cheirando a bebida numa cidade qualquer do mundo.

O único branco que talvez surta o mesmo efeito sobre minha psique sexual seja Jim Morrison. O líder dos Doors não canta, ele sussurra feito um demônio tentando te convencer a entrar num bacanal eterno, cercado de promessas de delícias inimagináveis e perigosas. Basta ouvir a mais emblemática delas, "L.A. Woman", onde Morrison detona, aos berros, que "Mr. Mojo Rising" (o Sr. Mojo está subindo, numa tradução livre) - mojo é uma gíria para libido ou órgão sexual, e a frase completa, diz a lenda, é um anagrama de Jim Morrison. A levada da canção é ótima para neófitos na arte, um crescendo quase didático que imprime ritmo e velocidade na medida até desenbocar num êxtase luxurioso e voltar à placidez inicial. Dá vontade de acender um cigarro, cruzar os braços atrás da cabeça e curtir a energia se esvaindo pelos póros.

Mas eu ainda prefiro o hip hop de atualmente, feito por energúmenos do tipo 50 Cent, Bustha Rhymes, Redman, Lil´ Kim, Timbaland e afins porque falam direto o que quero ouvir - e só na hora que quero ouvir. A batida que encaixa com perfeição no baixo e resvala caudalosa por um arranjo sintético que te faz chacoalhar o quadril - outra vez e sempre ele - involuntária e cegamente é um poderoso concentrado de sexualidade feito para ser ingerido dissolvido em suor - e outros líquidos pelos mais avançadinhos. Não é preciso se preocupar com o que eles falam porque está implícito. É sacanagem, irmãzinho, e isso basta. Porque é disso que se precisa, right here, right now.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Megastore




          Eu queria ser antendente de uma megastore de shopping center. E trabalhar na seção de música. Só para, quando alguém me perguntasse sobre algum monstro sagrado de qualquer estilo, eu pudesse responder:

          - É na seção de artigos religiosos, amigo...

        terça-feira, janeiro 16, 2007

        Custo/benefício


          Uma garrafa de Miolo por R$ 14,90. "Desire", do Bob Dylan, por R$ 12,99. Um sopro de felicidade para espantar o tédio de uma noite de segunda-feira, enfim.

          Definitivamente, eu amo as Lojas Americanas.

        quarta-feira, janeiro 10, 2007

        Ódzio





            Ainda não ouvi. Mas parece ser... ãh... então, ouve aqui

            segunda-feira, janeiro 08, 2007

            A idade da razão


              Eu pro meu primo de 15 anos.

              - Bicho, pra de ouvir Good Charlotte. Coisa de viado...

              Meu primo de 15 anos para mim.

              - Então para de ouvir David Bowie.

              Eu pro meu primo de 15 anos.

              - E levanta essa franja!

              Meu primo de 15 anos para mim.

              - Então tira essa calça de vinil vermelha!

            sexta-feira, janeiro 05, 2007

            Merda


              Hoje é sexta-feira. Para quem é jornalista e, como eu, ganhar mais de R$ 8 mil, o dia não poderia ser diferente.

              A palavra MERDA pode mesmo ser considerada um curinga da literatura nacional .

              Como indicação geográfica 1 : Onde fica essa merda?
              Como indicação geográfica 2 : Vá à merda!
              Como indicação geográfica 3 : 18:00h : vou embora dessa merda.
              Como substantivo qualificativo: Você é um merda!
              Como indexador monetário : Isso não vale uma merda.
              Como auxiliar quantitativo: Trabalho pra caramba e não ganho merdanenhuma!
              Como indicador de especialização profissional : Ele só faz merda.
              Como indicativo de MBA : Ele faz MUITA merda.
              Como sinônimo de covarde: Seu MERDA !
              Como questionamento dirigido: Fez merda, né?!
              Como indicador visual: Não se enxerga merda nenhuma!
              Como sensação olfativa: Isto está me cheirando a merda...
              Como elemento de dúvida na indicação do caminho a ser percorrido: Porque você não vai à merda?
              Como especulação de conhecimento e surpresa: Que merda é essa?
              Como indicador de ressentimento natalino: Não ganhei merda nenhuma depresente!
              Como indicador de admiração: Puta Merda !!
              Como indicador de rejeição : Puta Merda !!!!
              Como indicador de indignação : Puta que la Merda !!!!!!
              Como auxiliar impositivo de aceleração : Rápido com essa merda!
              Como indicador de espécie : O que esse merda pensa que é?
              Como indicador de continuidade : Na mesma merda de sempre.
              Como indicador de desordem: Tá tudo uma merda!
              Como constatação científica dos resultados da alquimia: Tudo o que eletoca vira merda!
              Como resultado aplicativo : Deu merda.
              Como constatação negativa : Que merda !!!!
              Como classificação literária: Êta textinho de merda.


            terça-feira, janeiro 02, 2007

            Por um fio


              Chega um ponto da vida que não dá mais pra ser triste. Certeza que algum desses ingleses do pós-rock deve ter escrito algo a respeito, mas o fato é que sinto isso agora. Sinto que não fico mais triste. Não aquele tipo de tristeza que o Drummond diz que deixa roxas as presas do elefantes. Hoje, se não estou feliz, alucinado com alguma coisa ou alguém, estou puto. Mal-humorado. Azedo. Mas não triste.

              Quando era adolescente, adorava ficar triste. Me internava no quarto com os discos da Legião Urbana e me matava de escrever poesias para garotas impossíveis e amores que só existiam na minha cabeça. Creio hoje que naquela época eu tinha era tempo de ficar triste. Agora não. Apenas sentimentos rápidos, superficiais e compatíveis com o momento me interessam. Quem tem que ter profundidade é piscina, não meu cotidiano. Ele serve a um propósito e ponto final. Se desviar disso, trato de colocá-lo em seu devido lugar.

              Então, posso dizer com segurança que apenas uma pessoa pode me deixar triste hoje em dia. Ela sabe disso da minha própria boca, porque é a mesma que enche minha vida de satisfação, prazer, amor, carinho e valiosas lições.

              Ontem, no primeiro dia do ano, ela conseguiu essa proeza. Em condições normais, posto o fato estar inserido no meu cotidiano de trabalho, o máximo que poderia me causar seria uma imensa putice. Mas da forma como se deu, me deixou triste. De ficar com os marfins roxos.

            Saindo do armário emo



              Júnior, não precisa mais se explicar.

            segunda-feira, janeiro 01, 2007

            Ano novo


              Uma música para fazer de 2007 o melhor ano de nossas vidas

              "Wishing Well", do The Airborne Toxic Event.

              Procure de qualquer jeito. E ouça. E me conte se sua vida pode ou não mudar depois dela.