I'm Winston Wolfe. I solve problems.

terça-feira, março 28, 2006

Pô, PAS...

Pedro Alexandre Sanches foi meu primeiro professor.

Quando moleque, dos 15 aos 22, não perdi uma reportagem que fosse na Ilustrada que levasse seu nome. Podia até ser resenha de disco novo da Gal Costa ou Max de Castro (?). Não importava. Pouco importava o conteúdo na verdade. O lance era absorver o estilo inconfundível do Pedro. Classe. Vigor. Criatividade. Voz autoral.

"Quanto crescer, quero ser como ele", pensava, enquanto limpava as mãos cheias de restos de graxa no jaleco azul da oficina de meu pai, onde trabalhava. Eu, não Pedro. Mas, ainda assim, ele estava alí comigo, todas as manhãs, seja na folha do jornal ainda limpo, estendido sobre a bancada de madeira-de-lei enegrecida pela ação do pó de ferro das máquinas de tornear discos e tambores de freio, graxa velha e fluídos sintéticos diversos, seja no momento de usar essa mesma folha para embrulhar alguma peça.

E eu o lia. Embora, secretamente, eu o traísse com outros escribas, de outros meios, veículos ou da sua própria casa. Mas não tinha jeito. Ele era o preferido. Um texto de Pedro é um texo de Pedro, e ponto final. Continuei a ler a Ilustrada após sua saída graças a um TOC desenvolvido graças a ele.

Mas fui atrás dele, evidentemente. E lá estava Pedro, agora na Carta Capital. Revista legal, do "seu" Mino Carta e tal, figurão do jornalismo, desses que a gente aprente a admirar no curso de jornalismo e blá, blá, blá. E Pedro também tem blog, dos mais acessados. Prova de vida inteligente na rede, e cousa e lousa.

Claro que nessa história toda há um porém. Pedro, acredito, deve ser um sujeito bem relacionado. Chapa de todo mundo, companheiro de todas as horas, quebrador oficial de galhos da galera, enfim. Gente fina, gente boa. E isso, percebo, acaba refletindo na sua produção. Mais especificamente, refletiu nessa reportagem aqui.

Na quinzena que todos resenham o lançamento do disco do Seu Jorge, o Pedro faz um perfil do cara. Para não falarem que não falou da fina flor, ele escreve um único parágrafo sobre Life Aquatic – Studio Sessions Featuring Seu Jorge. E ponto final. O resto é mais do mesmo. Tô errado, mestre? Quem não sabe ainda que o carioquíssimo em questão foi morador de rua, despontou em Cidade de Deus, virou cult na França, é amigo do Bill Murray e esnoba a fama ao mesmo tempo que deita na cama?

Tu não acha que o sujeito já está hypado demais? Até em novela ele anda tocando. Quem ainda não falou do sujeito? Pô, PAS... tinha que fazer isso? Tinha que deitar mais do mesmo para a massa? Qualé, neguinho? Não quer se indispor com o Jorge? Se tá com medo, porque veio? Tu não é disso, não. Nunca foi. Que chapa-branca é essa? Nelson Motta is not dead.

Pega mal falar mal, é isso? Tem sempre que achar um lado bom, então? Claro que toda unimidade é burra, mas quando ela grita em uníssono, é bom pelos menos ouvir com mais cuidado. Como fez o Dapieve. E tantos outros. Menos tu, PAS. Menos tu. Pô, PAS...

domingo, março 26, 2006

Você sabe que está ouvindo rock progressivo demais quando...

(Adaptação de lista extraída do Whiplash. Que joguem os ovos...)

1. A palavra "mellotron" provoca uma estranha sensação nas suas partes intímas.

2. Você se refere ao vocalista do Yes como "O Profeta Sagrado Jon Anderson".

3. Você culpa Phil Collins pela saída de Peter Gabriel do Genesis.

4 Você adora os discos "Invisible Touch" (Genesis), "90125" (Yes) e "Love Beach" (Emerson, Lake & Palmer), mas tem vergonha de admitir.

5. Você sabe o significado da palavra "firth".

7. Você acredita que o talento de um baterista é mensurável pelo tamanho de seu instrumento.

8. Você considera letras um desperdício de tempo entre solos.

9. Você vai a um show do King Crimson e toma notas.

10. Você não respeita nenhum tecladista que não usa um Hammond B3 verdadeiro.

11. A sua fantasia de Menage à Trois envolve você, Keith Emerson e Rick Wakeman.

14. Você não vê nada de engraçado com Robert Fripp e está disposto a sair no braço com quem vê.

15. Os adjetivos "Canterbury", "melódico", "sinfônico" e "neo" anexos à palavra "progressivo" significam apenas "ruim".

16. Você deu aos peixes do seu aquário nomes de membros antigos e atuais do Yes.

17. As letras de "Close to the Edge" (Yes) têm um sentido profundo em sua vida.

18. Você fez e usou a sua própria roupa de palco da turnê "Aqualung" do Jethro Tull.

19. Você gastou anos de terapia tentando esquecer que John Wetton já fez outra coisa além de tocar com o King Crimson.

20. O seu código secreto para sair de um show do Yes é: "Roundabout".

21. Todas as suas bandas favoritas têm nomes de personagens ou lugares de "O Senhor dos Anéis".

22. Você acredita que um baixista não merece respeito se não usar Rickenbacker.

23. Você sabe o que é uma Warr Guitar.

24. Você chama a maior parte do Rock Progressivo atual de "derivado", mas sonha secretamente com o Yes gravando um "Close to the Edge II".

25. Você acredita que tocar em uma rádio é o sinal de decadência de uma banda.

26. Você considera "Os Reis do Iê-Iê-Iê" uma besteira para pessoas presas ao passado, mas já assitiu "The Musical Box" seis vezes.

27. Você gasta mais tempo e energia tentando fazer a sua mullher se animar com Rock Progressivo do que a animando efetivamente.

28. Você já dançou ouvindo "Tom Sawyer" (Rush).

29. Você não está disposto a considerar Led Zeppelin uma banda de Rock Progressivo.

30. Você é homem, escolado, groupie e assexuado.

31. Você ligou para uma rádio e xingou todo mundo por terem tocado a versão editada de "Thick As A Brick", do Jethro Tull.

32. Você insiste em ter um tapete persa no palco.

33. Você sabe o que são pedais Taurus.

34. Você ouve o barulho de um acidente de carro e diz "Isso é derivado de {coloque o nome da banda aqui}".

35. A sua coleção de CDs é separada por ordem das notas que cada músico tocou.

36. Você gasta rios de dinheiro para conhecer o som de uma banda, mas acaba descobrindo que só vai conseguir algum CD deles na base de troca.

37. Você condena o som da música techno, porque nenhum som feito por computador pode ser considerado música, mas compara às escondidas o estilo dos sons de [coloque o nome de qualquer sucesso aqui] com o de [coloque o nome de algum tecladista aqui] tocando em [coloque o nome de um clássico do Rock Progressivo aqui].

38. Você considera todo e qualquer estilo de música como um derivado do Rock Progressivo, que é a a única forma verdadeira de música.

39. Você tentou escutar toda a sua coleção (e as dos seus amigos) de discos de Rock Progressivo lendo "O Retorno do Rei" e chegou à conclusão que, já que todos combinaram, Tolkien era fã de Rock Progressivo também.

40. A "turnê mundial" da sua banda favorita consiste em três apresentações pela costa oeste - um show acústico em uma livraria, um show de aquecimento pré-festival em uma noite de sexta ao lado de outras seis bandas, e um show grátis na loja de aluguel de ternos do seu tio.

41. Você acredita que tocar teclado sem estar usando uma capa é uma desonra em relação ao instrumento e ao Rock Progressivo em si.

42. Você pode tranquilamente sentar em uma sala ao lados de outros fãs de Rock Progressivo e levar uma conversa inteligente sobre bandas como Renaissance e Illusion... mas o que você queria mesmo é que eles fossem embora para ouvir o seu vinil de "Hero and Heroine" do The Strawbs.

43. Você é capaz de recitar qualquer uma das histórias que Peter Gabriel contava entre uma música e outra nos shows do Genesis, tanto em inglês quanto em francês.

44. Você chora quando seus filhos chama a sua coleção de CDs de chata e pedem se não tem nada do Nirvana.

45. Seus olhos se enchem de lágrimas quando vê um filho seu cantando junto com um de seus discos de Rock Progressivo.

46. A primeira coisa que você verifica na procura de uma boa escola para seus filhos é se possuem aulas em Kobaian.

47. Você não fala mais com a sua esposa desde que ela se recusou a batizar as crianças de Dweezil e Moon Unit.

48. O seu chefe tem perguntando o porque de uma letra "K" maiúscula antes de algum "c" nos seus relatórios e memorandos.

49. Suas filhas se chamam Galadriel e Nico.

50. Você levou seu filho para comprar pratos para a bateria dele, porque ela estava pequena demais, com menos de uma dúzia.

51. Você mede o valor de uma música com o número de variações de compassos nela.

52. Para você, a letra X no fim do nome de uma banda significa que ela é Progressiva.

53. Você não respeita um baixista que não toca mais do que quatro cordas.

54. Você parou de ouvir Pink Floyd quando começou a ouvir uma banda de nome estranho que vem da Indonésia.

55. Você não considera música qualquer passagem improvisada que uma banda faz ao vivo.

56. Você fez uma lista dos 10 melhores discos conceituais.

57. Você pediu que "Time Stand Still" do Rush fosse o tema da sua formatura.

58. Tocou "June" ou "Surrounded" no seu casamento.

59. Você verificou se "A Change Of Seasons" do Dream Theater sincroniza com "A Sociedade dos Poetas Mortos", como Pink Floyd com "O Mágico de Oz".

60. Você admite que uma banda é boa, mas diz que é ruim porque você é fiel ao Rock Progressivo, e se não é Prog, não é bom.

61. Você assiste a gravações de shows do Genesis no auge e não vê nada de estranho em ver Peter Gabriel vestido de flor.

62. "The Dark Side Of The Moon" não é Progressivo o bastante para você.

63. Suas visitas sempre perdem a hora quando você coloca alguma música: "Nossa, já é tudo isso? Mas é a mesma música que você colocou desde quando eu cheguei!".

64. O paradeiro atual dos integrantes da sua banda favorita é desconhecido.

65. Você mandou cartas para todas as emissoras de TV possíveis dando a idéia de fazer um desenho animado sobre as histórias do Gong.

66. Conta quantas notas seu músico favorito é capaz de tocar por segundo.

67. "Revolution 9" é a única coisa dos Beatles que você gosta.

68. Você fez questão de se tornar um virtuoso em um instrumento usado apenas para produzir algum efeito sonoro eventual em uma determinada música.

69. Ninguém deixa você escolher as músicas para uma festa.

70. Os anos 80 foram difíceis para você.

segunda-feira, março 20, 2006

Eu já participei de um episódio de Além da Imaginação ou O Bia é FORGADO pacas

Domingo pede cachimbo, me ensinou mamãe quando pequeno. E mais: que o cachimbo é de ouro e, não se sabe porque cargas d´água, ele bate em touros. Os bovinos, considerados valentes e até inteligentes pois sabem que fomos nós quem fizemos os cachimbos de ouro que batem neles, revidam. Em nós. Como somos fracos, caímos em buracos. E, bem, o buraco é fundo, e aí... acabou-se o mundo. Fim.

Mas naquele domingo eu não pitaria. Minha tarde seria toda sugada pelo trabalho. Bobagem explicar porquê, coisas do jornalismo diário. Antes, porém, um convite me esperava. Velho companheiro de redação, amigo de todas as horas, bom copo e bom garfo, o calvo e santista Arthur Jorge Trevisoni queimaria carnes no quintal dos fundos. Recém casado, morando em uma chácara na campestre Nova Odessa, eram comuns os assados dominicais organizados por ele e sua excelentíssima esposa. Era só levar cerveja.

Pego minhas coisas. Meu celular toca. "Compra Coca-Cola", pede, do outro lado da linha, minha namorada. Mesmo afeita ao álcool, naquela tarde ela não beberia outra coisa que não refrigerante a base de caramelo. Um vício insuperável, diga-se de passagem. Murmuro qualquer coisa e penso onde poderia comprar o litro e meio do famoso desentupidor de pia sem desviar do caminho. Economizar combustível é uma merda. Não ter dinheiro é uma merda maior ainda.

Traçando um mapa mental, encontro um posto de combustível na saída da cidade, próximo a entrada/saída da rodovia que leva à Nova Odessa e, consequentemente, a casa de Arthur e suas carnes e cerveja. Eu trabalharia naquela tarde, portanto, entupiria minhas artérias com o máximo de substâncias etílicas que encontrasse disponíveis.

Paro no posto. Entro na loja de conveniência. Abro a geladeira e pego uma lata de Bohemia e uma garrafa de Coca-Cola. Lá fora, os frentistas trocam impressões sobre uma senhorita trajando pouco mais que meio metro de tecido. Eles gostam. Dou de ombros. Acho que estou ficando "afrescalhado", como diria a esposa do Arthur, boa pernambucana e mulé-macho-sim-sinhô que é. Relevo. Penso rápido num Monte de Vênus. Gosto. Cheiro. Textura. Sinto sangue descer para a virilha e o pênis ficar firme, mas não ereto. Tudo confere. Beleza, ainda tenho salvação.

Deposito a mercadoria no caixa, entre potes e prateleiras de guloseimas de todo tipo. Coisas para mastigar no cinema, para disfarçar mau-hálito do fim do dia e para foder com o esmalte dos dentes. Deus salve os dentistas, menos o meu, que destruiu minha boca para extrair meus dentes do siso. Legal, o Word não sabe o que é siso, então ele sublinha a palavra e dá como opções as palavras Celso, censo, cesso, cesto e cios. Deve ser porque o Word é mais evoluído que eu. Logo, não tem dente do siso. E se não tem siso, não precisa se preocupar em saber o que é, então fica grifando de vermelho toda hora que escrevo siso.

Não tenho dinheiro. Não em notas. Entrego meu cartão e digo ao mesmo tempo "débito" antes mesmo que a atendente pergunte "crédito ou débito?". Todas perguntam. Então digo antes. Não que eu as considere burras, longe disso, mas é que gosto de facilitar.

Ela passa o cartãozinho na maquininha. Passa o teclado para que eu digite a senha e libere o pagamento. De repente, ela se vira e diz, num misto de surpresa e alívio. "Você é Gustavo Brigatti?". Bingo. Tá escrito no cartão. Mas ela complementa, em seguida. Não que ela me achasse burro, mas é que ela preferiu facilitar. "E trabalha no TodoDia?". Opa. Isso não estava escrito no cartão. Uma fã, pensei. Vai pedir para que eu autografe seu seio esquerdo, querer tirar foto, enfim. Mas não. Ela pega uma caixa retangular, com aproximadamente 1cm de espessura e 20cm de altura. "Um tal de Luiz deixou isso para você. Disse que você viria buscar ao meio dia de ontem, mas você não apareceu".

Era um DVD. Um filme em DVD. "O Senhor das Armas", estrelado por Nicolas Cage. Gosto dele. Sabe ser canastrão quando preciso. E mandou bem nesse último, sobre um contrabandista de armas que renega a família para continuar enchendo a burra de dinheiro. Humano, demasiadamente humano. E preciso, claro. Gostei do filme. Mas eu não havia locado aquele. Nem emprestado para alguém.

Então senti a nuca arrepiar. As pupilas dilataram. "Nem tô sabendo", balbuciei. Ela insistiu, olhos colados nos meus. "Tem certeza? Ele veio aqui sexta-feira, deixou o filme e disse que era para entregar para você. Você não conhece nenhum Luiz?".

Porra, conheço 500 Luiz. Tios, primos, amigos, detratores, reis, marcas de cigarro, de conhaque, nomes de ruas, de avenidas, de cidades, uma infinidade de possibilidades. Pergunto como ele era. "Tinha uma barbinha", ela responde, passando os dedos gordinhos pelas maçãs do rosto. Opa, agora facilitou. TODOS os Luiz que conheço TEM BARBA. Com exceção, talvez, dos monarcas. Mas eles também não alugariam "O Senhor das Armas". Nem o deixariam para eu pegar num posto na saída de Americana ao meio-dia de um sábado.

Aquilo estava cada vez mais estranho. Ao lado da atendente, uma segunda balconista fitava o desenrolar da conversa enquanto esperava o forninho da loja de conveniência cuspir os pães de queijo que havia colocado há pelo menos 15 minutos. Estava impaciente, roendo o canto das unhas. Mania mais nojenta.

"Putz, nem sei do que se trata, sinceramente", consigo dizer, já sentindo as primeiras gotas de suor quente e úmido pingarem das axilas cobertas pela camiseta vermelha que coloquei especialmente para aquela ocasião. As pupilas ainda dilatadas, entregavam meu nervosismo. Eu estava nervoso. Eu sou nervoso. E um pouco disfluente também. Há, o Word grifa disfluente também. Ele não sabe o que é não conseguir dizer certas palavras em determinadas ocasiões. De fato, é mais evoluído que eu, que sou popularmente classificado como gago, embora não o seja de fato. Se fosse, faria análise com uma fonoaudióloga e tudo estaria resolvido. Mas o buraco é mais embaixo, caso para divã e remédio tarja preta e regressão ou hipnose.

"Olha, vou deixar meu telefone para você. Se ele aparecer aqui, pede para ele me ligar, porque eu não sei quem é o cara", coloquei. Ela assentiu, pegou uma caneta e escreveu no mesmo papel que havia escrito meu nome e o nome do jornal onde trabalho e colocado dentro plástico que reveste a caixa que guarda o DVD do filme.

"Então tá. Se ele aparecer, peço para ligar", ela responde. Aceno com a cabeça e saio. Sinto o ar quente invadir meus pulmões e expulsar o regelo do ar condicionado que respirei dentro da loja. Aquilo era muito estranho. Quase podia avistar o Forrest Whitaker apresentando minha alucinação para um bando de insones ligados no SBT. Loucura. Insensatez. Estado inevitável. Embalagem de iogurte inviolável. Fome. Miséria. Incompreensão. O Brasil é Treta campeão.

Sigo reto. Entro no carro. Ar condicionado ligado. Jimi Hendrix por R$ 19,90 nas Lojas Americanas tocando. Direção hidráulica. Vidros elétricos e insufilmados. Engate e maçanetas internas cromados. 18 prestações devidas para a BV Financeira. Churrasco e cerveja. Depois, trabalho. E o Forrest na minha cabeça. É, precisaria de muitas iscóis.

Aperto FF. É tarde da noite. Perto de 22h. O celular toca. Vou atender fora da redação. É Karen, a Senhora Biajoni. Junto com o Mestre, estavam curtindo uma sauna em Penedo, verdadeiro paraíso cravado entre a triste vila militar de Resende e nosso Haiti particular, o Rio de Janeiro. Àquela hora, já estavam acomodados novamente no maior bairro de Americana, Santa Bárbara d´Oeste, onde vivem atualmente enquanto aguardam o término da reforma na Maison Biaggioni.

"Então, o Bia deixou um filme para você no posto. Ele falou com você?", diz ela. Luiz. Luiz com barbinha. Luiz com barbinha que deixou DVD para eu devolver. Luiz com barbinha FORGADO que deixou um DVD para eu devolver. Luiz Biajoni.

Fim do mistério. Caso encerrado. Minha vida volta às cores de sempre. Forrest se afasta. Os créditos sobem.

segunda-feira, março 13, 2006

Decisão

De posse de uma Magnum 44 - igual ao do Tom Seleck no seriado de mesmo nome - carregada com apenas um projétil para cada opção, em quem você atiraria?

1. Beto Jamaica ou Cumpadi Washington?

2. Roberto Shinyashiki ou Lair Ribeiro?

3. Paulo Coelho ou Zibia Gasparetto?

4. Bel (Chiclete com Banana) ou Durval Lelys (Asa de Águia)?

5. Frank Aguiar (o Cãozinho dos Teclados) ou Chimbinha (Banda Calypso)?

6. Pitty ou Wanessa Camargo?

7. Pica Pau ou Picolino?

8. Jaspion ou Jiraya?

9. Um camelo ou um dromedário?

10. DJ Malboro ou DJ Mau Mau?

11. Roberto Avallone ou Milton Neves?

12. Xuxa ou... hã.... Maria da Graça Meneghel?

13. Edir Macedo ou R.R. Soares?

14. O Papa ou o Pop?

14. Biajoni ou Galvão?

E então?

quarta-feira, março 08, 2006

Selvagem?

Enquanto escrevo essas mal traçadas linhas, uma notícia chega pela Internet e me pega de surpresa: esgotaram-se os ingressos com desconto para o show do Jamiroquai. Como sofro de dislexia, leio novamente para ter certeza daquilo que está escrito na tela crepitante do meu computador e chego a uma conclusão. Contando com o milhão e meio de pessoas que pelo menos ouviram os Rolling Stones, os quase 200 mil que assistiram ao U2 e Franz Ferdinand, e os 15 mil ingressos para a apresentação do Oásis esgotados a sete dias do show, só posso crer que esse povo não gosta de música. Gosta mesmo é de pagar pau pra gringo.

Exatamente. Deixamos de ser um povo carente por atrações de qualidade para nos tornarmos pura e simplesmente tietes enlouquecidas por qualquer porcaria que venha de fora. De repente, parece que basta soar a notícia de que um artista que não cante em português virá para o Brasil que uma onda de histerismo toma conta da mídia e da população com menos de 40 anos. De repente, todo mundo vira crítico de música, entendido de cultura pop e sabe na ponta da língua a discografia completa do sujeito.

Isso é triste, porque dá a medida do tamanho da nossa ignorância e necessidade de atenção. Não basta apenas ouvir um disco e discutir a música de determinada banda. É preciso viajar centenas de quilômetros, pagar metade de um salário mínimo por um ingresso, dormir na porta do estádio e ter uma síncope na hora da balada romântica. Exagero. Bestice.

Tomo o Jamiroquai como exemplo. Quem se importa com o decano grupo de Jay Kay ainda? O máximo que banda conseguiu até hoje foi um hit, "Space Cowboy", do disco homônimo lançado em 1995, que vendeu horrores. Depois disso, foi laureado pelo Grammy várias vezes, mas nenhuma suficiente para trazer o grupo de maneira concisa de volta às paradas de sucesso. Então, o que explica essa corrida desenfreada por ingresso? Se pegarmos o último disco deles, “Dynamite”, de 2005, dá menos vontade ainda de gastar dinheiro para ver o show. Não passa de releitura de tudo o que já fizeram, mais do mesmo, tertúlias flácidas para ninar bovinos.

Então o que leva uma multidão a gastar até R$ 130 pelo espetáculo em São Paulo no dia 24 deste mês? Pura e simples necessidade de atenção. Não estão realmente interessados na música que o Jamiroquai está fazendo, mas sim em terem um artista pomposo respirando o mesmo ar que eles, que viajou de longe apenas para se apresentar ali, a poucos metros do alcance dos dedos.

O mesmo pode ser dito do Santana, que pela enésima fez repete sua fórmula de duetos com estrelas pop fugazes e tão carismáticas quanto uma lagartixa. O velho mexicano, que deixou a ripongada de Woodstock de quatro ao tocar "Soul Sacrifice", hoje faz solinhos para gente do calibre de Michele Branch, Chad Krueger (Nickelback), Rob Thomas (ex-Matchbox 20) e Alex Band (The Calling) cantarem. Chega a ser sofrível. De dar pena. Mas ele vai lotar os shows que fizer por aqui este mês, ah, isso pode ter certeza.

E em todos esses, o que mais vai ter serão VIPs. Essa praga que se disseminou como mato e não perde a chance de parecer "descolada", "antenda" e outros adjetivos inventados por colunistas sociais e demais pseudojornalistas. Enfim, a escória.

Mas é bobagem. Eles não ligam pra gente, como diria o Rei do Pop, esse sim, digno de arrastar multidões. Não mais, é verdade, embora ainda dê um caldo se quiser.

Eu não vi os Rolling Stones – ou uma epopéia caipira na terra dos biscoitos Globo (parte 1)

Meados de 2005 - uma tarde qualquer na redação. Meus olhos piscam. Penso serem as lentes de contato castigando os olhos. Esfrego. A sensação não passa. Lembro do porre da noite anterior e a cabeça dói. Abro a agenda na letra D. Disco o único número que se encontra lá.

- Denão?
- Fala, gaguinho...
- Os Stones vão fazer show no Brasil ano que vem.
- Ô lôco... Nem brinca, cara...
- Sério. Tô lendo aqui, agora, uma matéria que caiu na rede.
- Putz, senti uma pontada no coração agora... ai... depois eu te ligo...

Madrugada de 18 de fevereiro de 2006 - concentração em frente ao No Canto, em Nova Odessa. Apreensão.

- Cadê o microônibus? - indaga Núria, mãos dadas com o então namorado.
- Sei lá - respondo. Do outro lado da rua, Denis engole uma cápsula de Valium para controlar a tremedeira. Ao meu lado, Dringola entorna a terceira caipirinha da noite.
- Caralho, cara, esse busão ta demorando. Não vai sair no horário, eu sabia, puta merda, eu sabia - resmunga o rotundo diagramador.
- É, acho melhor darmos o fora. Será o Mineiro ta aberto? Queria um X-Tudão Com Tudo - sugiro.
- Vão a merda os dois, ok? A merda, a merda - vocifera Denis, devidamente alterado, chacoalhando o tubo de comprimidos numa mão e uma garrafa de Petra na outra. Ele é fino, só toma cerveja preta. E esquisito, porque espera esquentar. "É um costume andino", costuma justificar.
- Olha o busão - aponto, indicando para um microônibus Clewis que acaba de aportar na apreensiva esquina da praça onde se encontra a pequena multidão de corajosos interioranos que desprenderam algumas dúzias de cobres para custear a viagem. E sobrou pouco, pelo que dava para perceber pela enorme quantidade de cerveja caseira preparada por uns e os sanduíches de mortadela e apresuntado devidamente armazenados por outros tantos.
- Hora de partir - penso, fazendo um discreto sinal da cruz invertido. "Se vou ver o filho do demo, é melhor começar a pagar pau desde já", raciocino.

No ônibus, todo tipo de hálito e secreção se mistura. São caipiras, gente simples - porém aguerrida e honesta, "antes de tudo, uns fortes", diria Euclides da Cunha - que ainda reluta em se entregar à ética primeiromundista da assepsia social.
- Eu trouxe um leitão. Ele quer ver o mar - aponta um dos presentes, exibindo uma peça completa de pernil defumado. Mais veloz que uma bala, numa fração de segundo, Denis dispara, a boca arroxeada pelos medicamentos.
- Gaguinho, tamo fudido. A gente vai morre, vai morre, eu sei. Ontem, minha mãe leu no fundo da panela de carne moída que a gente ia morre.
Isso era fato. A mãe de Denis, dona Rúpia, era conhecida e requisitada gastrotérica da cidade. Era capaz de adivinhar quanto o sujeito carregava no bolso contado a quantidade caroços de azeitona separados para uma Ceasar Salad. Tentei contemporizar.
- Nada, filhão, relaxa. Toma, bebe um pouco desse daikiri de curaçao.
- Brigado, véio. Deus lhe pague - retornou Denis, entornando um estranho copo quadrado plástico. Em seguida, virou para o lado, a mão por dentro da calça, segurando o pênis. "Tradição andina", dizia. Ok, não me meto em assuntos abaixo da linha da cintura dos meus amigos.
Logo atrás, Núria balbucia.
- Ta chegando?
- Na Anhanguera? - respondo, em tom sarcástico.
- Vai se f****, filho da p***. Vai come a b******* da sua tia, vai - dispara, feito metralhadora. "Ela ta assistindo muito o filme do bateman. Preciso pedir para a mãe dela ficar de olho", penso, enquanto amarro uma tripa-de-mico no antebraço. Na outra mão, uma seringa hipodérmica cheia de groselha. "Delícia", meus olhos dizem.

Tomar um pico de groselha é como mergulhar numa piscina cheia de música com rotação alterada de um disco qualquer do Atari Teenage Riot. Traduzindo: é merda na certa. "Parado você havia com isso, Babaganuche-san", ecoava em minha mente a voz do dublador do Pat Morita em Karate Kid. Sim, estava limpo, vez ou outra sorvendo pelas ventas um pouco de Haggen-Das sabor limão. Mas era só quando precisava buscar o holerite no RH. A groselha entrava agora pelos meus pulmões, me fazendo soltar lufadas de ar colorido pelas narinas. Ao meu lado, uma estranha planta de aspecto rosáceo regurgitava borbulhas de cor ocre e cheiro acre. Ou seria o contrário? "Sempre me confundo nessa parte...", busquei ao longe.
De repente, um solavanco. Sinto o coração batendo entre as pernas. Mas nada mais é que uma enorme boca fazendo movimentos de sucção na minha pélvis. "Lick up, lick up, I wanna lick up", dizia alguém ao fundo, enquanto aquela boca enorme, com uma língua maior ainda, fazia algo que nenhum ser vivo no mundo seria capaz de igualar. "Andy Warhol, claro", pensei, as forças já ao longe.

- Parada para o xixi. Quinze minutinhos, hein? - avisa a coordenadora do ônibus, do alto de seus 2,10m de altura, colant azul turquesa e saltos plataforma de treliça almiscarada. "Do sítio", penso comigo mesmo, já livre do transe da groselha, que agora coagulava no meu intestino grosso. Dringola cola em mim e sussura, entre assustado e estranhamente excitado.
- Cara, onde a gente tá?
- Como vou saber, bicho? Manda o Denis ligar para a mãe dele e perguntar.
- Boa.
Olho ao meu redor e não reconheço nada. Mas faço uma idéia. Árvores de açúcar cristalizado de onde pendiam maçãs carameladas, cercadas por grama de jujubas de cores sortidas regadas por riachos de chocolate mentolado. O chocolate mentolado, não sei porque, me fez lembrar de Sidney Sheldon. "Velho de merda", rebato, em pensamento. Sinto algo puxando a barra do meu jeans. É um cachorro feito de goma de mascar. Ao morder, deixa pedaços de seus dentes de Mentex na calça. "Caraleo", digo a mim mesmo, sem notar que, a essa altura, o ônibus já estava de partida.
- Vem logo, ô pagliaço! - grita Dringola. Com tamanha delicadeza, não posso recusar. Penso nas árvores doces. "Maldito seja Tim Burton. Fui envenenado", digo algo, creditando minha alucinação ao cineasta amigo do Johnny Depp que adora usar óculos escuros e não gosta de pentear o cabelo.
O expresso parte e eu acendo um charuto de acerola.
- Alguém aí aceita? - oferece, educado. Núria se atira com sofreguidão ao cilindro antes mesmo de eu terminar a frase. "Dá aqui", pede, cortez, a rádio-escuta. E lá se foi meu único enrolado, não me dando outra opção que não tentar. Ou pelo menos tentar, se não fosse o maldito banco feito de marshmellow que me engolia e atraia formigas gigantes, daquelas que estreavam filmes no Cinema em Casa do SBT.
Mas o ônibus retomou sua rota. Eu me servi de um pouco do doce do assento e adormeci. Adormeci para acordar e encontrar algo muito pior que baunilha com gosto de Mash.

domingo, março 05, 2006

Healter Skelter

De vez em quando (mas só de vez em quando), o cinema consegue transportar astros da música para as telonas de maneira original, criativa e bem humorada. Nem é preciso dizer que isso só acontece quando se deixa de fora cantoras capazes de trincar taças com um único grito ou rappers que, de duas palavras, uma e meia é "modafoca". Ainda sem previsão de lançamento para o Brasil, "Live Freaky! Die Freaky!" consegue juntar a galera do punk rock da geração 90 para recontar a história da Família Manson. E o melhor: utilizando marionetes!

A história, segundo consta do site do filme (www.livefreakydiefreaky.com), começa no ano de 3069, quando, após o derretimento das calotas polares, um nômade encontra um livro que o remete ao ano de 1969 e conta o massacre que Charlie Manson organizou contra a casa do cineasta Roman Polanski e que culminou na morte de sua esposa, Sharon Tate, grávida na ocasião do crime. Claro que os nomes verdadeiros dos envolvidos foram parodiados e o absurdo toma conta de cada cena. A matança promovida pela Família chega a ter mais sangue que "A Paixão de Cristo" do Mel Gibson, por exemplo. No site, dá para baixar o trailer e clips especiais para ter um gostinho da coisa.

A produção ficou a cargo de ninguém menos que Tim Armstrong, vocalista e guitarrista do seminal Rancid, que compôs a trilha sonora com a ajuda do malucaço Roddy Bottom, ex-tecladista e fundador do extinto Faith No More. No elenco, figurinhas carimbadas da cena punkrock/ska norte-americana, como Billie Joe, Tre Cool e Mike Dirnt (Greend Day), Theo Kogan (Lunachicks), Rob Aston e Travis Barker (The Transplants), Kim Chi (The Destillers), John Doe (X), Lars Frederiksen e Matt Freeman, (Rancid), Benji e Joel Madden (Good Charlotte), entre outros. Para completar, integra a equipe, como membro da Família Manson, ninguém menos que Asia Argento, a übber-deusa underground filha do cultuado diretor Dario Argento.

E precisa de mais? Claro que precisa. A trilha sonora traz o melhor do ska-punk-rock. A faixa "Live Freaky! Die Freaky! (You Blood Will Set You Free)" está disponível inteira para download no site oficial. Além dela, Billie Joe resolveu disponiblizar a música "Mechanical Man", que ele compôs especialmente para obra, no site de seu projeto paralelo, o The Network Band. Ta lá no www.thenetworkband.com/mechanicalman.wma.

Para quem gostou de "Team America" e seu bonequinhos desbocados, não pode ter pedida melhor.